Perguntas: responsabilidade de
"É o Carteiro!"
26- Se João Paulo II dizia isso, Bento XVI deve ter ido na mesma
linha, não é verdade?
Na Exortação pós-sinodal Sacramentum caritatis de 22 de Fevereiro de 2007 Bento XVI retoma e
relança o trabalho do precedente Sínodo dos Bispos sobre a Eucaristia.
Ele fala também da situação dos fiéis divorciados
recasados no n. 29, onde não hesita defini-la «um problema pastoral delicado
e complexo».
27- Ao que parece, Bento XVI fez uma desafiante proposta de vida aos
divorciados recasados. Qual foi?
Bento XVI reafirma «a prática da Igreja, fundada na
Sagrada Escritura (cf. Mc 10, 2-12), de não admitir aos Sacramentos os
divorciados recasados», mas chega até a intimar os pastores a dedicar «especial
atenção» em relação às pessoas envolvidas «no desejo de que cultivem, na
medida do possível, um estilo cristão de vida através da participação na Santa
Missa, mesmo sem receber a Comunhão, da escuta da Palavra de Deus, da adoração
eucarística, da oração, da participação na vida comunitária, do diálogo
confidente com um sacerdote ou um mestre de vida espiritual, da dedicação à
caridade vivida, das obras de penitência, do compromisso educativo dos filhos».
28- Peço desculpa por insistir. E diz Bento XVI alguma coisa aos
fiéis divorciados e recasados que estão convencidos que o matrimónio católico
em que fracassaram nunca foi um matrimónio consistente?
É reafirmado que, em caso de dúvidas acerca da
validade da comunhão de vida matrimonial que foi interrompida, elas devem ser
examinadas atentamente pelos tribunais competentes em matéria matrimonial.
29- Quais são os aspectos fundamentais que podem fazer com que um matrimónio
católico não tenha sido "válido"? Isto é, o que é que faz que um
matrimónio, embora tenha sido celebrado e festejado, tivesse logo de origem uma
espécie de "defeito de nascença" de tal modo relevante que o
matrimónio – apesar das aparências – nem sequer tenha chegado a existir?
A mentalidade contemporânea está bastante em contraste
com a compreensão cristã do matrimónio, sobretudo em relação à sua indissolubilidade
e à abertura à vida.
Considerando que muitos cristãos são influenciados por
tal contexto cultural, os matrimónios são provavelmente com mais frequência não
válidos nos nossos dias de quanto o eram no passado, porque é deficitária a
vontade de se casar segundo o sentido da doutrina matrimonial católica e também
a pertença a um contexto vital de fé é muito limitada.
Portanto, uma verificação da validade do matrimónio é
importante e pode levar a uma solução dos problemas.
30- Bem, mas pode acontecer não se provar a nulidade do matrimónio.
Um divorciado recasado que esteja nessa situação, não pode confessar-se e
comungar de todo?
Quando não é possível comprovar uma nulidade do
matrimónio, é possível a absolvição e a Comunhão eucarística se for seguida a
aprovada prática eclesial que estabelece que se viva juntos «como amigos,
como irmão e irmã».
31- Qual o juízo de Bento XVI sobre as bênçãos de uniões civis entre
católicos?
As bênçãos de vínculos irregulares devem «ser
evitadas em qualquer caso […] para que não surjam entre os fiéis confusões
acerca do valor do Matrimónio».
A bênção (benedictio:
aprovação por parte de Deus) de uma relação que se contrapõe à vontade divina
deve ser considerada em si uma contradição.
32- Que mais disse Bento XVI aos divorciados recasados?
Na homilia pronunciada em Milão a 3 de Junho de 2012,
por ocasião do VII Encontro mundial das famílias, Bento XVI voltou a falar
deste doloroso problema:
«Gostaria de dedicar uma palavra também aos fiéis que,
mesmo partilhando os ensinamentos da Igreja sobre a família, estão marcados por
experiências dolorosas de fracasso ou de separação. Sabei que o Papa e a Igreja
vos amparam na vossa fadiga. Encorajo-vos a permanecer unidos às vossas
comunidades, enquanto faço votos por que as dioceses realizem iniciativas
adequadas de acolhimento e proximidade».
33- Há a destacar mais alguma declaração formal recente do magistério?
O último Sínodo dos Bispos sobre o tema «A nova
Evangelização para a transmissão da fé cristã» (7-28 de Outubro de 2012)
ocupou-se de novo da situação dos fiéis que, a seguir ao fracasso da comunhão
de vida matrimonial (não à falência do matrimónio, que subsiste enquanto
sacramento) iniciou uma nova união e convivem sem o vínculo sacramental do
matrimónio.
Na mensagem final os Padres sinodais dirigiram-se com
estas palavras aos fiéis concernidos: «A todos eles desejamos dizer que o
amor do Senhor não abandona ninguém, que também a Igreja os ama e é casa acolhedora
para todos, que eles permanecem membros da Igreja mesmo se não podem receber a
absolvição sacramental e a Eucaristia. As comunidades católicas sejam
acolhedoras em relação a quantos vivem em tais situações e apoiem caminhos de
conversão e de reconciliação».