Em muitos momentos desta viagem
pastoral à Irlanda, para participar no Encontro Mundial das Famílias, em vez de
ler um discurso, Francisco respondeu a perguntas de famílias. Deste modo, a
mensagem focou-se em temas concretos.
Falou-se muito de amor, com o
realismo e a frescura da vida. Houve poesia, como houve humor e ideais sublimes,
mas sem conotações românticas. Por vezes, o Papa contou pequenas experiências
da sua família na Argentina. É difícil resumir estes dois dias tão intensos.
Na pró-catedral de Dublin, a
pergunta dos noivos Denis e Sinead foi a ocasião para o Papa lhes dizer que
«iam embarcar numa viagem de amor com um compromisso para toda a vida, segundo
o projecto de Deus. (...) O casamento não é simplesmente uma instituição, é uma
vocação, uma vida que singra, uma decisão consciente e para toda a vida de cuidar,
de ajudar e se protegerem um ao outro».
«Vivemos numa cultura do
provisório (...). Se tenho fome ou sete, alimento-me, mas não fico saciado
sequer um dia completo. Se tenho um trabalho, sei que o posso perder (...). É
difícil acompanhar o mundo, quando tudo muda à nossa volta. (...) Não haverá
algo precioso que possa durar?».
«(...) Há a tentação de que aquele
“para toda a vida” que direis um ao outro se transforme e, com o tempo, morra.
Se não se faz o amor crescer com o amor, dura pouco. Aquele “para toda a vida”
é o compromisso de fazer crescer o amor, porque não há provisório no amor. Se
não se chama entusiasmo, chama-se, sei lá, encantamento, mas o amor, o amor é
definitivo, é um “eu e tu”».
«(...) É fácil ficarmos
prisioneiros da cultura do efémero, que corrói as próprias raízes dos nossos
caminhos de amadurecimento, do nosso crescimento na esperança e no amor».
«(...) Entre todas as formas da
fecundidade humana, o casamento é único. É um amor que dá origem a uma vida
nova. Implica a responsabilidade de transmitir o dom divino da vida e oferece
um ambiente estável no qual a nova vida pode crescer e florir. O matrimónio na
Igreja, isto é, o sacramento do matrimónio, participa de modo especial no
mistério do amor eterno de Deus. Quando um homem e uma mulher cristãos se unem
no vínculo do matrimónio, a graça de Deus habilita-os a prometerem-se
livremente um ao outro um amor exclusivo e duradouro. Assim, a sua união
torna-se um sinal sacramental – isto é importante: o sacramento do matrimónio
–, torna-se sinal sacramental da nova e eterna aliança entre Nosso Senhor e a
sua esposa, a Igreja. Jesus está sempre no meio deles. Sustenta-os no curso da
vida, no recíproco dom de si, na fidelidade e na unidade indissolúvel. O amor
de Jesus é uma rocha para o casal, é um refúgio nos tempos de prova, mas
sobretudo é fonte de crescimento constante num amor puro e para sempre. Fazei
apostas fortes, para toda a vida. Arriscai! Porque o casamento também é um
risco, mas um risco que vale a pena. Para toda a vida, porque o amor é assim».
«Sabemos que o amor é o sonho de
Deus para nós e para toda a família humana. Por favor, não o esqueçais nunca!
Deus tem um sonho para nós e pede-nos que o façamos próprio. Não tenhais medo
desse sonho! Sonhai em grande! Guardai-o como um tesouro e sonhai-o juntos
todos os dias, novamente».
«(...) Que coisa diz Deus ao seu
povo, na Bíblia? Escutai-o bem: “não te deixarei e não te abandonarei”. E vós,
como marido e mulher, ungi-vos um ao outro com estas palavras de promessa, cada
dia, para o resto da vida. E nunca deixeis de sonhar! Repeti sempre no coração:
“não te deixarei, não te abandonarei”».
Os irlandeses acolheram o Papa
com imenso entusiasmo e ficaram com horas inesgotáveis de conversa para meditar
– a vida inteira.
José Maria C.S. André