Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Os filhos de Deus têm de ser contemplativos

Nunca compartilharei a opinião – ainda que a respeite – dos que separam a oração da vida ativa, como se fossem incompatíveis. Os filhos de Deus têm de ser contemplativos: pessoas que, no meio do fragor da multidão, sabem encontrar o silêncio da alma em colóquio permanente com Nosso Senhor: e olhá-lo como se olha um Pai, como se olha um Amigo, a quem se quer com loucura. (Forja, 738)

Não duvideis, meus filhos: qualquer forma de evasão das honestas realidades diárias é, para vós, homens e mulheres do mundo, coisa oposta à vontade de Deus.

Pelo contrário, deveis compreender agora – com uma nova clareza – que Deus vos chama a servi-Lo em e a partir das ocupações civis, materiais, seculares da vida humana: Deus espera-nos todos os dias no laboratório, no bloco operatório, no quartel, na cátedra universitária, na fábrica, na oficina, no campo, no lar e em todo o imenso panorama do trabalho. Ficai a saber: escondido nas situações mais comuns há um quê de santo, de divino, que toca a cada um de vós descobrir.

Eu costumava dizer àqueles universitários e àqueles operários que vinham ter comigo por volta de 1930 que tinham que saber materializar a vida espiritual. Queria afastá-los assim da tentação, tão frequente então como agora, de viver uma vida dupla: a vida interior, a vida de relação com Deus, por um lado; e por outro, diferente e separada, a vida familiar, profissional e social, cheia de pequenas realidades terrenas.

Não, meus filhos! Não pode haver uma vida dupla; se queremos ser cristãos, não podemos ser esquizofrénicos. Há uma única vida, feita de carne e espírito, e essa é que tem de ser – na alma e no corpo – santa e cheia de Deus, deste Deus invisível que encontramos nas coisas mais visíveis e materiais.

Não há outro caminho, meus filhos: ou sabemos encontrar Nosso Senhor na nossa vida corrente ou nunca O encontraremos Por isso posso dizer-vos que a nossa época precisa de restituir à matéria e às situações que parecem mais vulgares o seu sentido nobre e original, colocá-las ao serviço do Reino de Deus, espiritualizá-las, fazendo delas o meio e a ocasião do nosso encontro permanente com Jesus Cristo. (Temas Actuais do Cristianismo, 114)

São Josemaría Escrivá

'A aldeia em chamas'

É conhecida a história de Kierkegaard sobre o palhaço e a aldeia em chamas. O relato conta-nos que num circo da Dinamarca houve um grande incêndio. O director do circo pediu a um dos palhaços, que já estava preparado para actuar, que fosse rapidamente até à aldeia vizinha. O objectivo era pedir ajuda e avisar do perigo de que as chamas chegassem até lá. O palhaço correu até à aldeia e pediu aos habitantes que fossem com a maior urgência ao circo para apagar o fogo.

No entanto, os habitantes pensavam que se tratava de uma brincadeira e aplaudiram até chorar de tanto rir. O palhaço tentava explicar-lhes que era algo sério e que o circo estava realmente a arder. A sua insistência somente aumentava as gargalhadas. Acreditavam os aldeões que nunca tinham visto um cómico tão bom e que representasse tão bem. Até que o fogo chegou à aldeia. A ajuda foi demasiado tardia e tanto o circo como a povoação ficaram totalmente destruídos.

Esta história é uma boa comparação com a situação actual de tantos cristãos. Eles comprovam frequentemente o seu fracasso na tentativa de explicar aos outros a mensagem cristã de salvação. «Mas ser salvos de quê?» perguntam muitos. E sorriem com um certo ar de troça. Eles já não são “ingénuos”. E na sua aparente “auto-suficiência” não se dão conta, ou não o querem reconhecer, de que tudo nesta terra, a começar por nós próprios, traz em si o selo da caducidade. Tudo é passageiro.

Por isso, para entender a mensagem cristã é preciso, em primeiro lugar, sentir a necessidade de sermos salvos. É preciso darmo-nos conta de que, por muito avanço tecnológico que tenhamos alcançado, por muitos bens materiais que tenhamos adquirido, a miséria humana continua sempre presente à nossa volta e também dentro de nós. Indigência material, opressões injustas, doenças físicas ou psíquicas, e sobretudo a morte, derradeiro escândalo da vida. “Como ficam sós os mortos” repetia o poeta com versos já gastos. “Mas sós de verdade” acrescentava, “ficam os vivos quando sofrem sem esperança”.

Cegam-se a si próprios aqueles que pretendem não necessitar de salvação. Aqueles que afirmam não terem nada na sua vida de que se arrependerem, nada que tenham feito mal. Chamados à felicidade eterna, mas feridos pelo mal moral, muito mais sério do que o mal físico, todos nós necessitamos de uma salvação que só pode vir de Deus, a única realidade que não é passageira mas eterna.

Por isso, a fé e o actuar de acordo com ela, não é mais um detalhe na nossa vida. É, pelo contrário, algo de enorme importância e com profundas consequências temporais e eternas.
Rodrigo Lynce de Faria