Na terça-feira passada, o Supremo Tribunal do Paquistão tornou pública a absolvição de Asia Bibi, uma mulher cristã presa em 2009 e condenada à morte por blasfémia: pelo facto de ser católica, ao beber água de um poço contaminou a água...
Durante todos estes anos, em que a execução estava sempre anunciada para daí a poucos dias, Asia Bibi foi mantida em condições de prisão terríveis, frequentemente em isolamento total, na tentativa de que abandonasse a fé católica. O marido e os cinco filhos também sofreram duramente e, por arraste, muitos católicos do país foram perseguidos e alguns foram mortos. Quando o Ministro Shabaz Bhatti se pronunciou a favor da libertação de Asia Bibi, um dos seus próprios guarda-costas tomou a iniciativa de o matar. Até os advogados muçulmanos que defendem Asia Bibi foram acusados de blasfémia e correram grande perigo. Naturalmente, os juízes do Supremo que a absolveram foram imediatamente ameaçados de morte. Além de muitos assassinatos isolados, houve massacres anticristãos em 2009 e em 2013 e teme-se que esta decisão do Supremo Tribunal volte a incendiar o fanatismo. A decisão estava tomada há um mês, mas o veredicto só agora foi tornado público, provavelmente por medo de reacções extremistas. O processo tem agora de percorrer a cadeia hierárquica até chegar ao Director da prisão, pelo que a libertação de Asia Bibi vai demorar algum tempo. Até lá, ela continua presa e praticamente incomunicável, sem mesmo poder falar com o advogado. Entretanto, a capital do país, Islamabad, está em alerta máximo. Muitas centenas de polícias guardam o Supremo Tribunal e unidades do exército tomaram posição diante de outros edifícios, em particular lugares onde os cristãos se reúnem. O partido islâmico Tehreek-e-Labbaik Pakistan organiza sucessivas manifestações de protesto contra a absolvição de Asia Bibi, com grande agressividade e exibição de força. Várias cidades do Paquistão estão paradas devido à onda de violência. Em várias delas, as autoridades desligaram as redes de telemóveis para tentar controlar a informação.
Muitos paquistaneses estão contra o fanatismo e alguns líderes muçulmanos vieram a público defender Asia. A própria sentença de absolvição cita o profeta Maomé: «Atenção! Quem for cruel e duro contra uma minoria não muçulmana, ou lhes retirar direitos, ou lhes impuser exigências superiores às suas forças, ou lhes tirar alguma coisa contra a sua vontade; eu próprio, o Profeta Maomé, o hei-de acusar no Dia do Juízo».
Desde que Asia Bibi foi presa, embora os meios de comunicação social de alguns países europeus tenham evitado divulgar o caso, a comunidade internacional manteve a pressão sobre as autoridades paquistanesas.
Nos meios cristãos de todo o mundo, milhões de pessoas rezaram o terço por esta intenção. Sobretudo o Papa Bento XVI e o Papa Francisco fizeram sentir o seu apoio a Asia Bibi e a todos os católicos perseguidos no Paquistão. No início deste ano, Francisco recebeu no Vaticano Ashiq Masih, o marido de Asia Bibi, e a filha mais velha do casal, juntamente com Rebecca, uma jovem nigeriana cristã que, depois de torturada pelo Boko Haram, deu à luz um filho de um dos sequestradores. Nessa audiência, o Papa rezou por Asia Bibi e pelas mulheres que continuam prisioneiras do Boko Haram. «O testemunho de Rebecca e o de Asia Bibi representam um modelo para uma sociedade que hoje tem cada vez mais medo da dor. São duas mártires», disse Francisco. «Penso muitas vezes na vossa mãe e rezo por ela», disse o Papa à filha mais velha de Asia. Ela transmitiu-lhe o recado da mãe: «Santo Padre, a mãe pediu-me que lhe desse um beijo».
Através de vários canais, Asia Bibi conseguiu transmitir para o exterior várias outras mensagens. A principal é dizer que perdoa de todo o coração os que lhe fazem mal e pedir orações por ela, pela família, pelos cristãos perseguidos, pela Igreja e por todo o mundo.
José Maria C.S. André
Nota JPR: apelo a todos os governos de boa vontade que acolham Asia Bibi e os seus familiares em face das notícias que entretanto nos chegam de manifestações e ameaças de morte ao ponto de por motivos de segurança a ordem do tribunal ainda não haver sido executada.