Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

quarta-feira, 23 de abril de 2014

26 Abr 17h30 Rita Rebordão "Pensar a Liberdade" - Auditório do Oratório de São Josemaria


NUNCA ESTIVEMOS TÃO PERTO DA SANTIDADE

Hoje de manhã, quando estava naquele estado de sonolência, em que muitas vezes eu julgo que Deus “fala” comigo, veio ao meu pensamento esta frase: “Nunca estivemos tão perto da santidade.”

Não me demorei muito a pensar no que tal significava, mas, ao chegar ao escritório, uma das primeiras imagens que vi no computador foi a de um sacerdote que conheço a cumprimentar João Paulo II.

Percebi então o que a frase me queria dizer e percebi que realmente, em termos muitos simples, “nunca estivemos tão perto da santidade” como agora!

Eu vi, com estes olhos que Deus me deu, João XXIII na “minha” televisão.
Eu vi, com estes olhos que Deus me deu, João Paulo II no meu país.
Eu li, com estes olhos que Deus me deu, coisas escritas pelo Padre Pio, por Josemaria Escrivá, e por tantos outros, já depois de eu ter nascido e ser gente.
Eu estive presente, com este corpo que Deus me deu, na celebração da Beatificação da Madre Maria Clara do Menino Jesus, que era prima da minha mãe.

Num tempo em que o cristianismo é tão atacado, em que a Igreja é tão vilipendiada, em que os cristãos são tão perseguidos, o Espírito Santo responde-nos, dando-nos testemunhos de extraordinária virtude, de fé inquebrantável, de uma fortaleza que vai para além da força humana, ou seja, uma fortaleza que só pode vir de Deus, para mostrar aos homens que Ele está com eles e que nunca os abandona.

E mostra-nos tantas coisas!

Toma um homem já de idade avançada, a quem os homens vaticinaram um pontificado curto e intermédio, e fá-lo suscitar a maior “revolução” que a Igreja teve em toda a sua existência, como que a dizer-nos que ninguém é demasiado velho para fazer coisas novas.
«Eu renovo todas as coisas.» Ap 21,5

Toma um homem novo forte, atlético e leva-o por um caminho de degradação física, resistindo, não deixando de servir nunca, com um esforço e sofrimento visível a todos, como que a dizer-nos que o homem é sempre homem, filho de Deus, amado por Deus, independentemente de toda a sua condição física ou mental, porque é vida de Deus, vida que pertence a Deus e que, por isso mesmo, só Deus pode iniciá-la e terminá-la no tempo próprio de Deus.
«Por isso, não desfalecemos, e mesmo se, em nós, o homem exterior vai caminhando para a ruína, o homem interior renova-se, dia após dia.» 2 Cor 4,16

Pega nalguns homens e mulheres, deixa-os viver provações sobre provações, incompreensões, tantas vezes provocadas pelos seus próprios pares em Igreja, reveste-os de humildade, fá-los resistir, enche-os de disponibilidade, para mostrar-nos que quem permanece em Deus, apesar dos homens, é sempre testemunha do amor de Deus.
«Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós. … Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer.» Jo 15, 4-5

E queixamo-nos, nós!
E pedimos nós sinais!
E procuramos nós outros “deuses”!
E deixamo-nos levar por relativismos, por “politicamente correctos”, por supostas consciências que nós próprios “fabricamos”.

Nunca, arrisco-me a dizer, desde o tempo em que Jesus Cristo esteve connosco, nascido da Virgem Maria, Deus nos falou de tantos modos, tão claramente e com tanta intensidade.
Somos uma geração abençoada!

«Quem tem ouvidos, ouça!»
«Quem tem olhos, veja!»
«Quem tem boca, fale!»
«Quem tem coração, ame!»

Deus está aqui, no meio de nós, em nós, e quer suscitar santos em cada um daqueles que n’Ele acredita e n’Ele quer permanecer.

Ele está disponível para nós. Estamos nós disponíveis para Ele?

Realmente, “nunca estivemos tão perto da santidade.”

Marinha Grande, 23 de Abril de 2014

Joaquim Mexia Alves

Jesus está vivo, não o procuremos entre os mortos

Tempo cinzento em Roma mas uma alegria solar irradiava nos corações das dezenas de milhares de peregrinos presentes na Praça de S. Pedro para a audiência geral com o Papa Francisco nesta quarta-feira, dia 23, dia de S. Jorge. “Porque procurais entre os mortos aquele que está vivo?” – esta frase do Evangelho de S. Lucas serviu de mote para a catequese proposta pelo Santo Padre:
“Porque procurais entre os mortos aquele que está vivo?”

Nestes dias em que celebramos a alegria pascal de que Cristo ressuscitou e permanece para sempre vivo e presente no mundo, a pergunta que os anjos fizeram às mulheres no sepulcro, também se dirige a nós: «Por que procurais entre os mortos aquele que está vivo?»

De facto – continuou o Santo Padre – às vezes, podemos fechar-nos em várias formas de egoísmo, seduzidos pelas coisas deste mundo, deixando de lado Deus e o próximo.

“Mas não é fácil aceitar a vida do Ressuscitado e a sua presença no meio de nós. O Evangelho faz-nos ver as reações do apóstolo Tomé, de Maria Madalena e dos dois discípulos de Emaús: faz-nos bem confrontarmo-nos com eles.“

Desta forma – continuou o Papa – podemos ser como Tomé, querendo tocar nas chagas para acreditar; ou como Maria Madalena, que vê Jesus, mas não o reconhece; ou ainda, como os discípulos de Emaús, que sentindo-se derrotados não percebem que é o próprio Jesus que os acompanha. “Porque procuras entre os mortos aquele que está vivo tu que perdes-te a esperança e tu que te sentes aprisionado pelos teus pecados? Porque procuras entre os mortos aquele que está vivo tu que aspiras à beleza, à perfeição espiritual, à justiça, à paz?

Não podemos, assim, procurar entre os mortos aquele que está vivo! – sublinhou o Santo Padre. Por isso, é preciso maravilhar-se novamente com Cristo ressuscitado, para poder sair dos nossos espaços de tristeza e abrirmo-nos à esperança que remove as pedras dos sepulcros e nos dá coragem para anunciar pelo mundo fora o Evangelho da vida. – concluiu o Papa Francisco.

O Papa no final da catequese saudou também os peregrinos de língua portuguesa:
“Dou as boas-vindas a todos os peregrinos de língua portuguesa, especialmentemente aos fiéis de Lisboa e aos diversos grupos do Brasil. Queridos amigos, a fé na Ressurreição nos leva a olhar para o futuro, fortalecidos pela esperança na vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. Feliz Páscoa para todos!”

Na saudações em língua italiana o Santo Padre referiu em particular a sua proximidade e oração aos trabalhadores da Lucchini de Piombino, em Livorno, na região italiana da Toscânia de quem recebeu uma video-mensagem que referia o quase seguro encerramento desta histórica e importante unidade siderúrgica:
“Caros operários, caros irmãos, abraço-vos fraternalmente e aos responsáveis peço de fazerem todos os esforços de criatividade e generosidade para reacender a esperança nos corações destes nossos irmãos e de todas as pessoas desempregadas por causa do desgoverno e da crise económica. Por favor, abram os olhos e não fiquem com os braços cruzados…”

(Fonte: 'news.va)

Vídeo da ocasião em italiano

'Panis Angelicus' - Andrea Bocelli

Vinte anos a ser a voz de um Papa (testemunho notável de Joaquín Navarro-Valls)

No dia 16 de Outubro de 1978, Joaquín Navarro-Valls, correspondente em Roma do diário espanhol “ABC”, estava na Praça de São Pedro com outros vaticanistas. Viveu com emoção o anúncio do primeiro Papa polaco da história. Mas naquele dia, o jornalista espanhol (e médico psiquiatra de formação) estava longe de imaginar o que lhe viria a acontecer.

De facto, a sua vida mudou quando, alguns anos depois, em 1984, recebeu um telefonema: “Recordo-me muito bem. Um dia, recebi uma chamada telefónica no meu escritório de uma pessoa que me disse: ‘você tem que vir almoçar com o Papa’. Naturalmente, para mim, foi uma grande surpresa. Fui, encontrei-me, frente a frente, com este homem que me queria ouvir sobre o que eu sabia, o que pensava e se tinha alguma ideia para melhorar o modo de comunicar; não tanto de comunicá-lo a ele, mas de comunicar todos aqueles valores específicos da Igreja Católica e que a estrutura do Vaticano devia comunicar melhor.”

Navarro-Valls foi para casa pensar, até que, alguns dias mais tarde, chegou um novo telefonema: “Quando, pouco tempo depois, recebi a segunda chamada telefónica e me disseram: ‘O Papa nomeou-o Director da sala de imprensa da Santa Sé’, pode imaginar a minha inquietação e as dúvidas que eu tinha. Porque pensava que era uma enorme responsabilidade se fizessem aquilo que eu queria fazer e como eu achava que o Papa queria fazer. Por fim aceitei, pensando que seria um encargo por um par de anos, mas afinal foi um pouco mais longo porque acabou só no dia em que ele morreu, ou seja, mais de 20 anos depois.”


Navarro-Valls tem, por isso, muita coisa para contar. São mais de 20 anos ao lado de um homem notável que introduziu grandes novidades no modo de ser Papa. O porta-voz de João Paulo II considera mesmo que aquele pontificado foi revolucionário, porque permitiu relacionar a Igreja com a modernidade: “Penso, na verdade, que o pontificado de João Paulo II foi o primeiro pontificado da história da Igreja que entrou plenamente, com enorme audácia e vivacidade naquele conjunto de teorias e filosofias a que chamamos a modernidade. Ou seja, introduziu o pontificado na modernidade histórica. Por isso, em tantos momentos, o seu pontificado parecia revolucionário, que era uma coisa completamente nova; e é verdade! Ele estava-o realmente actualizando, no sentido histórico da expressão: o conteúdo daquilo que ele dizia que não mudava, mas o modo como o exprimia e o exemplo da sua própria vida era totalmente novo na história da Igreja.”

João Paulo II, com as suas viagens pastorais, deu várias vezes a volta ao mundo. No total fez 104 viagens fora de Itália e com visitas muito variadas, houve de tudo um pouco: desde a Polónia e Cuba, com forte pendor político, a Manila e Jornadas Mundiais da Juventude com milhões de fiéis, mas não esqueceu pequenas comunidades, como as do Pólo Norte ou Azerbaijão: “Recordo muito bem aquela viagem ao Azerbaijão, que muita gente na Cúria o desaconselhou a fazer, mas ele quis fazê-la. Como sabe, no Azerbaijão, na altura em que o Papa lá foi, em todo aquele imenso país, havia 122 católicos. Somente 122 católicos. E, mesmo assim, o Papa quis lá ir para se encontrar com esta pequena comunidade católica, não obstante ter sido três anos antes da sua morte e o Papa já ser idoso, doente e ter dificuldades em andar.

“Recordo um pequeno episódio simpático: quando chegámos ao aeroporto de Azerbaijão, aproximei-me dele e disse: ‘Santo Padre, parabéns’. E ele disse-me: ‘parabéns porquê? Você normalmente dá-me os parabéns no final de uma viagem e não no início’. E eu respondi: ‘Parabéns porque agora, consigo aqui, o número dos católicos subiu para 123!’. E ele fartou-se de rir com isto.”

O episódio é revelador da intensidade com que João Paulo II cumpria a sua missão de pastor universal. Uma vez que o seu critério não dependia da quantidade de fiéis: “O critério era sempre o mesmo: cada pessoa em particular. Ou seja, quer fossem 120, como no Azerbaijão, ou milhões noutro país qualquer, ele ia sempre. Penso que esta sua característica de, perante uma grande multidão, não olhar para a multidão como tal, mas para cada uma daquelas pessoas em particular, é aquilo que explica a experiência de muita gente que ainda hoje diz: ‘eu senti que ele estava mesmo a olhar para mim, para mim concretamente, e não para aquela enorme massa de duas ou três milhões de pessoas’. Isto é porque o seu critério era o valor humano e espiritual de cada pessoa.”

Óptimo sentido de humor

E no dia-a-dia, como era trabalhar com João Paulo II? “Era estupendo. Porque, uma característica do seu carácter, era o óptimo sentido de humor que ele tinha. Humanamente falando, era uma pessoa muito simpática; por isso, trabalhar com ele era uma delícia, mesmo quando havia problemas sérios da Igreja universal ou de um país, mesmo assim, havia sempre espaço para o bom humor quando se trabalhava com ele.”

O facto de João Paulo II ter sido um comunicador nato ajudava, claro: “Naturalmente. Ele era um grande comunicador, mas a expressão ‘João Paulo II grande comunicador’, que é verdadeira, pode levar ao engano, porque normalmente quando se diz que uma pessoa é boa comunicadora, falamos de uma pessoa que tem uma boa voz, que tem um estilo de comunicar eficaz. Mas eu penso que a sua virtude como comunicador não estava principalmente no seu modo de comunicar, mas no conteúdo daquilo que comunicava. Eram aquelas verdades que ele comunicava que convenciam as pessoas e que faziam dele uma pessoa muito ouvida e muito seguida em todo o mundo.”

Tanto que, no fim do pontificado, mesmo sem conseguir falar, o Papa continuava a comunicar: “Do meu ponto de vista, nos últimos anos da sua vida estava a escrever a encíclica mais bela do seu pontificado, ou seja, uma encíclica ainda mais bela porque não a escrevia com palavras, mas com a sua própria vida. E as pessoas viam isso, o que não o afastava as pessoas mas aproxima-se delas ainda mais.”

Mas a forma como o Papa se expôs no seu estado mais debilitado, não agradou a todos e mereceu críticas inclusivamente de dentro da Igreja: “Isso são os teóricos, não as pessoas que vivem a vida mas os teóricos da existência! Sabe que a experiência humana mais universal, aquela experiência que, mais tarde ou mais cedo, conhecemos ou havemos de conhecer é o sofrimento. E desta experiência humana tão universal ele estava a dar o sentido que também a dor, os limites físicos, o não conseguir andar ou até mesmo no fim não poder falar, tudo tinha um sentido, nada daquilo era absurdo, mas tinha um grande sentido. E isso era a grande mensagem que Deus lhe tinha confiado para os seus últimos anos de vida.”

Ski às escondidas 

Ao longo de quase 27 anos de pontificado, muitas foram as peripécias, quebras de protocolo, episódios divertidos, até então, pouco habituais na vida de um Papa. Navarro-Valls teve o privilégio de os testemunhar na primeira pessoa: “Agora penso que se pode contar tudo, já passaram tantos anos. Havia dias em que ele precisava, pela enorme quantidade de trabalho e pelo cansaço, tirar um dia da semana em que não havia audiências nem compromissos. Então, na véspera à noite, escolhíamos um carro não blindado, nem com a matrícula do Vaticano e saíamos por uma porta lateral do Vaticano em direcção à montanha. Pode imaginar às 18h, num dia de trabalho, como é o trânsito romano em hora de ponta? Aquele carro parava em todos os semáforos vermelhos da cidade e eu, que ia sentado ao lado do condutor, dizia: ‘De certeza que nos descobrem!’. E no entanto ninguém nos descobriu”.

Ainda por cima, explica o antigo director da sala de imprensa, o Papa pouco fazia para se disfarçar: “Ia vestido de branco com uma capa negra por cima, que era a capa que ele conservava desde que era jovem padre na Polónia. E isso tapava-o um pouco. Íamos para uma pequena cabana, relativamente próxima de Roma. Dormíamos lá e, na manhã seguinte, depois das orações matinais e da missa, íamos para a montanha fazer ski durante algumas horas. Como pode imaginar, eram ocasiões magníficas para estar com ele, para o acompanhar, para rir muito com ele e, depois, regressávamos tendo assim conseguido repousar um pouquinho. Agora, com o passar dos anos, a única pena que tenho é a de não ter feito isto mais vezes com ele.”

O fascínio de João Paulo II passava também pela sua normalidade. Continuou a fazer ski e montanhismo como na Polónia, mandou construir uma piscina para praticar desporto, convidava amigos para tomar refeições com ele, no Vaticano: “Ele era completamente normal. No processo de beatificação, que são cinco volumes enormes com os testemunhos de todas as pessoas que foram chamadas a depor e a dizer algo sobre a sua vida, há uma daquele presidente da Checoslováquia que era o Vaclav Havel, que já morreu. Ele não era um cristão praticante, mas faz uma declaração muito interessante, muito bonita. E diz no fim: ‘Eu não sou especialista em santidade mas, se eu tiver que dizer como era a sua santidade, eu diria que ele era humanamente santo’. É uma expressão quase ambígua e, no entanto, penso que ele queria dizer que a santidade de João Paulo II era muito humana, era ver uma pessoa, nas suas circunstâncias de cada dia, fazer tudo perfeitamente bem; não fazer nada de extraordinário nem de estranho.”

Amigo de Portugal

É sabido que o Papa tinha uma relação especial com Portugal, que começou no dia do atentado, a 13 de Maio de 1981. Por causa disso, gostava de repetir que a sua vida tinha sido salva por milagre de Nossa Senhora de Fátima. Foi nesse contexto que João Paulo II visitou três vezes o santuário da Cova da Iria.

Mas a grande admiração por Portugal não ficava por aí: “Ele via Portugal como um grande país com uma grande história que ele conhecia perfeitamente porque tinha lido muito sobre Portugal. Depois, havia a particularidade de Nossa Senhora de Fátima e a certeza que ele tinha de que a Nossa Senhora de Fátima lhe tinha salvo a vida num atentado que, segundo a lógica da medicina, devia tê-lo morto e, no entanto, não aconteceu assim.” 

“Por isso, das vezes em que ele veio a Portugal, sentia-se em sua casa: antes de mais, como um filho que vem agradecer a Nossa Senhora, à sua ‘mamã’, mas ao mesmo tempo a um país com uma grande história que ele conhecia bem e que apreciava muito, quer os lugares de Portugal, quer fora do âmbito geográfico do país: a sua presença em África, no extremo Oriente, etc. Tudo isso estava bem presente nele.”

20 anos ao lado de um santo

Uma vida ao lado de João Paulo II, vivida ao longo mais de 20 anos, é uma experiência difícil de definir? “Naturalmente uma experiência extraordinária, uma experiência fora do comum; mas muitas vezes digo a mim mesmo que ter vivido ao lado de um santo não foi só uma coisa bonita, foi também uma grande responsabilidade. É uma grande responsabilidade porque não podes deixar que, tudo aquilo que viste, que viveste e que ele comunicou, fique arrumado na tua vida. É um desafio permanente a viver isto na própria vida.”

Um desafio de que tipo? “Um desafio ético, um desafio moral, um desafio para se aproximar mais de Deus, ou seja, penso que não podemos dizer de ninguém, nem de coisa nenhuma, que ‘isto é bom’, se esta afirmação não nos mudar por dentro; e deve mudar-nos por dentro senão não acreditamos, de verdade, que isso era bom e isto, por maioria de razão, pode-se dizer de João Paulo II: se acreditas a sério que ele era santo, esta convicção deve-te mudar por dentro, no teu interior.”

É isto que, segundo Navarro-Valls, explica a emoção que se sentiu quando João Paulo II morreu: “Naturalmente. Dantes, na história da Igreja até há poucos séculos, os santos eram proclamados por aclamação popular; era o povo que determinava quem era santo. Nos últimos séculos, a Igreja exigiu um processo de beatificação e de canonização. Mas, se a antiga tradição da Igreja ainda hoje vigorasse, João Paulo II teria sido santo no dia a seguir à sua morte e não tantos anos depois.”

Agora, Joaquín Navarro-Valls, hoje com 77 anos, prepara-se para viver o grande momento da canonização “Vivo, como direi, sem nenhuma surpresa porque eu já tinha a certeza de que ele era santo. Às vezes, aqui em Itália, oiço dizer a algumas pessoas que ‘a Igreja faz de João Paulo II santo’. Mas eu digo: ‘Não, a Igreja não faz João Paulo II santo; a Igreja confirma e ratifica que a vida deste homem quando era vivo, era a vida de um santo’. Porque, afinal de contas, ou um santo o é enquanto é vivo, ou nunca o será. Por isso, não é que agora o faça um santo, simplesmente confirma e ratifica que a vida desta pessoa - quando era viva - era a vida de um santo. É com este espírito que estarei na Praça de São Pedro”.

“E até já posso adiantar o que decidi dizer nesse dia a João Paulo II na minha oração, durante a canonização. Vou-lhe dizer: ‘Obrigado João Paulo II pela obra-prima que fizeste da tua vida, com a ajuda de Deus. Mas fizeste-a com a tua vida!”. Penso que será essa a minha oração nesse dia.


(Fonte: site da Rádio Renascença AQUI seleção de imagens do blogue)

'A vocação ao amor que todos temos' pelo Pe. Rodrigo Lynce de Faria

Há muitos anos atrás, certo dia, perguntaram a um sábio grego qual era a sua opinião sobre a seguinte questão: «É melhor para o homem casar-se ou permanecer solteiro?». Naquela cidade da Antiga Grécia, havia uma viva discussão sobre este tema. Muitos jovens achavam natural que o caminho da felicidade do homem passasse pelo casamento. Outros, porém, pensavam que era precisamente o casamento a fonte de quase toda a infelicidade do homem. De quase todas as suas angústias e preocupações. Estando a controvérsia neste ponto, resolveram recorrer ao sábio ancião em busca de “luz”. Desejavam sair do “túnel da dúvida” num tema de tanta importância para a sua vida. Todos reconheciam nele uma autoridade especial, uma sensibilidade sapiencial e uma intuição pouco habitual no comum dos mortais.

O sábio não respondeu imediatamente. O seu conhecimento estava repleto de serenidade. Fechou os olhos com uma atitude imperturbável de introspecção. Via-se que estava em intensa actividade intelectual. Finalmente, como um suspiro, emitiu o seu parecer. Deitava cá para fora algo já profundamente meditado: «É indiferente». Os jovens gregos ficaram boquiabertos. Ninguém esperava aquela resposta. «Indiferente? Como justifica essa sua afirmação, que nenhum de nós defende?». O sábio voltou a falar com certa lentidão, medindo as palavras que pronunciava: «É indiferente para o homem casar-se ou não. Qualquer que seja a sua escolha, mais cedo ou mais tarde, acabará por se arrepender».

Existe algo de verdade na resposta do sábio grego. Qualquer caminho que o homem escolha percorrer nesta Terra exigirá dele esforço. Não será nunca um caminho simples, plano e sem dificuldades. No entanto, isso não significa que o homem acabe obrigatoriamente por se arrepender de o percorrer. A resposta do sábio não é uma resposta cristã.

Como diz J. Burggraf, para um cristão, o amor entre um homem e uma mulher é muito importante, mas não é o único importante. Gera uma grande felicidade, mas não é a máxima felicidade. Tem um profundo sentido, mas não é o último sentido. É o caminho para a grande maioria das pessoas que passam por este mundo, mas não é o único caminho, nem é o fim do caminho. Para todos, quer tenham vocação para o matrimónio ou para o celibato pelo Reino dos Céus, o fim do caminho é somente Deus.

Por isso, um cristão que conheça minimamente a doutrina católica sobre o amor sabe valorizar tanto o casamento como o celibato. Entende que são dois modos diferentes de corresponder à vocação ao amor que todos temos. Dois modos que exigem generosidade, pureza de vida e de coração. Que exigem um amor que não teme o pequeno sacrifício de cada dia. Um amor que leva à abnegação pela pessoa amada, seja ela divina ou humana. Que gera alegria e paz, no meio das normais dificuldades desta vida. Uma alegria e uma paz que só Deus pode dar.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria

DEUS QUE SE REVELA NOS OUTROS de Joaquim Mexia Alves

Temos de um modo geral todos nós, uma grande facilidade em julgarmos os outros, em estabelecermos parâmetros e “verdades” sobre os demais, convencendo-nos que eles são exactamente como nós os vemos e sentimos.

Poderíamos olhar para nós verdadeiramente, e logo perceberíamos que, a face que apresentamos não reflecte a maior parte das vezes a nossa interioridade, e muito mais até, quando nos referimos à nossa prática religiosa.

E é bem verdade que devíamos, devemos, ser testemunhas a todo o tempo do dom da Fé que nos foi dado, da alegria da vida que em nós foi criada, da certeza de sabermos, acreditarmos que o nosso Deus está sempre connosco, mas a verdade é que há sempre uma parte da nossa relação com Deus que apenas exprimimos na nossa intimidade com Ele.

Os momentos de oração em que sozinhos com Deus, nos baixamos na nossa fraqueza para subirmos até Ele, (mesmo em momentos de aridez), ficam nos nossos corações, e não somos capazes, a maior parte das vezes, de os transmitir, não só pela incapacidade das palavras, mas também para preservamos em nós essa doce alegria de olharmos humildemente nos olhos de Deus e nos sentirmos profundamente amados, amando-O com o Seu amor.

É assim muito fácil para os outros, (tal como nós fazemos em relação a eles), fazerem juízos sobre nós, sobre os nossos procedimentos, sobre como tantas vezes parece que o que dizemos, que o que apregoamos, não coincide com o que fazemos, com o que praticamos.

E então estabelecemos padrões, considerando que uns são orgulhosos e vaidosos, outros são falsos, outros apenas querem dar nas vistas, outros ainda nada sabem, nem têm conhecimentos, não cuidando de percebermos se essas fraquezas que lhes apontamos não são afinal um “espinho carne” 2Cor 12,7, que eles diariamente confrontam e combatem, por vezes com um esforço heróico que os leva a abdicarem de si, do seu conforto, para entregarem a Deus o seu sacrifício em penitência pelas suas fraquezas.

Sabemos lá nós dos caminhos de amor que Deus coloca a cada um, servindo-se das fraquezas, para fortalecer as forças, servindo-se do orgulho, para lutarmos pela humildade, servindo-se dum feitio adverso, para construir a Sua vontade?

É tão fácil julgar os outros, não sabendo das suas lutas diárias, da sua dedicação e empenho à conversão, das suas desilusões e tristezas quando em determinados momentos perdem essa luta, e têm de recomeçar de novo!

Resta-nos e consola-nos o amor de Deus, que quando caímos nos vai dizendo em cada momento:
«Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar.» Jo 8,11

Vem isto tudo a propósito de recentemente ter tido conhecimento, que uma determinada pessoa que muito bem conheci, já falecida, lutava diariamente com as suas fraquezas, com o seu especial modo de ser, e que, num amor profundo aos seus mais chegados, foi capaz de se entregar sem medida para combater as suas fraquezas e para se dar em sofrimento pela salvação dos seus.

Essa pessoa foi capaz de, (depois de ter consultado o seu director espiritual), usar um cilício à volta da cintura, bem como flagelar-se, não como um uso espúrio do sofrimento sem sentido, mas forçosamente para se unir à Paixão de Cristo, como expiação das suas faltas e sobretudo entregando-se pela salvação dos seus.

E eu, no meu íntimo, “julguei” muito essa pessoa, o seu feitio, a sua maneira de ser, e não fui capaz de reconhecer as provações, as dificuldades, que um tal modo de ser acarreta a quem quer fazer e viver a vontade de Deus no dia-a-dia.

Não fui capaz de reconhecer que muito mais do que pedir por uma boa vida, (ao jeito do mundo), para quem se gosta, é pedir uma vida com Deus e para Deus, que dá tudo o que precisamos do mundo, e dá o todo que vai para além do mundo.

Nunca é tarde para percebermos o que devemos mudar em nós.
Nunca é tarde para percebermos que não devemos julgar, porque nunca vemos o todo daquele que julgamos.
Nunca é tarde para reconhecermos que errámos, e pedirmos perdão a Deus e àquele a quem julgámos, mesmo que já não esteja entre nós.

Dou graças a Deus por me ter revelado este facto, e por ter colocado na minha vida essa pessoa que assim me ensina, ainda, a ser melhor, e a procurar o bem para os outros e para mim, aceitando e tentando dar de mim, tudo o que for da vontade de Deus.

Monte Real, 12 de Abril de 2011

Joaquim Mexia Alves

«Fica connosco»

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África), doutor da Igreja 
Sermão 235; PL 38, 1117


Irmãos, quando é que o Senhor Se deu a conhecer? Quando partiu o pão. Fiquemos portanto tranquilos: quando partirmos o pão, reconheceremos o Senhor. Se Ele só quis ser reconhecido nesse instante, foi por nossa causa, foi para que não O víssemos na carne, comendo no entanto da sua carne. Portanto tu que crês nele, quem quer que sejas, tu que não tomas em vão o nome de cristão, tu que não entras numa igreja por acaso, tu que escutas a palavra de Deus no temor e na esperança, para ti o pão partido será uma consolação. A ausência do Senhor não é uma ausência verdadeira. Tem confiança, guarda a fé e Ele estará contigo, ainda que não O vejas.

Quando o Senhor os abordou, os discípulos não tinham fé. Não acreditavam na sua ressurreição; nem sequer esperavam que Ele pudesse ressuscitar. Tinham perdido a fé; tinham perdido a esperança. Eram mortos que caminhavam ao lado de um vivo; caminhavam mortos juntamente com a vida. A vida caminhava com eles mas, no coração destes homens, a vida ainda não se tinha renovado.

E tu? Desejas a vida? Imita os discípulos e reconhecerás o Senhor. Eles ofereceram a sua hospitalidade; o Senhor parecia estar decidido a seguir o seu caminho, mas eles detiveram-no. […] Retém, também tu, o estrangeiro, se queres reconhecer o teu Salvador. […] Aprende onde podes procurar o Senhor, onde podes possuí-Lo, onde podes reconhecê-Lo: partilhando o pão com ele.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

O Evangelho do dia 23 de abril de 2014

No mesmo dia, caminhavam dois deles para uma aldeia, chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios. Iam falando sobre tudo o que se tinha passado. Sucedeu que, quando eles iam conversando e discorrendo entre si, aproximou-Se deles o próprio Jesus e caminhou com eles. Os seus olhos, porém, estavam como que fechados, de modo que não O reconheceram. Ele disse-lhes: «Que palavras são essas que trocais entre vós pelo caminho?». Eles pararam cheios de tristeza. Um deles, chamado Cléofas, respondeu: «Serás tu o único forasteiro em Jerusalém que não sabe o que ali se passou nestes dias?». Ele disse-lhes: «Que foi?». Responderam: «Sobre Jesus Nazareno, que foi um profeta, poderoso em obras e em palavras diante de Deus e de todo o povo; e de que maneira os príncipes dos sacerdotes e os nossos chefes O entregaram para ser condenado à morte, e O crucificaram. Ora nós esperávamos que Ele fosse o que havia de libertar Israel; depois de tudo isto, é já hoje o terceiro dia, depois que estas coisas sucederam. É verdade que algumas mulheres, das que estavam entre nós, nos sobressaltaram porque, ao amanhecer, foram ao sepulcro e, não tendo encontrado o Seu corpo, voltaram dizendo que tinham tido a aparição de anjos que disseram que Ele está vivo. Alguns dos nossos foram ao sepulcro e acharam que era assim como as mulheres tinham dito; mas a Ele não O encontraram». Então Jesus disse-lhes: «Ó estultos e lentos do coração para crer tudo o que anunciaram os profetas! Porventura não era necessário que o Cristo sofresse tais coisas, para entrar na Sua glória?». Em seguida, começando por Moisés e discorrendo por todos os profetas, explicava-lhes o que d'Ele se encontrava dito em todas as Escrituras. Aproximaram-se da aldeia para onde caminhavam. Jesus fez menção de ir para mais longe. Mas os outros insistiram com Ele, dizendo: «Fica connosco, porque faz-se tarde e o dia já declina». Entrou para ficar com eles. Estando com eles à mesa, tomou o pão, abençoou-o, partiu-o, e lho deu. Abriram-se os seus olhos e reconheceram-n'O; mas Ele desapareceu da vista deles. Disseram então um para o outro: «Não é verdade que nós sentíamos abrasar-se-nos o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?». Levantando-se no mesmo instante, voltaram para Jerusalém. Encontraram juntos os onze e os que estavam com eles, que diziam: «Na verdade o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão». E eles contaram também o que lhes tinha acontecido no caminho, e como O tinham reconhecido ao partir o pão.

Lc 24, 13-35