Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sexta-feira, 24 de julho de 2020

A sabedoria e a insensatez

A basílica de Santa Sabedoria (em grego Hagia Sophia) foi construída em madeira no ano 360, pouco depois de o Imperador Constantino ter encerrado três séculos de perseguição à Igreja. Desde então, o edifício sobreviveu, foi restaurado, saqueado, recuperado de novo, sucessivas vezes, até aos nossos dias. A construção actual, já em tijolo, remonta ao século V, revestida de mosaicos muito valiosos pelo desenho, pelas cores e pelos materiais usados, incluindo o ouro. A cúpula impressiona pelo arrojo do projecto e os mosaicos emprestam-lhe um brilho e uma festa notáveis.

Constantinopla (do nome do Imperador Constantino) foi durante mil anos a capital do império bizantino e esta basílica o ponto focal da sua vida espiritual e intelectual.

Até que, em 1453, o sultão otomano Fatih Mehmet II conquistou Constantinopla, mudou-lhe o nome para Istambul, e adaptou a basílica a mesquita. Para isso, seria preciso remover os mosaicos, repletos de cenas da Bíblia e de referências cristãs, no entanto, Mehmet II só teve coragem de os tapar com estuque. Assim se manteve Santa Sofia como mesquita até ao século XX, enquanto durou o império otomano.

O poder otomano atingiu o apogeu nos séculos XVI – XVII, quando se propôs invadir a Europa cristã. A situação esteve várias vezes por um fio. Um dos momentos-chave foi a batalha naval de Lepanto, ao largo da costa grega (1571). O Papa Pio V convocou a cristandade para rezar, quis que os militares cristãos levassem consigo o Terço e, no momento do confronto, ele próprio rezava com os peregrinos, em Roma. No final da oração, anunciou-lhes que, graças à intercessão de Maria, a Europa acabava de ser salva e, passados poucos dias, chegou a armada a confirmar a notícia. Foi por causa da protecção de Nossa Senhora em Lepanto que se acrescentou à ladainha do Terço a invocação «Auxílio dos cristãos, rogai por nós».

Depois de Lepanto, ainda houve algumas tentativas otomanas de assaltar a Europa mas o império entrou em declínio e foi perdendo, pouco a pouco, os vastos territórios que dominava. Em 1830, os gregos recuperaram a independência; em 1878, foi a vez da Roménia, da Sérvia, da Bulgária. Durante a guerra de 1912-13, o império otomano perdeu o que lhe restava de territórios europeus. Em 1915, o regime ainda teve força para realizar o genocídio arménio (em que morreram milhões de arménios) mas a corte dos sultões já tinha os dias contados. Em 1922, Mustafa Kemal tomou o poder e conservou-o até à sua morte. Esta ditadura introduziu tantas reformas que Kemal é conhecido como o Atatürk (pai dos turcos, fundador da Turquia). Uma das suas decisões radicais foi retirar o estuque das paredes de Santa Sofia e restituir ao mundo os mosaicos tapados durante seis séculos. Obviamente, uma vez removido o estuque, o edifício já não podia ser usado como mesquita, mas como o Atatürk também não o queria devolver aos cristãos, Santa Sofia passou a ser simplesmente um museu.

A vida dá muitas voltas e Recep Tayyip Erdoğan, actual sucessor do Atatürk, anunciou que o museu voltaria a ser uma mesquita. A UNESCO protestou energicamente e chamou o Embaixador da Turquia para lhe lembrar que a decisão violava os acordos internacionais. Um pouco por todo o mundo, as principais autoridades fizeram ouvir a sua voz, aparentemente sem êxito, para além de chamarem a atenção para a perseguição aos cristãos na Turquia: apesar de serem uma pequena minoria, todos os anos há cristãos mortos por forças do Governo ou por milícias árabes.

Dos EUA chega a notícia de que a nova moda é destruir imagens católicas. Deitaram abaixo a estátua de S. Junípero em S. Francisco, destruíram um monumento às crianças não nascidas na igreja de Nossa Senhora da Assunção em Nova York, partiram à martelada o crucifixo da paróquia de Santa Bernardette no Illinois, pintaram e sujaram uma estátua de Jesus em Monstana, decapitaram uma imagem de Nossa Senhora na Indiana, etc. Em Los Angeles, pegaram fogo a uma das igrejas norte-americanas mais antigas (século XVIII). Etc.

A Conferência Episcopal dos EUA tentou decifrar estes atentados: «trata-se de indivíduos com problemas, que querem chamar a atenção porque precisam de ajuda? De qualquer maneira, os ataques são sintomas de uma sociedade que precisa de cura».

Cá em Portugal também. Uns precisam de cura, nós precisamos de paciência.
José Maria C.S. André

Pôr Cristo no cume de todas as actividades

Qualquer actividade – quer seja ou não humanamente muito importante – tem de converter-se para ti num meio de servir Nosso Senhor e os homens: aí está a verdadeira dimensão da sua importância. (Forja, 684)

Trabalha sempre e em tudo, com sacrifício, para pôr Cristo no cume de todas as actividades dos homens. (Forja, 685)

A correspondência à graça também está nessas coisas miúdas do dia, que parecem sem categoria e, no entanto, têm a transcendência do Amor.(Forja, 686)

Não se pode esquecer que o trabalho humanamente digno, nobre e honesto, pode – e deve! – elevar-se à ordem sobrenatural, passando a ser uma tarefa divina. (Forja, 687)

Jesus, nosso Senhor e nosso Modelo, crescendo e vivendo como um de nós, revela-nos que na existência humana – a tua –, as ocupações correntes e vulgares têm um sentido divino, de eternidade. (Forja, 688)

São Josemaría Escrivá

O TRIGO E O JOIO

Evangelho segundo S. Mateus 13,24-43.

Naquele tempo, Jesus propôs à multidão mais esta parábola: «O Reino do Céu é comparável a um homem que semeou boa semente no seu campo. Ora, enquanto os seus homens dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e afastou-se. Quando a haste cresceu e deu fruto, apareceu também o joio.
Os servos do dono da casa foram ter com ele e disseram-lhe: 'Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio?’ 'Foi algum inimigo meu que fez isto’ respondeu ele. Disseram-lhe os servos: 'Queres que vamos arrancá-lo?’
Ele respondeu: 'Não, para que não suceda que, ao apanhardes o joio, arranqueis o trigo ao mesmo tempo. Deixai um e outro crescer juntos, até à ceifa; e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em feixes para ser queimado; e recolhei o trigo no meu celeiro.’»
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Afastando-se, então, das multidões, Jesus foi para casa. E os seus discípulos, aproximando-se dele, disseram-lhe: «Explica-nos a parábola do joio no campo.»
Ele, respondendo, disse-lhes: «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem; o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do Reino; o joio são os filhos do maligno; o inimigo que a semeou é o diabo; a ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os anjos.
Assim, pois, como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será no fim do mundo: o Filho do Homem enviará os seus anjos, que hão-de tirar do seu Reino todos os escandalosos e todos quantos praticam a iniquidade, e lançá-los na fornalha ardente; ali haverá choro e ranger de dentes.
Então os justos resplandecerão como o Sol, no Reino de seu Pai.
Aquele que tem ouvidos, oiça!»

Ao ouvir este Domingo o Evangelho e a homilia do sacerdote que presidia à celebração, fui-me deixando conduzir a “ver” mais para além das palavras que já tão bem conhecia, desta parábola.

“Saltou-me” ao coração esta frase dos “servos do dono”:
'Queres que vamos arrancá-lo?’ Mt 13, 28

Pressurosos, queriam de imediato tratar da “pureza” do campo, e desde logo eliminar tudo o que não fosse, segundo a sua visão, o trigo que tinha sido plantado.
Mas o dono do campo, pacientemente, disse-lhes que não, que era melhor esperar, que era melhor perceber e ter a certeza daquilo que era trigo e daquilo que era joio, pois na precipitação poder-se-ia eliminar também algum trigo bom.

E isto fez-me lembrar as nossas atitudes perante os outros, perante aqueles que julgamos não serem “verdadeiros cristãos”, e por isso mesmo, tantas vezes os desprezamos e colocamos de lado, sem tentar perceber se naquele que julgamos “joio”, não poderá haver afinal “trigo”.

E se por vezes não tomamos atitudes directas de exclusão para com eles, tantas vezes os olhamos de lado, com olhar reprovador, porque aquele ou aquela viveram fora da Igreja, ou vivem esta ou aquela situação, ou fazem isto ou aquilo que para nós é condenável.

E quem nos permitiu a nós, sabermos se naquilo que nos parece “joio”, não vai ainda nascer uma bela “espiga de trigo”, fruto bom que pode ser dado a outros?

Quem nos instituiu a nós “julgadores”, “separadores” do “trigo” e do “joio”?

O Senhor diz-nos nesta parábola, «deixai um e outro crescer juntos, até à ceifa».Mt 13, 30

Este não é um “campo” de exclusão, é um “campo” de acolhimento.
Agora ainda não se consegue perceber aqueles que vão ser “trigo” e aqueles que vão ser “joio”.
Deixá-los crescer juntos, porque alguns daqueles que agora parecem “joio”, serão afinal “trigo” para ser recolhido no “celeiro do dono”.

Será o Senhor, no tempo certo, que dirá o que é “joio” e o que é “trigo”, e serão os anjos que apartarão o que for necessário apartar.

E o Senhor termina estas parábolas com este ensinamento:
«o Filho do Homem enviará os seus anjos, que hão-de tirar do seu Reino todos os escandalosos e todos quantos praticam a iniquidade, e lançá-los na fornalha ardente; ali haverá choro e ranger de dentes.
Então os justos resplandecerão como o Sol, no Reino de seu Pai. Aquele que tem ouvidos, oiça!» Mt 13, 41-43

E o final do Evangelho este Domingo, traz ao meu coração, que não são os homens pela sua inteligência, pela sua vontade que podem ou conseguem mudar a vontade de Deus, que podem ou conseguem mudar a Doutrina, que podem ou conseguem mudar a Palavra revelada.

Não são os homens pela sua inteligência, pela sua vontade que podem mudar aquilo que é mau, aquilo que é “joio”, em coisa boa, em “trigo bom”.
Por muito que argumentem com razões para “legitimar” o aborto, por exemplo, este nunca será “legítimo”, este nunca será da vontade de Deus, este será sempre “joio”.

Não tenhamos dúvidas que por muito que tentemos “torcer” a Palavra de Deus, para servir os nossos propósitos, a nossa vontade, não seremos nós que escolheremos e separaremos o “joio” do “trigo”, mas será o “dono do campo” que saberá o que deve ser recolhido no seu “celeiro” e o que deve ser lançado no fogo.

E o “dono do campo” já nos disse muito claramente, o que é o “trigo” e o que é o “joio”, para que não nos enganemos, e crescendo juntos no mesmo campo, possamos todos ser “trigo” para ser recolhido no “celeiro” do Senhor.
Joaquim Mexia Alves

Egocentrismo

Qualquer pessoa franca sabe que necessita de melhorar constantemente o seu carácter. É uma tarefa árdua. Requer um conhecimento próprio objectivo — “ciência” que é a mais complicada de aprender.

Além disso, é necessário ter abundante paciência e um profundo espírito desportivo, uma vez que melhorar o nosso carácter tem um “prazo de validade” que se identifica com a nossa vida.

Só no fim da existência, se soubermos corresponder com generosidade à acção da graça de Deus em nós, seremos aquilo que estamos chamados a ser: “perfeitos”. Numa linguagem cristã diz-se “santos”. Somente nessa ocasião teremos um carácter plenamente humano, à imagem do modelo por excelência que é Jesus Cristo.

Sabendo tudo isto, surge naturalmente a pergunta: qual é o modo mais eficaz de aperfeiçoar o nosso carácter?

Existem várias respostas, todas elas muito válidas. No entanto, gostaria de sublinhar uma que me parece fundamental: ninguém melhora o seu carácter se não se esforça por vencer uma tendência inata que todos possuímos: o egocentrismo.

Seremos muito mais humanos se nos esforçarmos de verdade por não estar centrados em nós mesmos. Se percebermos que é um erro crasso viver como se fôssemos o centro do Universo.

E, muitas vezes, o nosso mundo interior descontrolado — pensamentos, imagens, recordações — tende a dificultar muito a tarefa de superar o egocentrismo. Quem se preocupa somente consigo mesmo não consegue viver uma vida plenamente humana.

O activismo, com muita frequência, manifesta egocentrismo. Uma pessoa deve trabalhar muito e bem — mas não pode utilizar os seus deveres como uma desculpa para não prestar atenção aos outros.

Saber ser felizes é um factor fundamental da nossa existência. Mesmo que pareça paradoxal, convém meditar que não há verdadeira felicidade nesta Terra sem algum tipo de renúncia. E uma renúncia indispensável para se ser feliz é o esforço sincero por superar o egocentrismo.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria