Imitação de Cristo, tratado espiritual do século XV
Livro 1, cap. 11
«Dou-vos a Minha paz»
Grande paz poderíamos alcançar se nos não quiséssemos ocupar das palavras e dos actos alheios e do que não nos diz respeito. Como poderá permanecer em paz aquele que interfere nos problemas dos outros, que busca o que é exterior e pouco ou muito raramente se recolhe? Felizes os simples, porque terão grande paz.
Por que razão qualquer dos santos foi tão perfeito e contemplativo? Porque a todo o momento eles matavam em si os desejos do mundo, de todo o coração pertenciam a Deus e então livremente se ocupavam de si. Mas nós ocupamo-nos muito das nossas paixões e daquilo que passa. Raramente vencemos por completo um defeito, e não conseguimos um progresso diário: assim nos mantemos frios ou mornos.
Se estivéssemos completamente mortos para nós próprios e mais livres por dentro, saberíamos o gosto do divino e alguma coisa da contemplação do Céu. O nosso maior e único obstáculo é não estarmos livres de paixões e desejos e não nos esforçarmos por entrar na perfeita via dos santos. Quando nos sucede qualquer adversidade, imediatamente desanimamos e voltamos às consolações humanas.
Se nos mantivermos quais homens fortes no combate, depressa veremos sobre nós o auxílio de Deus. Na verdade, Ele está pronto a ajudar os que combatem e esperam na Sua graça, pois é Quem nos favorece as ocasiões de lutar, para que vençamos. [...]
Oh, soubesses tu quanta paz para ti e alegria para os outros a tua vida santa causaria, julgo que terias mais ardor no teu progresso espiritual.
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
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