Jesus Toma a Sua Cruz
Sobre os Teus ombros doridos, repousa agora a Cruz que, desde sempre, Te estava reservada.
Enfraquecido como estás, uma noite inteira sem dormir, o sofrimento atroz do Getsémani, as vergastadas, os encontrões, deixaram-Te quase sem forças.
O Teu Espirito está como que aturdido pelos insultos, as palavras soezes, o ódio e a raiva que vês nos homens que Te rodeiam e que toda a noite Te atormentaram.
Para os judeus, príncipes dos sacerdotes e os outros do Sinédrio, és um inimigo e há que exacerbar ao máximo a multidão dos simples, analfabetos, pouco mais que brutos, para que peçam mais e mais sofrimentos, mais e mais troça e escárnio. Só descansarão quando te virem morto, pregado na Cruz. Há o secreto medo que os Teus discípulos que se contam por milhares, acorram em Teu auxílio, se sublevem e subvertam facilmente toda uma turba de pobres homens e mulheres ávidos de um chefe, de um líder contra os odiados opressores romanos.
Para estes últimos, não passas de um divertimento. Algo que sai da rotina. Julgam que não têm qualquer responsabilidade; não lavou as mãos do assunto, o seu chefe, Pôncio Pilatos?
E onde estou eu, Senhor? No grupo turbulento, inconsciente e sem vontade própria os que gritam: Crucifica-O! Daqueles que se aglomeram, ávidos de verem como é que vais aguentar o pesado madeiro?
Ou estou no meio daqueles que se limitam a cumprir ordens, sem querer saber, como nem porquê, se são justas ou injustas, e assim Te flagelei e agora Te arrasto para receberes a Cruz?
Acrescento, talvez, alguma coisa da minha lavra: uso o azorrague com mais força, fui eu quem se lembrou da coroa de espinhos, dei-Te algumas bofetadas por minha conta?
Ou sou, ainda, dos que, de longe, disfarçadamente, olham tudo, apavorados que descubram qualquer ligação conTigo, olhando em volta, perscrutando se alguém se lembra de me Ter visto no meio dos quatro mil que alimentas-Te milagrosamente com uns pouco de peixes e pães?
Esta angústia de não saber onde estou, faz-me encolher na minha própria insignificância cobarde e pusilânime. Quantas vezes me deixei ir com os outros, sem querer saber para onde ia, onde levava aquele caminho?
Quantas vezes inventei eu próprio algumas modificações nesses caminhos ínvios tornando-os mais tortuosos?
Quantas vezes não fugi e não me escondi, fiquei calado e atentei passar despercebido com medo de cair em “ridículo”, de “chocar” os outros, ou muito simplesmente de me afirmar como Teu filho e não consentir ofensa ao meu Pai na minha presença?
Descansa agora a Cruz no Teu ombro dorido, Senhor que Tu és homem, embora perfeito, sentes em todo o eu corpo esse peso enorme desse lenho duro que há-de receber o teu Corpo martirizado.
E conheces, um a um, todos os pecados de todos os homens que constituem o peso dessa Cruz. Os meus também.
E eu queixo-me da minha cruz. Que é pesada, que é incómoda, que, até por vezes, me tira o sono!
Perdoa-me, Senhor, a minha insensibilidade perante a Tua Cruz. Não olhes para mim, Senhor, com o Teu olhar magoado e triste. Deixa-me respirar um pouco, tomar alento, ganhar coragem para então, postado a Teu lado, volveres para mim o Teu olhar misericordioso e, silenciosamente, dizeres-me: Estás perdoado; não tornes a pôr mais peso nesta tão pesada Cruz. E eu, senhor, com o coração cheio de alegria pela Tua bondade, prometo solenemente tudo fazer, com a Tua ajuda, para não tornar mais pesada a Tua Santa Cruz.