Para além dos fiéis que formalmente pertencem, pelo Baptismo ou pela profissão de fé, à Igreja católica, também há os que, o não sendo em sentido institucional, são-no contudo espiritualmente. É verdade que a distinção é perigosa, porque poderia levar a crer que a adesão formal não é relevante, na medida em que se poderia ser tanto ou mais católico sem fazer parte, formalmente, da entidade eclesial. Mas também é verdade que, desde sempre, a Igreja reconheceu que, para além das suas fronteiras canónicas, outros, como os catecúmenos, embora não sejam membros da instituição eclesial, de certo modo a ela já pertencem pelo seu desejo do Baptismo ou, melhor dizendo, pelo seu Baptismo de desejo. O mesmo se diga de todos os que, não conhecendo a mensagem de Cristo, ignoram sem culpa a existência da Igreja, à qual certamente adeririam se dela tivessem verdadeiro conhecimento.
O que se pode afirmar da Igreja no seu todo, pode-se também dizer de uma sua estrutura, como é o Opus Dei, cujo 90º aniversário ocorreu no passado dia 2 e foi devidamente recordado em Eucaristia de acção de graças, presidida pelo Patriarca de Lisboa e concelebrada, entre outros, pelo Núncio Apostólico.
Toda a gente sabe que a prelatura do Opus Dei não é secreta nem sequer sigilosa, pois são bem conhecidos os nomes do prelado e dos seus vigários, bem como os dos homens e mulheres que fazem parte dos respectivos conselhos. O boletim oficial da prelatura é público: qualquer pessoa o pode comprar ou consultar (www.romana.org). As pessoas do Opus Dei são conhecidas como tais pelos seus familiares, amigos e colegas. Também os restantes católicos são como tal identificados pelos seus próximos, sem que a paróquia de que fazem parte seja secreta, embora não publique a lista dos seus paroquianos, nem estes usem um distintivo.
Mas é verdade que, se todos os fiéis da prelatura o sabem e não o escondem, também há cristãos que, não o sendo canonicamente, são de facto opus Dei. Era o caso do Manuel – nome fictício – que, antes de aderir à instituição fundada por São Josemaria Escrivá, já era um leigo cristão normalíssimo, casado e pai de uma numerosa prole. Precisamente por ser um leigo como qualquer outro, que participava com frequência na Eucaristia, rezava todos os dias o terço, lia a Palavra de Deus e participava regularmente nas actividades paroquiais, muitos pensavam que era do Opus Dei. Sobretudo quando dizia ter seis filhos, surgia, inexorável, a fatídica pergunta:
- És do Opus Dei?
É verdade que alguns fiéis da prelatura têm bastantes filhos, mas também os há que, embora casados, os têm poucos, ou até nenhum, e não faltam cristãos que, pertencendo a outras instituições católicas, ou não, também têm uma numerosa prole. Como, cada vez que dizia ser pai de seis filhos, surgia a pergunta sobre a sua suposta ligação ao Opus Dei, o Manuel ficou com dúvidas, ao ponto de passar a responder:
- Que eu saiba, não. Mas já não tenho a certeza!
De facto, não lhe constava que fosse do Opus Dei mas, se tantos o tinham como tal, seria ele, sem o saber, dessa obra de Deus?!
Claro que o não era ainda porque, se a adscrição a uma diocese se faz automaticamente, por razão da residência do fiel, mesmo que o próprio não tenha disso consciência, um católico só se pode integrar na prelatura do Opus Dei por um acto explícito da mais livre e consciente vontade. Mas também é verdade que muitos leigos e sacerdotes seculares que, como o Manuel, vivem com naturalidade a sua vocação cristã, procurando santificar-se através dos seus deveres familiares, profissionais e cívicos, dando um testemunho amável da fé cristã, são, de facto, opus Dei! Alguns, como o Manuel, regularizaram a sua situação: já não são membros ‘anónimos’ da prelatura, mas seus fiéis de pleno direito.
Talvez seja esta a explicação para a malfadada suspeita de secretismo da instituição agora nonagenária: como a especialidade dos fiéis da prelatura é mesmo a de não serem especiais, há quem os tenha por secretos! Outro tanto se poderia dizer de tantos outros homens e mulheres cristãos que vivem, com a mesma naturalidade, a sua vocação cristã no meio do mundo. Não será esta a prova mais cabal de que são, afinal, bons discípulos daquele mesmo Mestre que, de tão natural, escandalizou os seus conterrâneos quando se Lhe atribuíram factos extraordinários?!
Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada in Voz da Verdade
Nota JPR: Não sendo, também me sinto como sendo do Opus Dei, a proximidade espiritual leva-me a crer-me como sendo parte da família e até hoje nunca me senti recriminado pelo "abuso de confiança", faço no entanto, por uma questão de verdade, sempre menção à minha condição de não fiel formal da Prelatura. Obrigado à Obra pelo tanto que me tem dado, começando no seu fundador e terminando nos inúmeros sacerdotes que me têm ajudo, bem-haja a todos
Nota JPR: Não sendo, também me sinto como sendo do Opus Dei, a proximidade espiritual leva-me a crer-me como sendo parte da família e até hoje nunca me senti recriminado pelo "abuso de confiança", faço no entanto, por uma questão de verdade, sempre menção à minha condição de não fiel formal da Prelatura. Obrigado à Obra pelo tanto que me tem dado, começando no seu fundador e terminando nos inúmeros sacerdotes que me têm ajudo, bem-haja a todos