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Via Lucis - Fátima |
Quanta alegria interior não sentimos por saber que Cristo ressuscitou verdadeiramente. Temos a sorte de conhecermos bem o que se passou sob o ponto de vista histórico, graças aos quatro Evangelhos, que narram este acontecimento de uma forma tão simples e veraz. Não há nada neles que seja artificial, difuso ou estranho. Com a mesma singeleza com que se conta o nascimento do Messias num presépio, assim se diz que Ele ressuscitou e apareceu aos apóstolos, a sua Mãe e a muitos discípulos, que depois transmitiram essa experiência inesquecível e sempre marcante na sua vida de fé.
Mais uma vez – como em todas as outras ocasiões – o Senhor Jesus cumpriu aquilo que havia prometido. Mesmo assim, os seus seguidores mais directos e privilegiados, os Apóstolos, têm dificuldade em aceitar tão extraordinária aparição. Sentem medo de errar e é o próprio Cristo que lhes tem de dizer que é Ele mesmo, O que os tinha ensinado, O que os amava de um modo tão forte e que lhes tinha afiançado que havia de ressuscitar ao fim de três dias, depois de ser tão maltratado e condenado à morte.
Às vezes somos teimosos como Tomé. O testemunho unânime dos outros não nos convence. Suspeitamos, apesar de tudo, que pode haver um erro, uma ilusão. Por isso, ou somos testemunhos directos do que nos anunciam, ou não cremos.
E o paciente e grande Amigo Jesus, lá tem de lhe aparecer e o recriminar, à frente de todos os apóstolos, censurando-o com vigor: “Tomé, Tu acreditaste porque me viste; bem-aventurados os que acreditaram sem terem visto” (Jo 20, 29).
Se ao apóstolo temos de agradecer a sua confissão sobre a divindade de Cristo: “Meu Senhor e meu Deus!” (ibidem), a Jesus deveremos manifestar a nossa gratidão por sermos daqueles que O não viram mas acreditaram. A fé é uma virtude essencial e dela devemos viver, sabendo que Cristo é Deus feito homem, pelo que todas as suas palavras e acções, ao terem a marca da perfeição total da divindade, são mais credíveis do que os nossos juízos ou os juízos daqueles que se sentem na necessidade de pôr em causa a palavra de Deus, sem encontrarem jamais soluções alternativas, porque sempre pecam por imperfeição e por caducidade.
A Ressurreição não é apenas mais uma certeza de que o que Cristo diz é verdade. É a confirmação de que Ele é Senhor da vida e da morte. Esta, se O afectou, não O fez desaparecer. Serviu de teste ao seu poder omnipotente, capaz de realizar em Si mesmo – a sua divindade não o podia trair – a Ressurreição do seu Corpo, ao voltar a sua alma humana a animá-lo e a dar unidade a todos os seus membros.
Acreditemos em Cristo. Neste aspecto, devemos não proceder como os Apóstolos, pelo menos antes de O verem com os seus próprios olhos no meio deles, comendo e conversando com a afabilidade que O caracterizava e os enchia de gozo e de confiança.
Imitemos a Fé de Maria Santíssima, talvez a única criatura que nunca pôs em causa a Ressurreição do seu Filho tão amado. Maria é mestra de fé, pois é também mestra de oração. E foi nela e por ela que encontrou a fé de que necessitava para crer em Jesus e nas suas promessas. A oração, diálogo com Deus possível em todas as circunstâncias da nossa vida, é o instrumento da nossa intimidade com Deus. Sem oração, desconhecemos Deus e os seus desígnios. Mais: haverá uma distância constante entre nós e Ele, que nunca nos permitirá conhecê-Lo bem, nem amá-lo sobre todas as coisas.
Diz o povo sabiamente que “é a falar que a gente se entende”. Se não dialogamos com Deus assiduamente, se Ele não é para nós o ponto de referência de todos os aspectos da nossa vida, se não nos acompanha nas nossas tarefas profissionais, se não preside às nossas relações familiares e sociais, Deus e Jesus serão sempre seres distantes. Pior: seres mais ou menos desconhecidos, aos quais não prestaremos atenção nem entenderemos os seus projectos de Amor para connosco.
(Pe. Rui Rosas da Silva – Prior da Paróquia de Nossa Senhora da Porta Céu em Lisboa in Boletim Paroquial de Abril de 2010, seleção do título e imagem da responsabilidade do blogue)