
Na sua homilia, Bento XVI deteve-se na contemplação meditada destas duas representações, fazendo notar que o que mais salta à vista é o rosto dos dois Apóstolos.
Surpreendentemente, Paulo é representado como um homem de idade, não obstante o artista soubesse bem que a conversão no caminho de Damasco ocorreu quando Saulo era um adulto ainda jovem. Vale a pena aprofundar o sentido desta representação.
“O rosto de Saulo/Paulo - que é afinal o do próprio artista, já velho, inquieto, que procura a luz da verdade – representa o ser humano carecido de uma luz superior. É a luz da graça divina, indispensável para adquirir uma nova vista, de modo a advertir a realidade orientada para a esperança que vos espera nos céus…”
Iluminado do Alto, à luz do Ressuscitado, não obstante toda a sua dramaticidade, o rosto de Paulo inspira paz, infunde segurança, introduzindo-nos assim num nível mais profundo:
“Aqui, portanto, no rosto de Paulo, podemos já encontrar o coração da mensagem espiritual desta Capela: o prodígio da graça de Cristo, que transforma e renova o homem mediante a luz da sua verdade e do seu amor. Nisto consiste a novidade da conversão, da chamada à fé, que encontra a sua realização no mistério da Cruz”.

“Quem vem meditar nesta Capela – afirmou o Papa – não pode deixar de contemplar a radicalidade da questão que a Cruz nos coloca: o drama do mistério pascal: a Cruz de Cristo, Chefe e Cabeça da Igreja, e a cruz de Pedro, seu Vigário na terra”.
Bento XVI observou ainda que há como que uma troca de olhares entre os dois frescos: embora sem respeitar a cronologia dos factos, Miguel Ângelo apresenta Pedro a contemplar, na hora da sua morte, a iluminação de Paulo no momento da conversão:
“É como se Pedro, na hora da suprema provação, procurasse aquela luz que deu a Paulo a verdadeira fé. E assim, neste sentido, os dois ícones podem-se tornar em dois actos de um único drama: o drama do Mistério pascal: Cruz e Ressurreição, morte e vida, pecado e graça”.
Nesta Capela, que continuará a ser reservada ao Papa e seus directos colaboradores da Cúria, emerge – das imagens de que está repleta – aquele desígnio de salvação levado a cumprimento por Cristo, como refere a Carta aos Filipenses.
“Para quem vem rezar nesta Capela, e antes de mais para o Papa, Pedro e Paulo tornam-se mestres na fé. Com o seu testemunho convidam a ir em profundidade, a meditar em silêncio o mistério da Cruz, que acompanha a Igreja até ao fim dos tempos, e a acolher a luz da fé, graças à qual a Comunidade apostólica pode estender até aos confins da terra a acção missionária e evangelizadora que lhe confiou Cristo ressuscitado”.
A concluir, o Papa referiu ainda o mistério da Eucaristia, “o sacramento em que se concentra toda a obra da Redenção: em Jesus Eucaristia (disse) podemos contemplar a transformação da morte em vida, da violência em amor”:
“Aqui, tudo – poderíamos dizer – conflui num mesmo único hino à vitória da vida e da graça sobre a morte e sobre o pecado, numa sinfonia – altamente sugestiva - de louvor e de amor a Cristo redentor”.
(Fonte: site Radio Vaticana)