Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sábado, 2 de julho de 2022

Auschwitz não foi uma coisa que veio feita do Céu

"Auschwitz tem que ser - e será sempre - apenas um ponto de interrogação: não pode ser concebido nem com Deus nem sem Deus.

A dada altura, comecei a perguntar-me se não fui injusto Contigo. Afinal, Auschwitz não foi uma coisa que veio feita do Céu. Foi concebida pelo Homem, implementada pelo Homem e empregada pelo Homem. E o seu fim era não só destruir-nos como destruir-Te a Ti.

Não deveríamos também pensar na Tua dor? A ver as Tuas crianças sofrer às mãos das Tuas outras crianças, não terás também sofrido?"

Elie Wiesel, sobrevivente do Holocausto e prémio Nobel da Paz falecido nesta data em 2016 aos 87 anos

(texto traduzido por Sebastião Bugalho a partir do 'New York Times' em edição de 1997)

A "cultura única"

Aqui chegamos ao ponto central da discussão da fé cristã com determinado tipo de cultura moderna, que gostaria de ser considerada como a cultura moderna sem mais, mas que, felizmente, é apenas uma variedade desta. Isto fica muito claro, por exemplo, na crítica que o filósofo italiano Paolo Flores d'Arcais fez à Encíclica [Fides et ratió].

Como a Encíclica insiste na necessidade da questão da verdade, comenta esse pensador que "a cultura católica oficial (isto é, a Encíclica) já não tem nada que dizer à cultura «enquanto cultura»...". Mas isso significa também que a pergunta pela verdade estaria fora da cultura "enquanto cultura". Nesse caso, porém, essa tal cultura "enquanto cultura" não seria antes uma anticultura? E não seria a sua presunção de ser "a cultura sem mais" uma presunção arrogante e que despreza o ser humano?

Fica evidente que é exatamente disso que se trata quando Flores d'Arcais acusa a Encíclica de ter consequências mortíferas para a democracia e identifica o seu ensinamento com o tipo "fundamentalista" do Islão. Argumenta remetendo para o facto de o Papa ter qualificado como carentes de validade autenticamente jurídica as leis que permitem o aborto e a eutanásia: quem se opusesse dessa forma a um Parlamento eleito e tentasse exercer o poder secular com uma máscara eclesial, mostraria que o selo do dogmatismo católico permaneceria essencialmente estampado no seu pensamento.

Semelhantes afirmações pressupõem que não pode haver nenhuma instância acima das decisões da maioria. A maioria conjuntural converte-se num absoluto. Porque, de facto, volta-se a cair num absoluto, algo inapelável. Estamos expostos ao domínio do positivismo e à absolutização do conjuntural, do manipulável. Se o homem se coloca fora da verdade, necessariamente passa a estar submetido ao conjuntural, ao arbitrário.

Por isso, não é "fundamentalismo", e sim um dever de humanidade proteger o homem contra a ditadura do conjuntural convertido em absoluto e devolver-lhe a sua dignidade, que consiste justamente em que nenhuma instância humana pode dominá-lo porque está aberto à própria verdade. Precisamente pela sua insistência na capacidade do homem para a verdade, a Encíclica é uma apologia sumamente necessária da grandeza do homem contra tudo o que pretende apresentar-se como a cultura tout court.

(Cardeal Joseph Ratzinger in ‘Fe, verdade y cultura’)