Juliana de Norwich (1342-depois de 1416), mística inglesa
Revelações do amor divino, cap. 55
Cristo é o nosso caminho (Jo 14,6). Ele conduz-nos com segurança pelos seus preceitos e, no seu corpo, leva-nos poderosamente para o céu. Vi que, tendo-nos a todos em Si, a nós a quem vai salvar, Ele nos oferece com devoção a seu Pai celeste, dom que o Pai recebe com grande reconhecimento e remete cortêsmente a seu filho Jesus Cristo. Esse dom e esse gesto são alegria para o Pai, felicidade para o Filho e regozijo para o Espírito Santo. Entre tudo o que podemos fazer, nada há que seja mais agradável a Nosso Senhor que ver-nos rejubilar nessa alegria que a Trindade tem pela nossa salvação. […]
Seja o que for que sintamos — alegria ou tristeza, fortuna ou infortúnio —, Deus quer que compreendamos e acreditemos que estamos mais verdadeiramente no céu que na terra. A nossa fé vem do amor natural que Deus depositou na nossa alma, da clara luz da nossa razão e da inteligência inquebrantável que recebemos de Deus desde o primeiro instante em que fomos criados. Desde que a nossa alma foi insuflada no nosso corpo tornado sensível, a misericórdia e a graça começaram a sua obra, tomando conta de nós e guardando-nos com piedade e amor. Por meio desta operação, o Espírito Santo forma na nossa fé a esperança de regressarmos à nossa substância superior, ao poder de Cristo, desenvolvido e levado à sua plenitude pelo Espírito Santo. […] Pois no próprio instante em que a nossa alma é criada sensível, ela torna-se cidade de Deus, preparada para Ele desde toda a eternidade (Heb 11,16; Ap 21,2-3). É a essa cidade que Ele vem; nunca a deixará, pois Deus nunca está fora da alma, e nela permanecerá na beatitude para sempre.
(Fonte: Evangelho Quotidiano)