Quando se punha a caminho, alguém correu para Ele e ajoelhou-se, perguntando: «Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?» Jesus disse: «Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão um só: Deus. Sabes os mandamentos: Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes, honra teu pai e tua mãe.»
Ele respondeu: «Mestre, tenho cumprido tudo isso desde a minha juventude.» Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele e disse: «Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me.» Mas, ao ouvir tais palavras, ficou de semblante anuviado e retirou-se pesaroso, pois tinha muitos bens. Mc 10, 17-22
Também eu perguntei: «Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?»
E obtive a mesma resposta: «Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me.»
Então respondi-Lhe: Mas, Senhor, Tu sabes que depois de todos aqueles problemas porque passei, fiquei praticamente sem nada! E sabes também que de algum modo ainda tento dar alguma coisa do pouco que tenho, que, reconheço, é apesar de tudo mais do que o que muitos têm!
Mas Ele respondeu-me com um olhar cheio de ternura: Eu sei que tu já não tens esses bens, que também já não tens essa tal posição social que esses bens te davam, que vives com o que tens e que ainda partilhas alguma coisa daquilo que tens, mas meu filho, continuas agarrado ao que tiveste, de tal modo que colocas em tudo isso, numa qualquer possibilidade da recuperação de tudo isso, a tua felicidade no futuro!
Baixei os olhos, reconheci a verdade do que era dito, e retorqui: Mas, Senhor, é errado sonhar com voltar a ter aquilo que já tive?
E Ele cheio de paciência respondeu-me: Não, meu filho, não é errado! Mas ganhas alguma coisa em sonhar assim? Afinal em que acreditas tu? Acreditas que são os bens do mundo que te levam à vida eterna, à felicidade, ou que esse caminho é seguires-me com a vida que Eu te dou e encho do meu amor, aceitando o teu dia-a-dia no trabalho que coloco nas tuas mãos?
O diálogo continuou: Mas sabes, Senhor, por vezes tenho medo do futuro, tenho medo de ficar sem o pouco que ainda tenho, tenho medo de não saber como fazer, de não saber como viver!
Colocou-me ternamente a mão sobre o ombro e disse: Alguma vez te faltei? Alguma vez te faltei naquilo que é realmente importante na tua vida? Alguma vez não me sentiste ao teu lado? Até mesmo naqueles momentos de secura, não acreditaste sempre que Eu estava ali contigo, embora não Me sentisses.
Envergonhado respondi: Não, Senhor, sempre acreditei que estavas comigo em todos os momentos, embora por vezes me sentisse só!
Obrigou-me a sentar e olhando-me nos olhos, disse: Lembras-te quando tudo aconteceu, como sentiste o teu mundo desmoronar-se? Lembras-te como Me procuraste em cada momento, em cada palavra, em cada sinal, em cada celebração? Lembras-te que Me procuravas, mais procurando o meu amor para alcançares a paz, a aceitação de tudo, do que para pedires o retrocesso do que tinha acontecido? Naquela altura querias sentir apenas o meu amor, a minha presença junto de ti. Porque é que agora não te chega o meu amor?
Olhei-O e disse num murmúrio: É que tenho medo, Senhor! Ou será orgulho e vaidade? Ou será tudo misturado? Parece-me que aquilo que tinha era meu por direito, que fazia parte tão importante da minha vida que me é impossível separar-me de tudo, nem que seja mesmo só sonhando!
Estreitou-me nos seus braços com carinho: Não vês, meu filho, que todos aqueles bens são perecíveis, são efémeros? Não percebes que te entregas agora muito mais a Mim do que naquele tempo? Podes por acaso comprar nem que seja um pouco da vida eterna com aqueles bens? O que te falta? Falta-te amor? Falta-te a família? Faltam-te amigos verdadeiros? Falta-te algo verdadeiramente imprescindível na tua vida? Não me tens a Mim sempre junto de ti e entregando-me a ti e por ti na Eucaristia?
Afastou-me um pouco d’Ele, olhou-me profundamente, e disse: Vai, repousa no meu amor, confia em Mim, recorda o teu passado como algo de muito bom que te dei, mas confia agora apenas no futuro que em ti coloco, em tudo o que te dou, e … «depois, vem e segue-me.»
Abri os braços e clamei: Louvado sejas, Senhor!
Monte Real, 15 de Maio de 2012
Joaquim Mexia Alves AQUI
Nota:
Escrito baseado na realidade da minha vida, reflectindo interiormente nas minhas fraquezas.
Por vezes os bens, mesmo já não os tendo, ainda nos agarram ao passado do mundo, acabando por ser tantas vezes quase “deuses” que mandam nas nossas vidas, não nos deixando caminhar abrindo-nos ao amor de Deus, à confiança em Deus, à esperança em Deus.
E esse “bens”, são desde coisas materiais perdidas, a pessoas queridas que já partiram, a situações vividas, que deixamos “amarrarem-nos” ao passado, impedindo-nos de uma entrega total a Deus, condicionando assim a nossa liberdade e a nossa felicidade.