«Maioria da população não acredita na providência divina, mas somente na
previdência de Bruxelas», escreve D. António Vitalino
O bispo de Beja está descontente com a inexistência de
orações pelo fim da seca e sublinha que os agricultores têm mais esperança nos
subsídios da União Europeia do que em Deus.
“Noutros tempos já se teriam levantado súplicas ao céu
a implorar a graça da chuva”, escreve D. António Vitalino na mais recente nota
semanal, enviada hoje à Agência ECCLESIA, acrescentando que “algumas pessoas
ainda falam da ajuda de São Pedro, mas parece que com pouca convicção”.
Aparentemente os crentes “não se fazem ouvir e a maioria
da população não acredita na providência divina, mas somente na previdência de
Bruxelas”, assinala o responsável, que constata a pouca importância dada pelos
católicos à Bíblia e à Virgem Maria.
“Afinal as recomendações de Jesus no evangelho e de
Nossa Senhora aos pastorinhos de Fátima, pedindo oração e sacrifícios pela
conversão dos pecadores e pela paz no mundo não encontram eco nos nossos
ouvidos”, assinala.
Depois de referir que “os europeus não querem Deus e
muito menos o Deus revelado em Jesus Cristo, nem na Constituição europeia nem
nos seus hábitos e comportamentos”, o bispo pergunta: “Tudo dependerá apenas da
natureza e do acaso, ou haverá a possibilidade de alguma intervenção divina no
percurso da nossa história?”.
Referindo-se à oração do Pai-nosso, onde se pede o pão
para cada dia, D. António Vitalino frisa que “não basta repetir as palavras”:
“É preciso rezá-las, com frequência e intensamente”.
“Isto não é resignação, mas reforço da capacidade de
superação dos obstáculos”, salienta o prelado, que descreve a situação de seca
no Alentejo e as dificuldades económicas dos agrários.
“Há muitas semanas que a terra não recebe umas pingas
de chuva”, pelo que “os campos e montados estão secos e o gado tem de ser
alimentado com rações, o que torna a produção agrícola difícil para a maioria
dos agricultores”, destaca.
D. António Vitalino lembra que a ministra da tutela
pediu ajuda à União Europeia, “segundo alguns um pouco tarde”, e faz votos para
que “a seca não seja tão prolongada e calcinante como em 2005”, apesar de a
água do Alqueva já estar disponível em “certas partes do território”.
O Instituto de Meteorologia refere que a 29 de
fevereiro todo o território continental estava em situação de seca severa (68%)
e extrema (32%), os dois níveis mais elevados de severidade.
No relatório publicado no seu site, o organismo indica
que a atual estiagem é “mais intensa” do que a última, ocorrida em 2005, e
prognostica “como mais provável um não desagravamento na severidade” da seca.
Na mensagem D. António Vitalino realça que a Quaresma
é um “tempo propício” para o diálogo com Deus no “silêncio” do quarto, “sem
televisão ou internet”.
RJM
Agência Ecclesia