A Igreja de São João, mais conhecida como Co-Catedral de S. João (em maltês: Kon-Katidral ta’ San Ġwann), localizada em La Valetta, Malta, foi construída pelos Cavaleiros de S. João entre 1573 e 1578. Incumbida pelo Grão-Mestre Jean de la Cassière em 1572 como igreja conventual da Ordem dos Cavaleiros de S. João do Hospital - conhecidos como Hospitalários ou Cavaleiros de Malta, a Igreja foi desenhada pelo arquitecto militar maltês Gerolamo Cassar que delineou alguns dos edifícios mais proeminentes de La Valetta.
O exterior austero da Catedral, construída imediatamente após o Grande Cerco de 1565, possui reminiscências de um forte militar. O exterior austero da Catedral, construída imediatamente após o Grande Cerco de 1565, possui reminiscências de um forte militar.
O interior, em grande contraste com a fachada, é extremamente ornamentado [1] e foi decorado no auge do período Barroco. O interior foi largamente decorado por Mattia Preti, artista da Calábria e Cavaleiro da Ordem. Preti traçou as complexas paredes de pedra, pintou os tectos abobadados e os altares laterais parecem ao com cenas da vida de S. João. Curiosamente, as figuras pintadas no tecto junto a cada coluna para o espectador parecem inicialmente estátuas a 3 dimensões, mas, sob olhar atento, vemos que o artista criou astutamente a ilusão de uma tridimensionalidade através do uso e da colocação das sombras. Também digno de nota é o facto de que todo o entalhe foi realizado no local (in situ) em vez de as partes terem sido entalhadas de forma independente e, em seguida, ligadas às paredes (através de estuque). O calcário maltês de que a catedral é construída presta-se particularmente bem a estas esculturas intrincadas.
Próximo da entrada principal encontra-se o monumento funerário do Grão-Mestre Fra Marc'Antonio Zondadari de Siena, sobrinho do Papa Alexandre VII.
A Catedral contem oito ricas capelas, cada uma das quais dedicada ao santo padroeiro das 8 línguas (secção ou origens) dos Cavaleiros da Ordem. Do lado esquerdo da igreja encontram-se as seguintes capelas:
A Capela da Liga Anglo-Bávara, outrora conhecida como a Capela da Relíquia, onde os Cavaleiros costumavam manter as relíquias que tinham adquirido ao longo dos séculos.
A Capela da Provença é dedicada a S. Miguel.
A Capela de França é dedicada à Conversão de S. Paulo. Esta capela foi modificada no século XIX. Encontram-se nesta capela os monumentos funerários dos grão-mestres Fra Adrien de Wignacourt e Fra Emmanuel de Rohan-Polduc.
A capela de Itália, dedicada a Santa Catarina de Alexandria, santa padroeira da secção (língua) Italiana.
A Capela da Alemanha é dedicada à Epifania de Cristo. A pintura principal é do pintor maltês Stefano Erardi.
Do lado direito da igreja existem as seguintes capelas:
A Capela do Santíssimo Sacramento, outrora conhecida como a Capela de Nossa Senhora de Filermos. O quadro desta capela é Nossa Senhora de Carafa que é uma cópia da Nossa Senhora de Lanciano. Entre os cavaleiros enterrados nesta capela encontram-se Fra Gian Francesco Abela e Fra Flaminio Balbiano.
A Capela de Auvergne é dedicada a São Sebastião. O único monumento funerário nesta capela é o de Fra Annet de Clermont.
A Capela de Aragão é dedicada a São Jorge. O quadro principal foi pintado por Mattia Preti e é considerado como uma das suas obras-primas. Nesta capela podem-se encontrar os monumentos funerários dos seguintes grão-mestres: Fra Martin de Redin, Fra Raphael Cotoner, Fra Nicolau Cotoner e Fra Ramon Perellós.
A Capela de Castela, Leão e Portugal é dedicada a Santiago Maior. Aqui se encontram os monumentos funerários dos grão-mestres António Manuel de Vilhena e Manuel Pinto da Fonseca.
A Decapitação de S. João Baptista, 1608. Óleo sobre tela, 361 x 520 cm. Oratório da Co-Catedral.
A pintura que A Decapitação de S. João Baptista (1608) de Caravaggio (1571–1610) é a obra mais famosa da igreja. Considerada uma das obras-primas de Caravaggio e o único quadro assinado pelo pintor, a tela é exibida no Oratório para o qual foi pintada. Restaurada em Florença nos finais dos anos 90 do século XX, esta pintura mostra um dos usos mais impressionantes do estilo Chiaroscuro que o tornaram famoso – o círculo de luz que ilumina a cena da decapitação de S. João Baptista a pedido de Salomé. O oratório alberga igualmente o quadro “S. Jerónimo” (1607–1608) também de Caravaggio.
Outra característica impressionante da igreja é o conjunto de lápides de mármore na nave em que foram enterrados cavaleiros importantes. Os cavaleiros mais importantes foram colocados mais perto da frente da igreja. Estes túmulos, ricamente decorados com mármore embutido e com o brasão de armas do cavaleiro enterrados abaixo, tal como imagens relevantes para esse cavaleiro, muitas vezes narram um triunfo em batalha, criando um belo testemunho visual na igreja. Outra obra de arte importante é a escultura de grupo de Mazzuoli atrás do Altar principal.
Junto à igreja está o Museu da Co-Catedral de S. João, possuidor de obras de arte. Entre os conteúdos do museu encontram-se as tapeçarias do Grão-Mestre Fra Ramon Perellós i Rocafull, pinturas dos Grão-Mestres Jean de la Cassière, Nicolau Cotoner e Manuel Pinto da Fonseca, este último que estava na capela lateral, assim como o S. Jorge matando o Dragão de Francesco Potenzano.
Algumas notas pessoais:
A riqueza da Catedral é impressionante pelo estilo barroco flamejante que profusamente cobre a totalidade das paredes. Evidentemente que o material (calcário-cantaria) não terá a mesma “categoria” da “nossa” talha em madeira como por exemplo nas Igrejas de São Francisco ou Santa Clara, no Porto, mas nem por isso deixa de ser artisticamente complexo e belo.
Quanto a mim, o mais impressionante é o pavimento totalmente coberto de sepulturas de cavaleiros cujas lápides enumeram os seus feitos, qualidades e proezas todas em mármore policromado de grande beleza.
Não posso resumir em poucas palavras tudo quanto vi mas termino com uma referência ao Oratório cujas inúmeras pinturas de Carvaggio nos deixam sem fôlego. Principalmente as telas da Decapitação de São João Baptista e de São Jerónimo fizeram-me pensar que estava na presença dos originais das pinturas tantas vezes vistas em catálogos etc.
E senti-me muito feliz e um privilegiado por o Senhor me ter concedido esta “carícia”.
Algo que não pode deixar de chamar a atenção é o “rasto” deixado por São João Paulo II. Lá está o genuflexório onde se ajoelhou em oração quando aqui esteve.
Isto repete-se noutros locais.
Malta tem um Papa daqui oriundo: São Pio V e, naturalmente, existem bastantes referências, estátuas, etc., ao seu nome, mas, repito, São João Paulo II tem um lugar muito particular no coração deste povo como, de resto, no coração de tantos e tantos países que visitou.
António Mexia Alves