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segunda-feira, 5 de abril de 2010
Bento XVI, cinco anos debaixo de fogo
De Ratisbona aos lefebvrianos, do Concílio à pedofilia
O Papa governa com o pensamento e a oração
Foi a 10 de Março passado. Enquanto os casos dos sacerdotes acusados de terem cometido abusos sobre menores invadiam a Alemanha, na Praça de São Pedro, Bento XVI explicava a sua ideia de governo da Igreja; tomando o exemplo de São Boaventura, afirmava que, para ele, «governar não é simplesmente fazer, é sobretudo pensar e rezar». «Para São Boaventura», prosseguia, «não se governa a Igreja apenas mediante ordens e estruturas, mas conduzindo e iluminando as almas.» Desde esse dia 10 de Março, Bento XVI não voltou a referir-se a este tema; mas, reagiu às acusações referentes à gestão da Igreja, que têm ido num crescendo de intensidade – as mais recentes foram publicadas no New York Times, que refere o caso de dois sacerdotes pedófilos, o americano Lawrence C. Murphy e o alemão Peter Hullermann, para pôr em causa o Cardeal Ratzinger, Prefeito do ex-Santo Ofício desde 1981 –, pondo em prática os ensinamentos do teólogo franciscano; ou seja, dando a conhecer o seu «pensamento iluminado», que é o que pretende ser a carta pastoral à Igreja da Irlanda.
E sempre foi assim, no decurso dos seus cinco anos de pontificado, que completará no próximo dia 19 de Abril. As palavras são o principal modo como o Papa conduz e se dirige à Igreja, ciente que está de que o pensamento cristão autêntico é a verdadeira «espada» lançada contra o mundo. «Note-se que não se trata de uma novidade», salienta o vaticanista Luigi Accattoli. «Já noutros momentos houve reacções furiosas ao pensamento do Papa.» Qual foi então o elemento que desencadeou a tempestade? «A ideia de que o Papa pretende voltar atrás, aos anos que antecederam o Concílio, aos anos obscuros da época tridentina; de que as suas palavras são retrógradas, quando comparadas com a cultura contemporânea, com o progresso dos novos tempos. Paulo VI, que começou por ser a esperança da cultura mediática de tendência “liberal”, tornou-se de repente um demónio ao escrever a Humanae Vitae; não foi por acaso que, em 1973, Vittorio Gorresio escreveu “O Papa e o demónio”, ou que Carlo Falconi, ex-sacerdote e vaticanista, publicou em 1978 “A viragem de Paulo VI”, entendendo por viragem o acento pré-conciliar que Montini pretendia conferir ao seu pontificado com a publicação da Humanae Vitae. João Paulo II foi alvo das mesmas acusações. Até 1989, Wojtyla era uma esperança para toda a gente; após a queda do Muro de Berlim, o seu pensamento deixou de ser útil, e começaram a chover as críticas. Porém, do ponto de vista da imprensa, o mais retrógrado era Ratzinger. “Restauração” foi a palavra que ocorreu nos títulos dos jornais que, em 1985, anteciparam a publicação do seu “Relatório sobre a fé”, escrito de parceria com Vittorio Messori; e “restauração” era quase um sinónimo de infâmia.»
Tudo começa a 22 de Dezembro de 2005, quando Bento XVI faz o seu primeiro discurso à Cúria Romana, lançando um desafio a quantos gostariam de uma Igreja, não tanto «para o mundo», ou «próxima do mundo», mas de uma Igreja «do mundo». Referindo-se ao Concílio, Ratzinger afirma que não foi uma ruptura com o passado, salientando que aqueles que insistem nesta interpretação mais não fazem do que «alinhar com as simpatias dos media e com uma parte da teologia contemporânea». «Foi a 22 de Dezembro de 2005 que toda a gente percebeu definitivamente quem é Ratzinger», observa Benny Lai, o decano dos vaticanistas. «Foi nesta altura que todos intuíram com quem teriam de se haver. Até 2005, ainda havia quem tivesse a esperança de que o primeiro Ratzinger, aquele que fora considerado mais progressista, tinha regressado; mas não foi isso que aconteceu. Já no tempo do Concílio muitos se tinham enganado, tomando Ratzinger por um teólogo progressista; até o Cardeal Giuseppe Siri teve essa opinião: quando o conheceu, não ficou com boa opinião dele. Mas Ratzinger acabou por mostrar que não correspondia a essa designação que lhe tinha sido inicialmente aplicada. E é essa mudança que ainda hoje incomoda, fora e dentro da Igreja.»
Desde o discurso à Cúria Romana até aos nossos dias, o «pensamento de Ratzinger» foi-se manifestando de muitas formas, desencadeando reacções indignadas de muitos. «Naturalmente que Ratzinger está em desvantagem relativamente a Wojtyla», comenta ainda Benny Lai, «porque, para ele, as multidões não têm uma função terapêutica, como tinham para o Papa polaco. Mas o problema está na origem. Com multidões ou sem elas, são os conteúdos dos seus discursos que incomodam e que geram aversões. E isto aplica-se ao caso dos sacerdotes pedófilos, porque incomoda a muita gente, dentro da Igreja, que o Papa continue a insistir no celibato dos sacerdotes. E, no entanto, o Papa não se deixa perturbar. Como aconteceu quando lhe negaram a possibilidade de falar na Universidade della Sapienza: não se apresentou na aula magna da instituição, mas não deixou de lhe fazer chegar o discurso que tinha escrito, e deixou um sinal: “Não pretendo impor a fé”, uma declaração que foi título de todos os jornais. E o mesmo se passou quando foi a África. O Papa afirmou que a SIDA não se resolve com a distribuição de preservativos, e foi uma tempestade; foi atacado pela intelligentsia laica de metade da Europa. Mas estas declarações estavam correctas: combate-se a SIDA através de uma educação do homem que o leve a olhar de outra maneira para o seu corpo; o contrário é uma concepção narcisista e auto-referencial da sexualidade.»
Já em Ratisbona tinha havido uma reacção importante a Bento XVI. O Papa falou das relações entre fé e religião, chamando a atenção para o nexo entre religião e civilização, e salientando que converter por via da violência vai contra a religião e contra Deus. A citação de uma frase de Manuel II Paleólogo, de acordo com o qual Maomé introduziu apenas «coisas más e desumanas tais como a sua norma de propagar, através da espada, a fé que pregava», suscitou a indignação do mundo muçulmano. «Aquela página», explica Piero Gheddo, missionário, jornalista e escritor do Pontifício Instituto das Missões Exteriores, «é sintomática da natureza deste pontificado. Parte do mundo muçulmano reagiu com indignação; e contudo, as palavras do Papa permaneceram. Porque não se pode fugir às suas palavras. Na verdade, este discurso produziu frutos; há um ano, por exemplo, estive no Bangladesh, onde vários muçulmanos estão a trabalhar sobre palavras do Papa, nomeadamente sobre a relação que deve existir entre fé e religião.»
Mas Ratzinger não fere apenas quando fala, fere também quando toma decisões que têm incidência no coração da vida da Igreja. Como por exemplo a assinatura da Summorum Pontificum, que liberalizou o rito antigo, e a revogação da excomunhão aos bispos lefebvrianos. O restabelecimento da Missa antiga suscitou reacções principalmente em França. «O que responde àqueles que, em França, receiam que Summorum Pontificum assinale um recuo relativamente às grandes intuições do Vaticano II?», perguntaram os jornalistas ao Papa em Setembro de 2008, no avião que o levava a Paris. «Que se trata de um receio infundado», respondeu o Papa, «porque este Motu proprio é um simples acto de tolerância, com fins pastorais, dirigido às pessoas que foram formadas naquela liturgia, que a amam, a conhecem, e com ela desejam viver.» A acusação é sempre a mesma: o Papa pretende regressar aos tempos anteriores ao Concílio; ou seja, é contra a modernidade. Foi a mesma acusação que muitos lhe fizeram quando revogou a excomunhão aos quatro bispos lefebvrianos; e também desta vez Ratzinger reagiu, por um lado, explicando que «não se pode congelar a autoridade magisterial da Igreja no ano de 1962», e por outro, recordando àqueles que se afirmam como grande defensores do Concílio que «quem pretende ser obediente ao Vaticano II tem de aceitar a fé professada no decurso dos séculos e não pode cortar as raízes das quais vive a árvore.»
É sempre ao Vaticano II que regressamos. A revogação da excomunhão aos lefebvrianos foi, para o mundo hebraico, um regresso a um passado hostil. Com efeito, um destes quatro bispos é Richard Williamson, negacionista da Shoah, e Bento XVI viu-se forçado a reafirmar uma noção para ele óbvia, a de que não partilha, em nenhum sentido, esta posição do bispo. Mas compreende-se que uma parte do mundo hebraico não tenha ficado satisfeita. De resto, é durante a visita a Auschwitz e no decurso da viagem à Terra Santa que diversos rabinos de cidades importantes, principalmente europeias, criticam Ratzinger, considerando insuficientes as palavras que o Papa dedicou aos judeus; de Ratzinger, o alemão, exigia-se mais, mesmo tratando-se de um dos teólogos que mais trabalharam no sentido da reaproximação do judaísmo. Porém, e não obstante todas as pressões, o Papa prossegue o seu caminho, optando por tornar pública, a poucos dias da sua visita à sinagoga de Roma, a assinatura do decreto sobre as virtudes heróicas de Pio XII, que constitui o último passo antes da beatificação. O mundo hebraico reagiu, mas o Papa tinha tomado esta decisão e, na sinagoga, retoma uma tese já muitas vezes exposta: «A sede apostólica desenvolve as suas acções de assistência aos judeus de forma muitas vezes oculta e discreta.»
Há também um certo mundo protestante que não compreende Ratzinger. É de Novembro passado a Constituição Apostólica Anglicanorum Coetibus, em razão da qual os grupos de anglicanos que o desejem podem regressar a Roma. O Papa explicou o gesto como uma resposta a uma solicitação dos mesmos anglicanos, mas muitos deles – e mesmo uma parte da Igreja Católica – não o compreenderam e acusaram-no de só saber pescar «para a direita», ou seja, entre os sectores da cristandade que estão descontentes com as derivas progressistas e «liberais» das próprias igrejas. A 1 de Fevereiro passado, o Papa respondeu a estas acusações, declarando aos Bispos de Inglaterra e do País de Gales, em visita ad limina: «Peço-vos que sejais generosos na aplicação das directivas da constituição apostólica destinada a auxiliar aqueles grupos de anglicanos que desejem entrar em plena comunhão com a Igreja Católica; estou convencido de que estes grupos serão uma bênção para toda a Igreja.» «Tenho andado pelo mundo e conhecido diversas realidades anglicanas», comenta Piero Gheddo. «Por que motivo desejam regressar à comunhão com Roma? Porque uma Igreja que se abre ao mundo de forma leviana, aceitando a ordenação de mulheres e o casamento homossexual, é uma igreja sem sentido. O Papa combate pela salvaguarda de uma Igreja ancorada na verdade e é por esse motivo que é hostilizado.»
Paolo Rodari in ‘Il Foglio’
(Agradecimento: ‘É o Carteiro’)
O Papa governa com o pensamento e a oração
Foi a 10 de Março passado. Enquanto os casos dos sacerdotes acusados de terem cometido abusos sobre menores invadiam a Alemanha, na Praça de São Pedro, Bento XVI explicava a sua ideia de governo da Igreja; tomando o exemplo de São Boaventura, afirmava que, para ele, «governar não é simplesmente fazer, é sobretudo pensar e rezar». «Para São Boaventura», prosseguia, «não se governa a Igreja apenas mediante ordens e estruturas, mas conduzindo e iluminando as almas.» Desde esse dia 10 de Março, Bento XVI não voltou a referir-se a este tema; mas, reagiu às acusações referentes à gestão da Igreja, que têm ido num crescendo de intensidade – as mais recentes foram publicadas no New York Times, que refere o caso de dois sacerdotes pedófilos, o americano Lawrence C. Murphy e o alemão Peter Hullermann, para pôr em causa o Cardeal Ratzinger, Prefeito do ex-Santo Ofício desde 1981 –, pondo em prática os ensinamentos do teólogo franciscano; ou seja, dando a conhecer o seu «pensamento iluminado», que é o que pretende ser a carta pastoral à Igreja da Irlanda.
E sempre foi assim, no decurso dos seus cinco anos de pontificado, que completará no próximo dia 19 de Abril. As palavras são o principal modo como o Papa conduz e se dirige à Igreja, ciente que está de que o pensamento cristão autêntico é a verdadeira «espada» lançada contra o mundo. «Note-se que não se trata de uma novidade», salienta o vaticanista Luigi Accattoli. «Já noutros momentos houve reacções furiosas ao pensamento do Papa.» Qual foi então o elemento que desencadeou a tempestade? «A ideia de que o Papa pretende voltar atrás, aos anos que antecederam o Concílio, aos anos obscuros da época tridentina; de que as suas palavras são retrógradas, quando comparadas com a cultura contemporânea, com o progresso dos novos tempos. Paulo VI, que começou por ser a esperança da cultura mediática de tendência “liberal”, tornou-se de repente um demónio ao escrever a Humanae Vitae; não foi por acaso que, em 1973, Vittorio Gorresio escreveu “O Papa e o demónio”, ou que Carlo Falconi, ex-sacerdote e vaticanista, publicou em 1978 “A viragem de Paulo VI”, entendendo por viragem o acento pré-conciliar que Montini pretendia conferir ao seu pontificado com a publicação da Humanae Vitae. João Paulo II foi alvo das mesmas acusações. Até 1989, Wojtyla era uma esperança para toda a gente; após a queda do Muro de Berlim, o seu pensamento deixou de ser útil, e começaram a chover as críticas. Porém, do ponto de vista da imprensa, o mais retrógrado era Ratzinger. “Restauração” foi a palavra que ocorreu nos títulos dos jornais que, em 1985, anteciparam a publicação do seu “Relatório sobre a fé”, escrito de parceria com Vittorio Messori; e “restauração” era quase um sinónimo de infâmia.»
Tudo começa a 22 de Dezembro de 2005, quando Bento XVI faz o seu primeiro discurso à Cúria Romana, lançando um desafio a quantos gostariam de uma Igreja, não tanto «para o mundo», ou «próxima do mundo», mas de uma Igreja «do mundo». Referindo-se ao Concílio, Ratzinger afirma que não foi uma ruptura com o passado, salientando que aqueles que insistem nesta interpretação mais não fazem do que «alinhar com as simpatias dos media e com uma parte da teologia contemporânea». «Foi a 22 de Dezembro de 2005 que toda a gente percebeu definitivamente quem é Ratzinger», observa Benny Lai, o decano dos vaticanistas. «Foi nesta altura que todos intuíram com quem teriam de se haver. Até 2005, ainda havia quem tivesse a esperança de que o primeiro Ratzinger, aquele que fora considerado mais progressista, tinha regressado; mas não foi isso que aconteceu. Já no tempo do Concílio muitos se tinham enganado, tomando Ratzinger por um teólogo progressista; até o Cardeal Giuseppe Siri teve essa opinião: quando o conheceu, não ficou com boa opinião dele. Mas Ratzinger acabou por mostrar que não correspondia a essa designação que lhe tinha sido inicialmente aplicada. E é essa mudança que ainda hoje incomoda, fora e dentro da Igreja.»
Desde o discurso à Cúria Romana até aos nossos dias, o «pensamento de Ratzinger» foi-se manifestando de muitas formas, desencadeando reacções indignadas de muitos. «Naturalmente que Ratzinger está em desvantagem relativamente a Wojtyla», comenta ainda Benny Lai, «porque, para ele, as multidões não têm uma função terapêutica, como tinham para o Papa polaco. Mas o problema está na origem. Com multidões ou sem elas, são os conteúdos dos seus discursos que incomodam e que geram aversões. E isto aplica-se ao caso dos sacerdotes pedófilos, porque incomoda a muita gente, dentro da Igreja, que o Papa continue a insistir no celibato dos sacerdotes. E, no entanto, o Papa não se deixa perturbar. Como aconteceu quando lhe negaram a possibilidade de falar na Universidade della Sapienza: não se apresentou na aula magna da instituição, mas não deixou de lhe fazer chegar o discurso que tinha escrito, e deixou um sinal: “Não pretendo impor a fé”, uma declaração que foi título de todos os jornais. E o mesmo se passou quando foi a África. O Papa afirmou que a SIDA não se resolve com a distribuição de preservativos, e foi uma tempestade; foi atacado pela intelligentsia laica de metade da Europa. Mas estas declarações estavam correctas: combate-se a SIDA através de uma educação do homem que o leve a olhar de outra maneira para o seu corpo; o contrário é uma concepção narcisista e auto-referencial da sexualidade.»
Já em Ratisbona tinha havido uma reacção importante a Bento XVI. O Papa falou das relações entre fé e religião, chamando a atenção para o nexo entre religião e civilização, e salientando que converter por via da violência vai contra a religião e contra Deus. A citação de uma frase de Manuel II Paleólogo, de acordo com o qual Maomé introduziu apenas «coisas más e desumanas tais como a sua norma de propagar, através da espada, a fé que pregava», suscitou a indignação do mundo muçulmano. «Aquela página», explica Piero Gheddo, missionário, jornalista e escritor do Pontifício Instituto das Missões Exteriores, «é sintomática da natureza deste pontificado. Parte do mundo muçulmano reagiu com indignação; e contudo, as palavras do Papa permaneceram. Porque não se pode fugir às suas palavras. Na verdade, este discurso produziu frutos; há um ano, por exemplo, estive no Bangladesh, onde vários muçulmanos estão a trabalhar sobre palavras do Papa, nomeadamente sobre a relação que deve existir entre fé e religião.»
Mas Ratzinger não fere apenas quando fala, fere também quando toma decisões que têm incidência no coração da vida da Igreja. Como por exemplo a assinatura da Summorum Pontificum, que liberalizou o rito antigo, e a revogação da excomunhão aos bispos lefebvrianos. O restabelecimento da Missa antiga suscitou reacções principalmente em França. «O que responde àqueles que, em França, receiam que Summorum Pontificum assinale um recuo relativamente às grandes intuições do Vaticano II?», perguntaram os jornalistas ao Papa em Setembro de 2008, no avião que o levava a Paris. «Que se trata de um receio infundado», respondeu o Papa, «porque este Motu proprio é um simples acto de tolerância, com fins pastorais, dirigido às pessoas que foram formadas naquela liturgia, que a amam, a conhecem, e com ela desejam viver.» A acusação é sempre a mesma: o Papa pretende regressar aos tempos anteriores ao Concílio; ou seja, é contra a modernidade. Foi a mesma acusação que muitos lhe fizeram quando revogou a excomunhão aos quatro bispos lefebvrianos; e também desta vez Ratzinger reagiu, por um lado, explicando que «não se pode congelar a autoridade magisterial da Igreja no ano de 1962», e por outro, recordando àqueles que se afirmam como grande defensores do Concílio que «quem pretende ser obediente ao Vaticano II tem de aceitar a fé professada no decurso dos séculos e não pode cortar as raízes das quais vive a árvore.»
É sempre ao Vaticano II que regressamos. A revogação da excomunhão aos lefebvrianos foi, para o mundo hebraico, um regresso a um passado hostil. Com efeito, um destes quatro bispos é Richard Williamson, negacionista da Shoah, e Bento XVI viu-se forçado a reafirmar uma noção para ele óbvia, a de que não partilha, em nenhum sentido, esta posição do bispo. Mas compreende-se que uma parte do mundo hebraico não tenha ficado satisfeita. De resto, é durante a visita a Auschwitz e no decurso da viagem à Terra Santa que diversos rabinos de cidades importantes, principalmente europeias, criticam Ratzinger, considerando insuficientes as palavras que o Papa dedicou aos judeus; de Ratzinger, o alemão, exigia-se mais, mesmo tratando-se de um dos teólogos que mais trabalharam no sentido da reaproximação do judaísmo. Porém, e não obstante todas as pressões, o Papa prossegue o seu caminho, optando por tornar pública, a poucos dias da sua visita à sinagoga de Roma, a assinatura do decreto sobre as virtudes heróicas de Pio XII, que constitui o último passo antes da beatificação. O mundo hebraico reagiu, mas o Papa tinha tomado esta decisão e, na sinagoga, retoma uma tese já muitas vezes exposta: «A sede apostólica desenvolve as suas acções de assistência aos judeus de forma muitas vezes oculta e discreta.»
Há também um certo mundo protestante que não compreende Ratzinger. É de Novembro passado a Constituição Apostólica Anglicanorum Coetibus, em razão da qual os grupos de anglicanos que o desejem podem regressar a Roma. O Papa explicou o gesto como uma resposta a uma solicitação dos mesmos anglicanos, mas muitos deles – e mesmo uma parte da Igreja Católica – não o compreenderam e acusaram-no de só saber pescar «para a direita», ou seja, entre os sectores da cristandade que estão descontentes com as derivas progressistas e «liberais» das próprias igrejas. A 1 de Fevereiro passado, o Papa respondeu a estas acusações, declarando aos Bispos de Inglaterra e do País de Gales, em visita ad limina: «Peço-vos que sejais generosos na aplicação das directivas da constituição apostólica destinada a auxiliar aqueles grupos de anglicanos que desejem entrar em plena comunhão com a Igreja Católica; estou convencido de que estes grupos serão uma bênção para toda a Igreja.» «Tenho andado pelo mundo e conhecido diversas realidades anglicanas», comenta Piero Gheddo. «Por que motivo desejam regressar à comunhão com Roma? Porque uma Igreja que se abre ao mundo de forma leviana, aceitando a ordenação de mulheres e o casamento homossexual, é uma igreja sem sentido. O Papa combate pela salvaguarda de uma Igreja ancorada na verdade e é por esse motivo que é hostilizado.»
Paolo Rodari in ‘Il Foglio’
(Agradecimento: ‘É o Carteiro’)
Os pontos nos “i’s” - A IGREJA E A PEDOFILIA – Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada (inédito)
Entrevista concedida ao jornal Expresso para efeitos de elaboração de um artigo sobre o tema e não utilizada, diria, é pena…
A expressão os pontos nos “i’s” é da minha responsabilidade.
Obrigado!
JPR
1. Qual a sua opinião sobre o fenómeno da pedofilia na Igreja Católica?
Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada: Como é evidente, não posso deixar de lamentar todos os crimes de abusos de menores. Não só lamento sinceramente todos os casos de pedofilia como espero que as entidades civis e eclesiais competentes tomem as medidas adequadas para a total erradicação deste fenómeno na sociedade e na Igreja.
Não ignoro, contudo, que a esmagadora maioria destes casos ocorre no seio das famílias, sobretudo das mais disfuncionais, e das instituições do Estado, como o triste caso Casa Pia demonstrou, e não nas instituições da Igreja que, embora também vulneráveis, são, por regra, exemplares no seu desinteressado e muitas vezes heróico serviço aos mais necessitados.
2. Como explica o facto deste fenómeno ter assolado a Igreja Católica?
Pe. GPA: Há um manifesto exagero na afirmação de que este fenómeno tem «assolado a Igreja». Temo que o sensacionalismo criado à volta destes casos e o modo como a Igreja Católica tem sido a eles associada por certa imprensa não seja de todo inocente.
3. Quer exemplificar?
Pe. GPA: Com certeza. Segundo Massimo Introvigne, que cita um estudo de 2004 do John Jay College of Criminal Justice, foram 958 os padres acusados de pedofilia nos Estados Unidos, num período de 42 anos, tendo resultado a condenação de 54, aproximadamente um por ano. Se se tiver em conta que nesse mesmo lapso de tempo foram condenados pelo crime de pedofilia 6.000 professores de ginástica e treinadores desportivos, é necessário concluir que o principal alvo desta campanha mediática não é a pedofilia, que é apenas um pretexto, mas a Igreja e, mais especificamente, o Papa e o sacerdócio católico.
Com efeito, é significativo que, citando Jerkins, a maior parte dos casos de abusos de menores protagonizados nos Estados Unidos por clérigos tenham sido perpetrados por pastores protestantes e não por padres católicos e, no entanto, contrariando a mais elementar justiça e objectividade, são apenas estes últimos, em termos mediáticos, os bodes expiatórios...
4. Entende então que se trata de uma perseguição contra a Igreja Católica?
Pe. GPA: Certamente. Qualquer pessoa de bem, mesmo não sendo católica, vê com preocupação esta crescente onda de intolerância laicista, porque sabe que, hostilizada a Igreja Católica ou neutralizada a sua acção social, quem fica a perder é a família, porque nem o Estado nem nenhuma outra instituição é capaz de assegurar o serviço que a Igreja Católica presta às famílias portuguesas, sobretudo às mais carenciadas.
5. A Igreja portuguesa está a investigar com a necessária diligência as suspeitas sobre padres pedófilos?
Pe. GPA: Muito embora a hierarquia eclesiástica não possa, nem deva, ignorar as suspeitas de padres pedófilos, não só não é sua principal missão investigar estes casos como também não conta com estruturas adequadas para uma tal missão.
Mais do que a lógica da suspeita e da delação, tão ao gosto dos novos fariseus, a Igreja há dois mil anos que se rege pela lógica da confiança e do perdão, seguindo o exemplo do seu Mestre que, embora provocando a indignação dos hipócritas, desculpou a adúltera, como também perdoou a tripla traição de Pedro. Mais do que poder ou tribunal, a Igreja é comunhão e família e, por isso, alegra-se e sofre com todas as glórias e misérias dos seus filhos.
A Igreja, que é santa na sua origem e nos seus fins, é pecadora nos seus membros militantes que, contudo, não enjeita, se neles reconhece um autêntico propósito de conversão.
6. Quer com isso dizer que a Igreja condescende com a pedofilia do seu clero?
Pe. GPA: De modo nenhum, pois a Igreja não condescende nunca com a prevaricação de quantos, investidos na especialíssima responsabilidade do ministério sacerdotal, desonram essa sua condição.
Possivelmente, a condenação mais severa de todo o Evangelho é a que Cristo dirige precisamente aos pedófilos e a quantos são motivo de escândalo para os mais novos. Esse ensinamento evangélico, como todos os outros, não é letra morta na doutrina, nem na praxe eclesial.
7. Pode dar alguns exemplos de documentos da Igreja sobre esta questão?
Pe. GPA: Sem a pretensão de ser exaustivo, permita-me que, a este propósito, recorde alguns dos mais recentes documentos da Santa Sé sobre este particular:
- a instrução Crimen sollicitacionis, de 1922 e que, em 1962, o Beato João XXIII reafirmou e na qual se esclarece a obrigação moral de denunciar estes casos;
- o Código de Direito Canónico, que reafirma a excomunhão automática, ou seja, a imediata expulsão da Igreja, do confessor que alicia o penitente, qualquer que seja a sua idade ou género, para um acto de natureza sexual;
- o Catecismo da Igreja Católica, que renova a condenação da pedofilia;
- e o documento De delictis gravioribus, de 2001, que regulamenta o Motu Proprio Sacramentum Sanctitatis tutela, do Papa João Paulo II que, para evitar qualquer local encobrimento destes delitos, atribui a necessária competência à Congregação para a Doutrina da Fé, então presidida pelo actual Papa.
8. Não obstante esta condenação formal da pedofilia, não é verdade que tem faltado vontade política de aplicar as correspondentes sanções?
Pe. GPA: À hierarquia da Igreja não tem faltado a firmeza necessária para punir os eclesiásticos que incorreram em actos desta natureza. Foi o que aconteceu a um cardeal arcebispo de uma capital centro-europeia, que foi recluído num convento e proibido de qualquer acto público. Foi também o caso do fundador de uma prestigiada instituição religiosa, que foi também suspenso do ministério pastoral, demitido das suas funções de governo na estrutura eclesial por ele fundada, que foi sujeita a inspecção canónica, e obrigado a residir em regime de quase-detenção numa casa religiosa.
9. E se se vier a verificar algum caso no clero português?
Pe. GPA: Como se sabe, graças a Deus não há memória de nenhum sacerdote português, diocesano ou religioso, que tenha sido alguma vez condenado por um crime desta natureza. Se porventura se desse também entre nós algum caso, não tenho dúvidas de que o nosso episcopado, de acordo com as normas a que está obrigado, saberia agir com justiça e caridade.
10. Concorda com as críticas veladas de vários sectores da sociedade que acusam a Igreja de pouco fazer para garantir a total transparência destes processos? A maioria dos casos suspeitos é, regra geral, arquivado pelo Ministério Público. Segundo algumas fontes policiais, «as vítimas retraem-se mais tarde, devido ao ascendente dos alegados agressores».
Pe. GPA: Dada a minha sensibilidade cristã e formação jurídica, causa-me algum desconforto o uso e abuso de expressões tão vagas e perigosas como «críticas veladas», «casos suspeitos», «alegados agressores», porque tendem a criar uma suspeição generalizada. Há um princípio geral de inocência que não pode ser contrariado: um político, um professor, um padre ou um desempregado que seja burlão não faz da sua mesma condição todos os políticos, professores, padres ou desempregados. Se um violador que é engenheiro, como o recentemente detido, não infama todos os engenheiros, nem suscita uma caça aos engenheiros violadores, porque razão um padre pedófilo, se o houver, provoca esta tão desmedida reacção nos meios de comunicação social?!
11. Pode-se dizer que a associação entre pedofilia e sacerdócio católico não é arbitrária, na medida em que é entre os padres que tendem a verificar-se delitos desta natureza?
Pe. GPA: Não, porque uma tal pressuposição carece de fundamento, como as estatísticas mais recentes provam. Por exemplo, na Alemanha, segundo Andrea Tornielli foram notificados, desde 1995, 210.000 casos de delitos contra menores, mas apenas 94 desses casos diziam respeito a eclesiásticos, ou seja, um para cada dois mil envolvia algum sacerdote ou religioso católico. O inquérito Ryan, sobre a situação na Irlanda, é também esclarecedor porque, num universo de 1090 crimes cometidos contra menores em instituições educativas, os religiosos católicos acusados de abusos sexuais foram 23.
12. Talvez alguém entenda que, muito embora haja também pedófilos que não são padres, o crime para que mais tendem os sacerdotes católicos é o abuso de menores.
Pe. GPA: Também não é verdade porque, de acordo com Mons. Scicluna, perito da Congregação para a Doutrina da Fé, que é o organismo da Santa Sé que superintende estes casos, entre os anos 2001 e 2010, houve notícia de 300 casos de pedofilia num total de 400.000 padres. Além disso, os abusos de menores são apenas 10% de todas as acções criminais praticadas por sacerdotes católicos.
13. Mas do ponto de vista da psiquiatria, tudo leva a crer que o celibato sacerdotal é, em boa parte, responsável pelos abusos de menores realizados pelo clero católico…
Pe. GPA: Pelo contrário. Manfred Lutz, um psiquiatra especialista na matéria, afirmou que o celibato sacerdotal não só não incita à prática destes crimes como até favorece uma atitude de respeito e de ajuda aos menores. Esta conclusão científica prova-se também pelo facto de, entre os clérigos condenados por este crime, haver mais pastores protestantes, casados, do que sacerdotes católicos, celibatários, e ainda porque a grande maioria dos pedófilos são casados o que, obviamente, não pode ser usado contra o casamento.
14. Consta na opinião pública que a maioria dos casos suspeitos de padres pedófilos, não é objecto de investigação, nem de posterior procedimento criminal…
Pe. GPA: Se assim é, de facto, não é certamente por culpa da Igreja, que nada tem a ver com as investigações policiais, nem muito menos com as diligências judiciais.
Embora se tenda a crer que a Igreja e o seu clero gozam de um tratamento de excelência na sociedade portuguesa, a verdade é que não deve haver instituição pública nem classe profissional mais maltratada nos media do que a Igreja Católica e os seus sacerdotes.
15. Porque o diz?
Pe. GPA: Permita-me que lhe dê um exemplo. Há uns meses atrás, um pacato pároco português foi detido com enorme aparato por quatro ou cinco polícias trajados a rigor, como se o pobre padre de aldeia fosse um perigoso terrorista, quando na realidade era apenas um mero caçador que tinha por licenciar algumas armas. À notícia, transmitida nos noticiários televisivos, foi dado um aparato que, de não ser dramático, teria sido ridículo, até porque aquele pacífico sexagenário não representava nenhum perigo público. Não foi com certeza por acaso que se forjou toda aquela fantástica encenação, como também não foi por acaso que se convidaram as televisões…
Mas factos ocorridos há dezenas de anos numa instituição pública, como a Casa Pia, e de que foram vítimas dezenas de adolescentes, ainda não conhecem uma decisão judicial… Será isto justiça?!
16. Mas não acha que o incumprimento de uma obrigação por um padre é um escândalo?
Pe. GPA: É verdade que é exigível aos prestadores de serviços públicos uma especial responsabilidade: é razoável que o incumprimento de uma obrigação fiscal por parte um governante seja notícia, mas já o não seja se o prevaricador for um anónimo cidadão. Mas o escândalo não pode ser utilizado como arma de arremesso ideológica, sob pena de que aconteça aos padres católicos de agora o que aconteceu aos judeus alemães, durante o regime nazi.
17. Surpreendem-no estes casos de padres pedófilos?
Pe. GPA: Nenhum pecado é surpresa para nenhum padre e todos os padres sabemos que somos capazes de todos os erros e de todos os horrores. Não é por acaso que, na Semana Santa, a Igreja recorda o tristíssimo caso de Judas Iscariotes, que muito significativamente os evangelistas não silenciaram, quando poderiam tê-lo feito, a bem do prestígio da sua condição sacerdotal e do bom nome da Igreja. Graças a Deus conheço muitos padres, quer seculares como eu, quer religiosos, e confesso-lhe que não conheço nenhum que não mereça a minha admiração.
18. Tem ouvido, mesmo que rumores, de casos de pedofilia por parte de alguns padres? Ou é uma completa surpresa para si a existência deste tipo de casos, que acabam por manchar o nome da instituição secular?
Pe. GPA: Tenho uma enorme devoção por todos os meus irmãos sacerdotes, na certeza de que até no menos bom há, pelo menos, a grandeza do dom e da missão a que foi chamado. Também não ignoro que nenhum de nós, por mais qualidades que possa ter, é indigno dessa graça, pelo que nunca me surpreenderá encontrar nos outros alguma da miséria que diariamente descubro em mim. Mas, mesmo que essa constatação possa de algum modo perturbar-me, confesso-lhe que mais do que a traição de Judas, me admira a santidade e o martírio dos outros onze apóstolos. Talvez por isso, não tenho tempo para ouvir esses rumores de que fala, ou tempo para olhar para essas manchas a que alude e que não ignoro, porque prefiro contemplar a eterna beleza da Igreja, que procuro amar com todo o meu coração.
19. Já denunciou algum caso às autoridades eclesiásticas?
Pe. GPA: Denunciar é um termo que não faz parte do meu dicionário e, como padre, a minha missão não é acusar o culpado, mas perdoar o arrependido.
20. Já teve alguma suspeita de abusos por parte de algum colega seu?
Pe. GPA: Como não é meu hábito falar das vidas alheias, permita-me que, em vez de falar dos meus colegas, lhe diga o que eu desejaria que me acontecesse se caísse numa dessas situações, até porque é isso mesmo que desejo aos meus irmãos sacerdotes.
Se tivesse um dia a desgraça de incorrer nalgum comportamento menos próprio da minha condição sacerdotal, agradeceria que os meus irmãos na fé, padres ou não, tivessem a coragem de me fazerem a correcção fraterna, tal como Nosso Senhor determinou. Se o meu desvario persistisse, não obstante essa caridosa advertência, aceitaria de muito bom grado que o meu bispo utilizasse todos os meios ao seu dispor, sem excluir os civis e penais, para a minha emenda, na certeza de que essa expiação, embora dolorosa, contribuiria decerto para o bem das almas e para a minha salvação.
A expressão os pontos nos “i’s” é da minha responsabilidade.
Obrigado!
JPR
1. Qual a sua opinião sobre o fenómeno da pedofilia na Igreja Católica?
Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada: Como é evidente, não posso deixar de lamentar todos os crimes de abusos de menores. Não só lamento sinceramente todos os casos de pedofilia como espero que as entidades civis e eclesiais competentes tomem as medidas adequadas para a total erradicação deste fenómeno na sociedade e na Igreja.
Não ignoro, contudo, que a esmagadora maioria destes casos ocorre no seio das famílias, sobretudo das mais disfuncionais, e das instituições do Estado, como o triste caso Casa Pia demonstrou, e não nas instituições da Igreja que, embora também vulneráveis, são, por regra, exemplares no seu desinteressado e muitas vezes heróico serviço aos mais necessitados.
2. Como explica o facto deste fenómeno ter assolado a Igreja Católica?
Pe. GPA: Há um manifesto exagero na afirmação de que este fenómeno tem «assolado a Igreja». Temo que o sensacionalismo criado à volta destes casos e o modo como a Igreja Católica tem sido a eles associada por certa imprensa não seja de todo inocente.
3. Quer exemplificar?
Pe. GPA: Com certeza. Segundo Massimo Introvigne, que cita um estudo de 2004 do John Jay College of Criminal Justice, foram 958 os padres acusados de pedofilia nos Estados Unidos, num período de 42 anos, tendo resultado a condenação de 54, aproximadamente um por ano. Se se tiver em conta que nesse mesmo lapso de tempo foram condenados pelo crime de pedofilia 6.000 professores de ginástica e treinadores desportivos, é necessário concluir que o principal alvo desta campanha mediática não é a pedofilia, que é apenas um pretexto, mas a Igreja e, mais especificamente, o Papa e o sacerdócio católico.
Com efeito, é significativo que, citando Jerkins, a maior parte dos casos de abusos de menores protagonizados nos Estados Unidos por clérigos tenham sido perpetrados por pastores protestantes e não por padres católicos e, no entanto, contrariando a mais elementar justiça e objectividade, são apenas estes últimos, em termos mediáticos, os bodes expiatórios...
4. Entende então que se trata de uma perseguição contra a Igreja Católica?
Pe. GPA: Certamente. Qualquer pessoa de bem, mesmo não sendo católica, vê com preocupação esta crescente onda de intolerância laicista, porque sabe que, hostilizada a Igreja Católica ou neutralizada a sua acção social, quem fica a perder é a família, porque nem o Estado nem nenhuma outra instituição é capaz de assegurar o serviço que a Igreja Católica presta às famílias portuguesas, sobretudo às mais carenciadas.
5. A Igreja portuguesa está a investigar com a necessária diligência as suspeitas sobre padres pedófilos?
Pe. GPA: Muito embora a hierarquia eclesiástica não possa, nem deva, ignorar as suspeitas de padres pedófilos, não só não é sua principal missão investigar estes casos como também não conta com estruturas adequadas para uma tal missão.
Mais do que a lógica da suspeita e da delação, tão ao gosto dos novos fariseus, a Igreja há dois mil anos que se rege pela lógica da confiança e do perdão, seguindo o exemplo do seu Mestre que, embora provocando a indignação dos hipócritas, desculpou a adúltera, como também perdoou a tripla traição de Pedro. Mais do que poder ou tribunal, a Igreja é comunhão e família e, por isso, alegra-se e sofre com todas as glórias e misérias dos seus filhos.
A Igreja, que é santa na sua origem e nos seus fins, é pecadora nos seus membros militantes que, contudo, não enjeita, se neles reconhece um autêntico propósito de conversão.
6. Quer com isso dizer que a Igreja condescende com a pedofilia do seu clero?
Pe. GPA: De modo nenhum, pois a Igreja não condescende nunca com a prevaricação de quantos, investidos na especialíssima responsabilidade do ministério sacerdotal, desonram essa sua condição.
Possivelmente, a condenação mais severa de todo o Evangelho é a que Cristo dirige precisamente aos pedófilos e a quantos são motivo de escândalo para os mais novos. Esse ensinamento evangélico, como todos os outros, não é letra morta na doutrina, nem na praxe eclesial.
7. Pode dar alguns exemplos de documentos da Igreja sobre esta questão?
Pe. GPA: Sem a pretensão de ser exaustivo, permita-me que, a este propósito, recorde alguns dos mais recentes documentos da Santa Sé sobre este particular:
- a instrução Crimen sollicitacionis, de 1922 e que, em 1962, o Beato João XXIII reafirmou e na qual se esclarece a obrigação moral de denunciar estes casos;
- o Código de Direito Canónico, que reafirma a excomunhão automática, ou seja, a imediata expulsão da Igreja, do confessor que alicia o penitente, qualquer que seja a sua idade ou género, para um acto de natureza sexual;
- o Catecismo da Igreja Católica, que renova a condenação da pedofilia;
- e o documento De delictis gravioribus, de 2001, que regulamenta o Motu Proprio Sacramentum Sanctitatis tutela, do Papa João Paulo II que, para evitar qualquer local encobrimento destes delitos, atribui a necessária competência à Congregação para a Doutrina da Fé, então presidida pelo actual Papa.
8. Não obstante esta condenação formal da pedofilia, não é verdade que tem faltado vontade política de aplicar as correspondentes sanções?
Pe. GPA: À hierarquia da Igreja não tem faltado a firmeza necessária para punir os eclesiásticos que incorreram em actos desta natureza. Foi o que aconteceu a um cardeal arcebispo de uma capital centro-europeia, que foi recluído num convento e proibido de qualquer acto público. Foi também o caso do fundador de uma prestigiada instituição religiosa, que foi também suspenso do ministério pastoral, demitido das suas funções de governo na estrutura eclesial por ele fundada, que foi sujeita a inspecção canónica, e obrigado a residir em regime de quase-detenção numa casa religiosa.
9. E se se vier a verificar algum caso no clero português?
Pe. GPA: Como se sabe, graças a Deus não há memória de nenhum sacerdote português, diocesano ou religioso, que tenha sido alguma vez condenado por um crime desta natureza. Se porventura se desse também entre nós algum caso, não tenho dúvidas de que o nosso episcopado, de acordo com as normas a que está obrigado, saberia agir com justiça e caridade.
10. Concorda com as críticas veladas de vários sectores da sociedade que acusam a Igreja de pouco fazer para garantir a total transparência destes processos? A maioria dos casos suspeitos é, regra geral, arquivado pelo Ministério Público. Segundo algumas fontes policiais, «as vítimas retraem-se mais tarde, devido ao ascendente dos alegados agressores».
Pe. GPA: Dada a minha sensibilidade cristã e formação jurídica, causa-me algum desconforto o uso e abuso de expressões tão vagas e perigosas como «críticas veladas», «casos suspeitos», «alegados agressores», porque tendem a criar uma suspeição generalizada. Há um princípio geral de inocência que não pode ser contrariado: um político, um professor, um padre ou um desempregado que seja burlão não faz da sua mesma condição todos os políticos, professores, padres ou desempregados. Se um violador que é engenheiro, como o recentemente detido, não infama todos os engenheiros, nem suscita uma caça aos engenheiros violadores, porque razão um padre pedófilo, se o houver, provoca esta tão desmedida reacção nos meios de comunicação social?!
11. Pode-se dizer que a associação entre pedofilia e sacerdócio católico não é arbitrária, na medida em que é entre os padres que tendem a verificar-se delitos desta natureza?
Pe. GPA: Não, porque uma tal pressuposição carece de fundamento, como as estatísticas mais recentes provam. Por exemplo, na Alemanha, segundo Andrea Tornielli foram notificados, desde 1995, 210.000 casos de delitos contra menores, mas apenas 94 desses casos diziam respeito a eclesiásticos, ou seja, um para cada dois mil envolvia algum sacerdote ou religioso católico. O inquérito Ryan, sobre a situação na Irlanda, é também esclarecedor porque, num universo de 1090 crimes cometidos contra menores em instituições educativas, os religiosos católicos acusados de abusos sexuais foram 23.
12. Talvez alguém entenda que, muito embora haja também pedófilos que não são padres, o crime para que mais tendem os sacerdotes católicos é o abuso de menores.
Pe. GPA: Também não é verdade porque, de acordo com Mons. Scicluna, perito da Congregação para a Doutrina da Fé, que é o organismo da Santa Sé que superintende estes casos, entre os anos 2001 e 2010, houve notícia de 300 casos de pedofilia num total de 400.000 padres. Além disso, os abusos de menores são apenas 10% de todas as acções criminais praticadas por sacerdotes católicos.
13. Mas do ponto de vista da psiquiatria, tudo leva a crer que o celibato sacerdotal é, em boa parte, responsável pelos abusos de menores realizados pelo clero católico…
Pe. GPA: Pelo contrário. Manfred Lutz, um psiquiatra especialista na matéria, afirmou que o celibato sacerdotal não só não incita à prática destes crimes como até favorece uma atitude de respeito e de ajuda aos menores. Esta conclusão científica prova-se também pelo facto de, entre os clérigos condenados por este crime, haver mais pastores protestantes, casados, do que sacerdotes católicos, celibatários, e ainda porque a grande maioria dos pedófilos são casados o que, obviamente, não pode ser usado contra o casamento.
14. Consta na opinião pública que a maioria dos casos suspeitos de padres pedófilos, não é objecto de investigação, nem de posterior procedimento criminal…
Pe. GPA: Se assim é, de facto, não é certamente por culpa da Igreja, que nada tem a ver com as investigações policiais, nem muito menos com as diligências judiciais.
Embora se tenda a crer que a Igreja e o seu clero gozam de um tratamento de excelência na sociedade portuguesa, a verdade é que não deve haver instituição pública nem classe profissional mais maltratada nos media do que a Igreja Católica e os seus sacerdotes.
15. Porque o diz?
Pe. GPA: Permita-me que lhe dê um exemplo. Há uns meses atrás, um pacato pároco português foi detido com enorme aparato por quatro ou cinco polícias trajados a rigor, como se o pobre padre de aldeia fosse um perigoso terrorista, quando na realidade era apenas um mero caçador que tinha por licenciar algumas armas. À notícia, transmitida nos noticiários televisivos, foi dado um aparato que, de não ser dramático, teria sido ridículo, até porque aquele pacífico sexagenário não representava nenhum perigo público. Não foi com certeza por acaso que se forjou toda aquela fantástica encenação, como também não foi por acaso que se convidaram as televisões…
Mas factos ocorridos há dezenas de anos numa instituição pública, como a Casa Pia, e de que foram vítimas dezenas de adolescentes, ainda não conhecem uma decisão judicial… Será isto justiça?!
16. Mas não acha que o incumprimento de uma obrigação por um padre é um escândalo?
Pe. GPA: É verdade que é exigível aos prestadores de serviços públicos uma especial responsabilidade: é razoável que o incumprimento de uma obrigação fiscal por parte um governante seja notícia, mas já o não seja se o prevaricador for um anónimo cidadão. Mas o escândalo não pode ser utilizado como arma de arremesso ideológica, sob pena de que aconteça aos padres católicos de agora o que aconteceu aos judeus alemães, durante o regime nazi.
17. Surpreendem-no estes casos de padres pedófilos?
Pe. GPA: Nenhum pecado é surpresa para nenhum padre e todos os padres sabemos que somos capazes de todos os erros e de todos os horrores. Não é por acaso que, na Semana Santa, a Igreja recorda o tristíssimo caso de Judas Iscariotes, que muito significativamente os evangelistas não silenciaram, quando poderiam tê-lo feito, a bem do prestígio da sua condição sacerdotal e do bom nome da Igreja. Graças a Deus conheço muitos padres, quer seculares como eu, quer religiosos, e confesso-lhe que não conheço nenhum que não mereça a minha admiração.
18. Tem ouvido, mesmo que rumores, de casos de pedofilia por parte de alguns padres? Ou é uma completa surpresa para si a existência deste tipo de casos, que acabam por manchar o nome da instituição secular?
Pe. GPA: Tenho uma enorme devoção por todos os meus irmãos sacerdotes, na certeza de que até no menos bom há, pelo menos, a grandeza do dom e da missão a que foi chamado. Também não ignoro que nenhum de nós, por mais qualidades que possa ter, é indigno dessa graça, pelo que nunca me surpreenderá encontrar nos outros alguma da miséria que diariamente descubro em mim. Mas, mesmo que essa constatação possa de algum modo perturbar-me, confesso-lhe que mais do que a traição de Judas, me admira a santidade e o martírio dos outros onze apóstolos. Talvez por isso, não tenho tempo para ouvir esses rumores de que fala, ou tempo para olhar para essas manchas a que alude e que não ignoro, porque prefiro contemplar a eterna beleza da Igreja, que procuro amar com todo o meu coração.
19. Já denunciou algum caso às autoridades eclesiásticas?
Pe. GPA: Denunciar é um termo que não faz parte do meu dicionário e, como padre, a minha missão não é acusar o culpado, mas perdoar o arrependido.
20. Já teve alguma suspeita de abusos por parte de algum colega seu?
Pe. GPA: Como não é meu hábito falar das vidas alheias, permita-me que, em vez de falar dos meus colegas, lhe diga o que eu desejaria que me acontecesse se caísse numa dessas situações, até porque é isso mesmo que desejo aos meus irmãos sacerdotes.
Se tivesse um dia a desgraça de incorrer nalgum comportamento menos próprio da minha condição sacerdotal, agradeceria que os meus irmãos na fé, padres ou não, tivessem a coragem de me fazerem a correcção fraterna, tal como Nosso Senhor determinou. Se o meu desvario persistisse, não obstante essa caridosa advertência, aceitaria de muito bom grado que o meu bispo utilizasse todos os meios ao seu dispor, sem excluir os civis e penais, para a minha emenda, na certeza de que essa expiação, embora dolorosa, contribuiria decerto para o bem das almas e para a minha salvação.
Crucifica-o!
Como Nero, os jornais hoje querem convencer-nos de que os padres comem criancinhas
A pedofilia é um crime horrendo. Pior se o criminoso for educador. Mais ainda se for clérigo. A prioridade em casos tão graves é prevenção, socorro às vítimas e punição exemplar. A Igreja Católica tem de ter regras muito claras para estes casos, e vigilância atenta e severa. E tem.
Então porquê o debate? Ele mistura dois crimes diferentes. As acusações de pedofilia vêm a par de outro crime, muito menos grave mas mais vasto, de difamação contra a Igreja.
Sabemos tratar-se de difamação porque os sintomas tradicionais são evidentes. Primeiro as acusações não se dirigem aos verdadeiros culpados. Quem realmente se ataca são, não pedófilos, mas o Papa, cardeais e bispos. Discute-se, não psicologia infantil, mas política eclesiástica.
Em segundo lugar utiliza-se um truque estatístico clássico. Tomam-se 50 anos, em todo o mundo e acumulam-se todos os casos encontrados. Desta forma demonstra-se o que se quiser; este é o método das provas "científicas" invocadas por horóscopos, charlatães e milagreiros. Empilham-se situações muito antigas e muito diferentes que, juntas, ninguém perde tempo a considerar com atenção. Conta só a imagem global. A imaginação faz o resto. Nunca se questiona a agregação de casos díspares ou a razão de surgirem todos de repente agora.
O terceiro sintoma é não se usarem os indicadores adequados: percentagens. Que peso dos criminosos no total dos sacerdotes? Muito mais importante, qual a percentagem destes casos no total dos abusos? Se o que nos preocupa são as crianças, este dado é decisivo. Os poucos estudos sociológicos sérios mostram que «no mesmo período em que uma centena de sacerdotes católicos eram condenados por abusos sexuais de menores, o número de professores de educação física e de treinadores de equipas desportivas (...) considerados culpados do mesmo delito nos tribunais americanos atingia os seis mil. (...) Dois terços dos abusos sexuais a menores não são feitos por estranhos (...) mas por membros da família» (www.cesnur.org/2010/mi_preti_pedofili.html). E omitem-se factos incómodos, como «80% dos pedófilos são homossexuais» (idem).
Descuidadas nos dados, as notícias fervilham de comentários e interpretações. Muitas antecedidas de frases como «até há quem pense…», o que permite colocar a seguir o que se quiser, pois há sempre quem pense o mais abstruso. Espanta que jornais respeitáveis entrem nestas práticas. Práticas cuja finalidade fica clara ao ler-se a conclusão invariável: «perda de autoridade moral da Igreja». Mas a autoridade da Igreja vem de outro lado. E que autoridade moral tem o jornal para dizer isto? O contexto é a guerra cultural. Parecendo combater a pedofilia, visa-se a promoção do aborto, eutanásia, divórcio, promiscuidade.
A prática é tradicional. Assim se criou há séculos o mito da Igreja sanguinária nas cruzadas e Inquisição. Tirando os casos do contexto, relacionando épocas diferentes e empolando os números, gerou-se a lenda do terror inquisitorial em que hoje ainda até muitos católicos acreditam. Não importa que os processos fossem rigorosos e transparentes, as condenações uma ínfima minoria dos casos julgados e pouquíssimas face às execuções civis, numa épocas de pena capital habitual. Julgadas em contexto cultural muito diferente, essas informações distorcidas e parciais criaram uma das maiores falsificações da História.
Nada disto anula os terríveis pecados cometidos, quer nos atropelos da Inquisição, quer nos indiscutíveis casos de padres pedófilos. Cada injustiça inquisitorial, como cada abuso de menor, é horrível e exige atenção e punição exemplar. Por isso Papa e bispos pedem desculpa e impõem responsabilidades.
Mas o que temos agora é outra injustiça, a de tentar degradar toda uma classe respeitável e, por arrastamento, a maior denominação religiosa do mundo, com acusações apressadas e distorcidas. Como Nero, os jornais hoje querem convencer-nos que os padres comem criancinhas. Como há 2000 anos, esta Páscoa é celebrada ao som do grito «crucifica-o, crucifica-o!»
João César da Neves
(Fonte: DN online)
A pedofilia é um crime horrendo. Pior se o criminoso for educador. Mais ainda se for clérigo. A prioridade em casos tão graves é prevenção, socorro às vítimas e punição exemplar. A Igreja Católica tem de ter regras muito claras para estes casos, e vigilância atenta e severa. E tem.
Então porquê o debate? Ele mistura dois crimes diferentes. As acusações de pedofilia vêm a par de outro crime, muito menos grave mas mais vasto, de difamação contra a Igreja.
Sabemos tratar-se de difamação porque os sintomas tradicionais são evidentes. Primeiro as acusações não se dirigem aos verdadeiros culpados. Quem realmente se ataca são, não pedófilos, mas o Papa, cardeais e bispos. Discute-se, não psicologia infantil, mas política eclesiástica.
Em segundo lugar utiliza-se um truque estatístico clássico. Tomam-se 50 anos, em todo o mundo e acumulam-se todos os casos encontrados. Desta forma demonstra-se o que se quiser; este é o método das provas "científicas" invocadas por horóscopos, charlatães e milagreiros. Empilham-se situações muito antigas e muito diferentes que, juntas, ninguém perde tempo a considerar com atenção. Conta só a imagem global. A imaginação faz o resto. Nunca se questiona a agregação de casos díspares ou a razão de surgirem todos de repente agora.
O terceiro sintoma é não se usarem os indicadores adequados: percentagens. Que peso dos criminosos no total dos sacerdotes? Muito mais importante, qual a percentagem destes casos no total dos abusos? Se o que nos preocupa são as crianças, este dado é decisivo. Os poucos estudos sociológicos sérios mostram que «no mesmo período em que uma centena de sacerdotes católicos eram condenados por abusos sexuais de menores, o número de professores de educação física e de treinadores de equipas desportivas (...) considerados culpados do mesmo delito nos tribunais americanos atingia os seis mil. (...) Dois terços dos abusos sexuais a menores não são feitos por estranhos (...) mas por membros da família» (www.cesnur.org/2010/mi_preti_pedofili.html). E omitem-se factos incómodos, como «80% dos pedófilos são homossexuais» (idem).
Descuidadas nos dados, as notícias fervilham de comentários e interpretações. Muitas antecedidas de frases como «até há quem pense…», o que permite colocar a seguir o que se quiser, pois há sempre quem pense o mais abstruso. Espanta que jornais respeitáveis entrem nestas práticas. Práticas cuja finalidade fica clara ao ler-se a conclusão invariável: «perda de autoridade moral da Igreja». Mas a autoridade da Igreja vem de outro lado. E que autoridade moral tem o jornal para dizer isto? O contexto é a guerra cultural. Parecendo combater a pedofilia, visa-se a promoção do aborto, eutanásia, divórcio, promiscuidade.
A prática é tradicional. Assim se criou há séculos o mito da Igreja sanguinária nas cruzadas e Inquisição. Tirando os casos do contexto, relacionando épocas diferentes e empolando os números, gerou-se a lenda do terror inquisitorial em que hoje ainda até muitos católicos acreditam. Não importa que os processos fossem rigorosos e transparentes, as condenações uma ínfima minoria dos casos julgados e pouquíssimas face às execuções civis, numa épocas de pena capital habitual. Julgadas em contexto cultural muito diferente, essas informações distorcidas e parciais criaram uma das maiores falsificações da História.
Nada disto anula os terríveis pecados cometidos, quer nos atropelos da Inquisição, quer nos indiscutíveis casos de padres pedófilos. Cada injustiça inquisitorial, como cada abuso de menor, é horrível e exige atenção e punição exemplar. Por isso Papa e bispos pedem desculpa e impõem responsabilidades.
Mas o que temos agora é outra injustiça, a de tentar degradar toda uma classe respeitável e, por arrastamento, a maior denominação religiosa do mundo, com acusações apressadas e distorcidas. Como Nero, os jornais hoje querem convencer-nos que os padres comem criancinhas. Como há 2000 anos, esta Páscoa é celebrada ao som do grito «crucifica-o, crucifica-o!»
João César da Neves
(Fonte: DN online)
Irlanda: Dirigente Pastoral dos Anglicanos britânicos retracta-se, o Arce. Rowan Williams falou com o Arce. Católico de Dublin, D. Diarmuid Martin
O líder da Igreja Anglicana na Irlanda manifesta “profundo arrependimento e tristeza” pelo impacto que tiveram as suas declarações sobre a Igreja Católica à cadeia de televisão BBC.
O Arcebispo Rowan Williams foi citado como tendo afirmado que a Igreja Católica perdeu toda a credibilidade na Irlanda por ter encoberto abusos sexuais de crianças por sacerdotes.
O chefe da Igreja Anglicana veio, no entanto, esclarecer, numa mensagem que dirigiu ao Arcebispo de Dublin, que não era sua intenção ofender ou criticar a igreja irlandesa.
(Fonte: site Rádio Renascença)
S. Josemaría nesta data em 1975
Diz aos que estão com ele em Roma, dois meses antes do seu falecimento: “Perguntar-vos-ão como era o padre. Vou dar-vos a resposta: o Padre? Um pecador que não acaba de aprender as lições que Deus lhe dá. Um bobo muito grande. Isto era o Padre, dizei-o aos que vos perguntem, porque vo-lo perguntarão”.
(Fonte: site de S. Josemaría Escrivá http://www.pt.josemariaescriva.info/)
(Fonte: site de S. Josemaría Escrivá http://www.pt.josemariaescriva.info/)
Tema para reflexão
Ressurreição 2
CCIC: 126. Que lugar ocupa a ressurreição de Cristo na nossa fé?
CIC: 631, 638
A Ressurreição de Jesus é a verdade culminante da nossa fé em Cristo e representa, com a Cruz, uma parte essencial do Mistério pascal.
Agradecimento: António Mexia Alves
CCIC: 126. Que lugar ocupa a ressurreição de Cristo na nossa fé?
CIC: 631, 638
A Ressurreição de Jesus é a verdade culminante da nossa fé em Cristo e representa, com a Cruz, uma parte essencial do Mistério pascal.
Agradecimento: António Mexia Alves
Comentário ao Evangelho do dia:
Liturgia romana
«Jesus saiu ao seu encontro»
À Vítima pascal
ofereçam os cristãos sacrifícios de louvor.
O Cordeiro resgatou as ovelhas;
Cristo, o Inocente,
reconciliou com o Pai os pecadores.
A morte e a vida
travaram um admirável combate;
depois de morto,
vive e reina o Autor da vida.
Diz-nos, Maria, que viste no caminho?
Vi o sepulcro de Cristo vivo
e a glória do Ressuscitado.
Vi as testemunhas dos Anjos,
vi o sudário e a mortalha.
Ressuscitou Cristo, minha esperança;
precederá os Seus discípulos na Galileia.
Nós sabemos e acreditamos:
Cristo ressuscitou dos mortos.
Ó Rei vitorioso,
tende piedade de nós.
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
«Jesus saiu ao seu encontro»
À Vítima pascal
ofereçam os cristãos sacrifícios de louvor.
O Cordeiro resgatou as ovelhas;
Cristo, o Inocente,
reconciliou com o Pai os pecadores.
A morte e a vida
travaram um admirável combate;
depois de morto,
vive e reina o Autor da vida.
Diz-nos, Maria, que viste no caminho?
Vi o sepulcro de Cristo vivo
e a glória do Ressuscitado.
Vi as testemunhas dos Anjos,
vi o sudário e a mortalha.
Ressuscitou Cristo, minha esperança;
precederá os Seus discípulos na Galileia.
Nós sabemos e acreditamos:
Cristo ressuscitou dos mortos.
Ó Rei vitorioso,
tende piedade de nós.
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
O Evangelho do dia 5 de Abril de 2010
São Mateus 28,8-15
8 Saíram logo do sepulcro com medo e grande alegria e correram para dar a notícia aos discípulos.9 E eis que Jesus lhes saiu ao encontro e lhes disse: «Deus vos salve». Elas aproximaram-se, abraçaram os Seus pés e prostraram-se diante d'Ele.10 Então disse-lhes Jesus: «Não temais; ide dizer aos Meus irmãos que vão para a Galileia; lá Me verão».11 Enquanto elas iam a caminho, alguns dos guardas foram à cidade e noticiaram aos príncipes dos sacerdotes tudo o que tinha sucedido.12 Tendo-se eles reunido com os anciãos, depois de tomarem conselho, deram uma grande soma de dinheiro aos soldados,13 dizendo-lhes: «Dizei: “Os Seus discípulos vieram de noite e, enquanto nós estávamos a dormir, roubaram-n'O”.14 Se chegar isto aos ouvidos do governador, nós o convenceremos e estareis seguros».15 Eles, recebido o dinheiro, fizeram como lhes tinha sido indicado. E esta notícia divulgou-se entre os Judeus e dura até ao dia de hoje.
8 Saíram logo do sepulcro com medo e grande alegria e correram para dar a notícia aos discípulos.9 E eis que Jesus lhes saiu ao encontro e lhes disse: «Deus vos salve». Elas aproximaram-se, abraçaram os Seus pés e prostraram-se diante d'Ele.10 Então disse-lhes Jesus: «Não temais; ide dizer aos Meus irmãos que vão para a Galileia; lá Me verão».11 Enquanto elas iam a caminho, alguns dos guardas foram à cidade e noticiaram aos príncipes dos sacerdotes tudo o que tinha sucedido.12 Tendo-se eles reunido com os anciãos, depois de tomarem conselho, deram uma grande soma de dinheiro aos soldados,13 dizendo-lhes: «Dizei: “Os Seus discípulos vieram de noite e, enquanto nós estávamos a dormir, roubaram-n'O”.14 Se chegar isto aos ouvidos do governador, nós o convenceremos e estareis seguros».15 Eles, recebido o dinheiro, fizeram como lhes tinha sido indicado. E esta notícia divulgou-se entre os Judeus e dura até ao dia de hoje.
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