Como Te encontraremos,
Ao declinar do dia,
Se o teu caminho não cruzar
O nosso caminho?
Fica connosco,
Dá-nos a tua luz:
E a alegria vencerá
A escuridão da noite.
Venham às nossas mãos,
Para Ti estendidas,
As chamas acesas do Espírito,
Fonte da Vida;
E purifica no mais fundo
Do coração do homem
A tua imagem
Que a culpa escureceu.
Vimos romper o dia
Sobre o teu belo rosto,
E o sol abrir caminho
Em tua fronte:
Não deixes o vento da noite
Apagar o fogo novo
Que, ao passar, na manhã,
Tu nos deixaste.
(Breviário)
Obrigado, Perdão Ajuda-me
quarta-feira, 22 de janeiro de 2020
Estai alegres, sempre alegres
«Servite Domino in laetitia!» Hei-de servir a Deus com alegria! Uma alegria que há-de ser consequência da minha Fé, da minha Esperança e do meu Amor...; que há-de durar sempre, porque, como nos assegura o Apóstolo, "Dominus prope est!", o Senhor segue-me de perto. Hei-de caminhar com Ele, portanto, bem seguro, já que o Senhor é meu Pai...; e com a sua ajuda hei-de cumprir a sua amável Vontade, ainda que me custe. (Sulco, 53)
Um conselho, que vos tenho repetido teimosamente: estai alegres, sempre alegres! Que estejam tristes os que não se consideram filhos de Deus! (Sulco, 54)
São Josemaría Escrivá
Da Terra Santa volta- se diferente...
Acabei de chegar da Terra Santa. Uma semana extraordinária em que o tempo e o espaço param para que possamos mergulhar na vida daquele Homem que disse ser o Filho de Deus e Rei de toda a Criação. E É-o de facto!
Foi a 6a vez que pisei, escutei, olhei e vi aquela Terra bendita. Uma Terra que nos interpela não pela beleza especial, ou pela imponência arquitectónica, ou até por algum sinal especial. Interpela pelo contraste real da pura normalidade da Galileia com a tensão impressionante de Jerusalém.
Os 30 anos na Galileia, calmos e normais da vida oculta de Jesus, que começa numa casinha pobre e humilde naquele momento de Imenso mistério da Encarnação de Deus em Maria; uma infância com momentos de pobreza e sobressalto, como o nascimento numa gruta em Belém; a normalidade de uma vida comum entre família e amigos, começando por aprender como qualquer criança e depois o seu ofício de carpinteiro.
É também na pacifica, simples e bonita Galileia que começa a manifestar a Sua divindade, naqueles últimos 3 anos de vida pública, convidando os seus amigos e mais próximos a seguirem-n’O, cumprindo a missão para a qual encarnara. Esses amigos, gente simples, escolhidos um a um a quem educou, ensinou, riu, chorou e partilhou dias e ainda todos aqueles a quem curou o corpo e alma sempre que d’Ele se aproximavam. Jesus, esse Homem sempre cheio de paciência, manso e humilde de coração falou a todos e cada um em particular. Cumprindo tudo o que se dizia d’Ele desde sempre e dando exemplo, nos passos bem concretos e que indicavam o caminho até ao grande Mistério que se iria dar no final da Sua Vida terrena.
Antes de chegar a Jerusalém fizemos a experiência do Deserto, procurando no silencio que só o Deserto pode dar, parar para pensar e guardar no coração a experiencia da Galileia. Ali naquele lugar nu, lembramos os 40 dias de fome e sede, de tentações e de consolo, que Ele o Rei do Universo passou...
Chegámos a Jerusalém de noite e de lá olhámos e vimos a cidade sobre a qual Jesus chorou. Ali estivemos 3 dias para fazer memória desses últimos 3 dias da Sua vida terrena: A Paixão: Condenação, Morte e depois a Ressurreição. 3 dias que são o grande mistério da nossa fé. Um mistério tão grande quanto real!
Jerusalém é a cidade mais enigmática, mais tensa, e ao mesmo tempo mais rica do Mundo. Sente-se um íman..., 3 religiões ( todas elas divididas em muitas outras e com os lugares mais importantes de todas elas), 2 « países », várias línguas, culturas, e muitos mais. Nesses 3 dias que ali passamos, fizemos memória de cada gesto, cada passo e cada dor de Jesus, que é como mergulhar na eterna História do Homem pecador com o incomensurável Amor de Deus.
Pessoalmente voltei com a convicção profunda e confirmada que Jesus é o Único que nos pode salvar do Pecado e encher de esperança na Vida eterna. Só Ele tem a pedagogia que o Homem precisa para salvar: paciência, e um tão grande Amor a cada um de nós, ou não fosse Ele quem os criou!!! Só Ele é remédio para todos os males do mundo, só Ele perdoa e devolve a vida; só Ele é capaz de nos resgatar nem que seja no último momento da nossa vida; só Ele nos faz companhia nos momentos mais escuros; só Ele nos ama assim, como somos...Só Ele se lembraria de “inventar” a Igreja, para que através dos Sacramentos garantir-nos a Vida Eterna.
À pergunta que nos foi feita: " E tu amas-me?" que mais poderei responder: "Senhor tu sabes tudo, sabes que te amo, mas ajuda-Me a amar-Te mais".
Que mais poderei querer? Certamente apresenta-Lo aos meus amigos.
Voltei à vida comum e ordinária de todos os dias, mas voltei diferente...
Sofia Guedes
Charlot – «the tramp»
Num ciclo dedicado a Charlie
Chaplin, o teatro da Ribeira Grande projectou no dia 19 o filme «Tempos
Modernos» (no original, «Modern Times»). Estão de parabéns a Câmara, pelo
apoio, Judite Barros pela programação e Pedro Medeiros pela interessante nota
cinéfila, na qual se apoia este meu texto.
Um dia, mandaram o jovem Charlie
Chaplin ir ao armário do estúdio e servir-se de qualquer coisa divertida.
Escolheu umas calças largas, fora de medida, um casaco minúsculo, um pequeno
chapéu de coco e um enorme par de sapatos, para que tudo fosse contraditório. A
rematar, um bigodinho cómico e uma bengala empunhada como um brinquedo. Quando apareceu
vestido daquela maneira, houve entusiasmo entre o pessoal do estúdio e o
realizador aprovou imediatamente a personagem. Assim nasceu o «tramp» (vagabundo,
em inglês), que os franceses popularizaram como «Charlot».
Estávamos nos alvores do século
XX, ainda no tempo do cinema mudo, a preto e branco, com imagens a sacudir-se
no «écran». O cinema era sobretudo simbólico, gestual e, como nos «tweets» de
hoje em dia, não havia lugar para grandes considerações. O humor era imediato:
a personagem era cómica, ou não havia enredo que lhe valesse.
O vagabundo criado por Charlie
Chaplin era um palhaço pobre do circo, acelerado com imaginação delirante até
um ritmo vertiginoso. O vagabundo tropeçava, com isso escapava do ataque do
mau, que derrubava uma escada, que fazia cair uma lata, que sujava o chefe, que
se queria vingar no vagabundo, que voltava a tropeçar distraído com a menina,
atingindo sem querer o mau, que desfecha um golpe terrível em plena careca do
chefe, enquanto o vagabundo se enamora, cada vez mais, a olhar para a menina...
Algo parecido podia acontecer no teatro, embora só o cinema conseguisse produzir
um sobressalto sem fim, àquela velocidade. As audiências riam sem se conterem e
a mudança para os Estados Unidos consagrou Chaplin como estrela mundial.
O sonoro pregou rasteiras aos
actores do cinema mudo, incluindo Chaplin, que falava com um sotaque britânico,
insólito para o público norte-americano. Resiste alguns anos, até 1936, em que
o vagabundo mudo aparece pela derradeira vez no filme «Tempos Modernos».
A repetição exaustiva das linhas
de montagem inspirou esta caricatura hilariante, em que Chaplin contracena com
gigantescas máquinas imparáveis, entra dentro delas, tenta controlá-las, corre
perigos que assustam o espectador, até que finalmente não consegue evitar que a
cadência desvairada do automatismo provoque tragédias em cadeia. A polícia, o capataz,
a confusão e complexidade da estrutura de produção associam o cómico e o
trágico. Porque o contraponto do ridículo divertido é a melancolia de um ser
inadaptado, vítima de uma estrutura absurda, um vagabundo sem nome. Os
franceses chamaram-lhe Charlot, mas no original é apenas o «tramp», o
vagabundo. E a única pessoa que o compreende, e por quem ele se apaixona, é uma
rapariga sem nome, a «gamine», a miúda. Rejeitados pela sociedade, não têm
nome, nem casa, nem nada, a não ser um coração triste, que enternece o
espectador.
Paradoxalmente, o pobre
vagabundo, incompreendido e rejeitado, fez de Chaplin um homem rico, um nome reconhecido
em todo o mundo, «superstar» na América, «Sir Chaplin» no Reino Unido, «Knight
Commander of the Most Excellent Order of the British Empire» (Cavaleiro-chefe
da mais Ilustre Ordem do Império Britânico).
Hoje, que as modernices de 1930
estão ultrapassadas, temos a vantagem da perspectiva: não foi o progresso
tecnológico que triturou vidas humanas, como acontece simbolicamente em «Tempos
Modernos». A visão de Chaplin, corrosiva, altamente crítica do progresso, é bem
diferente do diagnóstico do Papa Francisco: «Alguns crêem-se livres quando
caminham à margem de Deus, sem se dar conta de que ficam existencialmente
órfãos, desamparados, sem um lar para onde possam voltar. Deixam de ser
peregrinos para se transformarem em errantes» («Evangelii gaudium», 170). Entre o peregrino e o vagabundo há uma
diferença fundamental. Nestes dias, Francisco repetiu aos chilenos e aos
peruanos que têm uma Mãe, uma casa, uma família, que têm um nome; Charlot
representa quase o oposto, a desolação rancorosa, próxima do marxismo.
«Tempos Modernos» é uma obra-prima do cinema a
lembrar-nos – pela força do contraste – que o capitalismo e marxismo não servem.
Neles, pode haver humor, mas falta alegria. Até no sofrimento, o peregrino é
iluminado pela esperança e pela alegria, enquanto, até no humor, o vagabundo está
pleno de sabor amargo.
José Maria C.S. André
28-I-2018
Spe Deus
Meditar sobre a vida de Jesus Cristo
Quem me segue não anda nas trevas, diz o Senhor (Jo 8,12). São estas as palavras de Cristo, pelas quais somos advertidos que imitemos sua vida e seus costumes, se verdadeiramente queremos ser iluminados e livres de toda cegueira de coração. Seja, pois, o nosso principal empenho meditar sobre a vida de Jesus Cristo.
(Imitação de Cristo, Liv. I, Cap. I, 1)
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