André Gonçalves - Museu Nacional Machado de Castro Século XVIII (seleção de imagem 'Spe Deus') |
O Evangelho de São Mateus (Mt 2, 1-12) narra-nos a viagem de uns Magos vindos do Oriente para adorarem Jesus.
Todo aquele episódio está narrado com abundância de pormenores que por vezes nos passam despercebidos.
Os Magos, (provavelmente astrólogos daquele tempo), eram homens que procuravam a Ciência, que procuravam a verdade. E quem procura a verdade, de coração aberto, encontra-a!
Deus serve-se então de um sinal visível, (a estrela), relacionado com a vida daqueles homens, para lhes dar a conhecer a Verdade que procuram.
Quantas vezes nas nossas vidas, naquilo que fazemos ou porque nos interessamos, Deus nos envia sinais visíveis, mas que acabamos por não ver, porque não estamos interessados na mudança de vida que nos leva ao encontro da Verdade.
No caminho que percorrem os Magos encontram dificuldades, neste caso, na figura de Herodes.
Mas eles não desistem da procura, e depois de ouvirem Herodes continuam o caminho, e, ao quererem continuá-lo, o sinal visível torna a guiá-los ao encontro da Verdade, que procuram.
Essas dificuldades apresentam-se, por vezes, nas nossas vidas disfarçadas de um pretenso “bem”, como Herodes com os Magos, «depois de o encontrardes, vinde comunicar-mo para eu ir também prestar-lhe homenagem.», quando sabemos bem que a sua intenção era outra.
Devemos nós também estar bem atentos ao modo como se nos apresentam as dificuldades na nossa relação com Deus, para não nos deixarmos enganar por tanta coisa que parecendo um bem, (o dinheiro, a carreira, o poder, etc.), vividas com “exclusividade”, acabam por nos afastar do caminho com Deus e para Deus.
Depois, Herodes para confirmar se o nascimento do rei dos judeus era uma noticia plausível, recorre aos sumos sacerdotes e escribas, que servindo-se das Escrituras, confirmam que em Belém deveria nascer «o Príncipe que há-de apascentar o meu povo de Israel.»
Nós também temos acesso às Escrituras, desde o Antigo Testamento ao Novo Testamento, mas preferimos tantas vezes “ouvir” o mundo, ouvir tantos argumentos, ditos racionais, ler tantos livros que nos confundem e baralham, em vez de acreditarmos e nos deixarmos guiar pela Palavra de Deus.
Os Magos, perante Jesus Cristo, prostram-se, adoram-no e oferecem-lhe presentes, e, por aquilo que o Evangelho nos narra, nada Lhe pedem.
Nós tantas vezes passamos diante d’Ele no sacrário e não somos capazes de fazer uma genuflexão bem feita, tantas vezes participamos na/da Missa apenas por rotina e deixando que tudo à nossa volta nos distraia, como por exemplo o telemóvel!
Tantas vezes comungamos sem a consciência devida, e tantas vezes depois da comunhão, em vez de adorarmos o Deus que se nos entrega como alimento, apenas pedimos, pedimos, pedimos.
Mas, porque os Magos assim procederam, porque assim reconheceram naquele Menino o Senhor, o Salvador, foram avisados para regressarem por outro caminho, o caminho novo daqueles que encontram Deus, o caminho que os afastava do mal, que os afastava de Herodes.
Também nós, se de coração aberto procurarmos Jesus Cristo, O vamos encontrar, porque Ele se faz encontrado por aqueles que O procuram «em espírito e verdade».
E encontrando-O, o caminho a fazer será diferente, pois será um caminho com Deus, por Deus e para Deus.
E se vivermos esse caminho com toda a sinceridade, com toda a entrega, as dificuldades não desaparecerão, o mal não deixará de nos tentar, mas a presença de Deus nas nossas vidas sempre nos fortalecerá e conduzirá pelo caminho da salvação.
Marinha Grande, 27 de Janeiro de 2014
Joaquim Mexia Alves
Nota:
Texto publicado no Boletim da Paróquia da Marinha Grande, “Grãos de Areia”, do mês de Janeiro.