Obrigado, Perdão Ajuda-me

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As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

O milagre da confissão

Teve grande eco o relatório dos abusos sexuais na igreja francesa, de 1950 até hoje, sobretudo com crianças, apresentado em final de Setembro.


A Conferência Episcopal de França e a Conferência dos Religiosos e Religiosas de França pediram ao Vice-Presidente honorário do Conselho de Estado (Jean-Marc Sauvé) que promovesse uma investigação independente para conhecer os factos, compreender o que se passou e fazer sugestões para prevenir abusos futuros. Foi esta comissão, nomeada há dois anos, que entregou agora o seu relatório, disponível na Net.


Os dados recolhidos são


- um questionário respondido pelas vítimas, cerca de 1500, a maioria já anteriormente referenciada, postas em contacto com a comissão através de associações de vítimas e de instituições ligadas à Igreja, e umas poucas mais que se apresentaram agora, convocadas por um apelo geral, divulgado a toda a população de França,

- entrevistas a 69 vítimas

- e uma sondagem feita através da internet a 28 mil indivíduos, escolhidos entre uma amostra de voluntários que participa habitualmente em sondagens a troco de bónus diversos.


A pergunta principal da sondagem era se a pessoa tinha sido vítima de abusos, incluindo neste conceito as provocações, o exibicionismo, os toques e as relações físicas. Cerca de 3300 dos inquiridos declararam-se vítimas de abusos sexuais quando eram menores de idade. O abusador tinha sido quase sempre um homem, 75% das vítimas eram raparigas e 25% eram rapazes.


No caso de o inquirido ter sido vítima, perguntava-se que tipo de pessoa tinha cometido o abuso. Do total das 3300 vítimas, cerca de 200 declararam que tinham sido molestadas por um membro do clero. A diferença mais notória em relação ao resto da sociedade é que 75% destas vítimas eram rapazes contra 25% de raparigas. Parece evidente o peso da homossexualidade neste tipo de pedofilia, apesar do relatório não tirar essa conclusão.


Várias outras particularidades emergem da sondagem, por exemplo relativamente à geografia dos abusos por parte do clero: os casos são mais raros nas zonas católicas e mais frequentes nas regiões descristianizadas de França. Outra diferença é que 21% das vítimas em ambientes eclesiais declararam ter apresentado queixa enquanto apenas 13% das outras vítimas o fez. Em ambos os casos, uma percentagem significativa das queixas não resultou em condenação, talvez por falta de provas.


Extrapolando os dados da sondagem para o total da população existente desde o ano de 1950, concluiu-se que 46 mil raparigas e 170 mil rapazes sofreram algum tipo de abuso sexual por parte de um padre quando eram menores. Analogamente, extrapolando os números da sondagem, conclui-se que cerca de 300 mil menores de idade foram sujeitos a algum abuso em ambientes relacionados com a Igreja, estimativa que é centenas de vezes superior ao número de queixas alguma vez apresentadas, directa ou indirectamente.


Ainda extrapolando a mesma sondagem, vários milhões de menores de idade teriam sidos abusados em França ao longo deste mesmo período de tempo, em ambientes exteriores à Igreja.


Como é costume, só a Igreja se preocupou com o assunto, tanto mais que o estudo tinha partido de uma iniciativa dos bispos e superiores das ordens religiosas. O Papa Francisco falou em «vergonha» pela incapacidade para lidar com os abusos.


Perante a ameaça de serem ultrapassados pela efervescência mediática, os políticos franceses saltaram para a ribalta, certamente sem pensarem muito, insistindo na proposta do relatório de acabar com o segredo da confissão. Os bispos rejeitaram liminarmente a hipótese e o próprio ritmo da agitação mediática remeteu ao esquecimento aquela ideia absurda.


De qualquer maneira, o assunto convida-nos a reparar numa realidade histórica mais impressionante que a pedofilia e a homossexualidade. Decorridos tantos séculos, tantos milhões de padres, de sacramentos e de pecados, o segredo da confissão resiste a tudo.



Por exemplo, no longínquo ano de 1383, o Rei Venceslau multiplicou inutilmente as tropelias na tentativa de arrancar ao Padre João Nepumoceno os segredos ouvidos na confissão. Finalmente, para fazer desaparecer o cadáver, atirou-o ao rio Moldau, em Praga. No dia seguinte, o cadáver flutuava no rio brilhando com uma luz misteriosa. Ainda hoje, uma cruz situada entre o 6º e o 7º pilar da ponte recorda o local de onde João Nepomuceno foi atirado ao rio e o seu cadáver, recolhido pelo povo, venera-se com grande esplendor. A Igreja canonizou-o e celebra a sua festa a 20 de Março.


Houve tudo. Mártires, políticos apressados, as propostas mais delirantes. No entanto, o segredo inviolável da confissão continua a brilhar através dos séculos com uma firmeza difícil de explicar. A não ser que admitamos que é o próprio Deus que está empenhado em que este milagre perdure pelos tempos sem fim.

José Maria C.S. André

Santa Teresa de Ávila e S. Josemaria

Quando, entre finais de Dezembro de 1917 e o início de Janeiro de 1918, em Logronho, o jovem Josemaria descobriu aquelas pegadas de uns pés descalços na neve, despertou na sua alma uma profunda inquietude e a certeza plena de que o Senhor queria algo dele. Passou então a ter direção espiritual com o Padre José Miguel, o carmelita que tinha deixado aquelas pegadas.

Este santo religioso, ao observar as excelentes disposições interiores do jovem, e compreendendo que o Senhor, efetivamente, o chamava, sugeriu-lhe que se fizesse carmelita descalço. Esta possibilidade nem o atraía nem lhe desagradava; mas, depois de ter meditado com calma na oração, também quanto ao que afetava os seus deveres familiares, compreendeu claramente que não era isso que o Senhor lhe pedia, e pressentiu que se o Senhor queria algo dele, o melhor modo de estar disponível era vir a ser sacerdote.

Interrompeu então a direção espiritual com o Padre José Miguel, embora tenha conservado sempre uma sincera gratidão pelo modo como o atendia, bem como um afeto muito grande pelos carmelitas. Estimava especialmente Santa Teresa de Jesus, São João da Cruz e Santa Teresa do Menino Jesus: foi assíduo leitor das suas obras e na pregação evocava muitas vezes estes grandes mestres da espiritualidade e citava os seus escritos, embora, quando era necessário, apontasse os pontos de divergência com o seu próprio modo de pensar e viver a relação com Deus.

S. Josemaria adentrou-se nos escritos da Santa de Ávila nos seus anos de Seminário em Saragoça. Levado pelo seu gosto literário, o jovem Josemaria empregava o tempo livre de aulas ou de estudo na leitura. Viam-no a tomar notas de frases ou pensamentos. Deitava-se roubando horas ao sono. De noite, os seminaristas viam por debaixo da porta do seu quarto, a luz bruxuleante e incerta de uma vela, pois nem todos os quartos do seminário de São Carlos tinham luz elétrica.

Aproveitou um fecundo período de dois anos de leituras. Mais tarde, S. Josemaria já não dispunha de tanto tempo nem de ocasião tão propícia para esse tipo de livros, excetuando a necessidade que teve, por vezes, de consultar os escritos dos clássicos. Leu com profundidade místicos e ascetas, estudando os efeitos ocultos da graça. E apreciava, muito particularmente, as obras de Santa Teresa.

Essas leituras dos clássicos espanhóis do Século de Ouro, transpareciam depois nos seus escritos e na sua pregação, mas também na sua vida diária e nos seus esforços por tornar amável o dia-a-dia da sua família. Em 1931, sendo sacerdote jovem em Madrid, com uma situação económica muito difícil, decidiu esmerar-se, ainda mais, no relacionamento dentro de casa: verei na minha mãe a Ssma. Virgem, na minha irmã Carmen, Santa Teresa ou Santa Teresinha, e em Guitín (assim chamava carinhosamente a Santiago, seu irmão mais novo) Jesus Adolescente.

Nesse mesmo ano, crescia a perseguição religiosa em Espanha. A 14 de Outubro soube que se tinha aprovado o famoso e triste 26º artigo da Constituição, que levaria à expulsão da Companhia de Jesus. Nessa mesma tarde foi ter com o seu confessor a Chamartín. O perigo não afetava somente os jesuítas. Todos os conventos e residências de religiosos estavam sujeitos a ser assaltados. Para os proteger, os estudantes católicos costumavam ficar de guarda durante a noite. A 15 de Outubro, dia de Santa Teresa de Jesus, o capelão dirigiu-se à clausura. As religiosas estavam atemorizadas pelos alarmantes rumores que lhes chegavam da rua. Sossegou-as como pôde, pondo calor e otimismo nas suas palavras:
"Hoje entrei na clausura de Sta. Isabel. Animei as freiras. Falei-lhes de Amor, de Cruz e de Alegria... e de vitória. Fora com os medos! Estamos nos princípios do fim. Santa Teresa proporcionou-me, do nosso Jesus, a Alegria - com maiúscula - que hoje tenho..., quando, parecia, humanamente falando, que devia estar triste, pela Igreja e pelo que a mim me diz respeito (que anda mal: de verdade): Muita fé, expiação, e, acima da fé e da expiação, muito Amor. Além disso esta manhã, para purificar duas Píxides, para não deixar o Santíssimo Sacramento na Igreja, comunguei quase meia píxide, embora tenha dado bastantes hóstias a cada religiosa."

As religiosas premiaram aquela sementeira de alegria: ao sair da clausura, na portaria, mostraram-me um Menino, que era um Sol. Nunca vi um Menino Jesus tão bonito! Encantador: despiram-no: está com os bracinhos cruzados sobre o peito e os olhos entreabertos. Lindo: comi-o com beijos e... de boa vontade o teria roubado.

Caminho, o livro mais conhecido de S. Josemaria, tem sido comparado a alguns escritos de S. João da Cruz genericamente designados por “Avisos y Cautelas”. Autores como Ibánez Langlois não ignoram a relação existente entre Josemaria Escrivá e os clássicos da literatura espiritual espanhola. Contudo, entre estes, mais do que S. João da Cruz distingue Santa Teresa de Jesus: “Dentro do século de ouro – escreveu - é com Santa Teresa que sobressai um parentesco mais evidente. Porque, assim como ela escreve uma prosa coloquial e fulgurante muito longe de qualquer pretensão de escritora e sem sequer saber que o era, assim também Josemaria Escrivá. Fez grande literatura, considerando ele próprio que só escrevia rápidos apontamentos de consciência, cartas de família, anotações pessoais nascidas da sua oração…

Esta influência de Santa Teresa no modo de escrever do fundador do Opus Dei, surge também em vários pontos de Caminho em que cita Santa Teresa.
Vontade. - Energia. - Exemplo. - O que é preciso fazer, faz-se... Sem hesitar... Sem contemplações...
Sem isso, nem Cisneros teria sido Cisneros; nem Teresa de Ahumada, Santa Teresa...; nem Iñigo de Loyola, Santo Inácio...
Deus e audácia! - "Regnare Christum volumus!".
Caminho, 11

Homem livre, sujeita-te a uma voluntária servidão, para que Jesus não tenha que dizer por tua causa aquilo que contam ter dito, a propósito de outros, a Santa Teresa: "Teresa, Eu quis... mas os homens não quiseram".
Caminho, 761

Menino audaz, grita: que amor, o de Teresa! - Que zelo, o de Xavier! - Que homem tão admirável, São Paulo! - Ah, Jesus, pois eu... amo-Te mais do que Paulo, Xavier e Teresa!
Caminho, 874

Não peças perdão a Jesus apenas das tuas culpas; não O ames com o teu coração somente...
Desagrava-O por todas as ofensas que Lhe têm feito, que Lhe fazem e Lhe hão de fazer...; ama-O com toda a força de todos os corações de todos os homens que mais O tenham amado.
Sê audaz: diz-Lhe que estás mais louco por Ele que Maria Madalena, mais que Teresa e Teresinha... mais apaixonado que Agostinho e Domingos e Francisco, mais que Inácio e Xavier.
Caminho, 402

De São José diz Santa Teresa, no livro da sua vida: "Quem não achar Mestre que Lhe ensine a orar, tome este glorioso Santo por mestre, e não errará no caminho". - O conselho vem de uma alma experimentada. Segue-o.
Caminho, 561

Uma má noite, numa má pousada. - Dizem que assim definiu esta vida terrena a Madre Teresa de Jesus. - Não é verdade que é uma comparação certeira?
Caminho, 703

Devagar. - Repara no que dizes, quem o diz e a quem. - Porque esse falar depressa, sem lugar para a reflexão, é ruído, chocalhar de latas.
E dir-te-ei, com Santa Teresa, que a isso não chamo oração, por muito que mexas os lábios.
Caminho, 85

E noutros escritos de S. Josemaria também assoma a sua devoção e carinho por Santa Teresa de Ávila.

Vou continuar esta conversa diante de Nosso Senhor, com uma nota que utilizei há uns anos e que mantém a atualidade. Recolhi então umas considerações de Teresa de Ávila: tudo o que se acaba e não contenta Deus, é nada e menos que nada. Compreendem porque é que uma alma deixa de saborear a paz e a serenidade quando se afasta do seu fim, quando se esquece de que Deus a criou para a santidade? Esforcem-se por nunca perder este ponto de mira sobrenatural, nem sequer nos momentos de diversão ou de descanso, tão necessários como o trabalho na vida de cada um.
Amigos de Deus, 10

Este advérbio - sempre - tornou grande Teresa de Jesus. Quando ela - em criança - saía pela porta do rio Adaja, atravessando as muralhas da cidade acompanhada por seu irmão Rodrigo, com o intuito de chegar a terras de moiros, para que os decapitassem por amor de Cristo, ia segredando ao irmão que já dava mostras de cansaço: para sempre, para sempre, para sempre.
Mentem os homens ao dizer para sempre em coisas temporais. Só é verdade, com uma verdade total, o para sempre em relação a Deus. E assim hás de viver tu, com uma fé que te ajude a sentir sabor de mel, doçura de céu, ao pensares na eternidade, que é, de verdade, para sempre.
Amigos de Deus, 200

O homem de fé sabe julgar bem as questões terrenas, sabe que a vida terrena é, no dizer de Santa Teresa, uma má noite numa má pousada. Renova a sua convicção de que a nossa existência na terra é tempo de trabalho e de luta, tempo de purificação para saldar a dívida para com a justiça divina, pelos nossos pecados. Sabe também que os bens temporais são meios e usa-os generosamente, heroicamente.
Amigos de Deus, 203

Assegura Santa Teresa que "quem não faz oração não precisa de demónio que o tente; ao passo que, quem faz apenas um quarto de hora por dia, necessariamente se salva"..., porque o diálogo com Nosso Senhor - amável, mesmo nos tempos de aspereza ou de secura da alma - descobre-nos o autêntico relevo e a justa dimensão da vida.
- Sê alma de oração.
Forja, 1003

As pessoas que conviveram com ele, relatam também acontecimentos e palavras da sua pregação em que, frequentemente, se notavam marcas que Santa Teresa tinha deixado na sua alma. O beato Álvaro del Portillo, recorda: “O Padre costumava dizer, logo aos primeiros membros do Opus Dei, que para crescer na vida interior, é um bom meio consagrar cada dia da semana a uma devoção sólida: à Santíssima Trindade, à Eucaristia, à Paixão, à Virgem, a São José, aos Santos Anjos da Guarda, às benditas almas do Purgatório. Como sempre, este conselho brotava da sua experiência pessoal: vivia-o há muitos anos. Posso afirmar que as suas principais devoções foram: a Santíssima Trindade - Deus Uno e Trino, além das Três Pessoas divinas com quem se relacionava individualmente: o Pai, o Filho e o Espírito Santo -; Nosso Senhor Jesus Cristo, sobretudo a sua presença na Eucaristia, a sua Paixão e os seus anos de vida oculta; a Santíssima Virgem; São José; os santos Anjos e Arcanjos; os Santos e, sobretudo, os doze Apóstolos, os Santos que escolheu como intercessores de alguns aspetos do apostolado da Obra - Santa Catarina de Sena, São Nicolau de Bari, São Tomás Moro, São Pio X e o Santo Cura de Ars -, outros santos, como Santo Antão, Santa Teresa de Jesus, etc., e os primeiros cristãos.”

Javier Echevarría, referindo-se ao modo confiante como S. Josemaria se relacionava com o seu Pai-Deus, apesar do cansaço ou das dificuldades, recordava: “Não o vi em nenhum momento desanimado, descrente, intranquilo. A seu lado, sentia-se o que tantas vezes nos repetiu, com palavras de Santa Teresa de Jesus: "a quem Deus tem, nada lhe falta". Resumia claramente as suas disposições em 1966: "a angústia e a tristeza opõem-se completamente à própria essência de Deus, que é a felicidade em sumo grau. Se estais cansados, dizei-o ao Senhor; se encontrais grandes dificuldades, deixai-as nas mãos do Senhor. Mas, insisto, evitai que alguém possa concluir, pela vossa atitude pessoal, que o jugo do Mestre não é suave, não é de amor."

S. Josemaria sempre amou o estado religioso e, sempre que pôde, visitou os conventos que o convidavam a ir lá. No Chile, durante a sua viagem de catequese em 1974, a superiora do convento das Carmelitas em Pedro de Valdivia falou sobre o ideal da sua fundadora, Santa Teresa de Jesus, "tanto alcanças quanto esperas", um argumento a que S. Josemaria não opôs resistência, e com o maior gosto se dispôs a visitá-las na mesma manhã em que recebeu a carta. "Tenho um amor muito grande à vocação das almas contemplativas – disse-lhes -, porque no Opus Dei somos contemplativos no meio da rua. Compreendemos-vos muito bem, e as Carmelitas do mundo inteiro entendem-nos muito bem e ajudam-nos com a sua oração. Venho pedir uma esmola de oração: rezai". As carmelitas recordam que lhes adoçou a alma com os seus comentários e também o paladar com os bombons que lhes levou de presente.

*Fontes:
Andrés Vázquez de Prada, O Fundador do Opus Dei, Vol. 1.
Javier Echevarría: Entrevista de Salvador Bernal, Lembrando o Beato Josemaría
Álvaro del Portillo, Entrevista sobre o Fundador do Opus Dei
José Miguel Ibáñez Langlois, Josemaría Escrivá como escritor
Josemaría Escrivá de Balaguer, Caminho
Josemaría Escrivá de Balaguer, Forja
Josemaría Escrivá de Balaguer, Amigos de Deus
www.opusdei.org

Santa Teresa de Ávila, doutora da Igreja, †1582

Nunca um santo ou santa se mostrou tão "carne e osso" como Teresa de Ávila, ou Teresa de Jesus, nome que assumiu no Carmelo. Nascida no dia 28 de Março de 1515. Seus pais, Alonso Sanchez de Cepeda e Beatriz de Ávila y Ahumada, educaram-na junto com os irmãos dentro do exemplo e dos princípios cristãos. Aos sete anos, tentou fugir de casa e peregrinar ao oriente para ser martirizada pelos mouros, mas foi impedida. A leitura da vida dos santos mártires tinha sobre ela uma força inexplicável e, se não fossem os parentes terem encontrado por acaso, teria fugido, levando consigo o irmão Roderico.

Órfã de mãe aos doze anos, Teresa assumiu Nossa Senhora como Mãe adotiva. Mas o despertar da adolescência levou-a a ter experiências excessivas ao lado dos primos e primas, tornando-se uma grande preocupação para seu pai. Aos dezasseis anos, sua atração pelas vaidades humanas era muito acentuada. Por isto, o pai pô-la a estudar no Colégio das Agostinianas em Ávila. Após dezoito meses uma doença grave fê-la voltar para receber tratamento em casa de seu pai, o qual se culpou pelo sucedido.

Neste período, pela primeira vez, Teresa passou por experiências espirituais místicas, de visões e conversas com Deus. Todavia as tentações mundanas não a abandonavam. Assim atormentada, desejando seguir com segurança o caminho de Cristo, em 1535, já com vinte anos, decidiu tornar-se religiosa, mas foi impedida pelo pai. Como na infância resolveu fugir, desta vez, com sucesso. Foi para o Convento Carmelita da Encarnação de Ávila.

Entretanto a paz não era sua companheira mais presente. Durante o noviciado, novas tentações e mais o relaxamento da fé não pararam de a atormentar.

Um ano volvido, contraiu outra doença grave, quase fatal, e novamente teve visões e conversas com o Pai do Céu. Teresa então concluiu que devia converter-se de verdade e empregou todas as forças do coração em sua definitiva vivência da religião, no Carmelo, tomando o nome de Teresa de Jesus.

Aos trinta e nove anos ocorreu sua "conversão". Teve a visão do lugar que a esperaria no inferno, se não tivesse abandonado suas vaidades. Iniciou, então, o seu grande trabalho de reformista.

Pequena e sempre adoentada, ninguém entendia como conseguia subir e descer montanhas, deslocar-se pelos caminhos mais ermos e inacessíveis, de Convento em Convento, por toda a Espanha. Em 1560 teve a inspiração de um novo Carmelo, onde se vivesse sob as regras originais. Dois anos depois fundou o primeiro Convento das Carmelitas Descalças da Regra Primitiva de São José em Ávila, aonde foi morar.

Porém, em 1576 enfrentou sérias dificuldades dentro da Ordem. Por causa da rigidez das normas que implementou dentro dos Conventos, as comunidades manifestaram-se junto ao novo Geral da Ordem, o qual igualmente discordava das normas adotada e assim sendo foi afastada. Teresa recolheu-se num dos Conventos e acreditou que sua Obra não teria continuidade.

Obteve porém, o apoio do Rei Felipe II e conseguiu dar sequência ao seu trabalho.

Em 1580, o Papa Gregório XIII declarou autónoma a província Carmelita descalça.

Apesar de uma atividade intensa, ainda encontrava espaço para transmitir ao mundo suas reflexões e experiências místicas. Na sua época toda a cidade de Ávila sabia das suas visões e diálogos com Deus. Para obter ajuda, na ânsia de entender e conciliar seus dons de espiritualidade e as insistentes tentações, ela mesma expôs os factos diante de muitos leigos e não apenas aos seus Confessores e Diretores Espirituais.

Graças à orientação destes ela seguiu numa rota segura, porque foi devidamente orientada por estes, que eram, os agora Santos: Francisco Bórgia e Pedro de Alcântara, que perceberam os sinais da ação de Deus.
A pedido dos seus superiores, registou toda sua vida atribulada de tentações e espiritualidade mística em livros como: "O Caminho da Perfeição", "As Moradas", "A Autobiografia", e outros.

Nos quais narra como um Anjo trespassou seu coração com uma seta de fogo.

Vítima de doença, faleceu no dia 4 de Outubro de 1582, aos sessenta e sete anos, no convento de Alba de Torres, Espanha. Nesta ocasião, tinha reformado dezenas de Conventos e fundado trinta e dois, de Carmelitas descalças, sendo dezassete femininos e quinze masculinos.

Beatificada em 1614, foi canonizada como Santa Teresa de Ávila, em 1622.

A comemoração da festa da trasverberação do coração de Santa Teresa ocorre em 26 de Agosto.

Enquanto a celebração do dia de sua morte ficou para o dia 15 de Outubro, a partir da última reforma do calendário litúrgico da Igreja.
O Papa Paulo VI, em 1970, proclamou Santa Teresa de Ávila, Doutora da Igreja, a primeira mulher a obter tal título.

(Fonte: site Paulinas com adaptação e edição de JPR)