Como o sabem os mais atentos, neste momento já é possível adquirir através da Amazon, por exemplo, o filme sobre S. Paulo. Convido a que o façam pois, como é sabido, é muito difícil que um filme de cariz religioso com mensagem favorável ao cristianismo seja adquirido pelas nossas distribuidoras de filmes. É um preconceito que só a muito custo é ultrapassado no nosso país.
Reconheço que não estamos perante uma obra-prima da sétima arte, mas é um filme que se vê com agrado e que nos apresenta uma imagem consistente do grande Apóstolo dos gentios. Deixo para os críticos do cinema os aspetos mais técnicos, mas gostaria de sublinhar alguns dos aspetos muito positivos do filme que descreve, com certa liberdade, os últimos momentos da vida de S. Paulo.
A amizade e a confiança entre o Apóstolo e S. Lucas está muito bem retratada. De facto, traz à nossa consideração que S. Lucas necessitou um bom tempo passado junto a S. Paulo para poder escrever os Atos.
Uma das insistências que me parecem particularmente felizes é a incorporação de trechos das cartas do Apóstolo em momentos chave do relato. Desse modo, as palavras do Apóstolo parecem ganhar vida: não são o fruto de umas reflexões académicas mas têm a ver com um conhecimento de Cristo que está incorporado no coração do Apóstolo e que brota espontaneamente diante de cada situação concreta. Perante a dúvida de S. Lucas sobre como reagir à violência a que os cristãos são submetidos, S. Paulo responde com uma parte do hino da caridade. É um grande momento do filme.
Na minha perspetiva, há outro momento muito importante do filme. É breve mas decisivo. Quando alguns dos cristãos da comunidade de Roma decidem libertar S. Paulo recorrendo à violência (é uma das liberdades do filme, que eu saiba sem fundamento histórico), S. Paulo grita-lhes: como é óbvio, «vocês não conhecem Cristo». Isto é: ao atuarem deste modo, mostram que longe estão do coração e da mente de Jesus. É um grande ensinamento: quem não atua de acordo com os ensinamentos de Cristo, não O conhece e está longe d’Ele. O filme evoca o desejo de vingança, mas bem se podem aplicar essas palavras a muitas outras dimensões: quem mata, quem rouba, quem se recusa a ser casto, quem mente… de forma assumida é óbvio que não conhece Cristo, não pode dizer, com S. Paulo: «Nós, porém, temos o pensamento de Cristo» (1 Cor, 2, 16). Não se trata «apenas» de que não se vive um aspeto dos ensinamentos de Cristo: essa rejeição significa que se anda longe do coração de Cristo.
Por fim, entre outros muitos aspetos, o diálogo final com o guardião da prisão, é um diálogo interessante que toca o coração daquele homem. Recordam uma situação semelhante descrita nos Atos. S. Paulo, preso em Cesareia, dá testemunho da sua fé diante do rei Agripa. No final da sua intervenção, Agripa diz a Paulo: «“Por pouco me não persuades a fazer-me cristão!” Paulo disse-lhe: “Prouvera a Deus que, por pouco ou por muito, não somente tu, mas também todos quantos me ouvem, se fizessem hoje tais como eu sou, excetuando estas cadeias!”» (At 26, 28.29). O desejo de Paulo de que todos abram as suas vidas a Cristo fica claro no diálogo idealizado no filme.
Em resumo: o filme ajuda a recriar o ambiente dos primeiros cristãos, mostra a caridade que presidia nas primeiras comunidades e também as possíveis dúvidas e perplexidades perante tudo que lhes estava a suceder. As figuras de Áquila e Priscila são bem simpáticas. O filme ajudará sobretudo os cristãos a pensar na vida do Apóstolo Paulo e a aumentar a devoção por ele. Também convida a prestar mais atenção à leitura dos Atos e às Cartas do Apóstolo com o desejo de termos o pensamento de Cristo.
Aconselho a que se veja o filme mais de uma vez.
Pe. João Paulo Pimentel na sua página no Facebook