“Temos a obrigação de procurar que cada vez haja menos pobres, menos ignorantes, menos gentes sem fé, menos desvalidos pela doença ou pela velhice sem assistência cristã carinhosa. Não por uma concessão de caridade, mas por direito. O trabalho, a especialização, a formação profissional é que dão a riqueza, meus filhos, e a Obra tem como fundamento o trabalho. Onde trabalhamos? No meio da rua. Não podemos estar separados dos nossos colegas nem por uma mortalha de papel de fumar”, diz nesta data.
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segunda-feira, 24 de abril de 2017
A longa história das comissões no Vaticano
Quando o Papa João Paulo II publicou a sua primeira Encíclica social, a «Laborem exercens» (1981), seguida da «Sollicitudo rei socialis» (1987), da «Centesimus annus» (1991) e de outros documentos, vários economistas e os responsáveis de várias multinacionais, em particular norte-americanas, manifestaram-se surpreendidos e desagradados.
Não eram católicos – muitos deles – mas, até então, reconheciam uma certa autoridade moral à Igreja católica, porque defendia a liberdade, a propriedade privada e temperava tudo isso com uma preocupação real pelos pobres. A doutrina da Igreja parecia-lhes equilibrada, até o Papa João Paulo II publicar a «Laborem exercens».
Gostavam da defesa dos direitos humanos na sua amplitude religiosa, política, social..., mas parecia-lhes que falhava no aspecto económico. Por exemplo, declarar a primazia do trabalhador sobre o capital parecia-lhes uma forma de roubo: então os donos das empresas valem menos que os empregados?! Que reviravolta é esta? O Papa polaco foi infectado pelos russos?
Para esclarecer o assunto e estudar a «Laborem exercens», constituiu-se uma comissão conjunta, que teve algum impacto no mundo da finança. Os responsáveis de várias multinacionais compreenderam que a Igreja se movia por um critério de amor pelas pessoas, que ultrapassava largamente a honestidade da relação contratual. Nem todos gostaram. Achavam que esse critério criava uma insegurança jurídica: onde é que a coisa pára? Cumprimos o contrato e isso não basta? Temos de fazer ainda mais? Outros ficaram verdadeiramente impressionados com a preocupação do Papa pelos pobres. Parecia-lhes que o Papa olhava para eles com se estivesse na perspectiva de Deus. – «É que é isso mesmo!», respondiam os representantes da Santa Sé, perante a cara atónita dos homens de negócios. Nalguns casos, aquelas sessões foram importantes num percurso pessoal até à conversão.
Quando Bento XVI publicou a Encíclica «Caritas in veritate» houve uma reacção parecida. E quando fez o discurso de Ratisbona (Regensburg), que irritou alguns a ponto de assassinarem católicos, os principais líderes muçulmanos rejeitaram a violência e aproveitaram para pedir ao Vaticano que lhes explicasse a doutrina da Igreja. Assim se constituiu uma comissão de alto nível, católico-muçulmana, que tem dado frutos maravilhosos.
Quando o Papa Francisco começou a falar «da economia que mata», «da globalização da indiferença», «de uma Europa que tem o coração endurecido» com os refugiados que lhe batem à porta, da ganância que «destrói a nossa casa comum»... voltaram as incompreensões. E, claro, constituiu-se uma comissão. No passado dia 15 de Abril, o Vaticano acolheu vários líderes mundiais, para debaterem a dimensão social da doutrina da Igreja, aproveitando os 25 anos da «Centesimus annus» de João Paulo II. Havia opiniões para todos os gostos. Alguns dos presentes, entre os quais o candidato presidencial norte-americano Bernie Sanders, mostraram compreender a posição da Igreja em matéria económica. Outros, não tanto. Talvez, aos poucos, o mundo ocidental perceba que o cuidado dos pobres não se esgota em cumprir uma relação contratual ou dar um subsídio.
Isto de Deus amar os homens, cada um de nós, tão radicalmente é uma coisa muito séria. Um pouco vertiginosa. Faz-nos perceber a diferença entre o olhar de Deus e o nosso. Para alguns, este é um primeiro passo no caminho da conversão.
José Maria C.S. André
Spe Deus
24-IV-2016
O Evangelho do dia 24 de abril de 2017
Havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, um dos principais entre os judeus. Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-Lhe: «Rabi, sabemos que foste enviado por Deus como mestre, porque ninguém pode fazer estes milagres que Tu fazes, se Deus não estiver com ele». Jesus respondeu-lhe: «Em verdade, em verdade te digo que não pode ver o reino de Deus, senão aquele que nascer de novo». Nicodemos disse-Lhe: «Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e renascer?». Jesus respondeu-lhe: «Em verdade, em verdade te digo que quem não renascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. Aquilo que nasceu da carne, é carne, aquilo que nasceu do Espírito, é espírito. Não te maravilhes de Eu te dizer: É preciso que nasçais de novo. O vento sopra onde quer, e tu ouves a sua voz, mas não sabes donde ele vem nem para onde vai; assim é todo aquele que nasceu do Espírito».
Jo 3, 1-8
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