Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sábado, 14 de dezembro de 2019

“Um encontro pessoal com Deus”

Quando o receberes, diz-lhe: – Senhor, espero em Ti; adoro-te, amo-te, aumenta-me a fé. Sê o apoio da minha debilidade, Tu, que ficaste na Eucaristia, inerme, para remediar a fraqueza das criaturas. (Forja, 832)


Creio que não vou dizer nada de novo, se afirmar que alguns cristãos têm uma visão muito pobre da Santa Missa e que ela é para muitos um mero rito exterior, quando não um convencionalismo social. Isto acontece, porque os nossos corações, de si tão mesquinhos, são capazes de viver com rotina a maior doação de Deus aos homens. Na Santa Missa, nesta Missa que agora celebramos, intervém de um modo especial, repito, a Trindade Santíssima. Para corresponder a tanto amor, é preciso que haja da nossa parte uma entrega total do corpo e da alma, pois vamos ouvir Deus, falar com Ele, vê-Lo, saboreá-Lo. E se as palavras não forem suficientes, poderemos cantar, incitando a nossa língua – Pange, lingua! – a que proclame, na presença de toda a Humanidade, as grandezas do Senhor.

Viver a Santa Missa é manter-se em oração contínua, convencermo-nos de que, para cada um de nós, este é um encontro pessoal com Deus, em que O adoramos, O louvamos, Lhe pedimos, Lhe damos graças, reparamos os nossos pecados, nos purificamos e nos sentimos uma só coisa em Cristo com todos os cristãos.. (Cristo que passa, 87–88)

São Josemaría Escrivá

Alexómenos

Para quem não tem alergia ao pó dos livros, folhear exemplares com mais de um século é uma provocação irresistível e o dia de hoje convida a uma dessas leituras. Já explico qual.

Celebra-se hoje (11 de Dezembro) a memória do Papa S. Dâmaso, nascido em Roma de uma família originária da Galiza. Os pais chamavam-se António e Laurência. Este Papa santo nasceu e morreu no século IV, numa altura de profundas transformações. A Igreja passou de perseguida pelo Imperador a defendida por este, ao mesmo tempo que proliferaram heresias violentas em várias partes do Império. O clima de paz na cidade de Roma favoreceu a construção de templos cristãos, mas foi também a ocasião para alguns cristãos se aburguesarem. Simultaneamente, o mundo civilizado, que até então falava grego, passou a falar latim. Em pouco tempo, o mundo ficou completamente diferente.

O fim das perseguições imperiais permitiu que as intervenções enérgicas do Papa Dâmaso chegassem aos confins da terra conhecida, através das suas numerosas cartas. A mudança da língua vulgar do grego para o latim levou-o a fazer uma reforma litúrgica bastante radical, traduzindo umas orações do grego para o latim e escrevendo outras novas, que perduraram até aos nossos dias. Foi ele quem encarregou S. Jerónimo de fazer uma boa tradução da Bíblia para latim, aquela que ficou conhecida como a «Vulgata» e ainda hoje é uma referência pela sua qualidade.

A reacção de Dâmaso ao aburguesamento dos cristãos de Roma consistiu em lembrar-lhes a vida santa dos cristãos mais antigos, em particular dos que derramaram o sangue por fidelidade a Cristo. Dâmaso dedicou um grande esforço a cuidar os sepulcros dos mártires, conservou as actas que relatam o seu martírio e redigiu uma vasta colecção de «epigrammata», pequenos poemas em memória de muitos deles.

Por tudo isto, a celebração de S. Dâmaso é um bom dia para recordar o «Catacombs of Rome and their Testimony Relative to Primitive Christianity», do historiador W. H. Withrow, editado em Londres há 131 anos. O livro descreve a iconografia dos primitivos cristãos e o respeito que eles tinham pelo corpo humano. Por isso, em vez de o queimarem depois da morte, sepultavam-no como objecto precioso, símbolo da ressurreição futura.

Mas a razão que me trouxe este livro à memória é o paralelismo entre a agressividade do ambiente daqueles tempos e a do mundo ocidental nos nossos dias.

Naquele tempo, a crucifixão era considerada a morte mais ignominiosa, a punição mais horrível e brutal. Para os pagãos, estava tudo dito acerca da indignidade de Jesus Cristo: foi crucificado. Como é possível Deus descer tão baixo? E que humilhação inconcebível, seguir um salvador que foi morto na cruz!

Escreve Withrow: «Uma mostra desta sensibilidade é uma caricatura blasfema da crucifixão encontrada nas paredes do palácio dos césares, datada aproximadamente do tempo do Imperador Septímio Severo. Representa uma personagem com cabeça de burro atada a uma cruz e outra figura a beijar-lhe a mão em gesto de adoração. Por baixo, um “graffito” grosseiro diz: Ἀλεξόμενος σέβετε [sic] Θεὸν —“Alexómenos adora o seu Deus”. Provavelmente, este “graffito” foi desenhado por algum legionário romano para troçar de um soldado cristão da casa de César».

Withrow localiza esta placa no Museu do Collegio Romano dos jesuítas, chamado Museu Kircheriano, mas muitas peças deste museu foram dispersas por outros museus de Roma numa época de perseguição aos jesuítas e parece que esta placa foi uma das que foi levada.

Withrow cita também Tertuliano, um escritor do século II-III, que relata que era comum os pagãos pensarem que o Deus dos cristãos tinha cabeça de burro. O mesmo Tertuliano fala de outra caricatura pagã com orelhas de burro, casco num dos pés, carregando um livro e usando uma toga, na qual estava afixada a inscrição «O Deus dos cristãos, nascido de um burro». Numa laje descoberta em Vigna Nussiner, há uma representação de um burro com a inscrição satírica «Hic est Deus Hadriani» —“Eis o deus de Adriano”.


Pensando na abundância de caricaturas desrespeitosas para com Deus, pergunto-me se os pagãos de hoje não poderiam evoluir em relação aos pagãos seus antepassados. Pelo contrário, Chesterton desafiava-os a imitarem-nos até ao fim, porque os pagãos de há muitos séculos, que desenhavam caricaturas blasfemas, acabaram por se converter.

José Maria C.S. André

O Evangelho de Domingo dia 15 de dezembro de 2019

E como João, estando no cárcere, tivesse ouvido falar das obras de Cristo, enviou dois dos seus discípulos, a perguntar-Lhe: «És Tu Aquele que há-de vir, ou devemos esperar outro?». Jesus respondeu-lhes: «Ide e contai a João o que ouvistes e vistes: “Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, os pobres são evangelizados”; e bem-aventurado aquele que não encontrar em Mim motivo de escândalo». Tendo eles partido, começou Jesus a falar de João às turbas: «Que fostes vós ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? Mas que fostes ver? Um homem vestido de roupas delicadas? Mas os que vestem roupas delicadas vivem nos palácios dos reis. Mas que fostes ver? Um profeta? Sim, vos digo Eu, e ainda mais do que profeta. Porque este é aquele de quem está escrito: “Eis que Eu envio o Meu mensageiro à Tua frente, que preparará o caminho diante de Ti”. «Na verdade vos digo que entre os nascidos de mulher não veio ao mundo outro maior que João Baptista; mas o menor no Reino dos Céus é maior do que ele.

Mt 11, 2-11

O pelagianismo burguês-liberal e o dos piedosos

«A primeira variação da presunção, (…), é o pelagianismo burguês-liberal, que se baseia mais ou menos na seguinte consideração: Se Deus tem de existir e se toma realmente conta do homem, não pode ser assim tão tremendamente cheio de pretensões, tal como nos é apresentado pela fé da Igreja. No fundo eu não sou pior que os outros, cumpro o meu dever, e as pequenas fraquezas humanas não podem realmente ser assim tão perigosas. Nesta atitude tão comum estão novamente escondidas a auto-redução e a modéstia pessoal (…) perante o amor infinito, do qual o indivíduo, com o burguês contentamento de si mesmo, pensa não ter necessidade. Talvez durante tempos tranquilos se possa viver prolongadamente nesta atitude, mas nos momentos de crise ou a pessoa se converte ou cai no desespero».

«A outra face do mesmo vício é o pelagianismo dos piedosos. Estes não querem ter perdão algum e, de um modo geral, nenhum verdadeiro dom de Deus. Querem estar em ordem, não querem perdão, mas justa recompensa. Quereriam não esperança, mas segurança. Com um duro rigorismo de exercícios religiosos, com orações e ações, querem ter direito à beatitude. Falta-lhes a humildade essencial para qualquer amor, a humildade de receber dons que ultrapassam a nossa ação e o nosso merecimento. A negação da esperança a favor da segurança, diante da qual nos encontramos agora, baseia-se na incapacidade de viver a tensão do que está para vir e de se abandonar à bondade de Deus. Assim, este pelagianismo é uma apostasia do amor e da esperança e em profundidade também da fé».

(“Olhar para Cristo” – Joseph Ratzinger)

S. João da Cruz, presbítero, reformador, Doutor da Igreja, †1591

São João da Cruz (João de Yepes) nasceu perto de Ávila, em Fontiveros, Espanha, no ano de 1542. Era filho de tecelões. Após ter dado provas da sua imperícia nas várias ocupações para as quais a família, muito pobre, o tentou encaminhar, ao vinte anos, ingressou na Ordem dos Carmelitas. Estudou artes e teologia em Salamanca, onde foi prefeito dos estudantes. Foi ordenado sacerdote no ano de 1567, época em que se encontrou com Santa Teresa de Ávila (Teresa de Jesus) a reformadora das carmelitas. A Santa fundadora tinha em mente alargar a reforma também aos conventos masculinos da Ordem Carmelita, e seu delicado discernimento fê-la entrever naquele frade, pequeno, extremamente sério, fisicamente insignificante, mas rico interiormente, o parceiro ideal para levar por diante o seu corajoso projecto.

Aos vinte e cinco anos de idade João de Yepes mudou de nome, passando a chamar-se João da Cruz e pôs mãos à obra na reforma, fundando em Durvelo o primeiro convento dos carmelitas descalços. Santa Teresa de Jesus chamava-o de seu pequeno Séneca, brincava amavelmente com a sua baixa estatura mas não hesitava em considerá-lo o pai de sua alma, afirmando também que não era possível discorrer com ele sobre Deus sem vê-lo em êxtase. Vinte e sete anos mais jovem que Teresa, João de Yepes é uma das figuras da mística moderna.

Mas a chamada "religiosidade do deserto" custou ao santo fundador maus-tratos físicos e difamações: em 1577 ficou preso durante oito meses no cárcere de Toledo. Mas foi nessas trevas exteriores que se acendeu a grande chama da sua poesia espiritual. "Padecer e depois morrer" era o lema do autor da Noite Escura da Alma, da Subida do Monte Carmelo, do Cântico Espiritual e da Chama de Amor Viva.

São João da Cruz, morreu no convento de Ubeda, aos quarenta e nove anos, no dia 14 de Dezembro de 1591. Foi canonizado em 1726. O Papa Pio XI conferiu-lhe o título de doutor da Igreja, dois séculos depois.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)