Deus quer que em toda a família, seja de origem natural ou sobrenatural, reine sempre a generosidade, que é fonte de harmonia e de paz. Assim, recreando dia a dia o ambiente de Nazaré, em cada lar, de cada vez que uma família guarda este mistério, mesmo que esteja na periferia do mundo, o mistério do Filho de Deus, o mistério de Jesus que vem salvar-nos está a atuar. E vem para salvar o mundo. Esta é a grande missão da família: fazer lugar para Jesus que vem, acolher Jesus na família, na pessoa dos filhos, do marido, da esposa, dos avós... porque Jesus está aí. É preciso acolhê-Lo aí, para que cresça espiritualmente nessa família [7] e, analogamente, na grande família da Igreja.
A família baseada nos vínculos naturais tem como fundamento o casamento, situação estável e definitiva entre um homem e uma mulher para cumprirem o mandato de Deus na Criação [8]. Para os batizados, como bem sabemos, o casamento é, além disso, um sacramento: canal por onde chega aos cônjuges a graça específica do seu estado, imagem da união de Cristo com a Igreja [9]. É por isso, escreve o nosso Padre, que penso sempre com esperança e com carinho nos lares cristãos, em todas as famílias que brotaram do Sacramento do Matrimónio, que são testemunhos luminosos desse grande mistério divino – sacramentum magnum! (Ef 5, 32), grande sacramento – da união e do amor entre Cristo e a Sua Igreja. Devemos trabalhar para que estas células cristãs da sociedade nasçam e se desenvolvam com a luta pela santidade, com a consciência de que o sacramento inicial – o Batismo – confere já a todos os cristãos uma missão divina, que cada um deve cumprir no caminho que lhe é próprio [10].
S. Josemaria dava aos esposos uns conselhos nascidos da sua experiência e do seu ministério sacerdotal. Uma vez, respondendo a uma pergunta que lhe fizeram em Buenos Aires, exortava: Amai-vos de verdade! (…). Sobretudo, nunca discutais diante dos filhos. Porque as crianças reparam em tudo e fazem logo o seu juízo. Não sabem que S. Paulo escreveu: qui iúdicat Dóminus est (1 Cor 4, 4), que é o Senhor Quem julga. Erigem-se em senhores, mesmo que tenham 3 ou 4 anos, e pensam: a mãe é má, ou o pai é mau. É uma confusão terrível, pobres criaturas! Não causeis essa tragedia nos corações dos vossos filhos. Esperai, tende paciência, e depois discutireis quando o miúdo estiver a dormir. Mas pouco, sabendo que não tendes razão [11].
Todos podemos fazer nossos estes conselhos que ajudam a salvaguardar o relacionamento fraterno com as outras pessoas. Temos de meter o caráter no bolso – dizia, com bom humor – e, por amor a Jesus Cristo, sorrir e tornar agradável a vida aos que temos junto de nós [12]. Não é nada estranho – somos seres humanos, não puros espíritos – que alguma vez se nos escape uma reação desabrida ou de mau génio, fruto da soberba pessoal, capaz de turvar o convívio com as pessoas. Mas contamos com o remédio ao alcance da mão: saber pedir desculpa, mostrar de uma forma ou de outra que nos dói ter causado um desgosto a alguém. E se alguma vez pensamos que nos ofenderam, expulsemos terminantemente do coração, com a ajuda do Senhor, qualquer ressentimento: não queiramos incubar germes nocivos que podem amargurar as relações com os outros.
O Senhor é muito claro neste ponto, como diz o Evangelho: Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás. Aquele que matar terá de responder em julgamento. Eu, porém, digo-vos: Quem se irritar contra o seu irmão será réu perante o tribunal; quem lhe chamar "imbecil" será réu diante do Conselho e quem lhe chamar "louco" será réu da Geena do fogo. Se fores, portanto, apresentar uma oferta sobre o altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão. Depois, volta para apresentar a tua oferta [13
[7]. Papa Francisco, Discurso na Audiência geral, 17-XII-2014.
[8]. Cfr. Gn 1, 26-28.
[9]. Cfr. Ef 5, 31-32.
[10]. S. Josemaria, Temas atuais do Cristianismo, n. 91.
[11]. S. Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 23-VI-1974.
[12]. S. Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 4-VI-1974.
[13]. Mt 5, 21-24.
(D. Javier Echevarría na carta do mês de fevereiro de 2015)
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