Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

terça-feira, 16 de junho de 2020

Trabalha com alegria

Se afirmas que queres imitar Cristo... e te sobra tempo, andas por caminhos de tibieza. (Forja, 701)

As tarefas profissionais – também o trabalho do lar é uma profissão de primeira ordem – são testemunho da dignidade da criatura humana; ocasião de desenvolvimento da própria personalidade; vínculo de união com os outros; fonte de recursos; meio de contribuir para a melhoria da sociedade em que vivemos, e de fomentar o progresso da humanidade inteira...

Para um cristão estas perspectivas alongam-se e ampliam-se ainda mais, porque o trabalho – assumido por Cristo como realidade redimida e redentora – se converte em meio e em caminho de santidade, em tarefa concreta santificável e santificadora. (Forja, 702)

Trabalha com alegria, com paz, com presença de Deus.

Desta maneira realizarás a tua tarefa, além disso, com bom senso: chegarás até ao fim ainda que rendido pelo cansaço, acaba-la-ás bem... e as tuas obras agradarão a Deus. (Forja, 744)

Deves manter – ao longo do dia – uma constante conversa com Nosso Senhor, que se alimente também das próprias ocorrências da tua tarefa profissional.

Vai com o pensamento ao Sacrário... e oferece a Nosso Senhor o trabalho que tiveres entre mãos. (Forja, 745)

São Josemaría Escrivá

Santo António não era ‘santinho’ nenhum…

Santo António de Lisboa, de Pádua e do mundo inteiro, foi um grande santo e um grande sábio, que de ‘santinho’ não tinha nada, pois foi um dos homens mais cultos do seu tempo.

Uma coisa são os santos populares, outra muito diferente é o que os populares acham dos santos… Expressões quase homónimas podem ter, na verdade, significados muito diferentes: por exemplo, não convém confundir as obras-primas do mestre, com as primas do mestre-de-obras!

Os santos populares – como o nosso Santo António – são grandes vultos da história universal, cuja memória a Igreja liturgicamente celebra; mas a sua versão popular por vezes não vai muito além do bailarico, das sardinhas, das fogueiras, da sangria, das quadras brejeiras e dos manjericos. Embora sejam louváveis os festejos populares, os santos são para tomar a sério e bom seria que assim fossem também as respectivas comemorações que, por vezes, são mais superficiais e profanas do que sinceras e profundas manifestações de verdadeira piedade.

Quando, na véspera do dia de Santo António, perguntei a uma jovem aluna de um colégio de que sou capelão se recorria à sua intercessão, respondeu-me que, seguramente por sugestão dos pais, lhe pedia que arranjasse um lugar de estacionamento para o carro! Como os casamentos andam pelas ruas da amargura, o desgraçado do Santo António serve agora, pelos vistos, de arrumador … Não é que não se deva recorrer aos santos para necessidades tão prosaicas, mas é pena que se perca, até entre os cristãos, a memória destes ilustres bem-aventurados, hoje substituídos por uma qualquer celebridade, como o famoso jogador de futebol a quem já se fez, na sua terra natal, uma estátua, um busto e até se deu o nome ao aeroporto local!

Uma pecha que continua a prejudicar a popularidade dos santos é a suposição de que, no fundo, eram uns sonhadores, que nunca chegaram a saber bem o que o mundo ou a vida são … Daí a ideia de que um ‘santinho’ é, afinal, um ingénuo, quase um alienado, fazendo jus à sentença marxista, que dizia ser a religião o ópio do povo.

A verdade, graças a Deus, é bem diferente, como se pode ler na Vida de Santo António de Lisboa, de Aloisío Tomás Gonçalves, agora reeditada pela editora Paulus, com excelente prefácio de Henrique Raposo. O nosso tão popular e querido Santo António de Lisboa, de Pádua e do mundo inteiro, foi um grande santo, mas foi também um grande sábio que, na verdade, de ‘santinho’ não tinha nada. Frei José de Sousa Monteiro, franciscano e sócio efectivo da Academia das Ciências, afirmou, em finais do séc. XIX, que S. António dominava todas as ciências e artes: “nada enjeita o seu engenho agudo. Expõe de Galeno, no Passionário, a teoria sobre as quatro espécies de febre, e de Vegécio, as qualidades de um general na guerra”.

Se o único português a quem foi outorgado o título de Doutor da Igreja era douto nas ciências profanas, mais sábio era ainda no saber teológico: o Papa “Gregório IX ouviu-o interpretar os livros santos e chamou-lhe, maravilhado, Arca do Testamento”. Foi também esta a opinião dos seus contemporâneos, pois citava de cor a Bíblia e os Santos Padres, com uma erudição que, por vezes, pecava por excessiva.

Outro receio comum é o de que a muita devoção possa levar ao fanatismo. A santidade exige um supremo amor a Deus e ao próximo, mas a verdadeira caridade nada tem de excesso: o fanatismo não é o grau excelso da virtude, mas o seu contrário. Por isso, Aristóteles ensinava que o acto virtuoso é o que se situa num ‘justo meio’, e Tomás de Aquino calibrava a virtude pelo critério da ‘recta razão’: onde não há razão, não há mérito, nem muito menos santidade cristã.

Uma devoção que desrespeite a liberdade das consciências dos ateus, agnósticos ou crentes de outras religiões, é incompatível com o Evangelho e contradiz a doutrina e a prática do próprio Jesus Cristo. Os santos são o exemplo perfeito do que deve ser um verdadeiro cristão; não os que, tergiversando os ensinamentos do Mestre, “manso e humilde de coração” (Mt 11, 29), negam, pela violência dos métodos evangelizadores ou das práticas repressoras, a bondade da pacífica mensagem cristã.

Lê-se na antiga Legenda Benignitas, que António de Lisboa não se cansava de lutar contra a heresia, “de tal maneira que, por toda a parte, é chamado vulgarmente incansável martelo de hereges”. Mas erraria quem associasse a este título uma conduta fundamentalista ou intolerante em relação aos que não pensavam de acordo com a sua fé. Na luta contra a heresia albigense, a atitude de Santo António sempre foi de tolerância e de respeito pela liberdade das consciências: “Assim como não se lança o fogo à casa onde repousa um morto – escreveu o Santo alfacinha – assim não deveis destruir essa casa em que Deus tende a desaparecer sob os golpes [da heresia], especialmente quando podeis ter esperança de que Ele a ressuscitará para a glória. Mas, mesmo que tivésseis a certeza da obstinação, deveis sempre inclinar-vos para a tolerância, porque Deus é o primeiro a dar-nos o exemplo. Tolerai, repito, a fim de que isso possa servir de exemplo”.

Outra recorrente acusação feita aos santos é o do seu suposto modo de ser antissocial: parecem tão obcecados pelas suas crenças que não são capazes de ouvir os outros, nem de dialogar. Talvez o sejam os fanáticos, mas não os santos que, pelo contrário, são amáveis, sobretudo com os que, por não serem crentes, mais carecem da sua caridade. Assim foi o próprio Cristo e, como ele, segundo conta João Rigauld, António de Lisboa: “Certo dia, em uma cidade de Itália, foi o santo convidado por alguns hereges a jantar. Aceitou o convite, na esperança de os converter dos seus erros e de os confirmar na fé, a exemplo do Salvador que, por semelhante motivo, comia com os publicanos e os pecadores”.

Em boa hora o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, no encerramento do Simpósio Internacional Antoniano Exulta Lusitania Felix, anunciou que Santo António, o lisboeta mais mundialmente famoso, vai ter um Centro de Estudos e de Investigação em Lisboa. Se a sua vida e obra for melhor conhecida, decerto que a nossa juventude, estimulada por um tal exemplo, será mais douta, mais tolerante, mais caridosa e, sobretudo, muito mais feliz.

Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada in Observador

Uma fotografia com 2000 anos

Existe na cidade de Turim um grande lençol com uma imagem em negativo. Há 20 anos atrás, ninguém se admiraria com isso, porque era comum as máquinas fotográficas tirarem a fotografia em negativo e depois esse negativo ser passado para papel, produzindo o negativo-do-negativo, ou seja, a fotografia positiva, a preto e branco. Hoje em dia, só os idosos se lembram dos negativos. As fotografias digitais já não passam por essa etapa intermédia e os mais novos só conhecem imagens negativas obtidas no computador. Na história da humanidade, a época dos negativos fotográficos durou apenas uns cem anos. Até há pouco mais de um século, ninguém tinha visto um negativo e, actualmente, os negativos voltaram a ser raridades.

O curioso é que o grande lençol de Turim tem muitos séculos. A maior parte dos especialistas atribui-lhe 20 séculos e o mínimo de idade que lhe atribuem é 10 séculos. Como é que alguém se lembrou de fabricar uma imagem em negativo há tantos séculos atrás?

Outra característica pouco vulgar do lençol é ser uma imagem a preto e branco. Tirando os painéis de azulejo, as pinturas são quase sempre coloridas. Porque é que alguém fez uma pintura em tons de cinzento, em vez de um quadro a cores?

O lençol de Turim tem ainda outras complexidades. É quase uma pintura abstracta, não uma pintura decorativa, mas um amontoado de manchas que não se percebe bem à primeira vista. Arte semi-abstracta há 20 séculos?

A imagem do lençol de Turim não tem sinais de pincel ou de tinta, é um conjunto suave de manchas, como as fotografias. Que técnica de pintura tão estranha, há 20 séculos, que hoje ainda não se consegue imitar!

Além disso, o lençol está sujo de sangue. Alguém usou o lençol para limpar o sangue de uma pessoa ferida? Se é uma imagem tão valiosa, guardada com tanto cuidado, durante tantos séculos, porque é que nunca lavaram o lençol?

As investigações sobre este lençol destacaram muitas outras particularidades. As fibras de linho são típicas da Palestina de há 20 séculos e o entrançado do tecido é característico dessa região. Por entre as fibras, encontraram-se poeiras e grãos de pólen sobretudo de plantas típicas da Palestina e de algumas outras terras por onde o lençol andou.

Há documentos muito antigos que contam que aquele lençol envolveu o corpo morto de Jesus Cristo e por essa razão, embora não seja um tecido rico, foi guardado com tanto cuidado até hoje. Ao longo destes séculos, o lençol passou por diversas mãos e atravessou o Mediterrâneo até se fixar em Turim: uma sequência de peripécias, que poderiam ter arruinado aquela mortalha, se não tivesse havido um empenho tão grande em a preservar.

Pouco mais havia a dizer, durante muitos séculos. As pessoas continuavam a guardar aquele pano com grande devoção, porque os documentos asseguravam que tinha estado em contacto com o corpo morto de Jesus Cristo, mas não sabiam mais dessa relíquia. É certo que a guardavam num estojo muito rico, lhe construíram uma capela valiosa, numa igreja deslumbrante, mas apenas por causa destas notícias, transmitidas de geração em geração. Aquele pano sujo de sangue não parecia acrescentar mais informação.

No último século, a técnica fotográfica revelou o que ninguém tinha imaginado antes. Ao tirar uma fotografia (em negativo), verificou-se que o negativo aparecia como um positivo. Isto é, o lençol era uma imagem negativa! A imagem quase abstracta tornou-se perfeitamente clara, na fotografia. O interesse cresceu, multiplicaram-se as investigações e, agora que a imagem fazia mais sentido, empregaram-na para reconstruir as feridas e as feições de Jesus. Por todos os sinais, conseguiu-se perceber como é que tinham decorrido a flagelação, a coroação de espinhos e a crucifixão. Quando os especialistas em medicina legal reconstituíram estes factos, os historiadores ficaram assombrados, porque os pormenores coincidiam exactamente com os hábitos romanos de crucifixão da época de Jesus.

Regularmente, este lençol de Turim, conhecido como «Sudário», é exposto para ser visto de perto pelos fiéis (sobretudo fotografado, porque é na fotografia que a imagem se revela melhor). Neste momento, está acessível na catedral de Turim, que o Papa Francisco irá visitar no próximo Domingo 21 de Junho.

Um dos secretários do Papa, o padre egípcio Yoannis Lahzi Gaid, publicou recentemente um livro contemplando a Paixão de Jesus com base na imagem do Sudário. Como o Pe. Gaid tem o Papa à mão (privilégios de secretário), conseguiu que ele lhe escrevesse o prefácio do livro. O texto do Papa Francisco é uma meditação maravilhosa sobre Jesus, em tom de oração: «Faz, Senhor, que eu Te possa ver hoje nos rostos desfigurados, nos corpos sofredores de todos os tempos, nas pessoas descartadas, marginalizadas e esmagadas pelo peso das suas cruzes»...

O prefácio do Papa termina enviando-nos a evangelizar: «Faz, Senhor, que eu seja uma imagem de Ti, o teu Sudário, para testemunhar aos homens do nosso tempo o abraço do teu amor inefável!».
José Maria C.S. André
«Correio dos Açores»,  «Verdadeiro Olhar»,  «ABC Portuguese Canadian Newspaper»
07-VI-2015