Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

terça-feira, 9 de abril de 2019

Não recusemos a obrigação de viver

Ficaste muito sério ao ouvir-me: aceito a morte quando Ele quiser, como Ele quiser e onde Ele quiser; e, ao mesmo tempo, penso que é "um comodismo" morrer cedo, porque temos de desejar trabalhar muitos anos para Ele e, por Ele, ao serviço dos outros. (Forja, 1039)

Libertar-vos-ei do cativeiro, onde quer que estiverdes. Livramo-nos da escravidão com a oração: sabemo-nos livres, voando num epitalâmio de alma enamorada, num cântico de amor, que nos leva a desejar não nos afastarmos de Deus... Um novo modo de andar na terra, um modo divino, sobrenatural, maravilhoso! Recordando tantos escritores quinhentistas castelhanos, talvez nos agrade saborear frases como esta: Eu vivo, porque não vivo; é Cristo que vive em mim.

Aceita-se com todo o gosto a necessidade de trabalhar neste mundo, durante muitos anos, porque Jesus tem poucos amigos cá em baixo. Não recusemos a obrigação de viver, de nos gastarmos – bem espremidos – ao serviço de Deus e da Igreja. Desta maneira, em liberdade: in libertatem gloriae filiorum Dei, qua libertate Christus nos liberavit; com a liberdade dos filhos de Deus, que Jesus Cristo nos alcançou morrendo no madeiro da Cruz.

É possível que logo desde o princípio se levantem nuvens de poeira e que, ao mesmo tempo, os inimigos da nossa santificação empreguem uma técnica de terrorismo psicológico – de abuso de poder – tão veemente e bem orquestrada, que arrastem na sua absurda direcção inclusivamente aqueles que durante muito tempo mantinham uma conduta mais lógica e mais recta. E apesar de a sua voz soar a sino rachado, não fundido em bom metal e bem diferente do assobio do pastor, rebaixam a palavra, que é um dos dons mais preciosos que o homem recebeu de Deus, presente belíssimo destinado a manifestar altos pensamentos de amor e de amizade ao Senhor e às suas criaturas, até fazer com que se entenda por que motivo disse S. Tiago que a língua é um mundo de iniquidade. Tantos danos pode, realmente produzir! Mentiras, difamações, desonras, intrigas, insultos, murmurações tortuosas... (Amigos de Deus, 297–298)

São Josemaría Escrivá

O mundo das pedras vulcânicas

A recente Exortação apostólica do Papa Francisco, dedicada à santidade, evoca o curioso romance de Joseph Malègue intitulado «Pierres noires: Les Classes moyennes du Salut» (em português, significa «Pedras Negras: as Classes Médias da Salvação»).

As pedras negras são as pedras vulcânicas que marcam a paisagem e as povoações do Auvergne e do Cantal, regiões da França onde a acção decorre. O tema do livro é a decadência de uma sociedade fechada, um mundo tradicionalista em que a referência ao cristianismo justificava rendas e privilégios de épocas passadas. Para uma certa classe social, a queda da monarquia e o advento da república tinham coincidido com a perda dessa estabilidade económica e social, de modo que o cristianismo e a política lhes pareciam aliados. Pairava nesses ambientes uma nostalgia, simultaneamente espiritual e mundana, porque, ao mesmo tempo que a sociedade se descristianizava, perdiam-se os benefícios de outrora.

As páginas de Malègue descrevem, com pormenor e elegância literária, o olhar sensual sobre a beleza feminina, as divisões sociais implacáveis, as fortunas destruídas, os casamentos fracassados, a angústia e mesmo o suicídio dos católicos das famílias com tradição. Na verdade, não eram bem católicos, eram apenas gente razoável, que estaria disposta a uma certa decência, se isso lhes garantisse a felicidade familiar e a prosperidade material. O problema é que a vida ia destruindo as diferenças sociais que suportavam os seus rendimentos e, perdido o conforto, decaía a fé. Num primeiro momento, suspiravam pelo passado, pelo regresso da monarquia, por uma economia assente em heranças inesgotáveis. Com o desfazer do sonho, traíam a família, abandonavam a Igreja e, nos casos extremos, punham fim à vida. Este é o drama da «classe média da salvação». Não pediam muito, não queriam ser santos, bastava-lhes uma vida fácil e conseguir escapar do Inferno.

O Papa Francisco pegou na expressão de Malègue e deu-lhe um sentido completamente novo. Trocou «salvação» por «santidade» e propô-la como ideal para toda a Igreja. Deus «quer-nos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa» (nº 1).

Em que sentido, então, o Papa fala de «classe média»?

«Deixemo-nos estimular pelos sinais de santidade que o Senhor nos apresenta através dos membros mais humildes deste povo. (...) Pensemos que é através de muitos deles que se constrói a verdadeira história (...). Certamente, os eventos decisivos da história do mundo foram essencialmente influenciados por almas sobre as quais nada se diz nos livros de história, (...) almas, a quem devemos agradecer os acontecimentos decisivos da nossa vida pessoal, que só conheceremos no dia em que tudo o que está oculto for revelado» (nº 8).

Trata-se de uma «classe média» porque a santidade verdadeira – maravilhosa aos olhos de Deus – não tem de ser espalhafatosa. «Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. (...) Esta é muitas vezes a santidade “ao pé da porta”, daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus, ou, por outras palavras, da “classe média da santidade”» (nº 7).

Paradoxalmente, os personagens de Malègue, os cristãos das famílias tradicionais em amarga crise de fé, os cristãos que gostariam de se salvar a baixo preço, não são os heróis de Francisco. Os verdadeiros heróis são o povo anónimo, que vive, no meio das dificuldades, a alegria das bem-aventuranças e, ainda que o mundo os despreze e considere irrelevantes, são imensamente felizes e fazem a alegria de Deus. As primeiras palavras da Exortação apostólica ecoam ao longo de todo o texto com este contraponto paradoxal: «Alegrai-vos e exultai!», a bênção de Jesus a todos os que seguem as bem-aventuranças.

«Os profetas anunciavam o tempo de Jesus, que estamos a viver, como uma revelação da alegria: “Exultai de alegria!” (...), “Exulta de alegria, ó terra! Rompei em exclamações ó montes!” (...) “Exulta de alegria, filha de Sião! Solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém!” (...) E não esqueçamos Neemias: “não entristeçais, porque a alegria do Senhor é que é a vossa força”» (nº 123).

Se me é permitido resumir numa palavra a Exortação do Papa, eu diria: «Deus não Se deixa vencer em generosidade».
José Maria C.S. André
22-IV-2018
Spe Deus

A castidade

«Eu pensava que a continência dependia das minhas próprias forças, forças que em mim não conhecia. E era suficientemente louco para não saber [...] que ninguém pode ser continente, se Tu lho não concederes. E de certo Tu o terias concedido, se com gemido interior eu chamasse aos teus ouvidos e se com fé sólida lançasse em Ti o meu cuidado»

(Santo Agostinho - Confissões, 6, 11, 20) 

Evangelho do dia 9 de abril de 2019

Jesus disse-lhes mais: «Eu retiro-Me: vós Me buscareis, e morrereis no vosso pecado. Para onde Eu vou, vós não podeis ir». Diziam, pois, os judeus: «Será que Ele Se mate a Si mesmo, pois diz: Para onde Eu vou, vós não podeis ir?». Ele disse-lhes: «Vós sois cá de baixo, Eu sou lá de cima. Vós sois deste mundo, Eu não sou deste mundo. Por isso Eu vos disse que morreríeis nos vossos pecados; sim, se não crerdes que “Eu sou”, morrereis nos vossos pecados». Disseram-Lhe então eles: «Quem és Tu?». Jesus respondeu-lhes: «É exactamente isso que Eu vos estou a dizer. Muitas coisas tenho a dizer e a julgar a vosso respeito, mas O que Me enviou é verdadeiro e o que ouvi d'Ele é o que digo ao mundo». Eles não compreenderam que Jesus lhes falava do Pai. Jesus disse-lhes mais: «Quando tiverdes levantado o Filho do Homem, então conhecereis que “Eu sou” e que nada faço por Mim mesmo, mas que, como o Pai Me ensinou, assim falo. O que Me enviou está comigo, não Me deixou só, porque Eu faço sempre aquilo que é do Seu agrado». Dizendo estas coisas, muitos acreditaram n'Ele.

Jo 8, 21-30