Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

segunda-feira, 13 de julho de 2020

A castidade é uma virtude

Escreveste-me, médico apóstolo: "Todos sabemos por experiência que podemos ser castos, vivendo vigilantes, frequentando os Sacramentos e apagando as primeiras chispas da paixão, sem deixar que a fogueira ganhe corpo. É precisamente entre os castos que se contam os homens mais íntegros, sob todos os aspectos. E entre os luxuriosos predominam os tímidos, os egoístas, os falsários e os cruéis, que são características de pouca virilidade". (Caminho, 124)

Não deves limitar-te a fugir da queda ou da ocasião, nem o teu comportamento deve reduzir-se, de maneira alguma, a uma negação fria e matemática. Já te convenceste de que a castidade é uma virtude e, como tal, deve desenvolver-se e aperfeiçoar-se? Não basta ser continente, cada um segundo o seu estado. Insisto: temos de viver castamente, com virtude heróica. Este comportamento é um acto positivo, com o qual aceitamos de boa vontade o pedido de Deus: Præbe, fili mi, cor tuum mihi et oculi tui vias meas custodiant, entrega-me, meu filho, o teu coração e espraia os teus olhos pelos meus campos de paz.

Pergunto-te eu, agora: como encaras tu esta batalha? Bem sabes que a luta já está vencida, se a mantivermos desde o princípio. Afasta-te imediatamente do perigo, mal percebas as primeiras chispas de paixão, e até antes. Fala, além disso, com quem dirige a tua alma; se possível antes, porque abrindo o coração de par em par não serás derrotado. Um acto repetido várias vezes cria um hábito, uma inclinação, uma facilidade. É preciso, pois, batalhar para alcançar o hábito da virtude, o hábito da mortificação, para não recusar o Amor dos Amores.

Meditai no conselho de S. Paulo a Timóteo: Te ipsum castum custodi, conserva-te a ti mesmo puro, para estarmos, também, sempre vigilantes, decididos a defender o tesouro que Deus nos entregou. Ao longo da minha vida, quantas e quantas pessoas não ouvi queixarem-se: Ah! Se eu tivesse cortado ao princípio! E diziam-no cheias de aflição e de vergonha. (Amigos de Deus, 182)

São Josemaría Escrivá

Fátima-Rússia: o eixo mariano

Se tem de haver ‘conversão’, que seja de católicos e ortodoxos em ordem à unidade, para que ambas as confissões cristãs se reencontrem na única Igreja de Cristo.

É verdade que a palavra eixo, embora inocente, não tem a melhor das reputações, porque recorda, de facto, o malfadado eixo da segunda Guerra Mundial. Também foi este o termo usado por um presidente dos Estados Unidos da América para se referir aos países que, segundo o seu entendimento, mais se opunham à paz mundial: o eixo do mal. Por sua vez, Ronald Reagan, numa famosa intervenção no parlamento português, teve a coragem de se referir aos pastorinhos de Fátima, provocando, certamente, um sorriso de troça nos graves semblantes dos mais laicos e anticlericais deputados lusitanos.

As aparições na Cova da Iria, em 1917, guardam uma misteriosa relação com a distante Rússia que, pouco depois dessas aparições, sofreu uma revolução que inaugurou um dos períodos mais dramáticos da sua história recente. Por esta razão muito particular, Fátima e a Rússia estão unidas por um ‘eixo mariano’.

Foi na terceira aparição, a 13 de Julho de 1917, que Maria disse: “Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia que se converterá e será concedido ao mundo algum tempo de paz” (Memórias da Irmã Lúcia, 8ª edição, Fátima 2000, I, p. 168).

A propósito desta enigmática mensagem, um dos primeiros historiadores de Fátima, o cónego francês C. Barthas, escreveu: “Quando da minha primeira entrevista com a Irmã Lúcia (1946), encontravam-se ainda textos do ‘segredo’ sem a palavra ‘Rússia’. Eis por que lhe perguntei se a Senhora tinha verdadeiramente empregado esta palavra. Ela afirmou-me ter ouvido bem: ‘A Rússia’, sem que, no entanto, soubesse o que representava esse nome” (C. Barthas, Fátima, Aster, Lisboa 1967, p. 80).

Cai assim, por terra, qualquer tentativa de fazer dos pastorinhos agentes primários do mais reacionário anticomunismo porque, na sua inocência, ignoravam completamente o que fosse a Rússia. Também não podiam saber que, meses depois, em Novembro desse ano, dar-se-ia a chamada revolução de Outubro, que iria instaurar um regime totalitário que, efectivamente, espalhou pelo mundo, como predissera a visão, os “seus erros”, provocando mais de cem milhões de vítimas. Uma contabilidade que, por certo, não está concluída: há que acrescentar as actuais e futuras vítimas dos governos da China, de Cuba, da Venezuela e dos demais regimes marxistas-leninistas.

Em Julho de 1917, quatro meses antes da implantação da ditadura comunista na longínqua Rússia, não fazia sentido a referência à ‘conversão’ desse país e, por isso, houve quem supusesse o regresso desse país à Igreja católica, mil anos depois do grande cisma do oriente. Mas, tendo em conta os factos ocorridos na ex-URSS, depois da sua consagração, pelo Papa São João Paulo II, ao Imaculado Coração de Maria, a ‘conversão’ não pode ser entendida como o regresso à catolicidade da Igreja de Roma, mas à liberdade, não só política mas também religiosa. Com efeito, foi esta a ‘conversão’ que efectivamente aconteceu, quando nada a fazia prever ou supor.

As várias referências à Rússia e aos seus ‘erros’, que se iriam espalhar pelo mundo, também não fazem sentido se aplicadas à ortodoxia, que não consta que se tenha expandido, ao contrário da ideologia comunista, que foi disseminada por todo o mundo pelo imperialismo bolchevique. Foi, aliás, neste sentido que ocorreu a dita ‘conversão’ da Rússia, ou seja a sua profunda mudança social e política, que possibilitou a acção evangelizadora das Igrejas cristãs, nomeadamente a ortodoxa e a católica.

Em abono desta interpretação, tenha-se também em conta que não parece possível, nem desejável, a conversão, por assim dizer automática, de um país ou nação, porque esse processo há-de ser, necessariamente, pessoal e não colectivo ou nacional. Já lá vão os tempos de má-memória em que se determinava, por decreto do poder político, a conversão de todo o povo, embora nos regimes comunistas ainda hoje seja o Estado a impor a irreligiosidade obrigatória dos seus cidadãos.

Graças ao Concílio Vaticano II, muito se tem feito no sentido de uma sempre maior aproximação e compreensão entre as diversas confissões cristãs, nomeadamente as Igrejas católica e ortodoxa, que são irmãs pela fé que professam e porque são originárias de dois apóstolos irmãos: São Pedro, que foi o primeiro bispo de Roma; e Santo André, que a Igreja ortodoxa reconhece como seu fundador.

A ‘conversão’, não deve ser só dos ortodoxos, ou dos católicos, mas de ambos em ordem à unidade: o importante é sublinhar o que nos une, para que ambas Igrejas se reencontrem no comum legado e tradição cristã, que pacificamente partilharam durante o primeiro milénio da sua história bimilenar.

É neste contexto que se insere e reveste a maior importância a próxima visita a Fátima e a Lisboa do Metropolita ortodoxo Hilarion de Volokolamsk, a segunda individualidade da Igreja ortodoxa russa, chefiada pelo Patriarca Cirilo de Moscovo, com quem o Papa Francisco se encontrou, em 2016, em Havana, tendo ambos assinado uma declaração conjunta. O Metropolita Hilarion é doutorado pela universidade de Oxford, presidente do departamento das relações eclesiásticas exteriores do patriarcado de Moscovo e, nessa qualidade, interlocutor privilegiado para as relações com a Santa Sé.

Contrasta com o declínio da vivência cristã na Europa ocidental, a pujança da Igreja ortodoxa na Rússia, a que o Metropolita Hilarion se referiu, já este ano, numa entrevista ao ‘The Economist’. Alguns índices são suficientes para calibrar a importância deste renascimento espiritual: mais de mil novas igrejas, trinta mil novas paróquias, mais de mil novos mosteiros e cinquenta novas universidades ortodoxas!

A iminente visita a Fátima do Metropolita Hilarion de Volokolamsk, que proferirá uma conferência no próximo dia 19, na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, é mais uma significativa expressão do ‘eixo mariano’.

Por obra e graça de Nossa Senhora de Fátima, Portugal, terra de Santa Maria, ficou espiritualmente unido à Rússia, no outro extremo da Europa. Estas duas nações, irmanadas na mesma devoção mariana, talvez sejam o instrumento de que a providência se quer agora servir para a realização da tão desejada união de católicos e ortodoxos, na mesma e única Igreja de Cristo.

Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada in Observador de 15.09.2018

Um caminho por baixo de terra

Inesperadamente (29 de Junho), o Papa Francisco entregou ao Patriarca Bartolomeu, de Constantinopla, nove fragmentos ósseos de há dois mil anos, provenientes de uma tumba situada por baixo da basílica de S. Pedro.

A tumba é visitável, embora o pedido tenha de ser feito com meses de antecedência. Entramos por uma pequena porta na parede exterior da basílica, em frente da casa do Papa. A porta é pequena, mas qualquer guarda suíço sabe indicar. Descem-se uns degraus, segue-se por um corredor e entra-se num mundo silencioso. O chão é rocha natural, tufo vulcânico de Roma; o tecto é a face inferior do chão da cripta da basílica. Trata-se de um antigo cemitério romano, com a sua malha de arruamentos entre os jazigos. Há dois mil anos atrás, em vez do tecto, via-se o céu.

O afortunado que consegue entrar naquela pequena porta tem de contar com bastante tempo para percorrer o cemitério e convém levar um arqueólogo que conheça bem o local.

À esquerda e à direita, vemos jazigos, alguns com a dimensão própria da capital do império, com prateleiras com pequenas ânforas, pequenos frascos, com as cinzas dos defuntos da família, como era costume dos pagãos. Só os judeus enterravam os corpos sem os cremar, em sinal de respeito pelo corpo e como símbolo da ressurreição futura. Percorrendo o cemitério, o caminho principal sobe suavemente, ladeando a colina. À medida que se avança, o cemitério fica cada vez mais cheio, também mais desorganizado, e o arqueólogo conta-nos a história. Repara neste jazigo. Estão aqui as cinzas dos antepassados, dedicadas a várias divindades, até que, em determinado momento, em vez de uma ânfora aparece esta caixa maior, com uma oração a Cristo, e daí para a frente acabaram-se as ânforas. Ficámos a saber em que data a família se converteu. Aquele cemitério é um documento vivo das conversões, porque se pode acompanhar a genealogia das famílias, os cruzamentos e as amizades. E, por vezes, as marcas gloriosas do martírio sofrido pela fé.

O caminho é cada vez mais tortuoso e o cemitério cada vez mais desarrumado, porque as famílias que se convertiam acolhiam no seu jazigo gente de fora. A acumulação cresce e os corpos invadem as ruas. Porque é que as pessoas queriam ser enterradas exactamente «ali»?!

O caso que me parece mais estranho é um corpo de mulher, fora de sítio, sem a protecção de um tecto, a pouca distância do foco deste cemitério. Explicam-me o que aconteceu. O Imperador atreveu-se àquilo a que só um imperador se podia atrever, a profanar o cemitério romano (crime sujeito a pena de morte!) para construir uma igreja, centrada no tal foco de atracção, que revolucionou e desorganizou o cemitério. Por ordem imperial, unidades do exército ocuparam a colina e só deixavam entrar os operários. Durante as obras de cobrir o cemitério de terra, para nivelar o terreno, morreu a mulher de um operário e este homem convenceu os soldados a deixarem-no colocar o corpo dela ali, no último momento.

A história longa da basílica sobrepôs construções sobre construções, tapando as obras mais antigas. Para saber o que estava por baixo, ficaram documentos a atestar que a origem mais remota era um pequeno cubículo, com os restos mortais de S. Pedro, martirizado no circo de Nero, no vale próximo da colina vaticana. Como seriam exactamente esse cubículo, o pequeno alpendre, o muro vermelho e o seu contraforte?

Pouco depois de Pio XII ser eleito, em 1939, começou a escavar-se até ao nível da rocha original. Foi-se desenterrando o tal cemitério, cada vez mais confuso à medida que se aproximava da vertical da cúpula de S. Pedro, que é a vertical do altar papal, que é a vertical de todos os sucessivos altares que estão por baixo, rigorosamente alinhados por essa exacta vertical para onde tudo convergia. Ali, dentro de um cubículo, sob um pequeno alpendre, junto a um muro vermelho com um contraforte, estavam uns ossos envolvidos em tecido de púrpura e ouro, as cores-insígnia do imperador. Havia fragmentos de todos os ossos de um só indivíduo, ancião, de raça judia, à excepção dos ossos dos pés.

Os eruditos monsenhores que supervisionaram as escavações não sabiam o suficiente para perceber o que tinham encontrado. Foi a jovem arqueóloga, Margherita Guarducci que decifrou os gatafunhos das paredes e compreendeu. Entre as frases, escritas à mão no muro, com invocações a Cristo, uma delas dizia, em grego: «Pedro está aqui».

Não existe nenhum osso dos pés provavelmente porque o crucificaram de cabeça para baixo e lhe cortaram os pés ao retirar o cadáver. Foi esse corpo, sem pés, que os primeiros cristãos sepultaram com devoção, no preciso lugar em que os textos antigos diziam que ele estava. Foram nove fragmentos desse corpo de Pedro que Francisco ofereceu ao Patriarca de Constantinopla.

Que Pedro, o «Rocha», como Jesus lhe chamava, nos alcance a unidade da Igreja.
José Maria C.S. André

O caminho da consciência

Não disse que a salvação pode ser atingida por todos os caminhos. O caminho da consciência, [que consiste em] manter o olhar focado na verdade e no bem objetivo, é o único caminho, embora possa tomar muitas formas por causa do grande número de pessoas e de situações. Mas o bem é um só, e a verdade não se contradiz. O facto de o ser humano não os atingir não relativiza as exigências da verdade e da bondade. Por isso, não basta permanecer na religião que se herdou, mas é preciso que se esteja atento ao verdadeiro bem e assim se seja capaz de transcender os limites da própria religião. Mas isto só faz sentido se a verdade e o bem existirem realmente. Seria impossível percorrer o caminho para Cristo se Ele não existisse. Viver com os olhos do coração abertos, purificar-se interiormente e buscar a luz são condições indispensáveis para a salvação humana. Portanto, é absolutamente necessário proclamar a verdade, isto é, fazer brilhar a luz (não a pôr "sob o alqueire, mas num candelabro"
[cfr. Jo 5, 14-15]).

(Cardeal Joseph Ratzinger in entrevista ao ‘Frankfurter Allgemeine Zeitung’)

Um ambiente de amizade e confiança

O ambiente ideal para transmitir a fé aos filhos ― a melhor herança, como vimos num artigo anterior ― é um lar onde “reinam” duas virtudes fundamentais: a amizade e a confiança.

Pode e deve haver uma verdadeira amizade entre pais e filhos ― uma amizade que, sendo real, não é, evidentemente, igual à que eles têm com os seus colegas na escola. Nem os filhos esperam que isso seja assim!

Querem uma “camaradagem” de outro teor. Desejam um desvelo que lhes transmita segurança e confiança ― que os faça crescer e aprender sem medos nem receios.

E como cresce a amizade entre pais e filhos?

Como toda a amizade, com a dedicação generosa de um dom escasso hoje em dia: o tempo. Dedicar-lhes um tempo de qualidade, cheio de um verdadeiro interesse pelas suas coisas: projectos, sonhos, êxitos e fracassos.

Dedicar tempo mostra proximidade e é um modo concreto de amar. É, como disse o Papa Francisco, aquilo de que os filhos mais sentem falta quando são ainda pequenos: brincar com os seus pais.

Nas primeiras fases do crescimento a educação possui uma importante carga afectiva e de proximidade. Brincar com os filhos, jogar com eles, ensiná-los a ganhar e a perder é uma escola de vida maravilhosa. Porque o jogo, por muito simples que seja, é uma experiência do que será a vida no futuro.

Poucas coisas unem tanto pais e filhos como jogar juntos! E, nesse clima de brincadeira, gera-se um ambiente de amizade no qual surge espontaneamente uma profunda confiança. E os filhos captam por osmose uma verdade fundamental da sua vida: “O pai e a mãe são aqueles que mais gostam de mim. Quando me educam, corrigem, animam e exigem, só querem o meu verdadeiro bem”.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria