A profissão mais antiga do mundo não é a que, como tal, se costuma falsamente referenciar, mas a de agricultor, porque a Adão foi dada a missão de guardar e cultivar o jardim do paraíso. Só depois surgiu, de uma sua costela, Eva, que também não desempenhou essa ignóbil actividade. Como esposa e mãe, foi outra a sua ocupação, talvez uma das mais meritórias e difíceis de todos os tempos. Deve ter sido o caso porque, como é sabido, Abel e Caim não se davam bem…
Aliás, a dita mais antiga não só o não é, como também não é profissão nenhuma. O trabalho não é qualquer ocupação, mas apenas aquele ofício que, por tender ao bem comum, dignifica quem o executa. Uma ladrão, ou um assassino, não é, portanto, um trabalhador, por muito ‘profissional’ que seja na sua arte. Também não trabalha quem mercadeja o seu próprio corpo, porque esse comércio é degradante da dignidade de quem o realiza, de quem dele se serve e, mais ainda, de quem o explora.
Está na moda defender ‘quem trabalha na indústria do sexo’ (Público, 18-8-2014). Pedem-se direitos para estas operárias do seu corpo, mas uma tal exigência implica a aceitação da vergonhosa situação em que vivem e que as destrói, física, psíquica e espiritualmente. Será que, quem quer ‘sindicalizar’ estas proletárias do sexo, também reconhece que os ‘industriais’ de tão lucrativa empresa são uma legítima entidade patronal?!
Não era suposto que os democratas progressistas arremetessem contra esta descarada exploração humana?! Não era de crer que os humanistas da democracia cristã se insurgissem contra este pecado social?! Porque razão as feministas não defendem estas pobres vítimas?! Não são, também, mulheres?!
Há dois mil anos, também todos abandonaram a mulher pecadora, excepto Jesus (Jo 8, 9).
Gonçalo Portocarrero de Almada in jornal i – 23 Agosto 2014