Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

O Trabalho: Caminho de santidade

Está a ajudar-te muito, dizes-me, este pensamento: desde os primeiros cristãos, quantos comerciantes terão sido santos? E queres demonstrar que também agora isso é possível... O Senhor não te abandonará nesse empenho. (Sulco, 490)

Para seguir os passos de Cristo, o apóstolo de hoje não vem reformar nada, e menos ainda desentender-se da realidade histórica que o rodeia... Basta-lhe actuar como os primeiros cristãos, vivificando o ambiente. (Sulco, 320)

O que sempre ensinei – desde há quarenta anos – é que todo o trabalho humano honesto, tanto intelectual como manual, deve ser realizado pelo cristão com a maior perfeição possível: com perfeição humana (competência profissional) e com perfeição cristã (por amor à vontade de Deus e em serviço dos homens). Porque, feito assim, esse trabalho humano, por humilde e insignificante que pareça, contribui para a ordenação cristã das realidades temporais – a manifestação da sua dimensão divina – e é assumido e integrado na obra prodigiosa da Criação e da Redenção do mundo: eleva-se assim o trabalho à ordem da graça, santifica-se, converte-se em obra de Deus, operatio Dei, opus Dei.

Ao recordar aos cristãos as palavras maravilhosas do Génesis – que Deus criou o homem para que trabalhasse –, fixámo-nos no exemplo de Cristo, que passou a quase totalidade da sua vida terrena trabalhando numa aldeia como artesão. Amamos esse trabalho humano que Ele abraçou como condição de vida, e cultivou e santificou. Vemos no trabalho – na nobre e criadora fadiga dos homens – não só um dos mais altos valores humanos, meio imprescindível para o progresso da sociedade e o ordenamento cada vez mais justo das relações entre os homens, mas também um sinal do amor de Deus para com as suas criaturas e do amor dos homens entre si e para com Deus: um meio de perfeição, um caminho de santificação. (Temas Actuais do Cristianismo, 10)

São Josemaría Escrivá

Através do Batismo fundimo-nos com o Senhor

«Sepultemo-nos com Cristo pelo Batismo, para com Ele ressuscitarmos; desçamos com Ele, para com Ele sermos elevados; tornemos a subir com Ele, para n'Ele sermos glorificados»

(São Gregório Nazianzeno - Oratio 40, 9)

Eutanásia e o «mito da autonomia»

A solidariedade é sentida como o primeiro e mais expressivo dever de humanidade. Por isso se rebela a inteligência e o coração contra os muros que se erguem e contra os mortos que ninguém chora.

Uma só coisa é certa no debate da eutanásia: está em causa uma fronteira civilizacional. Ultrapassá-la ou defendê-la, depende da perspetiva.

A questão de fundo é inelutável: a centralidade da autonomia, como valor antropológico e jurídico.

É em nome da autonomia que se reclama o direito a decidir quando e em que circunstâncias podemos pôr termo à própria vida; é em nome da autonomia que se exige a assistência médica nesse momento singular; é em nome da autonomia que se postula uma leitura dignificante, altruísta, humanizadora do que até há bem poucos anos era sinal de barbárie… E é também em nome da autonomia que se condena qualquer visão diferente, catalogada como intolerante e sem direito de cidadania, porque, justamente, parece ameaçar a auto-determinação do sujeito.

Sucede, porém, que a autonomia é um mito: um novo dogma moderno com pouco sustentação na realidade. Não, não somos autónomos! Não o é o bebé recém-nascido, nem o idoso, nem o doente terminal. Nem sequer o adulto na plena posse das suas faculdades. Talvez gostássemos de o ser. Talvez até estivéssemos dispostos a queimar incenso no altar da velha Aytomatia grega… mas não somos autónomos!

Pelo contrário: o que é próprio da nossa experiência humana é a contingência, a fragilidade, a necessidade e a dependência face ao outro. Não há segundo da nossa existência em que não estejamos nas mãos de alguém.

Essa vulnerabilidade genética que todos experimentamos, não é aviltante. Pelo contrário: está associada ao que de mais belo e digno tem a nossa condição humana. Somos tanto mais humanos quanto mais somos dos outros e para os outros.

No mundo das ideologias, é possível conceber muitos sujeitos autónomos, mas na realidade da vida – da nossa vida concreta de todos os dias – é impossível encontrar uma única pessoa que o seja realmente.

Por isso, a solidariedade é sentida como um dever: o primeiro e mais expressivo dever de humanidade. Por isso se rebela a inteligência e o coração contra os muros que se erguem e contra os mortos que ninguém chora.

Ora, é justamente aqui que reside a falácia da eutanásia.

Ao reclamar uma plena autonomia para o sujeito, o que se está a fazer é a negar a solidariedade como um dever irrenunciável. Quando aquele que depende de mim pode morrer, que obrigação terei eu de lhe assegurar a vida?

Se a dependência é vista como um fardo, como um indignidade, o direito a uma morte rápida e indolor transforma-se facilmente num dever de morrer dignamente, de não ser pesado, de não onerar o outro com a minha existência.

Não tenhamos dúvidas: é isto o que está em debate na eutanásia. O sofrimento do outro – por quem, infelizmente, poucos realmente se interessam – é apenas um pretexto emocional para a discussão… tudo mais (menos cuidados paliativos, mais consentimento informado, etc.) são minudências de uma discussão que só não vê quem não quer.

Diogo Costa Gonçalves in Observador AQUI
(seleção de imagem 'Spe Deus')
Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

A força que nos é transmitida pela Cruz de Cristo

(...) vivamos bem a festa de 14 de fevereiro, em que brilha de modo especial a unidade do Opus Dei. Nesse dia, como sabemos, recordamos o aniversário do início do trabalho da Obra entre as mulheres e, em anos diferentes, da fundação da Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz. Por decisão da Santa Sé, na Prelatura celebramo-la como festa de Nossa Senhora: Mater Pulchrae Dilectionis, Mãe do Amor Formoso [3].

Na ata de consagração de um altar, em 1972, S. Josemaria escreveu que o consagrava em honra e louvor de Nosso Senhor Jesus Cristo, que quis coroar a Sua Obra com o sinal santo da Cruz. Fê-lo num Centro das minhas filhas e no aniversário da sua fundação. Vi nisso um novo mandato divino de unidade para a nossa Família, tendo em conta que os sacerdotes se haviam de ordenar para servir as duas Secções da Obra [4].

Em Maria Santíssima temos o exemplo acabado de uma criatura que, durante toda a sua existência, se identificou totalmente com o querer de Deus. Contemplamos isso particularmente no momento em que recebeu o anúncio de que ia ser Mãe de Deus e – na sua perseverança cheia de fortaleza, de fé, esperança e caridade – junto da Cruz onde o seu Filho morria para nossa salvação. Escreve o Santo Padre: Falar da fé implica muitas vezes falar também de provas dolorosas, mas é precisamente nelas que S. Paulo vê o anúncio mais convincente do Evangelho, porque é na fraqueza e no sofrimento que sobressai e se descobre o poder de Deus, que supera a nossa fraqueza e o nosso sofrimento [5].

S. Josemaria convidava-nos a considerar até que ponto somos amigos da Cruz de Cristo, dessa Cruz com que Jesus quis coroar a Sua Obra (…). Quis coroá-la como os reis coroam o seu palácio no ponto mais alto: com a Cruz. Quis pôr nela a Sua realeza para que o mundo visse que a Obra era Obra de Deus. Foi num catorze de fevereiro. Eu comecei a Missa sem saber nada, como doutras vezes, e acabei sabendo que o Senhor queria a Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz, que o Senhor queria que coroássemos o nosso edifício sobrenatural, que a nossa família espiritual tivesse no alto este sinal da realeza divina [6].

[3] Cfr. Congregação do Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, Decreto pelo qual se aprova o calendário próprio da Prelatura pessoal da Santa Cruz e Opus Dei, Roma, 10‑XII‑2012.
[4] S. Josemaria, Ata de consagração de um altar, 21-X-1972.
[5] Papa Francisco, Enc. Lumen Fidei, 29-VI-2013, n. 56.
[6] S. Josemaria, Notas de uma Meditação, 2-XI-1958.

(D. Javier Echevarría na carta do mês de fevereiro de 2014)
© Prælatura Sanctæ Crucis et Operis Dei

O aspecto central da educação

Educar com amor e verdade
Em certa ocasião, ouvi um pai de família afirmar o seguinte: «Educação e liberdade são conceitos incompatíveis na prática do dia-a-dia familiar. Pode haver uma compatibilidade teórica ― defendida, talvez, por aqueles que escrevem artigos para os jornais e nunca educaram ninguém na sua vida. Esses idealistas da educação fazem-me lembrar os que mandam bitates para dentro das quatro linhas ― e nunca deram um pontapé numa bola de futebol!

No entanto, nós, que estamos no “terreno”, sabemos ― por experiência própria, não pela teoria ― que educar limita a liberdade dos nossos filhos. E digo-vos uma coisa que já me dizia o meu pai: “Acho muito bem que limite”. Se não fosse assim, eles só fariam aquilo que lhes apetecesse. Seria o caos familiar. O fim do lar-doce-lar. A guerra sem trincheiras lá em casa! Por isso, digo claramente aos meus filhos: “Serás verdadeiramente livre quando saíres desta casa. Quando fores independente economicamente. Até lá, rapaz, farás aquilo que eu e a tua mãe te dissermos e acabou-se a conversa”».

Não concordo absolutamente nada com este modo de entender a educação. Também é bom ter em conta que pertenço à vilipendiada classe de sujeitos que gostam de escrever artigos para os jornais. Aproveito a ocasião para lançar algumas ideias sobre esta temática.

Educação e liberdade não só são conceitos completamente compatíveis, como o primeiro (a educação) não existe de verdade se não se respeita o segundo (a liberdade). “Ensinar a usar bem a liberdade” não parece ser um pequeno “detalhe” da educação, mas sim o seu aspecto central. Que significa isto?

Significa que, para educar de verdade, é fundamental ajudar os filhos ― os alunos ― a fazerem o bem não só porque está mandado, mas, sobretudo e principalmente, porque entendem que é o melhor para eles. Está mandado porque é o melhor para eles e não ao contrário. Se o contrário fosse verdadeiro, cairíamos na arbitrariedade e perderíamos nesse preciso momento a autoridade que possuímos para educar. A autoridade que os pais possuem tem como fim indicar o bom caminho aos filhos. Ensiná-los a usarem bem esse dom maravilhoso ― e perigoso, se mal utilizado ― que se chama liberdade.

Esta afirmação possui consequências óbvias. Na educação, temos de dar razões ― de acordo com a idade e as capacidades das crianças e dos jovens ― para que eles possam interiorizar a bondade daquilo que se lhes indica. Que eles constatem que o que lhes dizemos não procede do nosso capricho ― não é algo arbitrário ― porque possui uma estreita relação com a verdade das coisas e das situações. Deste modo ― e não de outro ― a personalidade do filho fortalece-se. E ele pode crescer maduro, seguro e livre.

Por isso, é uma missão irrenunciável dos pais transmitir ― contagiar ― um amor à verdade que é sempre a chave para entender o sentido da liberdade. Sem referência à verdade, a liberdade perde o seu sentido ― e a educação também. A educação fica reduzida a mera transmissão de opiniões ― todas elas igualmente válidas!

Pe. Rodrigo Lynce de Faria