A história de Fátima está
particularmente relacionada com o Romano Pontífice e os últimos Papas tiveram
muitas perguntas para fazer à Irmã Lúcia.
Pio XII leu atentamente os
escritos da Irmã Lúcia e compreendeu a importância de Fátima em relação ao
pontificado. Mais convencido ficou quando, em 1950, em vários dias próximos da
proclamação do Dogma da Assunção de Nossa Senhora em corpo e alma ao Céu, assistiu,
no Vaticano, ao mesmo «milagre do Sol» que os peregrinos tinham visto em
Fátima, a 13 de Outubro de 1917.
Em 1967, numa altura em que
ainda era raro um Papa sair de Roma, Paulo VI veio a este santuário e quis
falar com a Irmã Lúcia.
Em 1977, o Patriarca de Veneza,
Albino Luciani, que seria depois o Papa João Paulo I, fez uma peregrinação a
Fátima e, graças aos bons ofícios de Olga Cadaval (a célebre figura da música
clássica), encontrou-se com a Irmã Lúcia no convento em que ela vivia, em
Coimbra. A conversa foi longuíssima e impressionou vivamente o futuro Papa. Mais
tarde, correram boatos de que a vidente lhe teria anunciado a eleição
pontifícia e a sua morte pouco depois, mas nada disto parece verdade. Na
entrevista do Pe. Mario Senigaglia, secretário do Patriarca Luciani, à revista
«30 Giorni», não se confirmam esses rumores. O que ficou bastante claro, e coincide
com as recordações do irmão do Patriarca, é que o encontro deixou nele uma
marca profunda. «Nem consigo imaginar o que a Irmã Lúcia me disse», comentou
ele ao irmão. No regresso a Veneza, o secretário do Cardeal recorda que ele lhe
disse o habitual «senta-te», quando havia coisas para tratar. Falou da viagem,
do clima de oração e penitência que tinha visto na Cova da Iria, dos
voluntários que ajudavam os peregrinos. A certa altura, o secretário perguntou
pela visita à Irmã Lúcia e o Patriarca respondeu: «Sim, sim, estive com ela...
Ah! esta freirinha bendita pegou-me nas mãos e começou a falar... estas
benditas freiras, quando começam a falar, não acabam!». Abordaram longamente os
problemas da Igreja, mas não as aparições, excepto nalgum pormenor. Na
sequência, num artigo que publicou num jornal de Veneza, ao fazer a síntese, escreveu
que os santuários servem para lembrar o Evangelho, que isso é que é preciso
anunciar.
O Papa João Paulo II captou,
mais do que ninguém a importância da mensagem de Fátima e é evidente que as
suas várias viagens a Portugal tiveram um foco muito especial neste local.
Várias vezes, consagrou o mundo a Nossa Senhora. A mais importante destas
cerimónias, em que consagrou especialmente a Rússia, foi em 25 de Março de 1984
na Praça de S. Pedro, diante da imagem de Nossa Senhora de Fátima
propositadamente transportada para Roma. O Papa pediu a todos os bispos do
mundo que se unissem em simultâneo àquela consagração e quis cumprir tudo o que
Nossa Senhora tinha pedido em Fátima. No final, enviou um emissário a Coimbra
perguntar à Irmã Lúcia se a consagração correspondia exactamente ao pedido da
Virgem. Como se sabe, passado 5 anos, contra todas as previsões, a União
Soviética colapsou e abriu-se um inesperado momento de liberdade e de paz.
Numa entrevista ao jornalista
João Francisco Gomes, do «Observador», O Bispo de Fátima, D. António Marto,
recorda que quando recebeu Bento XVI em 2010, ouviu perplexo ele comentar-lhe
que «não há nada como Fátima em toda a Igreja Católica no mundo».
O Papa Francisco disse várias
vezes que estava convencido da importância da mensagem de Fátima. Em momentos
particularmente importantes, quis ter a imagem de Nossa Senhora de Fátima junto
de si, na Praça de S. Pedro.
Antes de partir para este
santuário de Fátima, Francisco, como habitualmente antes de cada viagem, foi à
basílica romana de Santa Maria Maior, confiar a viagem a Maria, rezando em silêncio
diante da imagem chamada «Salus Populi Romani». À chegada das suas 18 viagens
nunca falhou o regresso a Santa Maria Maior, para agradecer. Que acontecerá
desta vez, no regresso a Roma, depois de ter estado connosco em Fátima?
José Maria C.S. André
12-V-2017