1. Verão sem calor
Muita gente gosta do habitual calor de verão, porque se refresca nas águas do mar e dos rios, não tendo de sofrer o suor das ruas do interior, nas ocupações e trabalhos do dia a dia. Pois este ano aconteceu o contrário. Muita gente não aguentou o vento frio e regressou a casa antes do termo das férias. As nossas aldeias puderam celebrar as suas festas com maior participação das suas gentes.
Os políticos e comentadores deram-nos algum descanso mental e as televisões andaram de terra em terra, em múltiplos festivais e concursos, dando quase a impressão que a crise e os problemas tinham chegado ao fim. Mas isso foi só aparência. Pois, na verdade, a confusão e o descalabro do nosso sistema económico e financeiro continuam a surpreender políticos e analistas, como se verificou com o recente colapso do grupo Espírito Santo, que levou à criação de um novo banco, apelidado de bom, à custa de uma injeção enorme de dinheiros emprestados, e de um banco mau, que ficou com os créditos mal parados e os negócios fraudulentos e obscuros. Nem os mais entendidos sabem onde tudo isto vai parar. Oxalá os políticos de boa fé não tentem tapar a mente dos portugueses à caça dos votos nas próximas eleições.
Apesar da fuga de capitais, da impunidade aparente dos envolvidos nas trapalhadas económicas e financeiras, ainda há quem parece não ser afetado pela crise. O futebol continua a investir ou gastar milhões em negócios de jogadores e os dérbis enchem as bancadas dos grandes estádios. Outrora como hoje, o futebol parece fazer esquecer os reais problemas do país e das famílias.
No mês de agosto as nossas aldeias encheram-se de festa e de pessoas de todas as idades, enquanto nos restantes meses do ano ficam quase desertas, sem a alegria das crianças e dos jovens, pois muitos casais novos e jovens emigraram para países com economias mais florescentes e carentes de mão de obra. Na peregrinação a Fátima dos dias 12 e 13 de agosto, muito frequentada por emigrantes, o presidente da celebração, D. António Francisco, bispo do Porto, dizia que a falta de trabalho desumaniza e coloca em perigo o futuro de um país. Por isso afirmava que Portugal não pode esquecer que sem os emigrantes de ontem não era o país que hoje é e sem os emigrantes de hoje não consegue vencer a crise que tem vivido.
2. Recomeçar unidade e com visão de futuro
No mês de setembro tudo tem de recomeçar, para não hipotecar o futuro do país e das instituições. Temos todos de arregaçar as mangas, coração em Deus e mãos ao trabalho, como se expressava Mons. Alves Brás, fundador das Cooperadoras da Família, que desde 1966 trabalham na Casa episcopal.
Também na Igreja, de acordo com a sua missão, isso deve acontecer. Mas qual é essa missão, quem e como se realiza? Todos os anos, depois das férias escolares e das empresas, recomeçamos o exercício da nossa missão. Não apenas clero, mas todos os batizados que querem viver de acordo com a sua dignidade. Esta desenvolve-se quando procuramos partilhar o que somos com outras pessoas. Mas fazemo-lo de acordo com algum plano definido e proposto pelos responsáveis de cada diocese e comunidade. Não somos macacos de imitação ou papagaios. Temos as nossas convicções profundas, a nossa fé, proveniente do amor que o Espírito de Deus derramou nos nossos corações. De acordo com isso, tendo em conta os sinais dos tempos e as necessidades daqueles com quem vivemos, traçamos os nossos planos e definimos os programas, devidamente calendarizados, para, ao longo do ano, sabermos em que pontos devemos insistir.
A diocese de Beja, a realizar um sínodo, quer envolver todos os batizados na responsabilidade missionária. Neste novo ano pastoral queremos reavivar a nossa adesão a Jesus Cristo e reanimar as nossas relações interpessoais e intercomunitárias. Por isso insistiremos no conhecimento de Jesus Cristo e da sua mensagem e aprofundaremos o percurso da iniciação cristã dos batizados.
Um passo deste caminho de renovação é a criação da unidade pastoral de três paróquias da cidade de Beja: Santiago, Santa Maria e S. João Batista, com três párocos, sendo um deles o moderador da equipa, para que a Igreja seja de facto mistério de comunhão e participação, sinal da unidade para que toda a humanidade é chamada a caminhar.
Como isso se fará, está a ser refletido por várias pessoas, que farão uma apresentação das conclusões a que chegaram no encontro do clero, a 22 de setembro e no Dia Diocesano, a 27 do mesmo mês. Desde já agradecemos sugestões, para que o nosso caminho como igreja diocesana seja cada vez mais sinodal: coeso e fruto da colaboração de todos.
Bom recomeço do ano em todas as dimensões da nossa vida pessoal, social e religiosa.
† António Vitalino, Bispo de Beja
(Fonte: Página no Facebook da Paróquia de Pias - Serpa)