Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Não cries necessidades

Não esqueças: tem mais aquele que precisa de menos. – Não cries necessidades. (Caminho, 630)

Há muitos anos – mais de vinte e cinco – eu costumava passar por um refeitório de caridade, para mendigos que não comiam em cada dia outro alimento senão o que ali lhes davam. Tratava-se de um local grande, entregue aos cuidados de um grupo de senhoras bondosas. Depois da primeira distribuição, acudiam outros mendigos, para recolher as sobras. Entre os deste segundo grupo houve um que me chamou a atenção: era proprietário de uma colher de lata! Tirava-a cuidadosamente do bolso, com avareza, olhava-a com satisfação e, quando acabava de saborear a sua ração, voltava a olhar para a colher com uns olhos que gritavam: é minha! Dava-lhe duas lambedelas para a limpar e guardava-a de novo, satisfeito, nas pregas dos seus andrajos. Efectiva mente era sua! Um pobre miserável que, entre aquela gente, companheira de desventura, se considerava rico.

Por essa altura, conhecia também uma senhora com título nobiliárquico, Grande de Espanha. Isto não conta nada diante de Deus: somos todos iguais, todos filhos de Adão e Eva, criaturas débeis, com virtudes e com defeitos, capazes dos piores crimes, se o senhor nos abandona. Desde que Cristo nos redimiu, não há diferença de raça, nem de língua, nem de cor, nem de estirpe, nem de riquezas... Somos todos filhos de Deus. Essa pessoa de que vos falo agora residia numa casa solarenga, mas não gastava consigo mesma nem duas pesetas por dia. Por outro lado, pagava muito bem aos seus empregados e o resto destinava-o a ajudar os necessitados, passando ela própria privações de todo o género. A esta mulher não lhe faltavam muitos desses bens que tantos ambicionam, mas ela era pessoalmente pobre, muito mortificada, completamente desprendida de tudo. Compreendestes bem? Aliás, basta escutar as palavras do Senhor: bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus.

Se desejas alcançar esse espírito, aconselho-te a que sejas sóbrio contigo e muito generoso com os outros. Evita os gastos supérfluos por luxo, por capricho, por vaidade, por comodidade...; não cries necessidades. Numa palavra, aprende com S. Paulo a viver na pobreza e a viver na abundância, a ter fartura e a passar fome, a ter de sobra e a padecer necessidade. Tudo posso naquele que me conforta. E, como o Apóstolo, também sairemos vencedores da luta espiritual, se mantivermos o coração desapegado, livre de ataduras. (Amigos de Deus, 123–124)

São Josemaría Escrivá

Quem é a vítima? O cristão ou o gay?

As feministas radicais, os negros e os muçulmanos do politicamente correto, os gays e os transexuais: esta multidão domina o espaço mediático e académico do ocidente em geral e dos EUA em particular. Os filmes, as reportagens, as séries, os livros, as palestras seguem sempre o ângulo da vitimização destas personagens às mãos de um homem de palha: uma poderosíssima maioria branca e cristã. Isto não faz sentido. Apesar de ter a hegemonia gramsciana do espaço mediático, apesar das leis já refletirem os seus desejos, esta grande coligação politicamente correcta continua a desempenhar o papel de vítima. Mas, na verdade, é a maior produtora de intolerância da sociedade: há décadas que goza ou diaboliza abertamente as crenças cristãs. Gozar com o cristão, sobretudo com o cristão branco sem gospel, passou a ser o único racismo aceitável.

Já é tempo de acabarmos com esta narrativa. Aliás, se queremos mesmo recuperar um chão comum, temos de destruir as duas faces da mesma moeda, a intolerância de Trump, que é uma contra-resposta à intolerância do politicamente correto. Não faz sentido falar do cristão branco como um vilão, porque ele está numa posição de fraqueza cultural e mediática. Passámos os últimos 50 anos em revolução de costumes, aliás, a heterodoxia da contra-cultura dos anos 60 e 70 é hoje em dia a grande ortodoxia. Além de ortodoxo, este politicamente correto é intolerante sobre o presente e sobre o passado. Nas últimas décadas, o ethos cristão, do aborto ao ensino, teve apenas duas respostas do mainstream: ou o gozo aberto, ou a diabolização aberta. E toda a civilização ocidental, do cristianismo ao iluminismo, da ciência à arte, tem sido vilipendiada.

São Paulo, Kant ou Kipling são desautorizados como imperialistas todos os dias nas escolas, faculdades e imprensa. Trump é uma revolta de pessoas que passaram as últimas décadas a serem humilhadas nos seus valores diariamente por esta atitude anti-cristã e anti-ocidental. As tais marchas da semana passada (2017) não são marchas de vítimas, são marchas dos donos deste sistema cultural, académico, mediático. Lamento, mas a vítima não é a feminista radical que acha que o Roe Vs. Wade é maravilhoso, a vítima é a mulher cristã; a vítima não é o negro do Black Lives Matter, é o evangélico; a vítima não é o gay, que os média tratam como nobre de sangue azul, a vítima é o cristão.

Henrique Raposo in Expresso diário de 30.01.2017 AQUI
(seleção de imagem 'Spe Deus')

As Estrelas na Ribeira Grande

Foto: Hélder Araújo
As Estrelas na Ribeira Grande são um fenómeno muito antigo de piedade popular, recuperado há 20 anos. Ultimamente, já se festeja noutras cidades à volta e certamente se vai estender ao resto do país, à medida que se conhecer, porque agora é barato viajar aos Açores.

Há boas razões para gostar das estrelas, porque a poesia é a linguagem dos enamorados. Nossa Senhora da Estrela remonta à procissão das velas com que os primeiros cristãos comemoravam a apresentação de Jesus no Templo de Jerusalém. Esta procissão já aparece no diário da peregrinação de Egéria à Terra Santa, por volta do ano 380. Nos Açores, em particular na Ribeira Grande, adquiriu um ambiente especial, com a música à desgarrada, a Missa antes de o sol nascer, a procissão da alvorada, a confraternização de toda a cidade à mesma mesa.

Se há coisa que entusiasme o Papa Francisco é a chamada piedade popular. A seguir ao Concílio, os espíritos iluministas, em ascensão no espaço público criticavam o povo, como faziam os iluministas bem-pensantes do século XVIII. Paulo VI e os Papas seguintes reagiam a esta onda de snobismo, mas os ilustrados não desarmavam.

Na Exortação «A alegria do Evangelho», o Papa Francisco levantou novamente a bandeira da fé enraizada na cultura popular, coleccionando os argumentos dos seus antecessores (por exemplo, no nº 123).

João Paulo II dizia que «o protagonista da piedade popular é o Espírito Santo». Nada mais! (Só isto, deveria obrigar a pensar duas vezes).

Paulo VI explicou por que é que alguns não percebiam: é que a piedade popular «traduz uma certa sede de Deus, que somente os pobres e os simples podem experimentar».

Bento XVI defendia a piedade popular como um «tesouro precioso da Igreja Católica»...

Nestas duas centenas de páginas do Papa Francisco, não faltam citações e exemplos: os gestos da piedade popular «são a manifestação duma vida teologal animada pela acção do Espírito Santo»... «têm muito que nos ensinar e, para quem os sabe ler, são um “lugar teológico” a que devemos prestar atenção»...

A apresentação de Jesus no Templo, que se comemora com a festa das estrelas, foi um negócio curioso. No Antigo Testamento, Deus instituiu este ritual como uma «compra» com que os pais resgatavam para a sua família o filho que pertencia a Deus. Assim, Nossa Senhora e S. José compraram Jesus para nós ao preço estabelecido por Deus: Jesus é nosso, por um negócio legítimo, instituído pelo próprio Deus. Outros, como o Papa Bento XVI, comentam com bom humor que o Evangelista S. Lucas, que não era judeu, não se preocupou com pormenores e apresentou o resgate como se fosse uma apresentação, um oferecimento («Jesus de Nazaré», vol. I).

Milhares de pessoas, toda a cidade, cantam e tocam
na serenata à Senhora da Estrela
Realmente, tudo isto é verdade ao mesmo tempo. A capacidade da poesia é evocar tudo, sem excluir nada. Nossa Senhora das Candeias, ou das Estrelas, é este negócio de enamorados, ao preço, sem preço, do amor infinito.
 
Nas últimas páginas da Exortação, Francisco fala mais uma vez de Maria, chamando-lhe a Estrela da nova evangelização: «Sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afecto. Nela vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos, mas dos fortes, que não precisam de maltratar os outros para se sentirem importantes»... «Estrela da nova evangelização, ajudai-nos... para que a alegria do Evangelho chegue até aos confins da terra e nenhuma periferia fique privada da sua luz».

Quem quer ser revolucionário? Mas a sério! Com a força revolucionária da ternura e do afecto.
José Maria C.S. André
Spe Deus
31-I-2016

São João Bosco

"Vinde benditos de meu Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo" Mt 25,34

Fundador e pai da família salesiana, viveu no apostolado a frase de São Dionísio: "Das coisas divinas a mais divina é cooperar com Deus para salvar as almas".

São João Bosco nasceu em 1815 próximo a Turim. Com dois anos de idade perdeu o pai, sendo que a mãe Dona Margarida batalhou contra a pobreza para criar seus filhos. Tamanha era a luta desta mãe, que diante do chamado de João ao sacerdócio, disse-lhe: "Eu nasci na pobreza, vivi sempre pobre e desejo morrer pobre. Se tu desejas tornar-te padre para ficar rico, eu nunca irei te visitar".

Providencialmente, todos os desafios e durezas da vida fizeram do coração do sacerdote, de vinte e seis anos então, um homem sensível aos problemas dos jovens abandonados ou que viviam longe de suas famílias como operários. Desta realidade começou a desabrochar o carisma que concretamente construiu os Oratórios, que eram - como ainda são - lugares de resgate das almas dos jovens. O método de apostolado de D. Bosco era o de partilhar em tudo a vida dos jovens; para isso abriu escolas de alfabetização, de artesanato, casas de hospedagem, campos de diversão para os jovens com catequese e orientação profissional (Oficinas de S.José); foi pioneiro dentro da educação em instituições católicas na educação preventiva com o acompanhamento individualizado de cada jovem, versus a prática até então da educação repressiva. Por esta razão, a Igreja reza: "Deus suscitou São João Bosco para dar à juventude um mestre e um pai".

Mesmo incompreendido por muitos e acusado de louco, conseguiu atrair a tantos jovens, que fundou a Congregação dos Salesianos, cujo nome é em homenagem à protecção de São Francisco de Sales. Também colaborou para o surgimento do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora. De porte atlético, memória incomum, inclinado para a música e arte, D. Bosco tinha uma linguagem fácil, espírito de liderança e era óptimo escritor. Este grande apóstolo da juventude foi elevado para o céu no dia 31 de Janeiro de 1888, na cidade de Turim, e segundo os médicos a causa de sua morte deveu-se a exaustão física, consonante com o que afirmava ser o motivo da sua vida, estar neste mundo para o próximo.