«Não sei se isto está bem ou está mal. Sinceramente, quero lá saber! O que eu sei é que gosto disto. E também sei que sou livre. Ninguém — nem Deus — me pode impedir de fazer aquilo que me apetece. Ninguém me pode impedir de ser feliz. Aqueles que insistem na existência do bem e do mal, lá no fundo, pretendem impedir-nos de sermos felizes. Porquê? Porque são uns infelizes. São uns frustrados. Nunca fizeram o que lhes apetecia na sua vida. Sempre cumpriram — religiosamente — o seu dever. E esse seu dever asfixiou-os, murchou-os e impediu-os de aproveitarem a existência».
Todos já ouvimos algum raciocínio deste tipo. É um modo de pensar que se encontra em muitas pessoas ao nosso redor — sobretudo, nos jovens. No entanto, não é um modo de pensar exclusivo dos nossos dias. Sempre esteve presente, na História da Humanidade, o equívoco de confundir a liberdade com fazer aquilo que nos apetece. É um equívoco relativamente comum, mas isso não significa que não seja, ao mesmo tempo, um erro crasso com funestas consequências para a vida de uma pessoa. Consequências que — muitas vezes — só se descobrem tarde demais.
Não é à toa que alguém disse — e com razão — que a educação consiste sobretudo em ensinar a usar bem a liberdade. É que nós, quer queiramos quer não, estamos obrigados a ser livres. Estamos obrigados a escolher um caminho concreto a percorrer nesta vida, entre as variadas bifurcações que se nos apresentam todos os dias. No entanto, temos de ter atenção a um “pequeno” detalhe da liberdade que nos pode passar despercebido: estamos obrigados a escolher mas não estamos obrigados a acertar.
Com o mesmo dom da liberdade podemos construir a nossa vida ou destruí-la. Podemos desenvolver-nos ou degradar-nos. Podemos realizar o bem ou deixar-nos arrastar pelo mal. Podemos chegar à felicidade eterna ou perdê-la para sempre. Sermos livres não é — sem dúvida nenhuma — uma brincadeira com consequências inócuas. A liberdade não nos foi concedida para fazermos o que nos apetece, mas para fazermos aquilo que nos convém. A isso chamamos “bem”. Ao que não nos convém, chamamos “mal”.
E se — com esperteza saloia — chamarmos ao “mal” “bem” porque nos apetece fazê-lo? Nesse caso, deformamos a nossa visão da realidade. No entanto, a realidade — a verdade das coisas — não se deforma. O tempo acabará por dar razão à realidade — não à nossa deformação mental. Não é por fecharmos os olhos à realidade que ela desaparece ou deixa de ser aquilo que é.
Pois bem: para fazer o bem com constância — e não só quando nos apetece — temos de possuir uma autêntica força de vontade. A força de vontade liberta-nos das cadeias da nossa própria debilidade — das cadeias dos nossos apetites sensíveis. Torna-nos mais livres porque a liberdade exige um senhorio sobre nós mesmos. Quem não consegue dominar-se a si mesmo nunca poderá ser verdadeiramente livre. Sempre será escravo dos seus gostos e dos seus caprichos.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria