Regressemos ao conhecimento que podemos ter do envio do Espírito Santo.
O Pai envia o Filho, mas com Ele envia sempre e também o Espírito.
É uma missão conjunta, como nos ensina o Catecismo, em que o Filho e o Espírito Santo são distintos, mas inseparáveis.
«É Cristo quem aparece, Ele que é a imagem visível de Deus invisível; mas é o Espírito Santo quem O revela.» 689
E ainda:
«Toda a obra de Cristo é missão conjunta do Filho e do Espírito Santo.» 727
Em todas as manifestações de Cristo é o Espírito que O manifesta, desde a Sua concepção até à Sua glória.
O Filho glorificado, junto do Pai, envia então o Espírito Santo aos filhos adoptados pelo Pai no Corpo do Filho entregue por nós, para que esse Espírito de adopção nos una a Cristo para que n’Ele e com Ele vivamos.
O Espírito Santo está obviamente presente desde o princípio até à «plenitude dos tempos».
Lembro-me uma vez num grupo de oração, quando chegou ao momento de ler a Palavra de Deus e sobre ela fazer um ensinamento, alguém abriu a Bíblia numa passagem do Antigo Testamento.
Quando me preparava para falar fui interrompido por uma pessoa que me dizia não se poder falar sobre passagens do Antigo Testamento.
Fiquei espantado e perguntei porquê, tendo-me respondido de imediato que no Antigo Testamento não estava o Espírito Santo.
O mais delicadamente que me era possível expliquei que não só estava, como logo no 2º versículo da Bíblia afirmava que o Espírito de Deus se movia sobre a superfície das águas.
Na segunda descrição bíblica da criação do homem, em Gn 2, 7 podemos ler que Deus «lhe insuflou pelas narinas o sopro de vida.»
Ao longo de todo o Antigo Testamento percebemos permanentemente a acção do Espírito de Deus, desde Abraão, Moisés, os reis e o exílio, os profetas, a promessa do Messias.
São as nuvens, as brisas, os ventos, os trovões, os sinais que vão guiando o povo no caminho da terra prometida, bem como a Sua presença óbvia em todas as profecias.
É com certeza de todos conhecida a passagem do Livro de Ezequiel, 37, 1-14, a visão dos ossos ressequidos, que termina no seguinte versículo:
«Introduzirei em vós o meu espírito e vivereis; estabelecer-vos-ei na vossa terra. Então, reconhecereis que Eu, o SENHOR, falei e agi»
Já no no Novo Testamento deparamo-nos imediatamente com a figura de um homem enviado por Deus, para pregar o arrependimento, para preparar o caminho para a vinda do Senhor.
Este homem, João Baptista, é cheio do Espírito Santo, como nos diz o Evangelho de São Lucas 1, 15, quando o anjo anuncia a Zacarias o nascimento do seu filho, «será cheio do Espírito Santo já desde o ventre da sua mãe» e ainda no versículo 41 «Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.»
João Baptista cheio do Espírito Santo dá testemunho de Cristo, porque o próprio Espírito lho revela:
«Vi o Espírito que descia do céu como uma pomba e permanecia sobre Ele. E eu não o conhecia, mas quem me enviou a baptizar com água é que me disse: 'Aquele sobre quem vires descer o Espírito e poisar sobre Ele, é o que baptiza com o Espírito Santo'. Pois bem: eu vi e dou testemunho de que este é o Filho de Deus.» Jo 1, 32-34
Em Maria, permitam-me usar uma expressão muito humana, o Espírito Santo realiza a sua Obra Prima: É com e pelo Espírito Santo que a Virgem Maria concebe e dá á luz o Filho de Deus, como nos diz o Catecismo.
Maria, ela própria, foi preparada pelo Espírito Santo para ser a «cheia de graça», como reconhece o Anjo na Anunciação, aquela que foi concebida sem pecado, para ser a Mãe do Messias Salvador.
É cheia do Espírito Santo que Maria profere o Magnificat.
Já afirmámos anteriormente que «toda a obra de Cristo é missão conjunta do Filho e do Espírito Santo.»
Com efeito, e segundo os Evangelhos sinópticos, Jesus Cristo é concebido pelo Espírito Santo em Maria, é baptizado no Espírito Santo, pratica milagres e proclama o Reino de Deus na força do Espírito, entrega-se á morte redentora na cruz por intermédio do Espírito e ressuscita pelo Espírito vivificador, e por meio d’Ele, está presente no meio de nós.
Jesus ao longo da sua vida terrena, não revela plenamente o Espírito Santo, enquanto não for glorificado pela sua Morte e Ressurreição.
Mas sugere-o por diversas vezes e a diversos interlocutores, como a samaritana, Nicodemos, e aos Apóstolos quando lhes fala da oração em Lc 11, 13 e ainda em Mt 10, 19-20 sobre o testemunho que devem dar.
Depois, por 5 vezes, no Evangelho de São João, promete o envio do Espírito Santo, quando for glorificado pela Sua Morte e Ressurreição.
Como nos diz o Catecismo:
729. O Espírito da verdade, o outro Paráclito, será dado pelo Pai a pedido de Jesus; será enviado pelo Pai em nome de Jesus; Jesus O enviará de junto do Pai, porque do Pai procede. O Espírito Santo virá, nós O conheceremos, Ele ficará connosco para sempre, habitará connosco; há-de ensinar-nos tudo, há-de lembrar-nos tudo o que Cristo nos disse e dará testemunho d'Ele; conduzir-nos-á à verdade total e glorificará a Cristo.
Assim, após a sua Morte e Ressurreição, Jesus Cristo, dá, sopra o Espírito Santo sobre os discípulos, (Jo 20,22), e a partir dessa hora, como mais uma vez nos diz o Catecismo, «a missão de Cristo e do Espírito Santo torna-se a missão da Igreja:«Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós.» (Jo 20, 21)
Sabemos o que se passou no dia de Pentecostes.
Os apóstolos, reunidos com Maria, encontravam-se fechados numa sala em oração quando de repente, como nos diz o Livro dos Actos dos Apóstolos, 2, 2-4:
«De repente, ressoou, vindo do céu, um som comparável ao de forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde eles se encontravam.
Viram então aparecer umas línguas, à maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimissem.»
Revelou-se assim plenamente a Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo.
Sabemos então que o Espírito Santo derramado naqueles homens os encheu de uma força, de uma coragem, que antes não tinham, e também da capacidade de proclamar a Verdade com as palavras que o Espírito Santo lhes ia inspirando
De tal forma assim era e o Espírito Santo se fazia presente, que naquele dia, segundo os Actos dos Apóstolos: «Os que aceitaram a sua palavra receberam o baptismo e, naquele dia, juntaram-se a eles cerca de três mil pessoas.»
Assim aqueles que abrem os seus corações e crêem no Deus que se revelou, pelo baptismo, formam, tornam-se Igreja, Corpo de Cristo e templo do Espírito Santo.
Como nos diz o Catecismo:
737. A missão de Cristo e do Espírito Santo completa-se na Igreja, corpo de Cristo e templo do Espírito Santo. Esta missão conjunta associa, doravante, os fiéis de Cristo à sua comunhão com o Pai no Espírito Santo: o Espírito prepara os homens e adianta-se-lhes com a sua graça para os atrair a Cristo. Manifesta-lhes o Senhor ressuscitado, lembra-lhes a sua Palavra e abre-lhes o espírito à inteligência da sua morte e da sua ressurreição. Torna-lhes presente o mistério de Cristo, principalmente na Eucaristia, com o fim de os reconciliar, de os pôr em comunhão com Deus, para os fazer dar «muito fruto».
E ainda:
739. Uma vez que o Espírito Santo é a unção de Cristo, é Cristo, a Cabeça do corpo, quem O derrama nos seus membros para os alimentar, os curar, os organizar nas suas mútuas funções, os vivificar, os enviar a dar testemunho, os associar à sua oferta ao Pai e à sua intercessão pelo mundo inteiro. É pelos sacramentos da Igreja que Cristo comunica aos membros do seu corpo o seu Espírito Santo e santificador.
O Espírito Santo não se "esgota" e por isso mesmo poderíamos falar, (não eu, mas todos), horas, dias seguidos que nunca esgotaríamos o tema.