Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sábado, 31 de dezembro de 2016

UM NOVO ANO, A MESMA LUZ!

Hoje acaba um dia e começa outro, exactamente como todos os dias.

Os dias acabam sempre em noites, mas as noites dão sempre lugar aos dias.

Um ano acaba e outro começa.

Um ano que teve muitos dias e muitas noites, dá lugar a um outro ano que vai ter muitos dias e muitas noites.

As noites são sempre vividas, (ou assim devem ser), à espera de novos dias.

É a escuridão que dá lugar à luz, ou melhor, que é vencida pela luz.

O que eu desejo para cada um e para mim também, neste novo ano, é que todas as noites sejam vividas na esperança de um novo dia.

A escuridão só é permanente para quem nela quiser viver, porque a escuridão é sempre vencida pela luz, e a luz foi-nos dada na Cruz, por Jesus.

Abençoada Luz, que tornas as minhas noites na certeza de um novo dia, que tornas as minhas ocasionais escuridões, em caminho para Ti, Jesus!

Bom Ano Novo para todos, na certeza de que a Luz de Deus ilumina todos os homens de boa vontade!

Marinha Grande, 31 de Dezembro de 2016

Joaquim Mexia Alves

Primeiras Vésperas na Solunidade de Maria Santíssima Mãe de Deus e Te Deum de ação de graças pelo ano que passou

«Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei, para resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei, a fim de recebermos a adoção de filhos» (Gal 4, 4-5).

Hoje ressoam com uma força particular estas palavras de São Paulo, que, de forma breve e concisa, nos introduzem no plano que Deus tem para nós: quer que vivamos como filhos. Ecoa aqui toda a história da salvação: Aquele que não estava sujeito à Lei decidiu, por amor, deixar de lado qualquer tipo de privilégio (privus legis) e entrar pelo lugar menos esperado, a fim de nos libertar a nós que estávamos – nós, sim – sob a Lei. E a novidade é que decidiu fazê-lo na pequenez e fragilidade dum recém-nascido; decidiu aproximar-Se pessoalmente e, na sua carne, abraçar a nossa carne; na sua fraqueza, abraçar a nossa fraqueza; na sua pequenez, superar a nossa. Em Cristo, Deus não Se mascarou de homem, fez-Se homem e partilhou em tudo a nossa condição. Longe de se encerrar num estado de ideia ou essência abstrata, quis estar perto de todos aqueles que se sentem perdidos, mortificados, feridos, desanimados, abatidos e amedrontados; perto de todos aqueles que, na sua carne, carregam o peso do afastamento e da solidão, para que o pecado, a vergonha, as feridas, o desconforto, a exclusão não tenham a última palavra na vida dos seus filhos.

O presépio convida-nos a assumir esta lógica divina: não uma lógica centrada no privilégio, em favores, no compadrio; mas a lógica do encontro, da aproximação e da proximidade. O presépio convida-nos a abandonar a lógica feita de exceções para uns e exclusões para outros. O próprio Deus veio quebrar a cadeia do privilégio que gera sempre exclusão, para inaugurar a carícia da compaixão que gera a inclusão, que faz resplandecer em cada pessoa a dignidade para que foi criada. Um menino envolto em panos mostra-nos a força de Deus que interpela como dom, como oferta, como fermento e oportunidade para criar uma cultura do encontro.

Não podemos dar-nos ao luxo de ser ingénuos; sabemos que nos vem, de vários lados, a tentação de viver nesta lógica do privilégio que, ao separar, nos separa; ao excluir, nos exclui; ao confinar os sonhos e a vida de muitos dos nossos irmãos, nos confina.

Queremos hoje, diante do Menino Jesus, admitir a necessidade que temos que o Senhor nos ilumine, pois tantas vezes parecemos míopes ou ficamos prisioneiros da atitude decididamente egocentrista de quem quer forçar os outros a entrar nos próprios esquemas. Precisamos da luz que nos faça aprender com os nossos próprios erros e tentativas, a fim de melhorar e nos vencermos; aquela luz que nasce da consciência humilde e corajosa de quem, todas as vezes, encontra força para se erguer e recomeçar.

Quando chega ao fim mais um ano, paremos diante do presépio para agradecer todos os sinais da generosidade divina na nossa vida e na nossa história, que se manifestou de inúmeras maneiras no testemunho de tantos rostos que anonimamente souberam arriscar. Agradecimento esse, que não quer ser nostalgia estéril nem vã recordação do passado idealizado e desencarnado, mas memória viva que ajude a suscitar a criatividade pessoal e comunitária, pois sabemos que Deus está connosco. Deus está connosco.

Paremos diante do presépio a contemplar como Deus Se fez presente durante todo este ano, lembrando-nos assim de que cada tempo, cada momento é portador de graça e bênção. O presépio desafia-nos a não dar nada e ninguém como perdido. Ver o presépio significa encontrar a força de ocupar o nosso lugar na história, sem nos perdermos em lamentos nem azedumes, sem nos fecharmos nem evadirmos, sem procurar atalhos que nos privilegiem. Ver o presépio implica saber que o tempo que nos espera requer iniciativas cheias de audácia e esperança, bem como a renúncia a vãos protagonismos ou a lutas intermináveis para sobressair.

Ver o presépio é descobrir como Deus Se envolve envolvendo-nos, tornando-nos parte da sua obra, convidando-nos a acolher com coragem e decisão o futuro que temos à nossa frente.

Ao ver o presépio, deparamo-nos com os rostos de José e Maria: rostos jovens, cheios de esperanças e aspirações, cheios de incertezas; rostos jovens, que perscrutam o futuro com a tarefa não fácil de ajudar o Deus-Menino a crescer. Não se pode falar de futuro sem contemplar estes rostos jovens e assumir a responsabilidade que temos para com os nossos jovens; mais do que responsabilidade, a palavra justa é dívida: sim, a dívida que temos para com eles. Falar de um ano que termina, é sentirmo-nos convidados a pensar como estamos a interessar-nos com o lugar que os jovens têm na nossa sociedade.

Criamos uma cultura que por um lado idolatra a juventude procurando torná-la eterna, mas por outro, paradoxalmente, condenamos os nossos jovens a não possuir um espaço de real inserção, porque lentamente os fomos marginalizando da vida pública, obrigando-os a emigrar ou a mendigar ocupação que não existe ou que não lhes permite projetar o amanhã. Privilegiamos a especulação em vez de trabalhos dignos e genuínos que lhes permitam ser protagonistas ativos na vida da nossa sociedade. Esperamos deles e exigimos que sejam fermento de futuro, mas discriminamo-los e «condenamo-los» a bater a portas que, na maioria delas, permanecem fechadas.

Somos convidados a não ser como o estalajadeiro de Belém que, à vista do jovem casal, dizia: aqui não há lugar. Não havia lugar para a vida, não havia lugar para o futuro. A cada um de nós é pedido para assumir o compromisso próprio – por mais insignificante que possa parecer – de ajudar os nossos jovens a encontrar aqui na sua terra, na sua pátria, horizontes concretos de um futuro a construir. Não nos privemos da força das suas mãos, das suas inteligências, das suas capacidades de profetizar os sonhos dos seus idosos (cf. Jl 3, 1). Se queremos apontar para um futuro que seja digno deles, só o poderemos alcançar apostando numa verdadeira inclusão: a inclusão resultante do trabalho digno, livre, criativo, participativo e solidário (cf. Discurso na atribuição do Prémio Carlos Magno, 6 de maio de 2016).

Ver o presépio desafia-nos a ajudar os nossos jovens para não ficarem desiludidos à vista das nossas imaturidades, e a estimulá-los para que sejam capazes de sonhar e lutar pelos seus sonhos; capazes de crescer e tornar-se pais e mães do nosso povo.

Olhando o ano que acaba, como nos faz bem contemplar o Deus-Menino! É um convite a voltar às fontes e às raízes da nossa fé. Em Jesus, a fé faz-se esperança, torna-se fermento e bênção: «Ele permite-nos levantar a cabeça e recomeçar, com uma ternura que nunca nos defrauda e sempre nos pode restituir a alegria» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 3).

Natal muçulmano

É razoável que um dirigente de uma escola estatal de um país laico, Itália, tenha em conta as diversas sensibilidades religiosas, mas não ao ponto de negar a identidade nacional e tradições culturais.

Marco Parma, director do liceu Garofani, em Rozzano, no norte de Itália, com cerca de mil alunos, dos quais só um quinto não professa a religião cristã, decidiu que o tradicional concerto de Natal dever-se-ia designar pela estação do ano em que ocorre, para não ofender os alunos não cristãos, nem as suas famílias.

Obviamente, também excluiu do programa do agora denominado concerto do inverno todas as músicas com alguma conotação religiosa porque, como explicou, “num ambiente multicultural, isto gera problemas”. Numa anterior festa de Natal, em que se cantaram canções alusivas ao nascimento de Jesus Cristo, “as crianças muçulmanas não cantaram. Ficaram lá, totalmente rígidas. Não é bom ver uma criança não cantar ou, pior ainda, ser chamada pelos pais para fora do palco”, acrescentou Marco Parma.

É razoável que um dirigente de uma escola estatal de um país laico, como é a Itália, tenha em atenção as diversas sensibilidades religiosas, mas não ao ponto de negar a identidade nacional, nem as tradições culturais do seu país. É verdade que o Natal é uma solenidade cristã, mas também é uma festa nacional e, por isso, também para os não católicos é feriado. Muitos monumentos de origem e natureza essencialmente religiosa têm também um grande valor cultural e artístico, que ultrapassa as fronteiras do meramente confessional.

É aceitável que uma escola secundária, na Arábia Saudita, encerre à sexta-feira, dia santo para os muçulmanos; ou ao sábado, o dia do Senhor em Israel. É lógico que o dia 25 de Dezembro não seja feriado num país maioritariamente muçulmano ou hindu, e um cristão que viva nesses países não se deve sentir ofendido por isso. Mas também se justifica que um país de tradição e cultura católica, como é a Itália, festeje as principais efemérides cristãs, o que, obviamente, não constitui nenhuma ofensa para os crentes de outras religiões, nem para os ateus ou agnósticos. Aliás, foi neste sentido que o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos entendeu legítima a presença de crucifixos nas salas de aula italianas, contra uma mãe que exigira a sua retirada, por entender que esse símbolo cristão contrariava a laicidade da educação estatal.

Os emigrantes e refugiados devem ser acolhidos com hospitalidade, mas devem ter a boa educação de respeitar as tradições culturais e religiosas dos seus novos países, em nome das quais, por certo, foram acolhidos. Não faria sentido não referir, nas escolas portuguesas, a reconquista da península aos mouros, por respeito aos muçulmanos; ou omitir as invasões dos bárbaros, por deferência com os povos germânicos; ou, não festejar o primeiro de Dezembro, para não desgostar os espanhóis; ou silenciar as invasões francesas, para não ofender os gauleses.

A infeliz atitude deste diretor de uma escola secundária do norte de Itália é paradigmática de um certo complexo de inferioridade, bastante generalizado entre certas pessoas que, para não parecerem nacionalistas, nem serem confundidas com os xenófobos da extrema-direita, renegam a identidade nacional. Não devemos ser colectivamente orgulhosos, nem muito menos desprezar os outros povos, nem muito menos as suas religiões, mas também não nos devemos desculpar por sermos quem somos, nem muito menos demitirmo-nos da nossa identidade histórica e cultural.

Na velha Europa generalizou-se a ideia de que, a bem da integração dos crentes de outras religiões, há que proibir qualquer manifestação pública cristã, no pressuposto de que um símbolo religioso é necessariamente ofensivo para quem não professa essa religião. É curioso que se pense que celebrar o Natal possa ser ofensivo para um quinto dos alunos e suas famílias, quando a supressão dessa celebração afectaria negativamente quatro quintos da população escolar… A verdade, o amor, a misericórdia e o perdão são também, entre outros, princípios essencialmente cristãos: em nome da laicidade da educação, também deveriam ser excluídos das escolas oficiais?!

Marco Parma, ao proibir que o concerto fosse designado como sendo de Natal, foi, na realidade, muito infeliz. Em nome da história e da cultura italiana, com a qual quatro quintos dos seus alunos se identificam, deveria ter defendido a designação tradicional. Também deveria respeitar que os alunos, embora minoritários, de outras crenças se associassem, ou não, a essa festa, mas sem alterar a sua denominação.

Quando o director da escola já não se chamar Marco, nome incrivelmente cristão e altamente provocatório para todos os alunos e famílias não cristãs, mas Yussuf, e o Instituto Garofani for uma madraça, talvez Parma perceba, finalmente, que o Natal, para além de uma celebração religiosa, é também uma afirmação da identidade cultural europeia, uma lição essencial sobre o inestimável valor da vida humana, desde a concepção até à morte natural. Mas, então, talvez já seja tarde de mais para que se dê conta do que é óbvio, ou seja, que uma sociedade é tanto mais livre quanto mais for verdadeiramente cristã.

Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada in OBSERVADOR AQUI

O Evangelho do dia 1 de Janeiro de 2017 - Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus

Foram a toda a pressa, e encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura. Vendo isto, conheceram o que lhes tinha sido dito acerca deste Menino.E todos os que ouviram, se admiraram das coisas que os pastores lhes diziam. Maria conservava todas estas coisas, meditando-as no seu coração. Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, conforme lhes tinha sido dito. Depois que se completaram os oito dias para ser circuncidado o Menino, deram-Lhe o nome de Jesus, como Lhe tinha chamado o anjo, antes que fosse concebido no ventre materno.

Lc 2, 16-21

Novo ano ou ano novo?

É da praxe que, ao finalizar Dezembro, se façam contas ao ano transacto. Jornais, rádios e televisões fazem as suas selecções dos eventos e das personagens que, no seu entender, mais marcaram os últimos doze meses. Essas sínteses, sobretudo quando incidem sobre os factos mais dramáticos, ressumam um travo amargo sobre o desarranjo do mundo e a nossa impotência para o consertar.

Também no âmbito das nações e das famílias se procura fazer um apanhado das mais marcantes datas do nosso passado colectivo recente, nacional e familiar. Estes factos, embora mais prosaicos, como nos são mais próximos, são também os que mais nos tocam, porque acontecidos na nossa terra ou família.

É verdade que a doença da vizinha nos afecta mais do que uma tragédia asiática, mas é natural que, não podendo prestar a todos a mesma atenção, nos centremos naqueles que, por estarem mais perto, são o nosso próximo mais próximo. Só por seu intermédio se pode chegar, afinal, ao todo universal. Um amor a todos, que o não seja a alguém, não é caridade, mas uma vã utopia filantrópica.

A nível individual, este tempo de final de ano também convida a uma mais profunda reflexão. Nada se altera, contudo, porque a terminação do ano se modifica: só há verdadeira mudança se houver uma autêntica conversão pessoal. Acreditar que o novo ano é mesmo um ano novo é mera superstição: só a realidade de um novo coração pode renovar a vida e o mundo.

Ninguém pode, sozinho, mudar todo o mundo, mas há algo que todos podemos e devemos mudar: a nossa vida. Se cada um der, agora, esse salto de qualidade, teremos em 2014 famílias mais felizes, um país renovado e um mundo melhor!

Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada
jornal 'i' em 2013

BREVIDADE DA VIDA – Livro de Salmos 39

Eu disse a mim próprio: "Vigiarei sobre a minha conduta,
para não pecar com a língua;
refrearei a minha boca,
enquanto o ímpio estiver diante de mim."
Fiquei calado e em silêncio, mas sem proveito,
porque se agravou a minha dor.
O coração ardia-me no peito;
de tanto pensar nisto, esse fogo avivava-se
e deixei a minha língua dizer:
"SENHOR, dá-me a conhecer o meu fim
e o número dos meus dias,
para que veja como sou efémero.
De poucos palmos fizeste os meus dias;
diante de ti a minha existência é como nada;
o homem não é mais do que um sopro!
Ele passa como simples sombra!
É em vão que se agita:
amontoa riquezas e não sabe para quem ficam.
Agora, Senhor, que posso eu esperar?
A minha esperança está em ti.
Livra-me de todas as minhas faltas;
não deixes que o insensato se ria de mim.
Fiquei calado, sem abrir a boca,
porque és Tu quem intervém.
Afasta de mim os teus castigos;
desfaleço ao peso da tua mão.
Tu corriges o homem, castigando a sua culpa,
e, como a traça, destróis o que ele mais estima.
Na verdade, o homem é apenas um sopro.
SENHOR, ouve a minha oração,
escuta o meu lamento;
não fiques insensível às minhas lágrimas.
Diante de ti sou como um estrangeiro,
um hóspede, como os meus antepassados.
Desvia de mim os olhos, para que eu possa respirar,
antes que tenha de partir, e acabe a minha existência."

O Evangelho do dia 31 de dezembro de 2016

No princípio existia o Verbo; o Verbo estava em Deus; e o Verbo era Deus. No princípio Ele estava em Deus. Por Ele é que tudo começou a existir; e sem Ele nada veio à existência. Nele é que estava a Vida de tudo o que veio a existir. E a Vida era a Luz dos homens. A Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam. Apareceu um homem, enviado por Deus, que se chamava João. Este vinha como testemunha, para dar testemunho da Luz e todos crerem por meio dele. Ele não era a Luz, mas vinha para dar testemunho da Luz. O Verbo era a Luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina. Ele estava no mundo e por Ele o mundo veio à existência, mas o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a quantos o receberam, aos que nele crêem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Estes não nasceram de laços de sangue, nem de um impulso da carne, nem da vontade de um homem, mas sim de Deus. E o Verbo fez-se homem e veio habitar connosco. E nós contemplámos a sua glória, a glória que possui como Filho Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade. João deu testemunho dele ao clamar: «Este era aquele de quem eu disse: 'O que vem depois de mim passou-me à frente, porque existia antes de mim.'» Sim, todos nós participamos da sua plenitude, recebendo graças sobre graças. É que a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo. A Deus jamais alguém o viu. O Filho Unigénito, que é Deus e está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer.

Jo 1, 1-18

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

O Evangelho do dia 30 de dezembro de 2016 - Festa da Sagrada Família

Tendo eles partido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e lhe disse: «Levanta-te, toma o Menino e Sua mãe, foge para o Egipto, e fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o Menino para O matar». ele, levantando-se de noite, tomou o Menino e Sua mãe, e retirou-se para o Egipto. Lá esteve até à morte de Herodes, cumprindo-se deste modo o que tinha sido dito pelo Senhor por meio do profeta: “Do Egipto chamei o Meu filho”. Morto Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egipto, e disse-lhe: «Levanta-te, toma o Menino e Sua mãe, e vai para a terra de Israel, porque morreram os que procuravam tirar a vida ao Menino». Ele levantou-se, tomou o Menino e Sua mãe, e voltou para a terra de Israel. Mas, ouvindo dizer que Arquelau reinava na Judeia em lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá; e, avisado por Deus em sonhos, retirou-se para a região da Galileia, e foi habitar numa cidade chamada Nazaré, cumprindo-se deste modo o que tinha sido anunciado pelos profetas: “Será chamado nazareno”.

Mt 2,13-15.19-23

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

O Evangelho do dia 29 de dezembro de 2016

Depois que se completaram os dias da purificação de Maria, segundo a Lei de Moisés, levaram-n'O a Jerusalém para O apresentar ao Senhor segundo o que está escrito na Lei do Senhor: “Todo o varão primogénito será consagrado ao Senhor”, e para oferecerem em sacrifício, conforme o que também está escrito na Lei do Senhor: “Um par de rolas ou dois pombinhos”. Havia então em Jerusalém um homem chamado Simeão. Este homem era justo e piedoso; esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava nele. Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não veria a morte sem ver primeiro o Cristo do Senhor. Foi ao templo conduzido pelo Espírito. E, levando os pais o Menino Jesus, para cumprirem as prescrições usuais da Lei a Seu respeito, ele tomou-O nos braços e louvou a Deus, dizendo: «Agora, Senhor, podes deixar o teu servo partir em paz segundo a Tua palavra; porque os meus olhos viram a Tua salvação, que preparaste em favor de todos os povos; luz para iluminar as nações, e glória de Israel, Teu povo». O Seu pai e a Sua mãe estavam admirados das coisas que d'Ele se diziam. Simeão abençoou-os e disse a Maria, Sua mãe: «Eis que este Menino está posto para ruína e ressurreição de muitos em Israel e para ser sinal de contradição. E uma espada trespassará a tua alma. Assim se descobrirão os pensamentos escondidos nos corações de muitos».

Lc 2, 22-35

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Última Audiência de 2017 (resumo)

Locutor: Na vida de Abraão, podemos aprender o que é o caminho da fé e da esperança. Um dia ouvira o Senhor que o chamava a deixar a sua terra partindo para outra que lhe indicaria; ele obedece e parte para a Terra Prometida. Esta seria possuída pelos seus herdeiros; só que Abraão não tinha filhos, nem via possibilidade de os ter, pois ele era já idoso e Sara, sua esposa, estéril. A este propósito, escreve São Paulo na Carta aos Romanos: «Foi com uma esperança, para além do que se podia esperar, que Abraão acreditou e assim se tornou pai de muitos povos». A sua fé abre-se a uma esperança aparentemente não razoável, capaz de ir mais além dos raciocínios humanos, da sabedoria e prudência do mundo, da medida normal de bom senso, para crer no impossível. A esperança abre novos horizontes, permite sonhar até mesmo o inimaginável; faz entrar na escuridão de um futuro incerto para caminhar na luz. Mas é um caminho difícil! O próprio Abraão sentiu o peso da desilusão, do desânimo: o tempo passa, e o filho não vem. E lamenta-se com Deus. Mas também este lamento é uma forma de fé. Apesar de tudo, Abraão continua a crer em Deus e a esperar que algo possa ainda acontecer. Caso contrário, porquê interpelar o Senhor, lamentar-se com Ele, fazer apelo às suas promessas? A fé não é apenas silêncio que tudo aceita sem replicar; a esperança não dá uma certeza tal que te preserve de dúvidas e perplexidades. A fé é também lutar com Deus, mostrar-Lhe a nossa amargura sem piedosos fingimentos. E a esperança é também não ter medo de olhar a realidade como está e aceitar as suas contradições. Por isso Abraão, na sua fé, dirige-se a Deus, para que o ajude a continuar a esperar. Então Deus fá-lo sair da tenda e fixar o céu estrelado. E, onde olhos normais só veem estrelas, os olhos de Abraão vislumbram o sinal da fidelidade do Senhor.
* * *
Santo Padre:
Carissimi pellegrini di lingua portoghese, di cuore vi saluto tutti, augurandovi ogni consolazione e ogni grazia del Dio Bambino. Nei vostri cuori e sulle vostre famiglie e comunità, rifulga la luce del Salvatore, che ci rivela il volto tenero e misericordioso del Padre Celeste. Egli vi benedica con un sereno e felice Anno Nuovo!
* * *
Locutor: Amados peregrinos de língua portuguesa, a minha cordial saudação para todos, desejando-vos todas as consolações e graças do Deus Menino. Nos vossos corações, famílias e comunidades, resplandeça a luz do Salvador, que nos revela o rosto terno e misericordioso do Pai do Céu. Ele vos abençoe com um Ano Novo sereno e feliz!

O Evangelho do dia 28 de dezembro de 2016

Tendo eles partido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e lhe disse: «Levanta-te, toma o Menino e Sua mãe, foge para o Egipto, e fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o Menino para O matar». ele, levantando-se de noite, tomou o Menino e Sua mãe, e retirou-se para o Egipto. Lá esteve até à morte de Herodes, cumprindo-se deste modo o que tinha sido dito pelo Senhor por meio do profeta: “Do Egipto chamei o Meu filho”. Então Herodes, percebendo que tinha sido enganado pelos Magos, irou-se em extremo, e mandou matar, em Belém e em todos os seus arredores, todos os meninos de idade de dois anos para baixo, segundo a data que tinha averiguado dos Magos. Cumpriu-se então o que estava anunciado pelo profeta Jeremias: “Uma voz se ouviu em Ramá, pranto e grande lamentação; Raquel chorando os seus filhos, sem admitir consolação, porque já não existem”. 

Mt 2, 13-18

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

O Evangelho do dia 27 de dezembro de 2016

Correu então, e foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo a quem Jesus amava, e disse-lhes: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram». Partiu, pois, Pedro com o outro discípulo e foram ao sepulcro. Corriam ambos juntos, mas o outro discípulo corria mais do que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro. Tendo-se inclinado, viu os lençóis no chão, mas não entrou. Chegou depois Simão Pedro, que o seguia, entrou no sepulcro e viu os lençóis postos no chão, e o sudário que estivera sobre a cabeça de Jesus, que não estava com os lençóis, mas enrolado num lugar à parte. Entrou também, então, o outro discípulo que tinha chegado primeiro ao sepulcro. Viu e acreditou.

Jo 20, 2-8

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Santa Missa no dia de Natal na Catedral de St. Elias em Aleppo

O Evangelho do dia 26 de dezembro de 2016

Acautelai-vos dos homens, porque vos farão comparecer nos seus tribunais e vos açoitarão nas sinagogas. Sereis levados por Minha causa à presença dos governadores e dos reis, para dar testemunho diante deles e diante dos gentios. Quando vos entregarem, não cuideis como ou o que haveis de falar, porque naquela hora vos será inspirado o que haveis de dizer. Porque não sereis vós que falais, mas o Espírito de vosso Pai é o que falará em vós. O irmão entregará à morte o seu irmão e o pai o seu filho; os filhos se levantarão contra os pais e lhes darão a morte. Vós, por causa do Meu nome, sereis odiados por todos; aquele, porém, que perseverar até ao fim será salvo.

Mt 10, 17-22

domingo, 25 de dezembro de 2016

MENSAGEM URBI ET ORBI DO PAPA FRANCISCO

Queridos irmãos e irmãs, feliz Natal!

Hoje, a Igreja revive a maravilha sentida pela Virgem Maria, São José e os pastores de Belém ao contemplarem o Menino que nasceu e jaz numa manjedoura: Jesus, o Salvador.
Neste dia cheio de luz, ressoa o anúncio profético:

«Um menino nasceu para nós,

um filho nos foi dado;
tem a soberania sobre os seus ombros
e o seu nome é:
Conselheiro-Admirável, Deus herói,
Pai-Eterno, Príncipe da Paz» (Is 9, 5).

O poder deste Menino, Filho de Deus e de Maria, não é o poder deste mundo, baseado na força e na riqueza; é o poder do amor. É o poder que criou o céu e a terra, que dá vida a toda a criatura: aos minerais, às plantas, aos animais; é a força que atrai o homem e a mulher e faz deles uma só carne, uma só existência; é o poder que regenera a vida, que perdoa as culpas, reconcilia os inimigos, transforma o mal em bem. É o poder de Deus. Este poder do amor levou Jesus Cristo a despojar-Se da sua glória e fazer-Se homem; e levá-Lo-á a dar a vida na cruz e ressurgir dentre os mortos. É o poder do serviço, que estabelece no mundo o reino de Deus, reino de justiça e paz.


Por isso, o nascimento de Jesus é acompanhado pelo canto dos anjos que anunciam:

«Glória a Deus nas alturas,
e paz na terra aos homens do seu agrado» (Lc 2, 14).

Hoje este anúncio percorre a terra inteira e quer chegar a todos os povos, especialmente aos povos que vivem atribulados pela guerra e duros conflitos e sentem mais intensamente o desejo da paz.
Paz aos homens e mulheres na martirizada Síria, onde já demasiado sangue foi versado. Sobretudo na cidade de Alepo, cenário nas últimas semanas de uma das batalhas mais atrozes, é tão urgente que, respeitando o direito humanitário, se assegurem assistência e conforto à população civil exausta, que se encontra ainda numa situação desesperada e de grande tribulação e miséria. É tempo que as armas se calem definitivamente, e a comunidade internacional se empenhe ativamente para se alcançar uma solução negociada e restabelecer a convivência civil no país.

Paz às mulheres e homens da amada Terra Santa, eleita e predileta de Deus. Israelitas e palestinenses tenham a coragem e a determinação de escrever uma página nova da história, onde o ódio e a vingança cedam o lugar à vontade de construir, juntos, um futuro de mútua compreensão e harmonia. Possam reencontrar unidade e concórdia o Iraque, a Líbia e o Iémen, onde as populações padecem a guerra e brutais ações terroristas.

Paz aos homens e mulheres em várias regiões da África, particularmente na Nigéria, onde o terrorismo fundamentalista usa mesmo as crianças para perpetrar horror e morte. Paz no Sudão do Sul e na República Democrática do Congo, para que sejam sanadas as divisões e todas as pessoas de boa vontade se esforcem por embocar um caminho de desenvolvimento e partilha, preferindo a cultura do diálogo à lógica do conflito.

Paz às mulheres e homens que sofrem ainda as consequências do conflito no leste da Ucrânia, onde urge uma vontade comum de levar alívio à população e implementar os compromissos assumidos.

Concórdia, invocamos para o querido povo colombiano, que anela realizar um novo e corajoso caminho de diálogo e reconciliação. Tal coragem anime também a amada Venezuela a empreender os passos necessários para pôr fim às tensões atuais e edificar, juntos, um futuro de esperança para toda a população.

Paz para todos aqueles que, em diferentes áreas, suportam sofrimentos devido a perigos constantes e injustiças persistentes. Possa o Myanmar consolidar os esforços por favorecer a convivência pacífica e, com a ajuda da comunidade internacional, prestar a necessária proteção e assistência humanitária a quantos, delas, têm grave e urgente necessidade. Possa a Península Coreana ver as tensões que a atravessam superadas num renovado espírito de colaboração.

Paz para quem foi ferido ou perdeu uma pessoa querida por causa de brutais atos de terrorismo, que semearam pavor e morte no coração de muitos países e cidades. Paz – não em palavras, mas real e concreta – aos nossos irmãos e irmãs abandonados e excluídos, àqueles que padecem a fome e a quantos são vítimas de violência. Paz aos deslocados, aos migrantes e aos refugiados, a todos aqueles hoje são objeto do tráfico de pessoas. Paz aos povos que sofrem por causa das ambições económicos de poucos e da avidez insaciável do deus-dinheiro que leva à escravidão. Paz a quem suporta dificuldades sociais e económicas e a quem padece as consequências dos terremotos ou doutras catástrofes naturais.

E paz às crianças, neste dia especial em que Deus Se faz criança, sobretudo às privadas das alegrias da infância por causa da fome, das guerras e do egoísmo dos adultos.

Paz na terra a todas as pessoas de boa vontade, que trabalham diariamente, com discrição e paciência, em família e na sociedade para construir um mundo mais humano e mais justo, sustentadas pela convicção de que só há possibilidade dum futuro mais próspero para todos com a paz

Queridos irmãos e irmãs!
«Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado»: é o «Príncipe da Paz». Acolhamo-Lo!
***
[depois da Bênção]

A vós, queridos irmãos e irmãs, congregados de todo o mundo nesta Praça e a quantos estão unidos connosco de vários países através do rádio, televisão e outros meios de comunicação, formulo os meus cordiais votos.

Neste dia de alegria, todos somos chamados a contemplar o Menino Jesus, que devolve a esperança a todo o ser humano sobre a face da terra. Com a sua graça, demos voz e demos corpo a esta esperança, testemunhando a solidariedade e a paz. Feliz Natal para todos!

Natal. É Deus que nos Pede Esmola

Quando me propuseram falar novamente do Natal nesta série de conferências mensais, o primeiro título que me ocorreu foi este - «É Deus que nos pede esmola». Porque me veio à mente esta frase? Suponho que foi porque neste Natal há tanta gente que tem de recorrer à esmola e tanta gente que procura generosamente atender a essa dolorosa necessidade dos outros! Vi Nosso Senhor a pedir esmola também e a agradecer a esmola que Lhe dermos, a Ele directamente e a todos os que passam fome e com quem Ele Se identifica: «Porque tive fome e me destes de comer, sede e me destes de beber, estava nu e me vestistes…», enfim, porque «tudo o que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes…» (Mt 25, 35 e 40)

É um grande mistério, que a todos nos comove: o próprio Deus, Deus Criador e Omnipotente, a pedir e a agradecer esmolas das suas criaturas!

Porque me lembrei de dar este título para a conferência de Natal? Foi uma espécie de inspiração poética: como o primeiro verso de um poema. Assim costumam fazer os poetas, incluindo os maus poetas, como eu. Vem-nos à ideia um frase qualquer, quase sem querermos, e sentimos que fica à espera de desenvolvimentos; como se fosse uma semente a criar raízes no pensamento e a crescer dentro de nós, até se exteriorizar coerentemente… O poeta vê-se obrigado a segui-la; não pode fazer do primeiro verso o que quiser; tem de adivinhar o que essa frase entranha, até dar à luz o fruto correspondente.

Ora, o que queria eu dizer com essa frase? Queria dizer certamente o que está mesmo a dizer: que Deus nos pede esmola. É uma verdade estranha, mas é evidente; e, quanto mais evidente, mais estranha parece. Não veio Ele pedir-nos licença de entrar neste nosso mundo? Ele, que é o Senhor do mundo; Ele, «em Quem nós nos movemos, existimos e somos» (Act 17, 28); Ele que nos criou e nos mantém na existência; Ele, Deus todo-poderoso, não envia porventura um embaixador insigne, um Príncipe celestial, a pedir a uma menina de Nazaré a esmola de O receber no seu seio?

Que mistério maravilhoso! Estabelece-se um diálogo diplomático; ela pergunta em que condições o Senhor deseja ser concebido; é esclarecida; e, com a maior simplicidade, responde que sim. Sim, Senhor Embaixador, aceito Deus como meu Filho. Pode entrar no meu seio desde já. «Faça-se em mim, segundo a tua palavra» (Lc 1, 38).

Porque é que o Senhor é tão cerimonioso e delicado? Porque precisa de nos pedir licença para encarnar?

Reparai: que diferença há entre a filiação humana e a procriação animal? Entre a filiação humana e a procriação animal existe mesma diferença que há entre o homem e o animal: a consciência e a liberdade. A geração humana é consciente e livre; a procriação animal é inconsciente e fatal.

Nosso Senhor quis ser verdadeiramente «filho do homem», ou simplesmente, verdadeiro homem, entrando no mundo segundo uma autêntica e plena geração humana. Podia ter assumido natureza humana sem mãe nem pai, mas nesse caso seria para nós um extra-terrestre; teria uma natureza igual à nossa, mas não faria parte da nossa natureza. Não faria parte da humanidade que vinha salvar. Ou podia nascer de uma mulher, sem lhe pedir licença, mas, nesse caso, não teria verdadeira mãe, não seria verdadeiro filho nosso, da nossa raça; seria um intruso; a sua entrada no mundo seria uma violência divina.

As crianças que nascem, bem ou mal, não são intrusas, porque não tiveram oportunidade de querer nascer ou não; mas Jesus Cristo é o Verbo eterno; é anterior a toda a Criação; é uma Pessoa, livre e responsável pela sua própria vinda ao mundo; quis ser concebido e quis nascer no seio de uma mulher que O aceitasse de boa mente, no seu coração e no seu seio. Para isso, tinha de lhe pedir licença. Tinha de lhe pedir a esmola de uma perfeita maternidade humana.

E ela tinha de saber Quem ia gerar; tinha de saber que ia conceber a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, porque se julgasse que Ele era mais um homem qualquer, estaria enganada; o seu Fiat não seria uma aceitação autêntica do Filho de Deus. Seria apenas «procriadora» de Deus humanado, como alguns hereges afirmaram, recusando a Nossa Senhora o título de Theotokos, de Mãe de Deus; seria só Mãe de Jesus, Mãe do homem Jesus, não da Segunda Pessoa da Trindade. Deus não tem mãe, argumentam… De facto, a Santíssima Trindade não tem mãe, mas a Pessoa do Verbo Encarnado tem. Porque chamamos mãe àquela que gerou alguém, alguém que é pessoa, um «eu» composto de corpo e alma; ora o «eu» de Jesus é o «Eu» divino, o Eu da Pessoa do Verbo. Jesus não possui dois «eus», um humano e outro divino, mas um só: o Eu de Deus. Possui duas naturezas, mas é uma só Pessoa, a Pessoa do Verbo, verdadeiro e único Deus com o Pai e o Espírito Santo. Logo, Maria gerou no seu seio o próprio Deus; logo, Maria é Mãe de Deus. Negar-lhe esse título seria negar a personalidade divina de Jesus, ou atribuir-Lhe duas personalidades, o que vai contra tudo o que nos diz o Evangelho.

Para isso, Nosso Senhor fez-Se verdadeiro pedinte. Pediu primeiro um coração materno e um seio materno. Como dizia antes, as crianças não pedem a sua própria concepção, porque só existem a partir dela; mas Cristo é anterior à sua própria concepção, e pediu-a expressamente. E continuou a pedir: pediu para vir ao mundo dentro de uma família, e isso já foi mais difícil, porque José demorou a compreender esse pedido. Foi preciso explicar-lhe que, embora Ele não fosse filho seu pela carne, queria ser Filho seu por vontade divina… E também José acabou por aceitá-Lo como verdadeiro pai. Como dizia Santo Agostinho, «à piedade e caridade de José nasceu o Filho da Virgem Maria, que é o mesmo Filho de Deus». (Sermo 51, 30). Quem afirma que não é filho de José por não ter sido gerado carnalmente por ele, explica o santo doutor, dá mais importância à libido do que ao amor, quando o amor é que determina a paternidade humana (Cf. idem, 26). Enfim, assim como Maria não O gerou pela carne, mas pelo Espírito Santo, também José O recebeu do Pai pelo seu Espírito de Amor.

Pediu um pai, pediu uma família, pediu toda uma parentela, como qualquer homem recebe; e pediu que O deixássemos nascer, e uma casa onde vir ao mundo… Essa foi a primeira esmola que Lhe recusámos. Fechámos-Lhe todas as portas. E teve de vir à luz na escuridão de uma toca de animais!

Coitadinho de Nosso Senhor!, dizemos nós agora, ao contemplá-Lo no presépio. Tem algum sentido esta exclamação? Sim, é a expressão da nossa misericórdia; misericórdia é a virtude que consiste na compaixão pelas carências alheias e nos leva a socorrer quem padece alguma necessidade; é a virtude que nos leva a partilhar a miséria dos outros e a procurar remediá-la; da misericórdia é que procede a esmola; e a primeira esmola é precisamente a compaixão, a companhia de outrem no seu sofrimento. Mas isto remedeia alguma coisa? Com certeza, sobretudo quando uma das coisas de que o próximo necessita é o nosso amor.

Ora, o que buscava Jesus Cristo no mundo não eram certamente as coisas materiais, porque d’Ele é tudo o que existe; o que buscava e continua a buscar é o nosso coração, o nosso amor. Isso era o que mais queria e vinha pedir-nos. Se lho damos agora, estamos a remediar, de facto, o que de nós esperava nessa altura.

Como Deus, não precisava de nós; mas, como Homem, sim. Cada homem precisa dos outros para viver humanamente; somos seres relacionais, sociais; não somos naturezas separadas, como os Anjos; pertencemos a uma só natureza, e só com os nossos semelhantes podemos conhecer-nos, desenvolver-nos e ser felizes.

Mas, além disso, como autêntico Homem, também precisava de bens materiais: de um sítio onde nascer, de uma terra onde viver, onde brincar quando era criança, onde aprender, onde trabalhar… Precisava de uma sociedade onde O aceitassem dignamente… Coitado de Nosso Senhor, que também foi expulso do seu país, sem mais protecção do que a dos seus pais durante o exílio no Egipto! E quanta esmola teve de aceitar de quem os terá socorrido ao longo desta aventura terrível!...

No fundo, desde que quis ser verdadeiro Homem, teve de sujeitar-se a esta condição humana de esmolar. Não há ninguém que se baste a si mesmo. Como fez notar o Santo Padre (N. 'Spe Deus': Bento XVI) na encíclica «Caritas in Veritate», a sociedade não poderia existir nem desenvolver-se sem «gratuidade», isto é, sem as obras de misericórdia, sem o espírito de serviço, sem o amor. Graças a Deus, o mundo não progride pelo egoísmo, nem por frias relações políticas, administrativas ou comerciais; se progride, é porque há muito amor, muita gratuitidade, entre nós. E, se se degrada, é por falta de amor. A grande lei do progresso não é a do proveito próprio, mas a do gosto de servir o próximo. As próprias exigências de justiça que hoje se reclamam a torto e direito começaram por ser invenções da caridade. Como se costuma dizer: «a caridade de hoje é a justiça de amanhã».

Nosso Senhor veio pedir o que, por obrigação de justiça, Lhe devíamos dar. Veio pedir como esmola o que a criatura deve por justiça ao Criador. Todos temos essa experiência: à medida que resolvemos dar algo mais de nós a Deus, apercebemo-nos de que Lho devíamos ter dado desde sempre; sempre que Lhe damos alguma atenção, alguma coisa, logo nos sabe a pura e simples restituição; pois, que poderemos dar-Lhe que não Lho devamos, que não tenhamos recebido d’Ele?

Esta é a sua pedagogia: pedir-nos por favor e misericórdia aquilo que tem o mais estrito direito de exigir-nos, e que é amá-Lo sobre todas as coisas, com todo o coração, com toda a alma, com todo o entendimento e com todas as forças.

O amor: aí está outra grande palavra, muito gasta e muito equívoca. O que é o amor? O amor não é um sentimento; pode verter-se em tantos sentimentos, de alegria ou saudade, de ciúme ou admiração, de receio ou audácia… Amor é vontade de união; é não querermos separar-nos; e, por outro lado, é um fruto e o fim da liberdade, como S. Josemaría várias vezes o disse (Cf. por ex. «Amigos de Deus», 26-27 ou «Una libertad para ser vivida», Cobel Ed. 2010): pela liberdade somos diferentes uns dos outros; pela diferença, construímo-nos como pessoas, não como animais gregários; nós não nos relacionamos por grupos, «aos molhos», mas cada um com cada um, com relações singulares, pessoais, únicas, diferentes, irrepetíveis. E a isso é que se chama amor. Quando amamos alguém, ninguém o pode substituir, nem ele nos pode substituir por ninguém.

(Façamos um parênteses: as relações pessoais podem ser de amor, mas também podem ser de ódio, de indiferença, de antipatia… O certo é que a relação afectiva de cada pessoa com outra é sempre uma relação singular, diferente das outras relações afectivas com os demais. A liberdade está feita para o amor, mas permite todo o tipo de afectos, maus e bons. Assim como a inteligência está feita para a verdade, mas pode errar, a liberdade está feita para o amor, para o bem, mas pode preferir o mal. Seja como for, a liberdade leva-nos a estabelecer com qualquer pessoa uma relação única e irrepetível, que pode variar, mas continua a ser uma relação específica, individualizada, com cada pessoa, incluindo o próprio Deus e cada uma das Pessoas divinas).

Deus é pessoal, tri-pessoal, personalíssimo, e por isso a sua relação connosco é com cada um. Gosto muito de um cântico que vem a dizer: «Ninguém te ama como Eu». Gosto muito, porque é uma verdade de dois gumes: eu sou único para Ele; Ele ama-me como não ama ninguém; e eu posso dizer-Lhe o mesmo: «Ninguém te ama como eu». Amo pouco, tenho muita pena de Te amar tão pouco, mas uma coisa é verdade: o meu amor por Ti, meu Deus, é diferente de todos, porque é amor pessoal: ninguém Te ama como eu… Tu és todo meu; não precisas de Te dividir para me amares; e eu também queria ser todo teu; também queria ser teu a todo o momento em tudo quanto faço e quanto sou!

O amor, dizia, é fruto da liberdade; e, por isso, falar de «amor livre» é uma tautologia ou um disparate. No fundo, é um eufemismo para defender o contrário do amor, que é a fuga ao compromisso, à entrega, à doação. É pretender amar por egoísmo. É uma quadratura do círculo...

O amor é fruto e fim da liberdade. Foi para isso que Deus nos fez livres. Logo, não esperemos de Deus nenhuma coação, nenhuma violência, mas, pelo contrário, o mais suave pedido da esmola do nosso amor. Então, que sentido têm tantas ameaças de castigo e perdição que lemos na Sagrada Escritura, contra quem Lhe desobedecer? O sentido que Ele mesmo explica em várias passagens das mesmas Escrituras: haverá um filho a quem o pai não castigue? «Eu, aos que amo, repreendo e castigo», diz numa das cartas do Apocalipse (3, 19). O castigo implica precisamente o respeito pela liberdade: só se castiga quem procede mal, sendo livre para proceder bem. Se não fôssemos livres, não seríamos responsáveis pelos nossos actos ou omissões; logo, não merecíamos prémio nem castigo. Tanto o prémio como o castigo pressupõem a nossa liberdade. Violência seria aniquilar-nos.

A ira de Deus pela nossa falta de amor chega a ser mais comovente do que o prémio que nos promete se O amarmos: o prémio tem o carácter de generoso agradecimento, que podíamos entender como simples manifestação da sua infinita bondade; o castigo tem o carácter de uma grande necessidade Sua. A ira divina pelos nossos pecados significa que para Ele nós somos importantíssimos; que nos ama mais do que nos amamos nós a nós mesmos; que está louco de amor por cada um de nós. «Filocaptus», das suas criaturas, como dizia Santa Catarina.

Nosso Senhor não foi um mendigo; inclusivamente, dava esmola aos pobres, como sabemos; mas aceitou as esmolas das santas mulheres que O acompanhavam; aceitou a hospitalidade de muita gente que O convidava; agradeceu a generosa esmola da pobre viúva que lançou na caixa do Templo as suas duas últimas moedas; deixou-se ajudar por Simão Cireneu a levar a Cruz; não deixou de provar a esmola do vinho misturado com mirra que lhe ofereceram no Calvário; e por fim, aceitou a esmola de um sepulcro e os perfumes com que o embalsamaram… «Jesus Cristo, sendo rico, fez-se pobre para nos enriquecer com a Sua pobreza» (cf. 2 Cor 8, 9), diz S. Paulo. Como é que a sua pobreza nos enriquece? Precisamente por nos pedir esmola. De repente, o homem vê-se mais rico do que Ele! Capaz de Lhe dar algo de que Ele precisa! Mas de que é que Ele precisa? Do nosso coração, da correspondência ao seu amor. Só nós Lho podemos dar.

Mas, se Ele é o tesouro escondido, a pérola preciosíssima, pela qual vale a pena vender tudo para a possuir! Se Ele é que vale, e nós não valemos nada! É verdade; mas também é verdade que nós também valemos muito para Ele, e aqui está o mistério. Se Ele é o tesouro e a pérola, nós somos para Ele o peixe que quer pescar, e Ele a rede de arrasto que nos busca apaixonadamente e quer apanhar, ainda que recolha ao mesmo tempo connosco tanta coisa inútil que nos envolve, tanto lixo das nossas fraquezas, tanta miséria que nos acompanha. Eu nunca vi nascer uma criança e não tenho vontade nenhuma de assistir a um parto. Mas o que me consta é que os meninos vêm envolvidos numa membrana e todos sujinhos de sangue. E, no entanto, a mamã e o papá olham para ele encantados, e daí a pouco toda a família se debruça sobre o menino e o acha parecidíssimo aos mais diversos parentes… E ficam todos contentes, se ele nasce em boas condições: perfeitinho, como se diz. Também Nosso Senhor não se importa com as nossas fraquezas, desde que nasçamos «perfeitinhos», ou, pelo menos vivos (pela graça) ainda que precisemos de passar pela incubadora algum tempo. (Por incubadora refiro-me ao Purgatório). Nós somos a esmola que nos vem pedir; nós próprios e quantos mais nós possamos oferecer-Lhe.

Alguém dizia que a vida tem três fases: primeiro acreditas no Pai Natal; depois deixas de acreditar no Pai Natal; e por fim és tu mesmo o Pai Natal. Traduzido para melhor cristão: primeiro recebes prendas do Menino Jesus; depois, já crescido, não esperas presentes do Menino Jesus; e por fim, descobres que tens de ser tu a dar prendas ao Menino Jesus.

Deus faz-Se Menino para que nós Lhe demos a esmola do nosso amor. Faz-Se mendigo do nosso coração. E com essa pobreza enche-nos do seu amor: «Enriquece-nos com a sua pobreza», diz muito bem o Apóstolo. Enriquece-nos, levando-nos a trocar um coração de pedra, um coração egoísta, por um coração de carne, sensível ao seu amor e às necessidades do próximo. E descobrimos que nos temos de dar a Ele como Ele Se nos dá a nós. Feito Menino, obriga-nos a adivinhar o que, em silêncio, nos pede: pede-nos almas que O conheçam e amem e por sua vez chamem outros ao Presépio, à Sua Família, que é a Igreja. Que melhor presente de Natal Lhe podemos dar do que a nossa amizade e a amizade daqueles que nos rodeiam?

Mons. Hugo de Azevedo, Texto da Conferência do Natal (4 de Dezembro de 2010)

(Fonte: site do Oratório São Josemaria em http://oratoriosjosemaria.com.sapo.pt/diversos/confnatal2010.htm)

«Deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus»

São Basílio (c. 330-379), monge e bispo de Cesareia da Capadócia, Doutor da Igreja
Homilia sobre a santa concepção de Cristo, 2.6

Deus na terra, Deus entre os homens! Desta vez, Ele não promulga a Sua Lei no meio dos relâmpagos, ao som da trombeta, numa montanha fumegante, na obscuridade de uma tempestade aterradora (Ex 19, 16ss.), mas recria-Se, de forma mansa e pacífica, num corpo humano, com os Seus irmãos de raça. Deus encarnado ! [...] Como pode a divindade viver na carne? Como o fogo subsiste no ferro, não deixando o local onde arde, mas comunicando-se-lhe. Com efeito, o fogo não se lança sobre o ferro mas, permanecendo no seu local, comunica-lhe o seu poder. Ao fazê-lo, não fica minimamente diminuído, mas preenche plenamente o ferro ao qual se comunica. Da mesma forma, Deus, o Verbo que «vive no meio de nós», não saiu de Si mesmo: «O Verbo que Se fez carne» não foi submetido à mudança; o céu não foi despojado d'Aquele que contém, e no entanto a terra acolhe no seu seio Aquele que está nos céus.

Apreende este mistério: Deus está na carne de forma a destruir a morte que nela se esconde. [...] Quando se «manifestou a graça de Deus, portadora de salvação para todos os homens» (Tt 2, 11), quando «brilhou o sol de justiça» (Ml 3, 20), «a morte foi tragada pela vitória» (1Co 15, 54) porque não podia coexistir com a verdadeira vida. Ó profundidade da bondade de Deus e do amor de Deus pelos homens! Demos glória com os pastores, dancemos com os coros dos anjos, porque «hoje nasceu o Salvador que é o Messias Senhor» (Lc 2, 11-12).

«O Senhor é Deus; Ele tem-nos iluminado» [Sl 118 (117), 27], não sob a Sua aparência de Deus, para não assustar a nossa fraqueza, mas sob a forma de um servo, a fim de conferir a liberdade àqueles que estavam condenados à servidão. Quem teria o coração suficientemente adormecido e indiferente para não exultar de alegria, para não irradiar felicidade, perante este acontecimento? É uma festa comum a toda a Criação. Todos devem contribuir para ela, ninguém se deve mostrar ingrato. Elevemos nós também a voz para cantar o nosso júbilo!