Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sábado, 18 de outubro de 2014

Discurso do Santo Padre no encerramento do Sínodo 2014

Queridas Eminências, Beatitudes, Excelências, irmãos e irmãs,

Com um coração pleno de reconhecimento e de gratidão, gostaria de agradecer, junto a vós, ao Senhor que nos acompanhou e nos guiou nos dias passados, com a luz do Espírito Santo!

Agradeço de coração Sua Eminência o senhor Cardeal Lorenzo Baldisseri, Secretário Geral do Sínodo, Sua Eminência D. Fabio Fabene, Sub-Secretário, e com eles agradeço o Relator, Sua Eminência Cardeal Peter Erdö que trabalhou tanto, mesmo nos dias de luto familiar, e o Secretário Especial, Sua Eminência D. Bruno Forte, os três Presidentes delegados, os escritores, os consultores, os tradutores e os anónimos, todos aqueles que trabalharam com verdadeira fidelidade nos bastidores e com total dedicação à Igreja, sem parar: muito obrigado de coração!

Agradeço igualmente a todos vós, Padres Sinodais, Delegados Fraternos, Ouvintes e Assessores para vossa participação ativa e frutuosa. Levar-vos-ei na oração, pedindo ao Senhor para vos recompensar com a abundância da graça dos seus dons!

Eu poderia tranquilamente dizer que – com um espírito de colegialidade e de sinodalidade – vivemos realmente uma experiência de “Sínodo”, um percurso solidário, um “caminho juntos”.

E tendo sido “um caminho” – e como em todo caminho -, houve momentos de corrida veloz, quase correndo contra o tempo prá chegar logo à meta; em outros, momentos de cansaço, quase querendo dizer basta; outros momentos de entusiasmo e de ardor. Houve momentos de profunda consolação, ouvindo os testemunhos dos pastores verdadeiros (cf. João 10 e Cann. 375, 386, 387) que levam no coração sabiamente as alegrias e as lágrimas dos seus fieis. Momentos de consolação e graça e de conforto escutando os testemunhos das famílias que participaram do Sínodo e partilharam connosco a beleza e a alegria de sua vida matrimonial. Um caminho onde o mais forte sentiu o dever de ajudar o mais fraco, onde o mais habilitado se apressou em servir os outros, mesmo por meio dos debates. E sendo um caminho de homens, com as consolações houve também outros momentos de desolação, de tensão e de tentações, das quais se poderiam mencionar algumas possibilidades:
- Uma: a tentação de enrijecimento hostil, isto é, de querer fechar-se dentro do escrito (a letra) e não deixar-se surpreender por Deus, pelo Deus das surpresas (o espírito); dentro da lei, dentro da certeza daquilo que conhecemos e não daquilo que devemos ainda aprender e atingir. Desde o tempo de Jesus, é a tentação dos zelosos, dos escrupulosos, dos cuidadosos e dos assim chamados – hoje – “tradicionalistas” e também dos “intelectualistas”.

- A tentação do “bonismo” destrutivo, que em nome de uma misericórdia enganadora, enfaixa as feridas sem antes curá-las e medicá-las; que trata os sintomas contra os pecadores, os fracos, os doentes (cf. Jo 8,7), isto é, transformá-los em “fardos insuportáveis” (Lc 10,27).

- A tentação de descer da cruz, para acontentar as pessoas, e não permanecer ali, para realizar a vontade do Pai; de submeter-se ao espírito mundano ao invés de purificá-lo e submeter-se ao Espírito de Deus.

- A tentação de negligenciar o “depositum fidei”, considerando-se não custódios, mas proprietários ou donos ou, por outro lado, a tentação de negligenciar a realidade utilizando uma língua minuciosa e uma linguagem “alisadora” (polida) para dizer tantas coisas e não dizer nada”. Os chamavam “bizantinismos”, acho, estas coisas...

Queridos irmãos e irmãs, as tentações não devem nem nos assustar nem desconcertar e muito menos desencorajar, porque nenhum discípulo é maior do que seu mestre; portanto se Jesus foi tentado – ate mesmo chamado de Belzebu (cf. Mt 12, 24) – os seus discípulos não devem esperar um tratamento melhor.

Pessoalmente, ficaria muito preocupado e triste se não houvesse estas tentações e estas discussões animadas; este movimento dos espíritos, como chamava Santo Inácio (EE, 6), se tudo tivesse sido de acordo ou taciturno em uma falsa e ‘quietista’ paz. Ao contrário, vi e escutei – com alegria e reconhecimento – discursos e declarações plenos de fé, de zelo pastoral e doutrinal, de sabedoria, de franqueza, de coragem: e de parresia. E senti que foi colocado diante dos próprios olhos o bem da Igreja, das famílias e a “suprema Lex”, a “salus animarum” (cf. Can. 1752). E isto sempre – o dissemos aqui, na Sala – sem colocar nunca em discussão as verdades fundamentais do Sacramento do Matrimônio: a indissolubilidade, a unidade, a fidelidade e a ‘procriatividade’, ou seja, a abertura à vida (cf. Cann. 1055, 1056 e Gaudium et Spes 48).

E esta é a Igreja, a vinha do Senhor, a Mãe fértil e a Mestra atenciosa, que não tem medo de arregaçar as mangas para derramar o óleo e o vinho nas feridas dos homens (cf. Lc 10, 25-37); que não olha a humanidade de um castelo de vidro para julgar ou classificar as pessoas. Esta é a Igreja Una, Santa, Católica, Apostólica e formada por pecadores, necessitados da Sua misericórdia. Esta é a igreja, a verdadeira esposa de Cristo, que procura ser fiel ao seu Esposo e à sua doutrina. É a Igreja que não tem medo de comer e beber com as prostitutas (cf. Lc 15). A Igreja que tem as portas escancaradas para receber os necessitados, os arrependidos e não somente os justos ou aqueles que acreditam ser perfeitos! A Igreja que não se envergonha do irmão caído e não faz finge de não vê-lo, ao contrário, se sente envolvida e quase obrigada a levantá-lo e a encorajá-lo e retomar o caminho e o acompanha para o encontro definitivo, com o seu Esposo, na Jerusalém celeste.

Esta é a Igreja, a nossa mãe! E quando a Igreja, na variedade dos seus carismas, se expressa em comunhão, não pode errar: é a beleza e a força do sensus fidei, daquele sentido sobrenatural da fé, que é doado pelo Espírito Santo para que, juntos, possamos todos entrar no coração do Evangelho e aprender a seguir Jesus na nossa vida, e isto não deve ser visto como motivo de confusão e de mal-estar.

Muitos comentadores, ou pessoas que falam, imaginaram ver uma Igreja em atrito, onde uma parte está contra a outra, duvidando até mesmo do Espírito Santo, o verdadeiro promotor e garante da unidade e da harmonia na Igreja. O Espírito Santo que ao longo da história sempre conduziu a barca através dos seus Ministros, mesmo quando o mar era contrário e agitado e os Ministros infiéis e pecadores.

E, como ousei vos dizer no início do Sínodo, era necessário viver tudo isto com tranquilidade, com paz interior, mesmo porque o Sínodo se desenvolve cum Petro et sub Petro, e a presença do Papa é garantia para todos.

Falemos um pouco do Papa, agora, na relação com os bispos (risos). Assim, a missão do Papa é a de garantir a unidade da Igreja; é o de recordar aos fiéis o seu dever em seguir fielmente o Evangelho de Cristo; é o de recordar aos pastores que o seu primeiro dever é o de nutrir o rebanho – nutrir o rebanho – que o Senhor confiou a eles e de buscar acolhê-lo – com paternidade e misericórdia e sem falso medo – as ovelhas perdidas. Errei aqui. Disse acolher: ir buscá-las.

A sua missão é a de recordar a todos que a autoridade na Igreja é serviço (cf. Mc 9, 33-35) como explicou com clareza Papa Bento XVI, com palavras que cito textualmente: “A Igreja é chamada e se esforça em exercer este tipo de autoridade que é serviço, e o exerce não em nome próprio, mas em nome de Jesus Cristo... através dos Pastores da Igreja, de facto, Cristo apascenta o seu rebanho: é Ele que o guia, o protege, o corrige, porque o ama profundamente. Mas o Senhor Jesus, Pastor Supremo das nossas almas, quis que o Colégio Apostólico, hoje os Bispos, em comunhão com o sucessor de Pedro... participassem desta missão de cuidar do Povo de Deus, de serem educadores na fé, orientando, animando e apoiando a comunidade cristã, ou, como diz o Concílio, “cuidando, sobretudo que cada fiel seja guiado no Espírito Santo a viver segundo o Evangelho a própria vocação, a praticar uma caridade sincera e ativa e a exercitar aquela liberdade com que Cristo nos libertou “ (Presbyterorum Ordinis, 6) ... é através de nós – continua o Papa Bento – que o Senhor atinge as almas, as instrui, as protege, as guia. Santo Agostinho, no seu Comentário ao Evangelho de São João diz: “Seja, portanto, esforço de amor apascentar o rebanho do Senhor” (123,5); esta é a suprema norma de conduta dos ministros de Deus, um amor incondicional, como aquele do Bom Pastor, pleno de alegria, aberto a todos, atento aos próximos e atencioso aos distantes (cf. Santo Agostinho, Discurso 340; Discurso 46, 15), delicado para com os mais fracos, os pequenos, os simples, os pecadores, para manifestar a infinita misericórdia de Deus com as palavras encorajadoras da esperança”. (Bento XVI, Audiência Geral, Quarta-feira, 26 de maio de 2010). Fim da citação.

Portanto, a Igreja é de Cristo – é a sua esposa – e todos os bispos, em comunhão com o Sucessor de Pedro, têm a missão e o dever de preservá-la e de servi-la, não como donos, mas como servidores. O Papa, neste contexto, não é o senhor supremo, mas sim um supremo servidor – o “servus servorum Dei”; o garante da obediência e da conformidade da Igreja à vontade de Deus, ao Evangelho de Cristo e à Tradição da Igreja, deixando de lado todo arbítrio pessoal, mesmo sendo – por vontade do próprio Cristo – o “Pastor e Doutor supremo de todos os fiéis” (Can. 749) enquanto gozando “da potestade ordinária que é suprema, é plena, imediata e universal na Igreja” (cf. Cann. 331-334).

Queridos irmãos e irmãs, agora temos ainda um ano para amadurecer, com verdadeiro discernimento espiritual, as idéias propostas e encontrar soluções concretas às tantas dificuldades e inumeráveis desafios que as famílias devem enfrentar; dar respostas aos tantos desencorajamentos que circundam e sufocam as famílias.

Um ano para trabalhar na “Relatio synodi” que é o resumo fiel e claro de tudo aquilo que foi dito e discutido nesta sala e nos círculos menores. E é apresentado às Conferências episcopais como traços gerais.

Que o senhor nos acompanhe e nos guie neste caminho, pela gloria do seu nome, com a intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e de São José! E por favor, não esqueçam de rezar por mim! Obrigado.

Muito obrigado e bom repouso agora, hein!

(Discurso ovacionado por cerca de cinco minutos)

24 Out 21h - Setúbal - Início de Ciclo de Conferências sobre a Família "Exercício da Autoridade" ProfFraústo Ferreira


Mensagem final e oração do Sínodo é publicada, o 'Relatio Synodi' sê-lo-á mais tarde

Nós, Padres Sinodais reunidos em Roma junto ao Santo Padre na Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, nos dirigimos a todas as famílias dos diversos continentes e, em particular, àquelas que seguem Cristo Caminho, Verdade e Vida. Manifestamos a nossa admiração e gratidão pelo testemunho quotidiano que nos oferecem e ao mundo com a vossa fidelidade, fé, esperança e amor.

Também nós, pastores da Igreja, nascemos e crescemos numa família com as mais diversas histórias e acontecimentos. Como sacerdotes e bispos, encontramos e vivemos ao lado de famílias que nos narraram em palavras e nos mostraram em atos uma longa série de esplendores mas também de cansaços.

A própria preparação desta assembleia sinodal, a partir das respostas ao questionário enviado às Igrejas do mundo inteiro, nos permitiu escutar a voz de tantas experiências familiares. O nosso diálogo nos dias do Sínodo nos enriqueceu reciprocamente, ajudando-nos a olhar toda a realidade viva e complexa em que as famílias vivem. A vós, apresentamos as palavras de Cristo: "Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo” (Ap 3,20). Como costumava fazer durante os seus percursos ao longo das estradas da Terra Santa, entrando nas casas dos povoados, Jesus continua a passar também hoje pelos caminhos das nossas cidades. Nas vossas casas experimentam-se luzes e sombras, desafios exaltantes mas, às vezes, também provações dramáticas. A escuridão se faz ainda mais densa até se tornar trevas, quando se insinuam no coração da família o mal e o pecado.

Existe, antes de tudo, os grandes desafios da fidelidade no amor conjugal, do enfraquecimento da fé e dos valores, do individualismo, do empobrecimento das relações, do stress, de um alvoroço que ignora a reflexão, que também marcam a vida familiar. Assiste-se, assim, a não poucas crises matrimoniais enfrentadas, frequentemente, em modo apressado e sem a coragem da paciência, da verificação, do perdão recíproco, da reconciliação e também do sacrifício. Os fracassos dão, assim, origem a novas relações, novos casais, novas uniões e novos matrimônios, criando situações familiares complexas e problemáticas para a escolha cristã.

Entre estes desafios queremos evocar também o cansaço da própria existência. Pensemos no sofrimento que pode aparecer num filho portador de deficiência, numa doença grave, na degeneração neurológica da velhice, na morte de uma pessoa querida. É admirável a fidelidade generosa de muitas famílias que vivem estas provações com coragem, fé e amor, considerando-as não como alguma coisa que é arrancada ou infligida, mas como alguma coisa que lhes é doada e que eles doam, vendo Cristo sofredor naquelas carnes doentes.

Pensemos às dificuldades económicas causadas por sistemas perversos, pelo “fetichismo do dinheiro e na ditadura de uma economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano” (Evangelii Gaudium 55), que humilha a dignidade das pessoas. Pensemos ao pai ou à mãe desempregados, impotentes diante das necessidades também primárias de suas famílias, e aos jovens que se encontram diante de dias vazios e sem expectativas, e que podem tornar-se presa dos desvios na droga e na criminalidade.

Pensemos também na multidão das famílias pobres, àquelas que se agarram em um barco para atingir uma meta de sobrevivência, às famílias refugiadas que sem esperança migram nos desertos, àquelas perseguidas simplesmente pela sua fé e pelos seus valores espirituais e humanos, àquelas atingidas pela brutalidade das guerras e das opressões. Pensemos também às mulheres que sofrem violência e são submetidas à exploração, ao tráfico de pessoas, às crianças e jovens vítimas de abusos até mesmo por parte daqueles que deveriam protegê-las e fazê-las crescer na confiança e aos membros de tantas famílias humilhadas e em dificuldade. “A cultura do bem-estar anestesia-nos e (...) todas estas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um mero espetáculo que não nos incomoda de forma alguma” (Evangelii Gaudium, 54). Apelamo aos governos e às organizações internacionais para promoverem os direitos da família para o bem comum.

Cristo quis que a sua Igreja fosse uma casa com a porta sempre aberta na acolhida, sem excluir ninguém. Somos, por isso, agradecidos aos pastores, fiéis e comunidades prontos a acompanhar e a assumir as dilacerações interiores e sociais dos casais e das famílias.

Existe, contudo, também a luz que de noite resplandece atrás das janelas nas casas das cidades, nas modestas residências de periferia ou nos povoados e até mesmos nas cabanas: ela brilha e aquece os corpos e almas. Esta luz, na vida nupcial dos cônjuges, acende-se com o encontro: é um dom, uma graça que se expressa – como diz o Livro do Génesis (2,18) – quando os dois vultos estão um diante o outro, numa “ajuda correspondente”, isto é, igual e recíproca. O amor do homem e da mulher nos ensina que cada um dos dois tem necessidade do outro para ser si mesmo, mesmo permanecendo diferente ao outro na sua identidade, que se abre e se revela no dom mútuo. É isto que manifesta em modo sugestivo a mulher do Cântico dos Cânticos: “O meu amado é para mim e eu sou sua...eu sou do meu amado e meu amado é meu”, (Cnt 2,16; 6,3).

Para que este encontro seja autêntico, o itinerário inicia com o noivado, tempo de espera e de preparação. Realiza-se em plenitude no Sacramento onde Deus coloca o seu selo, a sua presença e a sua graça. Este caminho conhece também a sexualidade, a ternura, e a beleza, que perduram também além do vigor e do frescor juvenil. O amor tende pela sua natureza ser para sempre, até dar a vida pela pessoa que se ama (cf. João 15,13). Nesta luz, o amor conjugal único e indissolúvel persiste, apesar das tantas dificuldades do limite humano; é um dos milagres mais belos, embora seja também o mais comum.

Este amor difunde-se por meio da fecundidade e do ‘gerativismo’, que não é somente procriação, mas também dom da vida divina no Batismo, educação e catequese dos filhos. É também capacidade de oferecer vida, afeto, valores, uma experiência possível também a quem não pode gerar. As famílias que vivem esta aventura luminosa tornam-se um testemunho para todos, em particular para os jovens.

Durante este caminho, que às vezes é um percurso instável, com cansaços e caídas, tem-se sempre a presença e o acompanhamento de Deus. A família de Deus experimenta isto no afeto e no diálogo entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos e irmãs. Depois vive isto ao escutar juntos a Palavra de Deus e na oração comum, um pequeno oásis do espírito a ser criado em qualquer momento a cada dia. Existem, portanto, o empenho quotidiano na educação à fé e à vida boa e bonita do Evangelho, à santidade. Esta tarefa é, frequentemente, partilhada e exercida com grande afeto e dedicação também pelos avôs e avós. Assim, a família se apresenta como autêntica Igreja doméstica, que se alarga à família das famílias que é a comunidade eclesial. Os cônjuges cristãos são, após, chamados a tornarem-se mestres na fé e no amor também para os jovens casais.

O vértice que reúne e sintetiza todos os elos da comunhão com Deus e com o próximo é a Eucaristia dominical quando, com toda a Igreja, a família se senta à mesa com o Senhor. Ele se doa a todos nós, peregrinos na história em direção à meta do encontro último quando “Cristo será tudo em todos” (Col 3,11). Por isto, na primeira etapa do nosso caminho sinodal, refletimos sobre o acompanhamento pastoral e sobre o acesso aos sacramentos pelos divorciados recasados.

Nós, Padres Sinodais, vos pedimos para caminhar connosco em direção ao próximo Sínodo. Em vós confirma-se a presença da família de Jesus, Maria e José na sua modesta casa. Também nós, unindo-nos à Família de Nazaré, elevamos ao Pai de todos a nossa invocação pelas famílias da terra:


Senhor, doa a todas as famílias a presença de esposos fortes e sábios,

que sejam vertente de uma família livre e unida.

Senhor, doa aos pais a possibilidade de ter uma casa onde viver em paz com a família.

Senhor, doa aos filhos a possibilidade de serem signo de confiança e aos jovens a coragem do compromisso estável e fiel. 

Senhor, doa a todos a possibilidade de ganhar o pão com as suas próprias mãos, de provar a serenidade do espírito e de manter viva a chama da fé mesmo na escuridão.

Senhor, doa a todos a possibilidade de ver florescer uma Igreja sempre mais fiel e credível, uma cidade justa e humana, um mundo que ame a verdade, a justiça e a misericórdia.

(Fonte: site da Rádio Vaticano para o Brasil, adaptações de pormenor para Portugal de JPR)

Minha opinião sobre o atual Sínodo?

Apesar do temor e tremor que esta confusão toda faz surgir em minha alma, penso que seja bom tudo isto. Explico...

1. Um Sínodo tem sempre uma natureza consultiva, ou seja, não tem um poder de decisão sobre os assuntos e questões tratados. Serve "para favorecer uma estreita união entre o Romano Pontífice e os bispos, e auxiliar com seu conselho o Romano Pontífice" (Gianfranco Guirlanda). É sempre representativo do episcopado, um sinal do chamado "afeto colegial".

2. As finalidades principais de um Sínodo, segundo o cânon 342 do Código de Direito Canónico, são duas:
a. Favorecer uma estreita união entre o Romano Pontífice e os bispos, através de uma solicitude dos mesmos para com o Ministério do Papa, na fé, na caridade e na solicitude pastoral.
b. Auxiliar com o seu CONSELHO (!!!) o Romano Pontífice no exercício do Ministério Petrino, na preservação da fé e dos costumes, na observância e consolidação da disciplina eclesiástica, e ainda para estudar questões que se referem à ação da Igreja no mundo.

Portanto, o Sínodo não tem nenhum poder de decidir absolutamente nada... Não tem o poder de modificar a doutrina da Igreja, sua disciplina, seus costumes, sua ação pastoral. É um órgão consultivo. Importante, porque leva ao Santo Padre visões, pensamentos, opiniões, discussões, etc... Mas não tem nenhum poder decisório em relação à fé, à moral, aos costumes, etc.

3. A meu ver, o Santo Padre está agindo com sabedoria neste Sínodo. Há anos que todos nós, católicos, estamos escutando estas questões, estas intermináveis discussões, sobre a comunhão dos divorciados, sobre se se deve ou não abençoar as segundas uniões, sobre o "casamento" entre homossexuais, etc. Em muitos lugares, por iniciativa própria, há quem já tenha decidido dar a comunhão a casais nestas condições, há quem já abençoou estas uniões, etc., criando uma enorme confusão na Igreja e no mundo. A meu ver, o Santo Padre age com sabedoria, deixando que se fale sobre estas questões, que se apresente estas situações, a profunda divisão que já existe no seio da Igreja em relação a isto. Não é o Sínodo quem está criando a confusão: ela já existe, e em muitas realidades, vive-se no espírito do "salve-se quem puder", cada um decidindo, por conta própria o que fazer, sem dar a mínima para o que a Igreja tradicionalmente ensina... É mentira isto?

4. O facto de que se exponham estas realidades, estas posturas e suas fundamentações, ainda que esdrúxulas, com liberdade, a meu ver não é um mal. É bom isto, no sentido de que cada um possa dizer o que pensa, com sinceridade. Não consigo ver isto como um mal. Que falem, que exponham sua visão. Até agora, por medo e por falta de sinceridade mesmo (covardia...), estes assuntos eram tratados em surdina, em baixa voz. Pior ainda, alguns mudavam a disciplina da Igreja por conta própria, e pronto: problema resolvido! A atitude do Santo Padre, de incentivar que se fale é altamente positiva. Porque não posso imaginar, e tenho rezado muito por isso, que na hora de assinar uma Exortação pós Sinodal, o Santo Padre coloque sua assinatura em algo que seja contrário à fé, à disciplina, à moral e aos costumes da Igreja.

5. Penso que, no final de toda esta discussão, de todas estas polémicas, depois que cada um disse o que bem entender, e que o Santo Padre, na Exortação pós Sinodal, recolhendo aquilo que poderá ser aceitável no sentido da misericórdia, do acolhimento, colocar a sua assinatura final confirmando a doutrina tradicional da Igreja sobre estes assuntos, ninguém mais poderá reclamar de não ter podido falar, de não ter podido expressar sua opinião. Coerentemente, terão que assumir aquilo que Pedro disser e confirmar.

Esta é minha visão, fundamentada na fé de que, segundo as palavras do papa Emérito, Bento XVI, Cristo não abandona a sua Igreja!.

Penso que o momento presente, para nós que não estamos "dentro" do Sínodo seja o da oração. Pedindo a Deus que cada um dos sinodais diga o que pensa e o que os outros querem que seja dito. Pedir pelo Santo Padre, para que iluminado pelo Espírito Santo conduza a Igreja pelos caminhos da autêntica e verdadeira fé, pela qual, durante a história da Igreja, tantos e tantas, incluindo Papas, deram sua vida.

Agora é o tempo da oração pela Igreja, pelo Papa e pelo Sínodo.

D. Antonio Carlos Rossi Keller - Bispo de Frederico Westphalen - Brasil

Ser realmente uma imagem de Deus

«Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus». É preciso dar a cada um o que lhe pertence. Eis uma palavra verdadeiramente cheia de sabedoria e de ciência celestial. Porque nos ensina que há duas espécies de poder: um humano e terreno, outro divino e celeste. [...] Ensina-nos que devemos estar sujeitos a uma dupla obediência: às leis dos homens e às leis divinas. [...] Temos de pagar a César a moeda que tem a efígie e a inscrição de César, e a Deus o que recebeu o sinete da imagem e semelhança divinas: «Resplandeça sobre nós, Senhor, a luz da Tua face!» A luz da Tua face deixou em nós a Tua marca, Senhor (Sl 4,7).

Fomos criados à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1,26). Tu és homem, ó cristão. És, portanto, a moeda do tesouro divino; uma moeda que tem a efígie e a inscrição do Imperador divino. Assim, pergunto com Cristo: «De quem são esta imagem e esta inscrição?» E tu respondes: «De Deus». E eu digo-te: «Então porque não dás a Deus o que é de Deus?»

Se queremos realmente ser imagem de Deus, devemos assemelhar-nos a Cristo, pois Ele é a imagem da bondade de Deus e «imagem fiel da Sua substância» (Heb 1,3). E Deus, «àqueles que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu Filho» (Rm 8,29). Cristo deu verdadeiramente a César o que era de César e a Deus o que era de Deus. Observou, da maneira mais perfeita, os preceitos contidos nas duas tábuas da lei divina «tornando-Se obediente até à morte e morte de cruz» (Fl 2,8) e, assim, foi elevado ao mais alto grau de todas as virtudes visíveis e invisíveis.

São Lourenço de Brindisi (1559-1619), capuchinho, doutor da Igreja
Sermão para o 22º Domingo depois de Pentecostes

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

O Evangelho de Domingo dia 19 de outubro de 2014

Então, retirando-se os fariseus, consultaram entre si como O surpreenderiam no que falasse. Enviaram seus discípulos juntamente com os herodianos, a dizer-Lhe: «Mestre, nós sabemos que és sincero, e que ensinas o caminho de Deus segundo a verdade, sem dar preferência a ninguém, porque não olhas às condições das pessoas. Diz-nos, pois, o Teu parecer: é lícito ou não dar o tributo a César?». Jesus, conhecendo a sua malícia, disse: «Porque Me tentais, hipócritas? Mostrai-Me a moeda do tributo». Eles apresentaram-Lhe um denário. E Jesus disse-lhes: «De quem é esta imagem e esta inscrição?». Responderam: «De César». Então disse-lhes: «Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus».

Mt 22, 15-21

São Lucas, companheiro e colaborador dos apóstolos

Santo Ireneu de Lyon (c. 130-c. 208), bispo, teólogo, mártir 
Contra as Heresias, III, 14-15; SC 34


Lucas era inseparável de Paulo e foi seu colaborador na pregação do Evangelho, como ele próprio evidencia, não para se glorificar, mas impelido pela verdade. Com efeito, quando Barnabé e João, chamado Marco, se separaram de Paulo e embarcaram-se para Chipre, Lucas escreveu: «Embarcámos para Tróade» (At 16,8.11) […];e descreve detalhadamente toda a viagem e a sua chegada a Filipos, onde anunciaram a Palavra pela primeira vez. […] No relato da viagem com Paulo conta as situações com toda a precisão possível. […] Estando presente em todos os acontecimentos, Lucas registou-as de maneira precisa; não se pode encontrar nele mentira nem orgulho, porque todos aqueles factos eram conhecidos. […]

Lucas não foi apenas companheiro, mas também colaborador dos apóstolos, sobretudo de Paulo, que o diz claramente nas suas cartas: «Demas abandonou-me por amor das coisas do presente século e foi para Tessalónica, Crescente partiu para a Galácia e Tito para a Dalmácia; só Lucas está comigo» (2Tim 4,9-11). Isto prova claramente que Lucas esteve sempre ligado a Paulo, de maneira inseparável. Também na carta aos Colossenses se lê: «Saúda-vos Lucas, o caríssimo médico» (Col 4,14). […]

Por outro lado, conhecemos muitos acontecimentos do Evangelho – e dos mais importantes – unicamente por Lucas. […] Quem sabe, de resto, se Deus não fez de modo a que muitas passagens do Evangelho tivessem sido reveladas apenas por Lucas […] para que todos se deixassem guiar pelo testemunho que vem em seguida [no seu segundo livro] sobre os actos e a doutrina dos apóstolos e que, guardando assim inalterada a regra da verdade, pudessem ser todos salvos. Assim, o testemunho de Lucas é verdadeiro; o ensinamento dos apóstolos é manifesto, sólido, e nada esconde. […] Tais são as vozes da Igreja, de onde toda a Igreja retira a sua origem.

O Evangelho do dia 18 de outubro de 2014

Depois disto, o Senhor escolheu outros setenta e dois, e mandou-os dois a dois à Sua frente por todas as cidades e lugares onde havia de ir. Disse-lhes: «Grande é na verdade a messe, mas os operários poucos. Rogai, pois, ao dono da messe que mande operários para a Sua messe. Ide; eis que Eu vos envio como cordeiros entre lobos. Não leveis bolsa, nem alforge, nem calçado, e não saudeis ninguém pelo caminho. Na casa em que entrardes, dizei primeiro: A paz seja nesta casa. Se ali houver algum filho da paz, repousará sobre ele a vossa paz; senão, tornará para vós. Permanecei na mesma casa, comendo e bebendo do que tiverem, porque o operário é digno da sua recompensa. Não andeis de casa em casa. Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei o que vos puserem diante; curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: Está próximo de vós o reino de Deus.

Lc 10, 1-9