Durante os meses precedentes trabalhava-se em Roma sobre os documentos a apresentar para a aprovação Pontifícia do Opus Dei. Álvaro del Portillo que estava na Cidade Eterna escreve a São Josemaría no sentido da conveniência de que este se deslocasse a Roma. Numa cata datada de hoje o Fundador responde-lhe: “Não me dá jeito nenhum fazer a viagem que me apontas como conveniente: nunca estive em pior disposição física e moral. No entanto, decidido a não colocar inconvenientes à vontade de Deus, pedi hoje mesmo que me preparassem os documentos, para o caso de ser preciso: se for, irei como um fardo. Fiat!”
Obrigado, Perdão Ajuda-me
terça-feira, 13 de junho de 2017
Se milagres desejais
A minha avó materna, como quase todas as avós portuguesas daquele tempo, sempre que perdia alguma coisa rezava num murmúrio, para nós ininteligível, o Responso de Santo António, e a verdade é que, segundo garantia, encontrava sempre as coisas desaparecidas. Nós, os netos, achávamos que aquilo era uma daquelas devoções que roçava a superstição e lançávamos uns aos outros um olhar céptico quando nos vinha com aquelas histórias. Com o passar dos anos e depois de uma vida atribulada a lembrança dessa devoção avoenga foi arrojada para uma masmorra da minha memória.
Cerca de um ano depois de ter entrado para o Seminário, a meio de uma Missa no Santuário de Fátima – durante a peregrinação anual franciscana – fui convidado pela mãe de um amigo a peregrinar a Assis com a sua família. Pedida a devida autorização ao Padre Mestre, que prontamente a concedeu, inscreveram-me numa peregrinação da Ordem Franciscana Secular (também conhecida por Ordem Terceira), assistida espiritualmente por dois Sacerdotes franciscanos. Éramos, creio, que cerca de 90 pessoas, uma vez que enchíamos dois autocarros (ónibus), a maioria, tanto quanto me lembra de idade avançada e, para a minha sensibilidade, um bocado “beata”, no sentido pejorativo deste termo.
Depois de Roma, Assis e o Monte Alverne, onde S. Francisco recebeu os estigmas, rumámos para Florença. Aí pernoitámos uma ou duas noites. No momento da partida, verificou-se que faltava a mala do Jorge. Todos nos pusemos, de algum modo, à procura, perscrutando os recantos mais inverosímeis. No frenesim ansioso, suponho que chegámos mesmo a olhar para o tecto na expectativa de encontrá-la… Em vão, não deparámos com vestígio algum da bagagem e estou em crer que o próprio CSI, se já existira, teria desistido da pesquisa. Resignados, cabisbaixos, lá entrámos para os autocarros rumo a Milão que, se a memória não me atraiçoa, dista de Florença cerca de 600 quilómetros.
Quando o autocarro em que seguia se pôs em marcha, logo o Padre mais velho, o mais novo ia no outro, depois das orações habituais, disse: e agora vamos rezar o responso de Santo António para encontrar a mala do Jorge. Eu confesso, com grande rubor, que me encolhi todo no banco, envergonhado de ter entrado para a Ordem a que aquele Sacerdote pertencia e indignado pelo fomento de uma devoçãozinha bafienta e ainda para mais disparatada. Se a mala se tinha perdido em Florença e partíamos para uma cidade tão distante que sentido tinha fazer aquela oração!? E, mentalmente, fui catalogando-o com todos aqueles nomes que os “católicos adultos” usam para descredibilizar a Fé dos simples. Fiquei mesmo furioso.
Claro que durante a viagem a mala não apareceu; claro que quando chegámos a Milão nada de mala; claro que na visita à Catedral de Milão não se vislumbrou a mala; claro que no hotel onde dormimos em Milão nada de mala; claro que quando partimos para Veneza, mala nem vê-la; claro que no barco em que se navegou pelos canais de Veneza não surgiu nenhuma mala; claro que na visita à Catedral de S. Marcos, claro que na visita à Catedral de S. Marcos, claro que na visita à Catedral de S. Marcos… encontrou-se a mala do Jorge! A mala estava lá! “Se milagres desejais recorrei a Santo António…” assim começa o Responso.
Desde aquele dia, tornei-me um fã da devoção da minha avó. E não estou arrependido. Tenho-me dado muito bem. Já lá vão trinta anos.
Nuno Serras Pereira
28. 11. 2009
(Fonte: Blogue LOGOS)
O Evangelho do dia 13 de Junho de 2017
«Vós sois o sal da terra. Porém, se o sal perder a sua força, com que será ele salgado? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e ser calcado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não pode esconder-se uma cidade situada sobre um monte; nem se acende uma candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas nocandelabro, a fim de que dê luz a todos os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus. «Não julgueis que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim para os abolir, mas sim para cumprir. Porque em verdade vos digo: antes passarão o céu e a terra, que passe uma só letra ou um só traço da Lei, sem que tudo seja cumprido. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos mesmo dos mais pequenos, e ensinar assim aos homens, será considerado o mais pequeno no Reino dos Céus. Mas o que os guardar e ensinar, esse será considerado grande no Reino dos Céus.
Mt 5, 13-19
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