A anedota é emblemática da situação dos evangelhos da infância. Textos fascinantes, muito conhecidos no seu conjunto mas na realidade muito difíceis, constituem um desafio e um encanto para quem os lê e estuda. Assim como encanto e desafio constitui o livro - terceiro e último de uma trilogia única na história do papado - que Bento XVI dedicou expressamente a estas páginas evangélicas, tão escarnas quanto densas de significado, cada uma delas "narração em miniatura, mas substancial, do Evangelho", segundo a definição de Brown. Desde a promessa da primeira parte da obra dedicada a Jesus de Nazaré e publicada em 2007, o Papa tinha anunciado a segunda sobre as narrações da infância, que então esperava incluir no segundo volume e que ao contrário, quando ele foi publicado em 2010, foi adiada para um "pequeno fascículo".
Com isto a seriedade da pesquisa histórica não é diminuída, mas aumenta". E a pergunta fundamental que abre a terceira parte é a que Pilatos dirigiu a Jesus (Jo 19, 9) e em volta da qual se desenrola toda a obra do Papa; "De onde és tu?". Pergunta que estimula o caminho dos magos, nos quais o Pontífice vê "a expectativa interior do espírito humano, o movimento das religiões e da razão humana em direcção a Cristo". O bater à porta dos magos do exegeta incrédulo evoca então o que é descrito no Apocalipse (3, 20): "Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo".
GIOVANNI MARIA VIAN - Diretor
(© L'Osservatore Romano - 24 de Novembro de 2012)