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terça-feira, 19 de agosto de 2014
A fé enquanto história de fraternidade
Assimilada e aprofundada em família, a fé torna-se luz para iluminar todas as relações sociais. Como experiência da paternidade e da misericórdia de Deus, dilata-se depois em caminho fraterno. Na Idade Moderna, procurou-se construir a fraternidade universal entre os homens, baseando-se na sua igualdade; mas, pouco a pouco, fomos compreendendo que esta fraternidade, privada do referimento a um Pai comum como seu fundamento último, não consegue subsistir; por isso, é necessário voltar à verdadeira raiz da fraternidade. Desde o seu início, a história de fé foi uma história de fraternidade, embora não desprovida de conflitos. Deus chama Abraão para sair da sua terra, prometendo fazer dele uma única e grande nação, um grande povo, sobre o qual repousa a Bênção divina (cf. Gn 12, 1-3). À medida que a história da salvação avança, o homem descobre que Deus quer fazer a todos participar como irmãos da única bênção, que encontra a sua plenitude em Jesus, para que todos se tornem um só. O amor inexaurível do Pai é-nos comunicado em Jesus, também através da presença do irmão. A fé ensina-nos a ver que, em cada homem, há uma bênção para mim, que a luz do rosto de Deus me ilumina através do rosto do irmão.
Quantos benefícios trouxe o olhar da fé cristã à cidade dos homens para a sua vida em comum! Graças à fé, compreendemos a dignidade única de cada pessoa, que não era tão evidente no mundo antigo. No século II, o pagão Celso censurava os cristãos por algo que lhe parecia uma ilusão e um engano: pensar que Deus tivesse criado o mundo para o homem, colocando-o no vértice do universo inteiro. « Porquê pretender que [a verdura] cresça para os homens, em vez de crescer para os mais selvagens dos animais sem razão? »[46] « Se olhássemos a terra do alto do céu, que diferença se nos ofereceria entre as nossas actividades e as das formigas e das abelhas? »[47] No centro da fé bíblica, há o amor de Deus, o seu cuidado concreto por cada pessoa, o seu desejo de salvação que abraça toda a humanidade e a criação inteira e que atinge o clímax na encarnação, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Quando se obscurece esta realidade, falta o critério para individuar o que torna preciosa e única a vida do homem; e este perde o seu lugar no universo, extravia-se na natureza, renunciando à própria responsabilidade moral, ou então pretende ser árbitro absoluto, arrogando-se um poder de manipulação sem limites.
[46] Orígenes, Contra Celsum, IV, 75: SC 136, 372.
[47] Ibid., 85: o. c., 136, 394.
Lumen Fidei, 54
Espírito de posse ou pobreza em Espírito?
São João da Cruz (1542-1591), carmelita, Doutor da Igreja
Conselhos e Máximas, nos. 355-357, 362, ed. 1963
Não acalenteis outro desejo senão o de entrar, em relação a tudo o que existe à face da terra, no distanciamento, no nada e na pobreza apenas por amor de Cristo: não tereis outra necessidade além daquela a que tenhais submetido o vosso coração. O pobre em espírito nunca é mais feliz do que quando se encontra na indigência, e aquele cujo coração nada deseja põe-no sempre ao largo.
Os pobres em espírito (Mt 5, 3) dão com extrema liberalidade tudo o que possuem. O seu prazer consiste em prescindir de tudo oferecendo-o por amor de Deus e do próximo [...]. Não são apenas os bens, as satisfações e os prazeres deste mundo que nos atam e que atrasam no nosso itinerário para Deus; se as recebermos ou se as buscarmos com espírito de posse, as alegrias e as consolações espirituais podem, também elas, constituir um obstáculo ao nosso caminho para o Céu.
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
O Evangelho do dia 19 de agosto de 2014
Jesus disse a Seus discípulos: «Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no Reino dos Céus. Digo-vos mais: É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, que entrar um rico no Reino dos Céus». Os discípulos, ouvidas estas palavras, ficaram muito admirados, dizendo: «Quem poderá, então, salvar-se?». Porém, Jesus, olhando para eles, disse-lhes: «Aos homens isto é impossível, mas a Deus tudo é possível». Então Pedro, tomando a palavra, disse-Lhe: «Eis que abandonámos tudo e Te seguimos; qual será a nossa recompensa?». Jesus disse-lhes: «Em verdade vos digo que, no dia da regeneração, quando o Filho do Homem estiver sentado no trono da Sua glória, vós, que Me seguistes, também estareis sentados sobre doze tronos, e julgareis as doze tribos de Israel. E todo aquele que deixar a casa, ou os irmãos ou irmãs, ou o pai ou a mãe, ou os filhos, ou os campos, por causa do Meu nome, receberá cem vezes mais e possuirá a vida eterna. Muitos dos primeiros serão os últimos, e muitos dos últimos serão os primeiros.
Mt 19, 23-30
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