A tribo dos índios Choctaw é a
terceira maior tribo de índios norte-americanos, logo depois das tribos
Cherokee e Navajo. Entre os anos 1830 e 1850, os Choctaw, que povoavam os
actuais Estados do Mississippi, da Louisiana, do Alabama e da Florida, foram
expulsos das suas terras e fechados numa «Reserva». Neste tempo humilhante e de
profundo sofrimento para eles, concretamente em 1847, os Choctaw tiveram a notícia
de que ocorria uma fome terrível na Irlanda e cotizaram-se para ajudar esses
desconhecidos, que sofriam mais do que eles.
O facto é surpreendente em si
mesmo: em meados do século XIX, uns índios iletrados, que nunca tinham saído da
América, nem conheciam o Atlântico ou a Europa, identificaram-se de tal maneira
com a angústia dos irlandeses que se privaram do pouco que ainda tinham para
ajudar quem lhes parecia mais necessitado. Assim como os Choctaw não sabiam
muito acerca da Irlanda, a maioria dos irlandeses ignorava que existia uma
tribo chamada Choctaw. Mas esta ignorância mútua acabou para todo o sempre.
O extermínio massivo dos
irlandeses ocorreu entre 1845 e 1849. Nesses quatro anos, cerca de milhão e
meio de irlandeses morreu à fome, cerca de dois milhões fugiram para os Estados
Unidos e um grande número naufragou no Atlântico. Muitas vezes fala-se de um
genocídio cometido pelo Reino Unido, que naquela época dominava inteiramente a
ilha. Tecnicamente, não terá havido o propósito de matar. Criaram-se as
condições que geraram a fome apenas com o intuito de obter maior lucro; depois,
não se remediou a situação e, em quatro anos, um quinto da população morreu.
Quando o Governo do Reino Unido obrigou a Irlanda à monocultura da batata,
tinha consciência de impedir o seu desenvolvimento económico, mas não esperava
que uma praga devastasse completamente essa única cultura e privasse a ilha de
alimento. Em face do desastre, Londres manteve as proibições e pensou fazer
qualquer coisa, mas acabou por deixar a desgraça seguir o seu curso.
Em contrapartida, do outro lado
do Atlântico, fechados na sua «Reserva», os Choctaw amealharam os poucos fundos
que tinham e enviaram-nos para o outro lado do Atlântico, para os irlandeses
comprarem alimentos. Ainda hoje, as comunidades irlandesas de todo o mundo
recordam a generosidade dos Choctaw e, volta e meia, têm oportunidade de lhes agradecer.
Em 2018, o Primeiro Ministro irlandês, a propósito de umas bolsas de estudo
oferecidas a jovens Choctaw, falava do «vínculo sagrado que une para todo o
sempre os nossos dois povos. A Irlanda nunca esqueceu e nunca esquecerá o vosso
gesto de simpatia». Em 2017, num parque em Cork, na Irlanda, descerrou-se um
memorial formado por nove penas de águia, metálicas, intitulado «Kindred
Spirits» (os espíritos da amizade) em honra da generosidade dos Choctaw.
Os acontecimentos mais recentes fizeram
reviver de modo expressivo esta estima desinteressada que cresce desde há 173
anos entre as duas margens do Atlântico.
Sugestão de auxílio às vitimas das consequências do COVID 19 em Portugal da responsabilidade do blogue convictos que o autor do artigo estará de acordo com a nossa sugestão. Obrigado! https://www.alimentestaideia.pt/ |
Neste momento, existem cerca de
200 mil índios Choctaw, metade dos quais na zona de Oklahoma. Ainda são muito
pobres – cerca de 40% não tem água potável e 10% não têm sequer electricidade –,
em geral as condições higiénicas são más e talvez por isso registam uma das
taxas mais elevadas de infecção por Covid 19 nos E.U.A. Há poucos dias, quando
os irlandeses receberam a notícia de que há milhares de pessoas infectadas na
comunidade Choctaw e uma centena de mortos, mobilizaram-se e enviaram-lhes três
milhões de dólares.
José Maria C.S. André