Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

domingo, 30 de maio de 2021

Amar a Cristo...

Senhor Jesus, obrigado pela perseverança que nos tens ensinado ao longo da vida, muitas vezes procurávamos tornear as dificuldades seguindo caminhos menos apropriados ou simplesmente desistíamos, hoje graças à nossa confiança em Ti sabemos procuramos ser pacientes para alcançarmos aquilo que nos é pedido por Ti e pelos outros.

O santo da nossa devoção dava como feliz imagem o burrico que a puxar a nora nunca desistia, querido Jesus, faz de nós burricos perseverantes e formigas trabalhadoras sempre cheios de confiança e humildade.

Amado Jesus, que a Tua Luz nos guie sempre em direcção a Ti, ao Pai e ao Espírito Santo.

JPR

Na tua alma em graça habita a Santíssima Trindade

A Trindade Santíssima coroou a nossa Mãe. - Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, pedir-nos-á contas de toda a palavra ociosa. Mais um motivo para que digamos a Santa Maria que nos ensine a falar sempre na presença do Senhor. Sulco, 926

A Trindade Santíssima concede-te a sua graça, e espera que a aproveites responsavelmente: em face de tanto benefício, não se pode andar com atitudes cómodas, lentas, preguiçosas..., porque, além disso, as almas te esperam.  Sulco, 957

Deus está contigo. Na tua alma em graça habita a Santíssima Trindade.
- Por isso, tu, apesar das tuas misérias, podes e deves estar em contínuo diálogo com o Senhor. Forja, 261

Aprende a louvar o Pai e o Filho e o Espírito Santo. Aprende a ter uma especial devoção pela Santíssima Trindade: creio em Deus Pai, creio em Deus Filho, creio em Deus Espírito Santo; espero em Deus Pai, espero em Deus Filho, espero em Deus Espírito Santo; amo a Deus Pai, amo a Deus Filho, amo a Deus Espírito Santo. Creio, espero e amo a Trindade Santíssima.
- Faz-nos falta esta devoção como um exercício sobrenatural da alma, que se traduz em atos do coração, ainda que nem sempre se verta em palavras. Forja, 296

São Josemaria Escrivá

sábado, 29 de maio de 2021

Eucaristia e sacrifício

A Eucaristia é sacrifício. Ao ouvirmos esta frase, experimentamos resistência no nosso íntimo. Levanta-se a pergunta: Quando falamos de sacrifício, não estaremos formando uma imagem indigna, ou pelo menos ingénua, de Deus? Não acabaremos pensando que nós, os homens, podemos e até devemos dar algo a Deus?

A Eucaristia responde precisamente a essas questões. A primeira coisa que nos diz é que Deus se entrega a nós para que nós possamos, por nossa vez, dar-nos a Ele. No sacrifício de Jesus Cristo, a iniciativa vem de Deus. No começo, foi Ele quem se abaixou primeiro. [...]

Cristo não é uma oferenda que nós, os homens, apresentamos a um Deus irritado; pelo contrário, o facto de Ele estar aqui, de viver, sofrer e amar, já é obra do amor de Deus [...]. É o amor misericordioso de Deus que se abaixa até nós; é o Senhor quem se faz a si mesmo servo por nós. Embora sejamos nós que causamos o conflito, e embora o culpado não seja Deus, mas nós, é Ele quem vem ao nosso encontro e quem, em Cristo, pede a reconciliação [...].

Quanto mais andamos com Ele, mais conscientes nos tornamos de que o Deus que parece atormentar-nos é na verdade o único que nos ama realmente e o único a quem podemos abandonar-nos sem resistência nem medo. [...] Quanto mais penetramos na noite desse mistério incompreendido, mais confiamos nEle, mais o encontramos, mais descobrimos o amor e a liberdade que nos sustentam em todas as outras noites. Deus dá para que nós possamos dar esta é a essência do sacrifício eucarístico, do sacrifício de Jesus Cristo.

(Cardeal Joseph Ratzinger in ‘Il Dio Vicino’)

sexta-feira, 28 de maio de 2021

Milagre no meio das trevas

Na audiência de 12 de Maio passado, o Papa contou um milagre que acompanhou de muito perto quando estava em Buenos Aires.


— «Um casal tinha uma filha de 9 anos com uma doença que não se conseguia diagnosticar, até que os médicos foram ter com a mãe e lhe disseram: “Minha senhora, chame o seu marido”. O marido estava no trabalho; eram operários e tinham de trabalhar todos os dias. E informou o pai: “A criança não passa desta noite. É uma infecção, não se pode fazer nada”. Aquele homem talvez não fosse à Missa todos os Domingos, mas tinha uma grande fé. Saiu a chorar, deixou a mulher com a filha no hospital, apanhou o comboio e fez a viagem de 70 quilómetros até à basílica de Nossa Senhora de Luján, padroeira da Argentina. Quando lá chegou a basílica estava fechada, eram quase dez da noite, agarrou-se às grades da basílica e ficou a rezar toda a noite a Nossa Senhora, lutando pela saúde da filha. Isto não é uma fantasia; eu vi-o! Eu vivi isto. Aquele homem ali, a lutar. Por fim, às seis da manhã abriram a igreja e ele entrou para saudar Nossa Senhora: toda a noite “lutou” e depois foi para casa. Quando chegou, procurou a mulher, mas não a encontrou e pensou: “Foi-se embora. Não, Nossa Senhora não me pode fazer isto”. Depois encontrou-a e ela disse-lhe sorridente: “Não sei o que se passou; os médicos dizem que a situação se alterou e agora está curada”. Aquele homem, que lutava com a oração, obteve de Nossa Senhora a graça. Nossa Senhora ouviu-o. E eu vi isto: a oração faz milagres, porque a oração vai directa ao centro da ternura de Deus que nos ama como um pai».


Recordei imediatamente esta história quando recebi hoje de manhã uma mensagem de correio electrónico: «Estou internado no IPO. Recidiva da leucemia que tive há 4 anos atrás. Um verdadeiro choque! Tive de me reorganizar e hoje, internado, procuro luz e sentido a tudo o que está a acontecer comigo. Encontro forças na oração e por isso agradeço também as orações dos familiares e amigos e conto contigo».


Peguei imediatamente no telefone para falar com este meu amigo. Falámos até que os tratamentos nos obrigaram a interromper a conversa. Dizia-me que rezava. Mais que pedir a cura, pedia para aproveitar bem estas circunstâncias por onde Deus o leva. E eu lembrei-me mais uma vez da audiência do Papa porque, depois de contar a história do milagre a que tinha assistido, acrescentou:


— «Quando Deus não nos concede uma graça, dar-nos-á outra que veremos a seu tempo. Mas é sempre preciso lutar na oração para pedir uma graça. Sim, por vezes pedimos uma graça de que precisamos, mas pedimo-la assim, sem querer, sem lutar; não é assim que se pedem coisas sérias. A oração é uma batalha e o Senhor está sempre connosco».


O Papa falou muito de luta nesta audiência. De luta connosco próprios mas também de luta com Deus. Talvez seja a isto que Cristo se referia quando disse que «o Reino dos Céus sofre violência e são os violentos que se apoderam dele» (Mt 11, 12). S. Paulo nunca teve oportunidade de visitar a cidade de Colossas, na Frígia, mas enviou-lhes Epafras, um seu colaborador, e depois escreveu-lhes uma carta. Nas despedidas, ao enviar a saudação de uns e de outros, dá-lhes notícias de Epafras: «Saúda-vos Epafras, vosso compatriota, que está sempre a lutar por vós na oração, para que vos mantenhais perfeitos e cumprais tudo o que Deus quer. Sou testemunha do muito que trabalha por vós» (Col. 12-13). A palavra original significa «está sempre a lutar» e a tradução latina é fiel a este sentido: «semper certans».


A relação com Deus é tão forte que faz falta a palavra «luta» para dar a medida do que é a oração. Não por ser agressiva, mas pela intensidade de quem conhece a ternura de pai com que Deus nos ama. Ele ouve-nos sempre, disse o Papa nesta audiência:


— «Se num momento de cegueira não conseguirmos vislumbrar a sua presença, consegui-lo-emos no futuro. Também nós um dia poderemos repetir a frase que o patriarca Jacob disse certa vez: “Em verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia!” (Gen 28, 16). No final da nossa vida, olhando para trás, também nós poderemos dizer: “Pensava que estava sozinho; não, não estava: Jesus estava comigo”. Todos poderemos dizer isto».

José Maria C.S. André

Fidelidade e coerência

Sermos fiéis nem sempre é fácil e quem afirmar o contrário necessitará urgentemente de rever a sua “fidelidade”. A hierarquia de valores ajudar-nos-á a sê-lo, e desde logo e em primeiro lugar está Ele, pois foi Jesus Cristo Nosso Senhor quem nos disse sem sofismas para o seguirmos e tudo abandonarmos “Jesus disse, então, aos discípulos: «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16,24).

Quando O pomos em primeiro lugar por incrível que pareça, aqueles que mais amamos na terra saem sempre beneficiados, mesmo quando as nossas limitações não no-lo permitem vislumbrar, mas por isso mesmo deveremos ter uma fé inquebrantável na Sua infinita sabedoria.


O Senhor nos ajude a jamais questionar o nosso amor por Ele e a nossa fé e sigamos o conselho de S. Paulo a Timóteo “… permanece naquilo que aprendeste e acreditaste” (2 Tim 3,14).


JPR


«… toda a fidelidade deve passar pela prova mais exigente: a duração (…). É fácil ser coerente por um dia ou por alguns dias (…). Só pode chamar-se fidelidade a uma coerência que dura ao longo de toda a vida»


(São João Paulo II - Aos sacerdotes do México em 27/I/1979)

quinta-feira, 27 de maio de 2021

Autoridade na Igreja

A obediência [...], segundo alguns, já não seria nem ao menos uma virtude cristã, mas uma herança de um passado autoritário, dogmático, a ser, portanto, superado.

Com efeito, se a Igreja é a nossa Igreja, se a Igreja somos apenas nós, se as suas estruturas não são as que Cristo quis, então não se pode mais conceber a existência de uma hierarquia como serviço aos batizados, estabelecida pelo próprio Senhor. Recusa-se o conceito de uma autoridade querida por Deus, de uma autoridade que tem a sua legitimidade em Deus, e não no consenso da maioria dos membros da organização, como acontece nas estruturas políticas.

Mas a Igreja de Cristo não é um partido, não é uma associação nem um clube: a sua estrutura profunda é ineliminável; não é democrática, e sim sacramental, e portanto hierárquica: porque a hierarquia baseada na sucessão apostólica é condição indispensável para obter a força e a realidade dos sacramentos. Aqui, a autoridade não se baseia em votações da maioria; baseia-se na autoridade do próprio Cristo, que quis fazer com que participassem dela homens que fossem os seus representantes até ao seu retorno definitivo. Só se poderá redescobrir a necessidade e a fecundidade católica da Igreja retomando essa visão de obediência à sua legítima hierarquia.

(Cardeal Joseph Ratzinger in ‘A fé em crise?’ pag.32)

quarta-feira, 26 de maio de 2021

Mistério que enche a nossa vida de cristãos

"Chegaremos bem preparados ao domingo da Santíssima Trindade, se – entre outros meios - alimentamos a nossa oração pessoal com os textos litúrgicos da Ascensão e do Pentecostes", aconselhava o B. Álvaro del Portillo.

Neste mês, voltaremos a celebrar, cheios de alegria, a solenidade da Santíssima Trindade, mistério central da nossa fé, que ilumina com o seu esplendor e enche a nossa vida de cristãos. Fomos batizados em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Esta mesma invocação pronuncia o sacerdote, cada vez que nos concede a absolvição sacramental. E na Missa, renovação do Sacrifício que Cristo ofereceu ao Pai pele Espírito Santo, as três Pessoas divinas atuam conjuntamente: uma efusão de amor pelos homens que suscitava no nosso Fundador [S. Josemaria] gratidão e desejos eficazes de corresponder, com a sua entrega pessoal mais completa, à inefável doação que Deus faz de si mesmo na Sagrada Eucaristia, para cada um de nós. Oxalá (...) se repita e se renove esta reação sobrenatural nas nossas almas, ao meditar estas maravilhosas realidades divinas!

Chegaremos bem preparados ao domingo da Santíssima Trindade, se – entre outros meios - alimentamos a nossa oração pessoal com os textos litúrgicos da Ascensão e do Pentecostes. Pela mão da Santíssima Virgem, nossa Mãe – (...) de quem sempre queremos aprender - contemplamos como Jesus Cristo sobe ao Céu para que a sua Santíssima Humanidade ocupe o lugar de glória que Lhe está reservado à direita de Deus Pai. Nosso Senhor parte mas, de acordo com a sua promessa, envia-nos o Consolador, o Espírito Santo, para que habite connosco eternamente. Dispunhamo-nos junto a Nossa Senhora para a vinda do Paráclito, imitando os Apóstolos e as Santas Mulheres (Cfr. At 1, 14). Assim crescerá em nós a familiaridade com o Pai, e com o Filho e com o Espírito Santo, e se tornará mais sólida a necessidade de tratar e distinguir cada uma das três Pessoas divinas. (B. Álvaro del Portillo, Carta, 1-V-1989)

sexta-feira, 14 de maio de 2021

17:17 há 40 anos

Quando os relógios mecânicos eram máquinas complexas, que precisavam de um maquinista para acompanhar o seu funcionamento, ao lado do relógio mecânico instalava-se um relógio de sol, para acertar a hora todos os dias. Na torre sul da sé de Lisboa ainda existe um grande relógio mecânico desses, com o seu relógio de sol ao lado. Além do salário do maquinista, indispensável para manter o relógio em funcionamento, o desengonçado mecanismo consumia uma enorme quantidade de azeite, que era a lubrificação disponível na época.


Nalguns casos —por exemplo no palácio da Pena, em Sintra—, havia um pequeno canhão ao lado do relógio de sol, para anunciar as horas ao longe, com um disparo. O pequeno canhão do palácio da Pena ainda lá está, como memória silenciosa daqueles estrondos que faziam esvoaçar os pássaros à hora certa.


Esta forma de marcar as horas aos ritmos da artilharia é coisa do passado, mas há 40 anos, as 17 horas e 17 minutos de 13 de Maio de 1981 ficaram marcadas com exactidão por quatro disparos, que ecoaram uma e outra vez na praça de S. Pedro, levantando revoadas de pássaros. É difícil assinalar o momento de forma mais inesquecível.


A cidade de Roma sufocava sob uma vaga de calor inusual, a ponto de que a audiência do Papa aos peregrinos não pôde ter lugar ao meio-dia, como habitualmente. Teve que se esperar pelo relativo fresco da tarde. Finalmente, João Paulo II saiu pelo portão da guarda, em pé no papamóvel descapotável, cumprimentando a multidão. Como muitos outros, os pais de uma bebé passam-lha para as mãos (esse bebé é hoje a senhora Sara Bartoli, com quarenta anos) e o Papa inclina-se para a receber. Há quem diga que estes movimentos inesperados do Papa, correspondendo ao entusiasmo do povo, desconcertaram Mehmet Ali Ağca. O certo é que este assassino profissional, atirador de elite, calejado no crime, falhou a pontaria de quatro disparos de uma pistola de guerra, uma Browning Hi-Power de 9 mm de calibre. Uma bala deste calibre não dá hipóteses de sobrevivência e quatro balas a curta distância deveriam eliminar qualquer dúvida.


O que aconteceu às 17:17 daquele dia ainda hoje não se percebe. As balas atravessaram o corpo do Papa de lado a lado num trajecto sinuoso, fazendo inflexões misteriosas como se quisessem respeitar os órgãos vitais. Roçaram neles, um por um, mas sem os atingir.


Rasgaram sulcos profundos de que jorrou abundantemente sangue e caíram à volta da vítima ou perto do automóvel. A quinta bala não partiu porque a Browning encravou. Uma pistola profissional com uma falha mecânica?! Segundo os jornais, a pistola custara £10,000 à época (dezenas de milhar de euros a preços de hoje).


Desconcertado, o atirador supostamente infalível, com 23 anos, no auge da sua forma física, teve uma hesitação de segundos e foi agarrado por um elemento das forças de segurança, com a ajuda de vários populares, incluindo uma freira. As reportagens dos vídeos captam os rostos imóveis da multidão, pesados, calados, de olhos fixos no infinito, como se fossem personagens de cenas diferentes, cada um a olhar na sua direcção, como se não houvesse nada para ver no espaço sem fim.


Uma das balas está hoje em Fátima, como jóia da coroa da imagem de Nossa Senhora. A temível Browning está exposta em Wadowice, na Polónia. Ambas testemunham que Deus não desiste de ter a última palavra.


No dia 27 de Dezembro de 1983, às 17h20, João Paulo II entrou na prisão de alta segurança para falar a sós com Ali Ağca. O Papa tinha-lhe perdoado desde o primeiro momento e foi talvez esse o mistério mais difícil de decifrar para Ali Ağca, pelo contraste entre a violência das balas e a delicadeza comovente do Papa. Em 1987, João Paulo II recebeu a mãe de Ali Ağca e em 1997 é o irmão de Ali Ağca que o visita no Vaticano. No ano 2000 João Paulo II intercedeu junto do Governo italiano para que o libertassem e, depois de o prenderem novamente na Turquia, para cumprir uma pena antiga, por homicídios anteriores, Ali Ağca por lá vive pacatamente. Em entrevistas que deu aos jornais, reconhece que aquela conversa íntima de 22 minutos na prisão foi absolutamente especial e não tenciona revelar nada. No seu livro «Memória e Identidade», ao referir esse encontro, o Papa só diz que não pode contar nada.


Depois de sair da prisão na Turquia, Ali Ağca já viajou pela Europa e já esteve novamente na praça de S. Pedro, sozinho, em homenagem ao Papa. Em entrevistas a jornais ocidentais disse que deixou um ramo de flores no local do atentado e que está contente por João Paulo II ter sobrevivido. Eram 17h17 de há 40 anos.

José Maria C.S. André

quinta-feira, 13 de maio de 2021

A Ascenção

Prosseguindo com a exposição dos artigos do Credo, aprofundemos no mistério da Ascensão do Senhor. Cremos, com efeito, que Jesus Cristo, depois da Ressurreição, subiu ao Céu onde está sentado à direita do Pai [1]. Esta solenidade que celebraremos neste mês – na quinta-feira, dia 9, ou no domingo, dia 12, nos países onde foi transferida – deve ser para to­dos uma paragem, recordando-nos o fim ditoso a que estamos chamados. Esta verdade recor­da-nos ao mesmo tempo um facto histórico e um acontecimento de salvação. Como facto histórico, a Ascensão «marca a entrada definitiva da humanidade de Jesus no domínio celeste de Deus, de onde há de voltar, mas que, entretanto, O oculta aos olhos dos homens» [2]. Agora, está presente na Eucaristia de modo sacramental, mas, no seu ser natural, encontra-se apenas no Céu, de onde virá no fim dos tempos, cheio de glória e majestade, para julgar a todos.

O Evangelista que relata com mais pormenor este acontecimento é S. Lucas. No início dos Atos dos Apóstolos, escreve que o Senhor, depois da Sua Paixão, lhes apareceu vivo [aos Apóstolos e aos outros discípulos], e deu-lhes disso numerosas provas, com as Suas aparições, durante quarenta dias, falando-lhes também a respeito do Reino de Deus [3]. Narra ainda que, durante uma das aparições aos Apóstolos, o Senhor lhes abriu o entendimento para que compreendessem as Escrituras. E disse-lhes: Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e ressuscitar dentre os mortos, ao terceiro dia, e que se anuncie, em Seu nome, a conversão para o perdão dos pecados a todos os povos, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas destas coisas [4].

S. Josemaria considerou muitas vezes estas cenas, nas reuniões familiares que costu­mava ter com numerosas pessoas. Numa ocasião, por exemplo, convidava os que o ouviam a pensar no Senhor depois da Ressurreição, quando falava de muitas coisas, de tudo o que os Seus discípulos Lhe perguntavam. Aqui estamos a imitá-Lo um pouco, porque vós e eu somos discípulos do Senhor e queremos trocar impressões [5]. E noutra altura, acrescen­tava: falava com eles, como falamos nós agora, aqui, assim! Isso é a contemplação: convívio com Deus. E a contemplação e o convívio com Deus levam-nos a cuidar das almas, a ter sede de trazer para Cristo os que se afastaram [6].

[1]. Missal Romano, Símbolo Niceno-Constantinopolitano.
[2]. Catecismo da Igreja Católica, n. 665.
[3]. At 1, 3.
[4]. Lc 24, 46-48.
[5]. S. Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 29-X-1972.
[6]. S. Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 3-XI-1972.

(D. Javier Echevarría, Prelado do Opus Dei na carta do mês de maio de 2013)

quinta-feira, 6 de maio de 2021

Será que Deus realmente existe?

Separação da terra das águas, Michelangelo, Capela Sistina, Vaticano
Recentemente, apareceu num jornal do nosso país um artigo que era um ensaio filosófico intitulado “Será que Deus existe?”. O ensaio defendia a tese de que Deus não podia existir. 


Sem querer entrar em polémica e respeitando o modo de ver o assunto por parte da autora do ensaio, gostaria de lançar algumas ideias para refletirmos sobre este tema de grande importância na nossa vida. 


Não me proponho dar argumentos filosóficos. Proponho que pensemos sobre esta pergunta e em como dialogar sobre ela com pessoas amigas. Também com aquelas que se dizem ateias ou agnósticas. 


O tema não admite argumentos simplórios. A fé é suficientemente obscura para que a nossa decisão de acreditar seja completamente livre, e é suficientemente clara para que essa decisão seja profundamente razoável. 


Esse claro-escuro presente nesta pergunta faz com que as respostas a este tema não sejam similares a uma demonstração matemática. 


Todos necessitamos reflectir sobre Deus para encontrar um sentido para a nossa vida. A pergunta pela existência de Deus é a mais radical que podemos fazer e aquela que terá maior influência no nosso modo de actuar nesta existência terrena, que todos sabemos ser finita. 


Porque esta pergunta está intimamente relacionada com os grandes enigmas que encontramos na vida. De onde venho? Para onde vou? Porque existe a morte? Porque existe o mal? Qual o caminho para encontrar a felicidade? Que há para além da morte? 


Nenhuma destas perguntas possui uma resposta científica, porque não são perguntas científicas. São as mesmas perguntas de há muitos anos para cá. Desde que o ser humano teve tempo para reflectir. Já Aristóteles afirmava há 2300 anos: “A religião é uma constante na história dos povos porque pertence à própria essência do homem”. 


Mas, podemos dizer que existem “caminhos” de acesso ao conhecimento de Deus (independentes da fé na Revelação judaico-cristã) que nos mostram que acreditar, sem ser evidente, é algo profundamente razoável? 


Sim, existem. E têm como ponto de partida a criação: o mundo material que nos rodeia e o mundo interior que “ferve” dentro de cada um de nós. 


De um modo telegráfico podemos dizer que a partir do movimento e do devir, da contingência, da ordem e da beleza do mundo material, podemos chegar ao conhecimento indireto de um Ser Supremo que é origem e fim do Universo. 


Também a partir da nossa abertura interior à verdade e à beleza, com o sentido do bem moral que todos possuímos, com a liberdade e a voz da nossa consciência, com as ânsias que temos de infinito e de felicidade, detectamos sinais da existência dessa alma espiritual, gérmen de eternidade, que trazemos connosco e que, por muitos motivos, é irredutível à matéria. 



Tanto o mundo que nos rodeia como o nosso mundo interior dão testemunho de que não temos em nós mesmos o primeiro princípio nem o fim último, mas participamos do Ser-em-si que não possui princípio nem fim e a quem os homens, desde tempos imemoriais, chamaram Deus. 


Logo: é profundamente razoável acreditar na existência de Deus.


Pe. Rodrigo Lynce de Faria