Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

domingo, 31 de julho de 2022

Exercícios Espirituais de Santo Ignacio de Loyola (1491-1556)

Santo Inácio de Loyola

Santo Inácio nasceu em Loyola em Espanha, no ano de 1491, e pertenceu a uma nobre e numerosa família religiosa (era o mais novo de doze irmãos), ao ponto de receber com 14 anos a tonsura, mas preferiu a carreira militar e assim como jovem valente entregou-se às ambições e às aventuras das armas e dos amores. Aconteceu que, durante a defesa do castelo de Pamplona, Inácio quebrou uma perna, precisando assim ficar imobilizado por um tempo; desse mal Deus tirou o bem da sua conversão, já que depois de ler a vida de Jesus e alguns livros da vida dos santos concluiu: "São Francisco fez isso, pois eu tenho de fazer o mesmo. São Domingos isso, pois eu tenho também de o fazer".

Realmente fê-lo, como os santos o fizeram, e levou muitos a fazerem "tudo para a maior glória de Deus", pois pendurou sua espada aos pés da imagem de Nossa Senhora de Montserrat, entregou-se à vida eremítica, na qual viveu seus "famosos" Exercícios Espirituais, e logo depois de estudar Filosofia e Teologia lançou os fundamentos da Companhia de Jesus. A instituição de Inácio iniciada em 1534 era algo novo e original, além de providencial para os tempos da Contra-Reforma. Ele mesmo esclarece: "O fim desta Companhia não é somente ocupar-se com a graça divina, da salvação e perfeição da alma própria, mas, com a mesma graça, esforçar-se intensamente por ajudar a salvação e perfeição da alma do próximo".

Com Deus, Santo Inácio de Loyola conseguiu testemunhar sua paixão convertida, pois sua ambição única tornou-se a aventura do salvar almas e o seu amor a Jesus. Foi para o céu com 65 anos e lá intercede para que nós façamos o mesmo agora "com todo o coração, com toda a alma, com toda a vontade", repetia.

Santo Inácio de Loyola foi sobretudo um homem de Deus

Santo Inácio de Loiola foi antes de tudo um homem de Deus, que colocou no primeiro lugar da sua vida Deus, para sua maior glória e serviço; foi um homem de oração profunda, que tinha o seu centro e o seu ápice na Celebração eucarística quotidiana. Desta forma ele deixou aos seus seguidores uma herança espiritual preciosa que não deve ser perdida nem esquecida. Precisamente porque foi um homem de Deus, Santo Inácio foi servidor fiel da Igreja, na qual viu e venerou a esposa do Senhor e a mãe dos cristãos. E do desejo de servir a Igreja do modo mais útil e eficaz surgiu o voto de especial obediência ao Papa, por ele mesmo qualificado como "o nosso princípio e principal fundamento" (MI, Série III, I, pág. 162). Este carácter eclesial, tão específico da Companhia de Jesus, continue a estar presente nas vossas pessoas e na vossa atividade apostólica, queridos Jesuítas, para que possais ir fielmente ao encontro das atuais necessidades urgentes da Igreja. Entre elas parece-me importante assinalar o compromisso cultural nos campos da teologia e da filosofia, tradicionais âmbitos de presença apostólica da Companhia de Jesus, assim como o diálogo com a cultura moderna, que se por um lado se orgulha pelos maravilhosos progressos no campo científico, permanece fortemente marcada pelo cientismo positivista e materialista. Sem dúvida, o esforço de promover em cordial colaboração com as outras realidades eclesiais, uma cultura inspirada nos valores do Evangelho, exige uma intensa preparação espiritual e cultural. Precisamente por isto, Santo Inácio quis que os jovens jesuítas fossem formados durante longos anos na vida espiritual e nos estudos. É bom que esta tradição seja mantida e fortalecida, considerando também a crescente complexidade e vastidão da cultura moderna. Outra grande preocupação para ele foram a educação cristã e a formação cultural dos jovens: para isso procurou incrementar a instrução dos "colégios", os quais, depois da sua morte, se difundiram na Europa e no mundo. Continuai, queridos Jesuítas, este importante apostolado mantendo inalterado o espírito do vosso Fundador.

(Bento XVI no encontro com os participantes de uma Peregrinação organizada pela Companhia de Jesus em 22.06.2006)

Santo Inácio de Loyola - Fundador da Companhia de Jesus

«Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade, minha memória, minha inteligência e toda a minha vontade, tudo o que tenho e possuo. De vós recebi; a vós, Senhor o restituo. Tudo é vosso; disponde de tudo inteiramente, segundo a vossa vontade. Dai-me o vosso amor e graça, que esta me basta».

(S. Inácio de Loyola - “Exercícios Espirituais”)

«sem equívocos nem hesitações, o seu caminho específico para Deus, como Santo Inácio traçou na ‘Formula instituti’: a fidelidade amorosa ao vosso carisma será uma fonte segura de fecundidade renovada»

(São João Paulo II - “Insegnamenti”, vol. XVIII/1, 1995, pág. 26)

«(…) a proposta de Santo Inácio de Loyola, dos retiros espirituais em casa, sem ser preciso sair de casa para se retirar para um convento ou para um mosteiro. Basta ir uma hora e meia por semana à Igreja para receber meditação e reflexão e depois leva-se trabalho para casa, para se fazer os retiros espirituais em casa. Nós temos coisas belíssimas e preciosas da nossa tradição, somos chamados como o escriba do Evangelho ‘a tirar coisas novas dos tesouros antigos’».

(D. António Marto, ao tempo Bispo de Viseu, hoje Bispo de Leiria-Fátima em 15-XI-2003)

sábado, 30 de julho de 2022

S. Pedro Crisólogo, bispo, Doutor da Igreja, †450

São Pedro Crisólogo nasceu em Ímola no ano 380 e mereceu o apelido de Crisólogo, isto é, "Palavra de Ouro", por ser autor de estupendos sermões, ricos de doutrina, que lhe deram também o título de doutor da Igreja, decretado no ano 1729 pelo Papa Bento XIII. Dele se conservam cerca de 200 sermões. Numa homilia define o avarento como "escravo do dinheiro, mas o dinheiro - acrescenta - é o escravo do misericordioso. " É fácil entender o significado desta prédica. Sua pregação colocava insistentemente em evidência o amor paternal de Deus: "Deus prefere ser amado a ser temido". Humildes e poderosos escutava-os ele com igual condescendência e caridade. A imperatriz Gala Placídia teve-o como conselheiro e amigo.

Eleito Bispo de Ravena no ano 424, Pedro Crisólogo mostrou-se bom pastor, prudente e sem ambiguidades doutrinais. Sua autoridade era reconhecida em largo raio da Igreja. São Pedro Crisólogo disse certa vez: "Os que passaram, viveram para nós; nós, para os vindouros; ninguém para si" (op.cit.p.407).

São Pedro Crisólogo morreu no dia 31 de Julho do ano 451, em Ímola. 

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

sexta-feira, 29 de julho de 2022

Santa Marta, amiga de Jesus

Marta, personagem bíblica do Novo Testamento, residia em Betânia (nas proximidades de Jerusalém) e era irmã de Maria e de Lázaro (Jo 11-12; Lc 10,38-42). Jesus era seu amigo e de seus irmãos e frequentava a sua casa (Jo 11,3; 12,3). Primogénita e dona de casa, Marta representa a vida activa, ao passo que a irmã Maria simboliza a contemplativa. Em várias lendas cristãs, Marta, juntamente com Maria e Lázaro, aparecem como missionários no sul da França.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

Santa Maria e São Lázaro, hospedeiros e amigos do Senhor

Contam os Evangelhos que Jesus era amigo de Lázaro e de suas irmãs Marta e Maria.  Os três viviam em Betânia, cidade próxima a Jerusalém e era costume receber o Mestre em sua casa.  Talvez o episódio mais marcante dessa amizade seja a ressurreição de Lázaro, de onde se extrai um dos momentos mais contundentes da vida de Jesus de Nazaré: sabedor da morte do amigo, Jesus se comove e chora, demonstrando a afeição e a dor que sentia.  Inteiramente homem, sofre pela perda; inteiramente Deus, ressuscita o amigo para manifestar, assim, a glória do Pai (Jo 11, 1-45).

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

quinta-feira, 28 de julho de 2022

O sim vencedor

«A fé é comunhão com Jesus, e deste modo libertação da repressão que se opõe à verdade, libertação do meu eu do seu fechamento em si mesmo para dele fazer uma resposta ao Pai, ao sim do amor, ao sim para o ser, àquele sim que é a nossa redenção e que vence o “mundo”».

(Joseph Ratzinger - “Olhar para Cristo”)

Beata Maria Teresa Kowalska, virgem e mártir, †1941

Beatificada por João Paulo II em 13 de Junho de 1999 conjuntamente com mais 107 mártires do nazismo

Nasceu em Varsóvia em 1902. Desconhece-se o nome e a profissão dos seus pais. Recebeu a sua primeira Comunhão no dia 21 de Junho de 1915, e o sacramento da Confirmação no dia 21 de Maio de 1920. O seu pai, simpatizante socialista, foi para a União Soviética na década de 1920 com grande parte da família.

Aos 21 anos, recebe a graça da vocação religiosa. Ingressou no Mosteiro das Clarissas Capuchinhas de Przasnysz no dia 23 de Janeiro de 1923. Tomou o hábito no dia 12 de Agosto de 1923 e recebeu o nome de Maria Teresa do Menino Jesus. Emitiu a sua primeira profissão no dia 15 de Agosto de 1924 e a profissão perpétua no dia 26 de Julho de 1928.

Era uma pessoa delicada e doente, mas disponível para todos e para tudo. No Mosteiro servia a Deus com devoção e piedade. Com o seu modo de ser conquistava o carinho de todos, diz uma das irmãs. Gozava de grande respeito e consideração por parte das superioras e das outras irmãs. Exerceu vários ofícios: porteira, sacristã, bibliotecária; Mestra de noviças e Conselheira. Maria Teresa vive a sua vida religiosa em silêncio, totalmente dedicada a Deus, com grande entusiasmo. Um dia este serviço a Deus foi posto a dura prova.

No dia 2 de Abril de 1941, os alemães irromperam no Mosteiro e prenderam todas as irmãs, levando-as para o Campo de concentração de Dzialdowo. Entre elas estava a Irmã Maria Teresa, doente com tuberculose. As 36 irmãs ficaram presas no mesmo local e suportaram umas condições de vida que ofendiam a dignidade humana: ambiente sujo, fome terrível, terror contínuo. As irmãs observavam com horror a tortura a que eram submetidas outras pessoas ao mesmo tempo, entre as quais se encontravam o Bispo de Plock, A. Nowowiejski e L. Wetmanski, e muitos outros sacerdotes. Depois de passar um mês naquelas condições de vida, a saúde das irmãs debilitou-se. A Irmã Maria Teresa foi uma das que mais se ressentiu, que pelo menos se mantinha de pé.

Sobreveio-lhe uma hemorragia pulmonar. Faltava não só o serviço médico mas também a água para matar a sede e para a higiene. Suportou o sofrimento com coragem e, até onde lhe foi possível, rezou junto com as restantes irmãs. Outras vezes rezava ela sozinha. Durante a prova, e consciente da proximidade da morte, dizia: “Eu, daqui, não sairei; entrego a minha vida para que as irmãs possam regressar ao Mosteiro”. Isso mesmo dizia à abadessa: “Madre, ainda falta muito?”. Morreu na noite de 25 de Julho de 1941. Desconhece-se o paradeiro dos seus restos mortais.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

quarta-feira, 27 de julho de 2022

São Tito Brandsma †1942

Tito Brandsma foi um padre carmelita, professor universitário, escritor, ecumenista, respei­tado conferencista e jornalista na Holanda.


Foi preso em 19 de janeiro de 1942 por falar contra o regime nazi e trabalhar para alinhar os jornais católicos do país com os ensinamentos da Igreja sobre o nazismo.


Na época, o regime nazi ocupava a Holanda, terra natal do padre Brandsma, e tentava alinhar seu povo com o dogma nazista. Brandsma foi finalmente morto no campo de concentração de Dachau em 26 de julho de 1942.


“Esta é uma notícia que esperávamos há muito tempo e que vem como resultado do reconhecimento da Igreja da santidade e testemunho de Titus Brandsma”, disse o Pa­dre Míceál O'Neill, O. Carm., Prior geral da Ordem Carmelita. “É significativo que te­nhamos esta celebração em um momento em que a verdade e a integridade estão sofrendo seriamente nos grandes conflitos que agora ameaçam a paz do mundo.”


Como professor, conferencista e jornalista, Brandsma era bem conhecido na Holanda e tinha-se manifestado contra a filosofia nazista nas suas aulas e discursos, antes e durante a Segunda Guerra Mundial.


Como assistente eclesiástico da União de Jornalistas Católicos, visitou editoras católi­cas, em todo o país, em nome dos bispos católicos para os incentivar a permanecerem firmes contra a impressão de propaganda nazista.


Como presidente da União das Escolas Católicas, trabalhou para derrubar a exigência nazi de expulsar as crianças judias das escolas. Ignorou os regulamentos nas escolas carmelitas. Protestou ainda, quando o governo cortou os salários dos professores em 40%.

As suas opiniões sobre o nazismo eram bem conhecidas na Holanda e dentro do esta­blishment nazista. Foi apelidado de "o pequeno papagaio-do-mar perigoso".


Para os jornalistas católicos, tornou-se um modelo de vocação jornalística, convicção ética e compromisso com a verdade. Por isso, em 1988, a União Católica Internacional de Jornalistas (UCIP) criou o Prémio Titus Brandsma, que é concedido, a cada três anos, a jornalistas ou organizações que se destacam pelo compromisso com o valor da busca da verdade.


Brandsma recebeu vários prémios ao longo de sua vida, incluindo o título de Reitor Magnífico da Universidade Católica de Nijmegen e a “Ordem do Leão Holandês” da Rainha Wilhelmina, pelos seus ministérios altruístas.


Recebeu também muitos testemunhos, após sua morte, de pessoas de todas as religi­ões. Todos refletem que Brandsma manteve a esperança entre pessoas de todas as religiões, mesmo nas horas mais sombrias dos campos de concentração.


Entre os muitos testemunhos poderosos da exemplaridade cristã de Brandsma nos campos está o de um pastor protestante: Posso atestar que Titus Brandsma era um filho de Deus pela graça de Jesus Cristo.


Outros falaram de um respeito e afeição geral por Brandsma pela sua maneira descon­traída e amigável. "Ele não conhecia ódio nem aversão, nem impaciência nem aspe­reza."

Ecologia e cristianismo

Parece-me claro que, de facto, é o homem que ameaça retirar o sopro vital à natureza. E que a poluição do ambiente exterior que observamos é o espelho e o resultado da poluição do ambiente interior, à qual não prestamos suficiente atenção. Julgo que é também o que falta aos movimentos ecológicos.

Combatem com uma paixão compreensível e justificada a poluição do ambiente; mas a poluição espiritual que o homem provoca em si mesmo continua a ser tratada como um dos direitos da liberdade. Há aqui uma incoerência. Queremos afastar a poluição mensurável, mas não tomamos em consideração a poluição espiritual do homem e a figura da Criação que nele se encontra [...]; muito pelo contrário, defendemos tudo o que a arbitrariedade humana produz, com base num conceito completamente falso de liberdade.

Enquanto sustentarmos essa caricatura de liberdade, quer dizer, a liberdade de uma destruição espiritual interior, continuarão inexoravelmente os seus efeitos exteriores.

Julgo que devemos refletir sobre isto. Não é apenas a natureza, que tem as suas regras e as suas formas de vida, que temos de respeitar, se quisermos viver dela e nela, mas também o homem, que é interiormente uma criatura e está sujeito à ordem da Criação: não pode fazer de si mesmo tudo o que quiser, como lhe apetecer. Para que o homem possa viver a partir do interior, tem de aprender a reconhecer-se como criatura e tem de tomar consciência de que nele deve existir, por assim dizer, a pureza interior devida ao facto de ser criatura: a ecologia espiritual. Se este elemento fundamental da ecologia não for compreendido, tudo o mais se desenvolverá num sentido negativo.

A Epístola aos Romanos diz isso muito claramente no capítulo oitavo. Diz que Adão, ou seja, o homem interiormente poluído, trata a criação como um escravo, a espezinha; a criação geme sob ele, por causa dele, através dele. E hoje ouvimos o gemido da criação como nunca antes o tínhamos ouvido. São Paulo acrescenta que a criação espera a manifestação dos filhos de Deus e que respirará aliviada quando surgirem pessoas nas quais transpareça a luz de Deus. Só então a criação poderá voltar a respirar.

(Cardeal Joseph Ratzinger in ‘O sal da terra’ – págs. 183-184)

terça-feira, 26 de julho de 2022

Ġorġ Preca (Santo de Malta - São Jorge Preca)

Nascimento:   12:02.1880, em Valletta, Malta
Morte:            26.07.1962, (82 anos) em Santa Venera, Malta
Beatificação:   09.05.2001, Floriana, Malta por São João Paulo II
Canonização    03.06.2007, Vaticano por Papa Bento XVI
Festa litúrgica: 09 de Maio

Jorge Preca (em maltês: Ġorġ Preca) foi um sacerdote católico maltês. Em Malta, é carinhosamente conhecido como "Dun Ġorġ" e é popularmente chamado de "Segundo Apóstolo de Malta".

Cresceu em Valletta, perto do Santuário de Nossa Senhora do Carmo, onde recebeu o escapulário. Ao sentir o chamamento divino ao sacerdócio entrou para o seminário maior da diocese e estudou filosofia e teologia. Foi ordenado padre no dia 22 de Dezembro de 1906.

Logo após a ordenação começou a sua missão reunindo ao seu redor um pequeno grupo de jovens, imprimindo nos seus corações os princípios morais, o temor de Deus e a consciência do infinito amor que Deus nutre pela humanidade. Com este grupo iniciou posteriormente a "Sociedade de Doutrina Cristã", que comumente é conhecida como MUSEUM (iniciais de "Magister, Utinam Sequatur Evangelium Universus Mundus" = "Senhor, que o mundo inteiro siga o Evangelho"). Cada membro desta sociedade deve buscar a perfeição cristã, tendo como modelo o Cristo Crucificado. A sua vida de íntima união com Cristo na Igreja fortalece-se pela participação activa dos sacramentos, pela mortificação e renúncia de si para cumprir a vontade de Deus, bem como pela direcção espiritual e oração unida ao trabalho quotidiano.

Espiritualidade
O padre Jorge conseguiu reelaborar as muitas formas de espiritualidade existentes para o bem espiritual de sua sociedade. A vida e a espiritualidade de São Vicente de Paulo, São Felipe Néri, Santo Afonso Maria de Liguori, São Francisco de Assis, Santo Inácio de Loyola, Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz foram muito estudadas por ele. O pensamento central de sua espiritualidade e teologia foi a encarnação: «E o Verbo se fez carne» (João 1:1).

Relação com os carmelitas
Desde criança usou o escapulário. Já adulto quis comprometer-se mais no seguimento a Maria e por isso entrou para a Ordem Terceira do Carmo. Foi inscrito na mesma em Santa Venera no dia 21 de Julho de 1918 e professou no dia 26 de Setembro do ano seguinte. Sempre se sentiu membro da família carmelita até mesmo ao ponto de muitas vezes, nos seus escritos, se apresentar como carmelita, utilizando seu nome de terciário (Franco) em lugar do seu. Foi afiliado à Ordem do Carmo pelo Prior-geral Kilian Lynch.

O padre Preca viveu os últimos anos de sua vida em Santa Venera, na paróquia dos carmelitas, onde antes de passar para a vida eterna foi confortado com os santos sacramentos pelo padre Kilian Azzopardi, O. Carm.

António Mexia Alves

Dia dos avós - Um tesouro do qual a Igreja não pode privar os netos

No dia 26 de Julho, a Igreja Católica celebra a memória de São Joaquim e Santa Ana, pais de Nossa Senhora e avós de Jesus, motivo pelo qual a Conferência Episcopal Argentina, através da Área de Idosos do Secretariado Nacional, promove o costume de comemorar e homenagear neste dia os avôs e avós.

O organismo episcopal motiva este esforço no magistério do Papa, que vê nos avós um tesouro do qual os netos não podem ser privados, assim como na pastoral que o Conselho Pontifício para a Família vem impulsionando nestes últimos anos.

Este organismo do Vaticano dedicou precisamente o ano de 2008 aos avós, na sua 18ª Assembleia Plenária, com o tema: “Avós: seu testemunho e presença na família”.

O encontro pretendeu sublinhar o papel de coesão, de apoio e sustento aos netos, de mediação nas relações entre cônjuges e nas relações entre pais e filhos, desempenhado pela geração mais idosa dentro do núcleo familiar.

No discurso que Bento XVI dirigiu aos participantes da assembleia, no dia 5 de Abril desse ano, pediu que se promovesse o acolhimento dos avós, definindo-os como “um tesouro que não podemos tirar às novas gerações, sobretudo quando dão testemunho de fé”.

O então Papa recordou que “a Igreja sempre teve em relação aos avós uma atenção particular, reconhecendo-lhes uma grande riqueza sob o perfil humano e social, assim como sob o religioso e espiritual”.

Por isso, pediu que “os avós voltem a ser presença viva na família, na Igreja e na sociedade. No que diz respeito à família, os avós continuem a ser testemunhas de unidade, de valores originais sobre a fidelidade a um único amor que gera a fé e a alegria de viver”.

Por estes motivos, o organismo episcopal argentino sugere que se promova nas dioceses a comemoração do Dia dos Avós, tanto nas famílias como nas paróquias, escolas e instituições; e para este fim, deixou-se à criatividade das comunidades as formas de realizar a celebração.

(Fonte: ‘Zenit’ com adaptação de JPR)

Santos Joaquim e Ana, pais de Nossa Senhora

Uma tradição do segundo século afirma que os pais de Nossa Senhora, e avós de Jesus, chamavam-se Joaquim e Ana. Conforme uma lenda da Idade Média, Joaquim e Ana viviam humilhados porque não tinham filhos. Eram estéreis. Joaquim dirigiu-se então para o deserto, e ali passou, 40 dias em jejum e oração. Ao terminar os 40 dias, apareceu-lhe um anjo anunciando que teriam um filho. De facto, nasceu-lhes uma filha, à qual deram o nome de Maria.

A devoção de Santa Ana ou Sant'Ana remonta ao século VI, no Oriente. No Ocidente data de século X. A devoção a São Joaquim é mais recente.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

segunda-feira, 25 de julho de 2022

Botafumeiro - Santiago de Compostela (hoje é dia de São Tiago Maior)

São Tiago Maior

Tiago (o Maior), filho de Zebedeu e de Salomé, era irmão do evangelista São João. Seu pai estava presente quando os dois irmãos, dentro de em um barco no lago de Genesaré, receberam o pedido de Jesus para O acompanharem: “eles, abandonaram o barco e seu pai e seguiram-nO,” demonstrando vontade decidida e índole forte. Talvez por isso, receberam de Jesus o apelido de “filhos do trovão”.

Como os outros discípulos, Tiago foi perseguido pelas autoridades judaicas e preso. No seu cárcere, sofreu todo tipo de tortura e flagelo. Mesmo assim, sentia muito orgulho de estar sendo torturado por amor a Jesus.

Segundo uma tradição, o apóstolo Tiago teria sido o primeiro evangelizador da Espanha e as suas relíquias teriam sido levadas para Compostela, uma das metas mais procuradas pelos peregrinos na Europa.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

S. Tiago Apóstolo, filho de Zebedeu

[…] Comecemos com o Santo de amanhã, o apóstolo São Tiago, irmão de João, que foi o primeiro mártir entre os apóstolos. Era um dos três mais próximos do Senhor e participou tanto na Transfiguração no Monte Tabor com a sua beleza, na qual sobressaía o esplendor da divindade do Senhor como na angústia, na ansiedade do Senhor no Monte das Oliveiras, e assim viu também que o Filho de Deus, para carregar o peso do mundo, experimentou todo o nosso sofrimento e é solidário connosco. Sabeis que as relíquias de São Tiago se veneram no célebre santuário de Compostela, na Galiza, meta de numerosas peregrinações de todas as partes da Europa. A 11 de Julho passado celebrou-se São Bento, outro grande Padroeiro do "velho continente", e como sabeis, meu padroeiro desde quando fui eleito para o ministério de Pedro. Olhando para estes Santos, torna-se espontâneo deter-se a reflectir, precisamente neste momento histórico com todos os seus problemas, sobre a contribuição que o cristianismo deu e continua a oferecer à construção da Europa.

Bento XVI – excerto Angelus do dia 24 de Julho de 2005 em Le Combres

domingo, 24 de julho de 2022

Verdade e arrogância

Não seria uma arrogância falar de verdade em matéria de religião e chegar a afirmar que se encontrou na própria religião a verdade, a única verdade? [...] Hoje converteu-se num slogan de enorme repercussão rejeitar como simultaneamente simplistas e arrogantes todos aqueles a quem se pode acusar de crer que "possuem" a verdade.

Essas pessoas - dizem-nos -, ao que parece, não são capazes de dialogar e por conseguinte não podem ser levadas a sério, pois ninguém "possui" a verdade; só podemos "buscar" a verdade. Mas é preciso objectar a esta última frase: que busca é essa que nunca pode chegar à meta? Será que realmente busca, ou antes não quer encontrar a verdade, porque o que vai encontrar não deve existir? Naturalmente, a verdade não pode consistir numa posse; diante dela, devo sempre ter uma atitude de humilde aceitação, [...] recebendo o conhecimento como um presente do qual não sou digno, do qual não posso vangloriar-me como se fosse uma descoberta minha. Se me foi concedida a verdade, devo considerá-la como uma responsabilidade, o que significa também um serviço aos outros. [...]

Mas não será antes uma arrogância dizer que Deus não nos pode dar o presente da verdade? Não será desprezar a Deus afirmar que nascemos cegos e que a verdade não se coaduna connosco? [.„] A verdadeira arrogância consiste em querer ocupar o posto de Deus e querer determinar quem somos, que fazemos, que queremos fazer de nós e do mundo. [...]

A única coisa que podemos fazer é reconhecer com humildade que somos mensageiros indignos que não se anunciam a si mesmos, mas que falam com santa timidez daquilo que não lhes pertence, mas provém de Deus. Só assim se torna inteligível a tarefa missionária, que não significa um colonialismo espiritual, uma submissão dos outros à minha cultura e às minhas ideias. A missão exige, em primeiro lugar, uma preparação para o martírio, a disposição de perder-se a si mesmo por amor à verdade e ao próximo.

Só assim a missão merece crédito. A verdade não pode nem deve ter nenhuma outra arma que não ela mesma.

(Cardeal Joseph Ratzinger in ‘El relativismo, nuevo rostro de la intolerancia’)

sábado, 23 de julho de 2022

Kateri Tekakwitha

A viagem do Papa Francisco ao Canadá começou nesta sexta-feira 22 de Julho com uma ida em cadeira de rodas à basílica romana de Santa Maria Maior, para rezar diante da imagem de Nossa Senhora. É sempre esta a primeira e a última etapa de uma viagem do actual Pontífice. No meio, de 24 a 30 de Julho, será a viagem propriamente dita ao Canadá.


O Canadá, conhecido pela beleza natural e pelo desenvolvimento social e económico, está cheio de desafios para a Igreja, pela agressividade sexual, a decadência de costumes e, como se não bastasse, pela consciência recente de que houve prepotências durante a primeira evangelização.


A vida cristã não é fácil. A intolerância do Estado Canadiano vai ao ponto de não reconhecer sequer o direito à objecção de consciência, mesmo em matérias sensíveis, como a recusa a colaborar num aborto, ou num casamento homossexual, ou a recusa a provocar a morte de uma pessoa idosa ou doente. A militância anticristã impede praticamente que um cristão, em particular um católico, ocupe lugares destacados na sociedade. Cerca de 40% da população sente afinidade com a Igreja católica, mas a falta de assiduidade à Missa dominical, à Confissão e aos outros sacramentos é dramática: o país que o Papa visita requer um fôlego renovado de evangelização.


Por outro lado, alguns descendentes das tribos nativas acusam a Igreja católica e as igrejas protestantes de terem procurado converter os seus antepassados à força. A história não parece simples. Houve prepotência de uns europeus e generosidade de outros europeus. Por vezes, os que procuraram ajudar as populações pobres foram pouco compreensivos da sensibilidade local. A mesma pessoa fez coisas edificantes e coisas más. Houve de tudo, naquele país disperso por milhares de quilómetros de florestas e paisagens geladas. A principal queixa é que, para ajudar as populações nativas, o Governo canadiano promoveu, a partir de 1870, uma rede de 130 colégios internos que ficaram ao cuidado de diversas entidades, nomeadamente anglicanas e protestantes, mas também, pelo menos uma dúzia, orientados por católicos. Apesar da boa intenção, houve várias falhas nesses 130 colégios internos para nativos. Frequentemente, acolhiam crianças retiradas aos pais, forçadas a ir à escola, a disciplina era demasiado severa, os colégios eram demasiado pobres, o ensino era deficiente e transmitia às crianças nativas a ideia de que a sua cultura de origem não tinha valor.


No Domingo passado, o Papa resumiu assim este tema central da sua viagem:


— «Infelizmente, no Canadá, muitos cristãos, incluindo alguns membros de institutos religiosos, contribuíram para políticas de assimilação cultural que, no passado, prejudicaram gravemente as comunidades nativas, de várias formas. Por esta razão, recebi recentemente no Vaticano alguns grupos, representantes dos povos indígenas, a quem manifestei o meu pesar e solidariedade pelos danos que sofreram. E agora preparo-me para empreender uma peregrinação penitencial que espero, com a graça de Deus, contribua para o caminho de cura e reconciliação já empreendido. (…) Peço-vos que me acompanheis em oração».


Que seria de nós sem os santos, no meio dos conflitos culturais? O Canadá tem vários santos missionários e mártires e começa a ter santos autóctones. A primeira é Santa Kateri Tekakwitha, uma rapariga da tribo dos Mohawk, cuja vida resume a turbulência da época.


Uma epidemia de varíola dizimou a família e ela sobreviveu, mas ficou com marcas na cara. Foi recolhida na tribo, acompanhada por outros índios, uns católicos, outros não, até que aos 19 anos entrou em contacto com uma missão, decidiu formar-se e receber o baptismo. Quando tinha 10 anos, o exército francês atacou a aldeia dos Mohawk, destruiu tudo e obrigou-os a refugiarem-se numa floresta gelada do Norte. Quando tinha 13 anos, centenas de guerreiros Mohican cercaram a aldeia com grande violência, mas a defesa conseguiu chamar reforços e os atacantes acabaram largamente dizimados e torturados. O líder da defesa converteu-se ao catolicismo. Parte da aldeia converte-se, outros proíbem os filhos de se aproximar das missões. Kateri Tekakwitha vence a oposição dos familiares, consegue baptizar-se e… é hoje a primeira santa de uma tribo nativa do Canadá.


Por intercessão de santa Kateri Tekakwitha, que Deus acompanhe o Papa nesta sua viagem.

José Maria C.S. André

As 15 Orações de Santa Brígida a Jesus

Santa Brígida da Suécia, co-Padroeira da Europa

1. "Eu renovo todas as coisas... estas palavras são fiéis e verdadeiras" (Ap 21, 5).

Cristo renova todas as coisas. Santa Brígida, ilustre filha da terra da Suécia, acreditou muito e com profundo amor em Cristo. Adornou com o seu cântico de fé e as suas boas obras a Igreja, na qual reconhecia a comunidade dos crentes, habitada pelo Espírito de Deus.

Hoje recordamos esta singular figura de Santa e sinto-me particularmente feliz por que nesta celebração estejam ao meu lado os mais altos representantes das Igrejas luteranas da Suécia e da Finlândia, juntamente com os meus venerados Irmãos no Episcopado de Estocolmo e de Copenhaga. Saúdo-os a todos e cada um com grande afeto.

Com deferência saúdo também o Rei e a Rainha da Suécia, que quiseram honrar esta celebração com a sua presença. A minha saudação estende-se, além disso, às Personalidades políticas que estão aqui connosco. Saúdo por fim todas vós, queridas Irmãs do Santíssimo Salvador de Santa Brígida, aqui guiadas pela vossa Superiora-Geral.

2. Estamos mais uma vez reunidos para renovar diante do Senhor o empenho pela unidade da fé e da Igreja, que Santa Brígida, com convicção, fez próprio em tempos difíceis. A paixão pela unidade dos cristãos foi o alimento de toda a sua existência. E este empenho, graças ao seu testemunho e ao da Madre Isabel Hesselblad, chegou até nós através da corrente misteriosa da Graça que ultrapassa os confins do tempo e do espaço.

A celebração hodierna impele-nos a meditar sobre a mensagem de Santa Brígida, que eu quis recentemente proclamar co-Padroeira da Europa, juntamente com Santa Catarina de Sena e Santa Teresa Benedita da Cruz. O seu amor ativo pela Igreja de Cristo e o testemunho que deu da Cruz constituem um símbolo e uma inspiração para todos nós, que nos preparamos para cruzar o limiar de um novo milénio.

É-me muito grato inaugurar e benzer nesta tarde, no termo da presente celebração, uma estátua que tornará mais viva, aqui no Vaticano, a memória desta grande testemunha da fé. Colocada no exterior desta Basílica e precisamente ao lado da Porta chamada "da oração", a efígie em mármore de Santa Brígida constituirá para todos um constante convite a orar e a trabalhar sempre pela unidade dos cristãos.

3. O meu pensamento dirige-se agora para o dia 5 de Outubro de 1991, quando, nesta mesma Basílica, teve lugar uma solene celebração ecuménica no sexto centenário da canonização de Santa Brígida. Naquela circunstância pude dizer: "Já há vinte e cinco anos luteranos e católicos se esforçam por encontrar de novo o caminho comum... O diálogo teológico tornou evidente o vasto património de fé que nos une... Ninguém ignora que da doutrina da justificação teve início a Reforma protestante e que ela rompeu a unidade dos cristãos do Ocidente. Uma sua comum compreensão... ajudar-nos-á, disto estamos certos, a resolver as outras controvérsias que, directa ou indirectamente, a ela estão ligadas" (cf. L'Osserv. Rom. ed. port. de 13/X/1991, pág. 2).

Aquela "comum compreensão" a que eu almejava há nove anos, hoje, graças ao Senhor, tornou-se realidade animadora. No dia 31 de Outubro passado, na cidade de Ausburgo, foi assinada solenemente uma Declaração conjunta, na qual luteranos e católicos amadureceram um consenso sobre verdades fundamentais da doutrina da justificação. Esta aquisição do diálogo ecuménico, marco miliário no caminho rumo à unidade plena e visível, é o resultado de um intenso trabalho de pesquisa, encontros e oração.

Contudo, permanece diante de nós um longo caminho a percorrer: "grandis resta nobis via". Devemos fazer ainda mais, conscientes das responsabilidades que nos competem no limiar de um novo milénio. Devemos continuar a comunhão juntos, sustentados por Cristo, que no Cenáculo, na vigília da sua morte, pediu ao Pai para que todos os seus discípulos "fossem um só" (Jo 17, 21).

4. Como mais do que nunca necessário, no texto da Declaração conjunta está escrito que o consenso obtido pelos católicos e luteranos "sobre verdades fundamentais da doutrina da justificação, deve ter efeitos e encontrar uma verificação na vida e no ensino das Igrejas" (n. 43).

Neste caminho, confiamo-nos à ação incessante do Espírito Santo. Além disso, temos confiança também em quem, antes de nós, amou tanto Cristo e a sua Cruz e orou, como Santa Brígida, pela característica irrenunciável da Igreja, a da sua unidade.

Não conhecemos o dia do encontro com o Senhor. Por isto o Evangelho convida-nos a vigiar, tendo acesas as nossas lâmpadas para que, quando o Esposo chegar, possamos estar prontos a acolhê-l'O. Nesta expectativa vigilante, ressoa no coração de cada crente a invocação do divino Mestre: "Ut unum sint".

Santa Brígida nos sirva de exemplo e interceda por nós. A vós, suas caríssimas filhas espirituais da Ordem do Santíssimo Salvador, peço de modo especial que prossigais com fidelidade no vosso precioso apostolado ao serviço da unidade.

O novo milénio já está às portas: "Cristo ontem, hoje e sempre" seja o centro e a meta de todas as nossas aspirações. É Ele que renova todas as coisas e traça para nós um itinerário de jubilosa esperança. Oremos sem cessar para que Ele nos conceda a sabedoria e a força do seu Espírito; invoquemo-l'O para que todos os cristãos cheguem quanto antes à unidade. Nada é impossível a Deus!

João Paulo II – Homilia proferida em 13 de Setembro de 1999

sexta-feira, 22 de julho de 2022

Quantas lágrimas se derramam em cada instante no mundo, cada uma diferente das outras…

O recurso seguro para evitar a tristeza ou sair da sua opressão é abrir o coração com Jesus diante do Sacrário, e com quem, como Seu instrumento, orienta a alma entre os meandros da vida espiritual. Lembremo-nos sempre, levando-o à prática, o conselho que S. Josemaria dava: Levantai o coração a Deus, quando chegar o momento duro do dia, quando a tristeza quiser meter-se na nossa alma, quando sentirmos o peso destas lides da vida, dizendo: Miserere mei Domine, quoniam ad te clamavi tota die: laetifica animam servi tui, quoniam ad te Domine, animam meam levavi (Sl 85, 3-4), Senhor, tem misericórdia de mim, porque Te invoquei o dia todo: alegra o Teu servo, pois a Ti, Senhor, elevei a minha alma [9].
Que bela tarefa realizam os cristãos ao consolar os que se veem aflitos por uma contrariedade, grande ou pequena, que lhes rouba a paz! Além de rezar por eles, é preciso fomentar um acolhimento afetuoso, pois muitas almas só procuram alguém que ouça com paciência as suas penas. Quantas caras tristes encontramos nos nossos caminhos terrenos porque ninguém lhes ensinou a abandonar-se no Senhor, e com que consolo fraterno os devemos acolher! Quantas lágrimas se derramam em cada instante no mundo, cada uma diferente das outras… E juntas formam como que um oceano de desolação, a implorar misericórdia, compaixão, consolo. As mais amargas são as lágrimas causadas pela maldade humana: as lágrimas de quem viu arrancar-lhe violentamente uma pessoa querida, lágrimas de avós, de mães e pais, de crianças... (...). Precisamos da misericórdia, da consolação que vem do Senhor. Todos nós precisamos dela. É a nossa pobreza, mas também a nossa grandeza: invocar a consolação de Deus que, com a Sua ternura, vem enxugar as lágrimas do nosso rosto [10].
Assim fez o Mestre durante a Sua passagem entre os homens. Levado pela Sua misericórdia, deteve-se no caminho, para consolar a viúva de Naim que chorava a morte do seu único filho; reagiu de forma semelhante com Marta e Maria em Betânia, desoladas pela morte do seu irmão Lázaro. Chorou também pelo destino que a cidade Jerusalém iria ter [11]. Ao iniciar a Sua Paixão, já no Jardim das Oliveiras, sofreu até ao ponto de suar sangue, e permitiu que um anjo, uma criatura, O consolasse (cfr. Lc 22, 39-46). Pode haver maior sinal de humanidade do que admitir o consolo, o reforço que outro nos dá para nos levantar do nosso abatimento, da nossa fraqueza, do nosso desânimo? [12]
Seguindo os passos do Mestre, consolemos quem precisa. É isso que está nas entranhas do espírito cristão. Assim se dirigia S. Francisco ao Senhor, numa oração também repetida por muitas gerações: «Senhor, fazei de mim um instrumento da Vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor. Onde houver ofensa, que eu leve o perdão; onde houver dúvida, que eu leve a fé; onde houver tristeza, que eu leve a alegria; onde houver desespero, que eu leve a esperança; onde houver trevas, que eu leve a Tua luz» [13].
[9]. S. Josemaria, Carta 9-I-1932, n. 15.
[10]. Papa Francisco, Vigília de oração para "enxugar" as lágrimas, 5-V-2016.
[11]. Cfr. Lc 7: 11-13;. Jo 11, 17 ss; Lc 19, 41 -44.
[12]. S. Josemaria, Carta 29-IX-1957, n. 34.
[13]. Oração atribuída a S. Francisco de Assis.


(D. Javier Echevarría excerto da carta do mês de julho de 2016)
© Prælatura Sanctæ Crucis et Operis Dei

Maria Madalena: a apóstola dos apóstolos

Todas as mulheres cristãs, sem necessidade do sacramento da Ordem, podem e devem ser, sejam leigas ou consagradas, solteiras ou casadas, apóstolas de apóstolos, como Maria Madalena.

Com data de 3 de Junho de 2016, o Papa Francisco, através de um dos seus mais próximos e valiosos colaboradores, o Cardeal Robert Sarah, prefeito para a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, decretou que a celebração litúrgica de Santa Maria Madalena passasse a ser festa, a realizar todos os anos no dia 22 de Julho, que era já o da sua memória.

Esta promoção litúrgica da santa de Magdala ocorre por exigência de vários critérios pastorais que, no referido decreto, sumariamente se referem: “Na actualidade, quando a Igreja é chamada a reflectir mais profundamente sobre a dignidade da mulher, a nova evangelização e a grandeza do mistério da misericórdia divina, pareceu conveniente que o exemplo de Santa Maria Madalena fosse também proposto aos fiéis de uma forma mais adequada. Com efeito, esta mulher conhecida por ter amado Cristo e por ter sido muito amada por Cristo, chamada por São Gregório Magno ‘testemunha da divina misericórdia’ e por São Tomás de Aquino ‘a apóstola dos apóstolos’, pode ser hoje proposta aos fiéis como paradigma do serviço das mulheres na Igreja”.

A este propósito, o secretário da Congregação para o Culto Divino, arcebispo Arthur Roche, muito justamente recordou que “foi João Paulo II quem dedicou uma grande atenção, não só à importância das mulheres na missão do próprio Cristo e da Igreja, mas também, em particular, ao especial papel de Maria de Magdala, como sendo a primeira testemunha que viu o ressuscitado, e a primeira mensageira que anunciou a ressurreição do Senhor aos apóstolos (cfr. Mulieris dignitatem, n. 16)”.

Questão mais difícil é a de apurar quem foi, de facto, Maria Madalena. No passado, houve quem a identificasse com a pecadora que derramou o perfume em casa de Simão, o fariseu; mas a moderna exegese desmente essa identificação. Talvez essa confusão tenha originado a má fama que, desde então, persegue esta santa. Com efeito, a tradição popular imputa-lhe um passado luxurioso, que a Bíblia, contudo, não corrobora.

Sempre foram muito pouco indulgentes os homens para com os pecados desta natureza, que ainda hoje são considerados dos mais vergonhosos. No entanto, aos olhos de Deus, pode ser mais grave o orgulho ou a ira de um coração que, embora inocente de qualquer pecado carnal é, afinal, mais impuro. Por isso, Jesus não deixa de reprovar a soberba dos que, como os fariseus, se consideravam a si mesmos justos e desprezavam as pecadoras públicas que, no entanto, os iriam preceder no reino dos Céus. Mas, mesmo inocente desses pecados, Maria Madalena também teria as suas culpas, pois dela se diz que “tinham saído sete demónios” (Lc 8, 2).

Mais importante do que averiguar o passado, mais ou menos pecaminoso, de Maria Madalena, interessa a sua virtude, o seu amor a Cristo, porque também ela, como aliás todos nós, só pôde ser perdoada no amor, como Jesus ensinou ao farisaico Simão: “Estão perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou” (Lc 7, 47).

Os santos não foram, ao contrário do que uma certa mentalidade puritana tende a crer, os que nunca pecaram, ou os que pecaram pouco, mas os que muito amaram, mesmo tendo pecado, alguns até muito. A santidade cristã não é a suprema sublimação do impoluto, mas a perfeição da caridade, sem a qual a fé, a pobreza, e mesmo a mais pura castidade nada valem (cfr. 1Cor 13, 1-3).

Maria Madalena foi uma grande santa porque amou muito e foi também muito amada por Cristo. Não ao jeito que certos ignaros gostam agora de romancear, em novelas de cordel que talvez sejam best-sellers comerciais, mas que nada têm de verídico, nem de verosímil. Desmente-os a reverência da boa mulher de Magdala para com o seu Mestre e Senhor, a quem trata com indiscutível amor, mas também com o respeito devido pela criatura ao Criador. Por isso, quando finalmente o descobre naquele que antes julgara ser o hortelão, não o trata familiarmente pelo seu nome próprio, como seria de esperar entre cônjuges ou amantes, mas com a deferência que a discípula deve ao seu Mestre (Jo 20, 16). Também as palavras que Jesus opõe ao ímpeto da sua esfusiante alegria quando, por fim, o reconhece (Jo 20, 17), assinala, sem lugar para dúvidas, a distância sempre observada entre a humilde serva e o seu divino Senhor.

A sua fé afirma-se sobretudo na gloriosa ressurreição do seu Mestre, de que ela será, por especialíssima graça, primeira testemunha. Como escreveu Arthur Roche, “precisamente porque foi testemunha ocular de Cristo ressuscitado, foi também, por outro lado, a primeira em dar testemunho d’Ele aos apóstolos”. Deste modo converteu-se em evangelista, ou seja, em mensageira que anuncia a boa nova da ressurreição do Senhor.

A elevação a festa da comemoração litúrgica de Maria Madalena expressa, em termos litúrgicos, o reconhecimento da sua qualidade de apóstola: “por isso – como disse o secretário da Congregação para o Culto Divino – é justo que a celebração litúrgica desta mulher adquira o mesmo grau de festa dado às celebrações dos apóstolos no Calendário Romano Geral e que se destaque a especial missão desta mulher, que é exemplo e modelo para todas as mulheres na Igreja”.

Os que pretendem a promoção das mulheres na Igreja por via da sua clericalização, talvez pensem que esta reforma litúrgica prenuncia a sua admissão ao sacerdócio ministerial, mas é mais lógico que queira dizer exactamente o contrário. Com efeito, se Maria Madalena, sem ter nunca recebido o diaconado, nem o presbiterado ou o episcopado, pôde ser e de facto foi apóstola, também todas as mulheres cristãs, sem necessidade do sacramento da Ordem em nenhum dos seus três graus, podem e devem ser, sejam leigas ou consagradas, solteiras ou casadas, não só apóstolas, mas apóstolas de apóstolos, como Santa Maria Madalena!

Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada in Observador de 22.07.2017

(seleção de imagem 'Spe Deus')