Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sexta-feira, 15 de julho de 2022

A Liberdade e o medo

Os sobreviventes da Segunda Guerra Mundial tinham o propósito firme de construir um mundo novo. Não apenas reerguer as ruínas destruídas pelas bombas, mas sobretudo lutar pela liberdade e pela harmonia entre os povos. Desafio grandioso e concreto, para que as atrocidades cometidas à escala mundial pelos nazis e seus aliados não se voltassem a repetir.


Depois daquela tragédia imensa, muitos —em particular na Alemanha— tomaram consciência do efeito corrosivo do medo, capaz de degradar sociedades inteiras até abismos inimagináveis. Hitler, ou Stalin, nunca teriam feito milhões de vítimas, sem gigantescas máquinas de funcionários subservientes.


Qual foi a responsabilidade de cada um deles? Aparentemente, quase ninguém teve culpa. A dactilógrafa apenas escreveu uns papéis à máquina; o carteiro apenas entregou a correspondência; o polícia apenas cumpriu as ordens que recebeu do tribunal; o contabilista apenas tratou de que todos recebessem pontualmente o salário; o funcionário apenas cumpriu o horário do serviço; o maquinista do comboio apenas fez as viagens que lhe mandaram; o guarda-freios apenas garantiu a eficiência da circulação … Cada um desempenhou um minúsculo papel, mas o resultado foi o holocausto organizado de milhões de inocentes.


Este paradoxo fez com que muitos, na geração posterior à Segunda Guerra Mundial, compreendessem a dimensão ética de todas as acções humanas. Qualquer tarefa pode colaborar numa obra maravilhosa, ou numa obra maquiavélica; não vale «ganhar a vida», esquecendo as consequências e o contexto daquilo que se faz.


Aqui, entra o medo, como ingrediente fundamental da desculpa colectiva. Para evitar algo desagradável, muitos prestam-se a torcer ligeiramente a realidade e a justiça. Parece-lhes um ajuste sem importância, ainda que a Guerra tenha mostrado que a multidão dos pequenos desvios impõe tiranias e industrializa o mal. As pequenas cobardias produzem estragos.


Foi neste contexto, no final da Guerra, que nasceu o desejo, largamente partilhado pela humanidade, de proclamar a dignidade da pessoa humana e enunciar as correspondentes exigências éticas. Até então, muitos classificavam a moral como um tema abstracto; em face da Guerra, entenderam que a moral é a base indispensável da vida social e da paz.


A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adoptada pela Assembleia Geral da ONU em 1948 com 48 votos a favor e nenhum contra. Nesse momento de pós-guerra, a pressão de todo o mundo foi tão grande que até os países comunistas, totalmente contrários a quaisquer direitos humanos, preferiram abster-se, em vez de votar contra (além dos comunistas, abstiveram-se a África do Sul e a Arábia Saudita).


Passaram-se entretanto várias gerações e a questão ética esmoreceu. A sociedade burguesa habitou-se a tornear a justiça sem a rejeitar declaradamente, voltaram as pequenas cedências justificadas pelo medo. Porque ninguém quer ser herói, todos preferem pagar um pouco e evitar problemas.


É assim que, nos nossos dias, a tirania avança em várias frentes. De um lado, a brutalidade do imperialismo russo, devorando dezenas de milhar de vidas com a inconsciência moral de quem está a jogar xadrez. Do outro lado, com a desculpa de repor a «verdade», o sectarismo ideológico que conquista poder sem que quase ninguém se oponha.


As poderosas empresas informáticas, a quem devemos comunicações gratuitas, informações gratuitas, filmes, música e divertimentos gratuitos, propuseram-se controlar as notícias «verdadeiras» e as opiniões «correctas». Há um ano, a Presidente da Comissão Europeia rejeitou este arbítrio e declarou que os serviços informáticos disponibilizados ao público têm de ser abertos e transparentes. Mas, na semana passada, as grandes empresas do sector propuseram-se melhorar a «qualidade» dos artigos que circulam nas redes e dois Comissários da União Europeia vieram saudar alegremente a iniciativa!


Pequenos abusos, pequenos pretextos, pequeninos passos... A geração que viveu a Segunda Guerra Mundial teria reagido com veemência, mas hoje poucos reparam que estamos a deslizar para a tirania.


Esta semana, o Ministério Público português decidiu secundar a proposta de um Gabinete dependente da Presidência do Conselho de Ministros para que um tribunal retire duas crianças à família, para poderem ser sujeitas a aulas de educação sexual na escola. Pequenos percalços, funcionários com medo, pequenas transigências, evitar problemas. Um dia, volta o horror que serviu de inspiração à Declaração Universal dos Direitos Humanos.

José Maria C.S. André

Palavras que nos ajudam a viver melhor

Nos dias de hoje, a sociedade oferece entretenimento sem interrupções. Basta pensar nas plataformas digitais e na quantidade enorme de conteúdos que temos disponíveis a qualquer hora do dia.


No entanto, não parece que isso nos tenha feito mais felizes.


Há uma sensação de vazio em muitas pessoas, e não é por falta de entretenimento: parece que é por excesso.


O mundo digital está a transformar tudo à nossa volta e, se não estivermos atentos, também pode transformar cada um de nós a partir de dentro.


Penso que um caminho (não o único, nem o mais importante) para pôr remédio a esta situação está relacionado com a revalorização da literatura e da poesia.


A literatura, se o é de verdade, é sempre um convite a parar e a contemplar a vida com olhos novos. Neste ambiente que nos circunda, penso que não é exagerado dizer que a palavra escrita, a poesia simples, possui maravilhosas propriedades terapêuticas.


É um verdadeiro remédio sem data de caducidade.


As palavras ajudam-nos a viver melhor, de um modo mais sereno, a procurar entender a condição humana e as suas diversas contradições existenciais. A literatura transforma a partir de dentro o ser do leitor.


Como alguém dizia, muitas vezes “é a palavra que nos faz ver, não os olhos”. Quando alguém nos explica o sentido de uma obra de arte, conseguimos vê-la com olhos novos. Antes era possível olhar para a obra de arte, agora conseguimos contemplá-la.


A contemplação da beleza faz-nos melhores. Se não, não é beleza.


A nossa vida é semelhante a uma obra de arte, e a boa literatura ajuda-nos a contemplá-la de um modo novo. A descobrir facetas que nos estavam ocultas pelo trabalho rotineiro do dia a dia e pela procura de entretenimento fácil no mundo digital.

 

Pe. Rodrigo Lynce de Faria

Catequese de Bento XVI sobre São Boaventura (excerto)

Como já disse São Boaventura, entre os vários méritos, teve o de interpretar autêntica e fielmente a figura de São Francisco de Assis, por ele venerado e estudado com grande amor. Em particular, na época de São Boaventura uma corrente de Frades Menores, chamados "espirituais", afirmava que com São Francisco fora inaugurada uma fase totalmente nova da história, aparecera o "Evangelho eterno" de que fala o Apocalipse, que substituía o Novo Testamento. Este grupo afirmava que a Igreja já tinha esgotado o seu papel histórico e seria substituída por uma comunidade carismática de homens livres guiados interiormente pelo Espírito, isto é pelos "Franciscanos espirituais". Na base das ideias de tal grupo havia os escritos de um abade cisterciense, Joaquim de Fiore, falecido em 1202. Nas suas obras, ele afirmava um ritmo trinitário da história. Considerava o Antigo Testamento como era do Pai, seguido pelo tempo do Filho, o tempo da Igreja. Haveria que esperar ainda a terceira era, a do Espírito Santo. Assim, toda a história devia ser interpretada como uma história de progresso: da severidade do Antigo Testamento à relativa liberdade do tempo do Filho, na Igreja, até à plena liberdade dos Filhos de Deus, no período do Espírito Santo, que enfim seria inclusive o período da paz entre os homens, da reconciliação dos povos e das religiões. Joaquim de Fiore suscitou a esperança de que o início do novo tempo viria de um novo monaquismo. Assim, é compreensível que um grupo de Franciscanos julgasse reconhecer em São Francisco de Assis o iniciador do novo tempo e, na sua Ordem, a comunidade da nova época a comunidade do tempo do Espírito Santo, que deixava atrás de si a Igreja hierárquica, para começar a nova Igreja do Espírito, desligada das velhas estruturas.

Portanto, havia o risco de um gravíssimo mal-entendido da mensagem de São Francisco, da sua fidelidade humilde ao Evangelho e à Igreja, e tal equívoco incluía uma visão errónea do Cristianismo no seu conjunto.

São Boaventura, que em 1257 se tornou Ministro-Geral da Ordem Franciscana, encontrou-se diante de uma grave tensão no interior da sua própria Ordem precisamente por causa de quem defendia a mencionada corrente dos "Franciscanos espirituais", que se inspirava em Joaquim de Fiore. Exatamente para responder a este grupo e dar nova unidade à Ordem, São Boaventura estudou com atenção os escritos autênticos de Joaquim de Fiore e os que lhe eram atribuídos e, tendo em consideração a necessidade de apresentar corretamente a figura e a mensagem do seu amado São Francisco, quis expor uma justa visão da teologia da história. São Boaventura enfrentou o problema na sua última obra, uma coletânea de conferências aos monges do estúdio parisiense, que ficou incompleta e chegou até nós através das transcrições dos auditores, intitulada Hexaëmeron, isto é uma explicação alegórica dos seis dias da criação. Os Padres da Igreja consideravam os seis ou sete dias da narração sobre a criação como profecia da história do mundo, da humanidade. Os sete dias representavam para eles sete períodos da história, mais tarde interpretados também como sete milénios. Com Cristo teríamos entrado no último, ou seja no sexto período da história, ao qual depois se seguiria o grande sábado de Deus. São Boaventura supõe esta interpretação histórica do relatório dos dias da criação, mas de um modo muito livre e inovativo. Para ele, dois fenómenos do seu tempo tornam necessária uma nova interpretação do curso da história.

O primeiro: a figura de São Francisco, homem totalmente unido a Cristo até à comunhão dos estigmas, quase um alter Christus, e com São Francisco a nova comunidade por ele criada, diferente do monaquismo até agora conhecido. Este fenómeno exigia uma nova interpretação, como novidade de Deus que surgiu nesse momento.

O segundo: a posição de Joaquim de Fiore, que anunciava um novo monaquismo e um período totalmente novo da história, indo além da revelação do Novo Testamento exigia uma resposta.

Como Ministro-Geral da Ordem dos Franciscanos, São Boaventura viu logo que com a conceção espiritualista inspirada por Joaquim de Fiore, a Ordem não era governável, mas caminhava logicamente rumo à anarquia. Para ele, havia duas consequências:

A primeira: a necessária prática de estruturas e de inserção na realidade da Igreja hierárquica, da Igreja real, tinha necessidade de um fundamento teológico, também porque os outros, aqueles que seguiam a conceção espiritualista, mostravam um aparente fundamento teológico.

A segunda: mesmo tendo em consideração o realismo necessário, não se podia perder a novidade da figura de São Francisco.

Como respondeu São Boaventura à exigência prática e teórica? Da sua resposta posso dar aqui só um resumo muito esquemático e incompleto, em alguns pontos:

1. São Boaventura rejeita a ideia do ritmo trinitário da história. Deus é um para toda a história e não se divide em três divindades. Portanto, a história é uma só, embora seja um caminho e segundo São Boaventura um caminho de progresso.

2. Jesus Cristo é a última palavra de Deus nele Deus disse tudo, doando-se e proclamando-se a si mesmo. Mais do que Ele mesmo, Deus não pode dizer, nem doar. O Espírito Santo é Espírito do Pai e do Filho. O próprio Cristo diz do Espírito Santo: "...ensinar-vos-á tudo o que vos tenho dito" (Jo 14, 26), "receberá do que é meu para vo-lo anunciar" (Jo 16, 15). Portanto, não existe outro Evangelho mais excelso, não há outra Igreja a esperar. Por isso, até a Ordem de São Francisco deve inserir-se nesta Igreja, na sua fé, no seu ordenamento hierárquico.

3. Isto não significa que a Igreja é imóvel, fixa no passado, e que nela não possa haver novidade. "Opera Christi non deficiunt, sed proficiunt", as obras de Cristo não regridem, não vêm a faltar, mas progridem, diz o Santo na Carta De tribus quaestionibus. Assim São Boaventura formula explicitamente a ideia de progresso, e esta é uma novidade em relação aos Padres da Igreja e a uma grande parte dos seus contemporâneos. Para São Boaventura, Cristo não é mais, como era para os Padres da Igreja, o fim, mas o centro da história; com Cristo, a história não termina, mas começa um novo período.Outra consequência é a seguinte: até àquele momento predominava a ideia de que os Padres da Igreja fossem o ápice absoluto da teologia, e que todas as gerações seguintes só pudessem ser suas discípulas. Até São Boaventura reconhece os Padres como mestres para sempre, mas o fenómeno de São Francisco dá-lhe a certeza de que a riqueza da palavra de Cristo é inesgotável e que até nas novas gerações podem despontar novas luzes. A unicidade de Cristo garante também novidade e renovação em todos os períodos da história.

Sem dúvida, a Ordem franciscana assim sublinha pertence à Igreja de Jesus Cristo, à Igreja Apostólica, e não pode construir-se num espiritualismo utópico. Mas ao mesmo tempo é válida a novidade de tal Ordem em relação ao monaquismo clássico, e São Boaventura como eu disse na catequese precedente defendeu esta novidade contra os ataques do Clero secular de Paris: os Franciscanos não têm um mosteiro fixo e podem estar presentes em toda a parte para anunciar o Evangelho. Precisamente a ruptura com a estabilidade, característica do monaquismo, a favor de uma nova flexibilidade, restituiu à Igreja o dinamismo missionário.

Nesta altura, talvez seja útil dizer que até hoje existem visões segundo as quais toda a história da Igreja no segundo milénio teria sido um declínio permanente; alguns vêem o declínio já imediatamente após o Novo Testamento. Na realidade, "Opera Christi non deficiunt, sed proficiunt", as obras de Cristo não regridem mas progridem. O que seria a Igreja, sem a nova espiritualidade dos Cistercienses, dos Franciscanos e Dominicanos, da espiritualidade de Santa Teresa de Ávila e de São João da Cruz, e assim por diante? Até hoje é válida esta afirmação: "Opera Christi non deficiunt, sed proficiunt", progridem. São Boaventura ensina-nos o conjunto do discernimento necessário, mesmo severo, do realismo sóbrio e da abertura a novos carismas doados por Cristo no Espírito Santo, à sua Igreja. E enquanto se repete esta ideia do declínio, há também outra ideia, o "utopismo espiritualista" que se repete. Com efeito, sabemos que depois do Concílio Vaticano II alguns estavam convictos de que tudo era novo, como se houvesse outra Igreja, que a Igreja pré-conciliar tivesse terminado e teríamos tido outra, totalmente "outra". Um utopismo anárquico! E graças a Deus os timoneiros sábios da barca de Pedro, Papa Paulo VI e Papa João Paulo II, por um lado defenderam a novidade do Concílio e por outro, ao mesmo tempo, defenderam a unicidade e a continuidade da Igreja, que é sempre Igreja de pecadores e sempre lugar de Graça.

4. Neste sentido São Boaventura, como Ministro-Geral dos Franciscanos, assumiu uma linha de governo em que era bem claro que a nova Ordem não podia, como comunidade, viver à mesma "altura escatológica" de São Francisco, em quem ele vê antecipado o mundo futuro, mas guiado ao mesmo tempo por um realismo sadio e pela coragem espiritual tinha que se aproximar o mais possível da máxima realização do Sermão da Montanha, que para São Francisco foi a regra, mesmo tendo em consideração os limites do homem, marcado pelo pecado original.

Vemos assim que para São Boaventura governar não era simplesmente agir, mas era sobretudo pensar e rezar. Na base do seu governo encontramos sempre a oração e o pensamento; todas as suas decisões derivam da reflexão, do pensamento iluminado pela oração. O seu contacto íntimo com Cristo acompanhou sempre o seu trabalho de Ministro-Geral e por isso ele compôs uma série de escritos teológico-místicos, que expressam a alma do seu governo e manifestam a intenção de orientar interiormente a Ordem, isto é de governar não só mediante mandatos e estruturas, mas guiando e iluminando as almas, orientando para Cristo.

Destes seus escritos, que são a alma do seu governo e mostram o caminho a percorrer, tanto ao indivíduo como à comunidade,gostaria de mencionar um só, sua obra-prima, o Itinerarium mentis in Deum, que é um "manual" de contemplação mística. Este livro foi concebido num lugar de profunda espiritualidade: o monte La Verna, onde São Francisco tinha recebido os estigmas. Na introdução, o autor explica as circunstâncias que deram origem a este seu escrito: "Enquanto eu meditava sobre as possibilidades da alma se elevar a Deus, apresentou-se-me entre outros aquele acontecimento admirável ocorrido naquele lugar com o bem-aventurado Francisco, ou seja a visão do Serafim alado em forma de Crucifixo. E meditando sobre isto, dei-me conta imediatamente de que tal visão me oferecia o êxtase contemplativo do próprio pai Francisco e ao mesmo tempo o caminho que a ele conduz" (Itinerário da mente em Deus, Prólogo, 2 em Obras de São BoaventuraOpúsculos Teológicos/1, Roma 1993, pág. 499).

Assim, as seis asas do Serafim tornam-se o símbolo de seis etapas que conduzem progressivamente o homem ao conhecimento de Deus através da observação do mundo e das criaturas e através da exploração da própria alma com as suas faculdades, até à união total com a Trindade por meio de Cristo, à imitação de São Francisco de Assis. As últimas palavras do Itinerarium de São Boaventura, que respondem à pergunta sobre o modo como se pode alcançar esta comunhão mística com Deus, deviam fazer alcançar o fundo do coração: "Se agora desejas saber como acontece isto (a comunhão mística com Deus), interroga a graça, não a doutrina; o desejo, não o intelecto; o gemido da oração, não o estudo da letra; o esposo, não o mestre; Deus, não o homem; as trevas, não a clareza; não a luz, mas o fogo que tudo inflama e transporta em Deus, com as fortes unções e os afetos ardentíssimos... Portanto, entremos nas trevas, silenciemos os anseios, as paixões e os fantasmas; passemos com Cristo Crucificado deste mundo para o Pai para, depois de o ter visto, dizermos com Filipe: basta-me isto" (Ibid., VII, 6).

Queridos amigos, aceitemos o convite que nos é dirigido por São Boaventura, o Doutor Seráfico, e coloquemo-nos na escola do Mestre divino: ouçamos a sua Palavra de vida e de verdade, que ressoa no íntimo da nossa alma. Purifiquemos os nossos pensamentos e as nossas acções, a fim de que Ele possa habitar em nós, e nós possamos ouvir a sua Voz divina, que nos atrai para a verdadeira felicidade.

(© L'Osservatore Romano - 13 de Março de 2010)

S. Boaventura, Bispo, Doutor da Igreja, 1218-1274

São Boaventura nasceu em Bagnorea, actualmente Bagnoregio, no ano de 1218. Ingressou na Ordem fundada por São Francisco, que, à semelhança dos dominicanos, já se tinham estabelecido em Paris, Oxford, Cambridge, Estrasburgo e em outras universidades europeias.

Um dia, Frei Egídio em sua simplicidade indagou ao Frei Boaventura como poderia salvar-se, se desconhecia a ciência teológica. Ele respondeu-lhe: "Se Deus dá ao homem somente a graça de poder amá-lo, isso basta... Uma simples velhinha poderá amar a Deus mais do que um professor de teologia."

São Boaventura foi discípulo de Alexandre de Hales, em Paris, permanecendo nessa cidade inicialmente como professor de teologia e posteriormente como ministro geral dos Frades Menores, tendo sido eleito para este cargo com apenas trinta e seis anos de idade. Recusou a consagração episcopal várias vezes por humildade, mais foi eleito cardeal recebendo a sede de Albano Laziale.

São Tomás de Aquino e São Boaventura foram convidados pelo Papa Gregório X a prepararem o segundo Concílio de Lião, mas São Tomás de Aquino faleceu alguns meses antes da abertura do concílio que aconteceu em 7 de Maio de 1274. A caridade é o fundamento da doutrina teológica que Frei Boaventura ensinou com sua palavra e escritos. O livro "O itinerário da mente para Deus" está entre os seus livros mais conhecidos.

Foi ele quem escreveu: "Não basta a leitura sem a unção, não basta a especulação sem a devoção, não basta a pesquisa sem maravilhar-se; não basta a circuspecção sem o júbilo, o trabalho sem a piedade, a ciência sem a caridade, a inteligência sem a humanidade, o estudo sem a graça."São Boaventura morreu no dia 15 de Julho do ano de 1274.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)