Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Cuidar das pequenas coisas

Cuidar das pequenas coisas constitui uma mortificação constante, caminho para tornar a vida mais agradável aos outros. (Sulco, 991) 

Pensando naqueles que, à medida que o tempo passa, ainda se dedicam a sonhar –em sonhos vãos e pueris, como Tartarin de Tarascon – com caçar leões nos corredores de casa, onde se calhar só há ratos e pouco mais, pensando neles, insisto, lembro a grandeza de actuar com espírito divino no cumprimento fiel das obrigações habituais de cada dia, com essas lutas que enchem Nosso Senhor de alegria e que só Ele e cada um de nós conhece.

Convençam-se de que normalmente não vão encontrar ocasiões para grandes façanhas, entre outros motivos porque não é habitual que surjam essas oportunidades. Pelo contrário, não faltam ocasiões de demonstrar o amor a Jesus Cristo, através do que é pequeno, do normal. (...)

Portanto, tu e eu vamos aproveitar até as oportunidades mais banais que se apresentarem à nossa volta, para santificá-las, para nos santificarmos e para santificar os que compartilham connosco os mesmos afãs quotidianos, sentindo nas nossas vidas o peso doce e sugestivo da co-redenção. (Amigos de Deus, 8–9)

São Josemaría Escrivá

Segunda-feira Santa: “Eu sou a luz do mundo”

Os nossos pecados foram a causa da Paixão: daquela tortura que deformava o semblante amabilíssimo de Jesus, perfectus Deus, perfectus homo. E são também as nossas misérias que agora nos impedem de contemplar o Senhor e nos apresentam a Sua figura turva e desfeita.

Quando temos a vista turva, quando os olhos se enevoam, precisamos de ir à luz. E Cristo disse: ego sum lux mundi (Jo VIII, 12)!, Eu Sou a luz do mundo. E acrescenta: o que Me segue não anda nas trevas; mas terá a luz da vida. (Via Sacra, 6ª Estação nº 1)

Esta semana, que o povo cristão tradicionalmente chama Santa, oferece-nos uma vez mais a possibilidade de considerar - de reviver - os momentos em que se consuma a vida de Jesus.

Tudo o que as diversas manifestações de piedade nos trazem à memória nestes dias se encaminha decerto para a Ressurreição, que é o fundamento da nossa fé, como escreve S. Paulo. Mas não percorramos este caminho demasiado depressa; não deixemos cair no esquecimento alguma coisa muito simples, que por vezes parece escapar-nos: não poderemos participar da Ressurreição do Senhor se não nos unirmos à sua Paixão e à sua Morte. Para acompanhar a Cristo na sua glória no final da Semana Santa, é necessário que penetremos antes no seu holocausto e que nos sintamos uma só coisa com Ele, morto no Calvário. (…)

Meditemos no Senhor, chagado dos pés à cabeça por amor de nós. Com frase que se aproxima da realidade, embora não consiga exprimi-la completamente, podemos repetir com um escritor de há séculos: O corpo de Jesus é um retábulo de dores. A vista de Cristo feito um farrapo, transformado num corpo inerte descido da Cruz e confiado a sua Mãe, à vista desse Jesus destroçado, poder-se-ia concluir que esta cena é a exteriorização mais clara de uma derrota. Onde estão as massas que O seguiram e o Reino cuja vinda anunciava? Contudo, não temos diante dos olhos uma derrota, mas sim uma vitória: está agora mais perto do que nunca o momento da Ressurreição, da manifestação da glória que Cristo conquistou com a sua obediência. (Cristo que Passa, 95)

ESTADO DE EMERGÊNCIA CRISTÃ

Uma proposta diária de oração pessoal e familiar.

19º Dia. Segunda-feira da Semana Santa, 6 de Abril de 2020.

Meditação da Palavra de Deus (Jo 12, 1-11)

A casa ficou cheia de perfume do bálsamo

A ceia de Betânia manifesta, de forma esplêndida, a gratidão de Maria, pelo dom da ressurreição de Lázaro. Na realidade, a “libra de bálsamo feito de nardo puro”, mesmo que avaliada em “trezentos dinheiros” pela avareza de Judas Iscariotes, pouco era se comparada com a graça da vida de seu irmão. Na verdade, nunca poderemos retribuir a Deus tudo o que somos e temos e, por isso, as nossas acções de graças são sempre manifestamente insuficientes.

O que parece pouco para uma pessoa piedosa, pareceu excessivo para uma alma taquenha e avarenta, como a de Judas Iscariotes. A sua crítica, aparentemente cheia de bom-senso e, até, de sentido social, no fundo era uma requintada hipocrisia. Como esclarece o apóstolo evangelista, aquele seu reparo foi feito “não porque se importasse com os pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, roubava o que se lançava nela.”

Também nós, discípulos de Jesus como Judas, podemos cair nesta tentação. Quando nos parece que a Missa é excessivamente demorada, ou quando não temos tempo para rezar, na realidade não é a Eucaristia que é longa demais, nem o tempo que nos falta – temos exactamente o mesmo tempo do que qualquer outra pessoa! – mas o amor. E, quando falta amor, é porque sobra egoísmo e, por isso, não queremos dar a Deus o ‘nosso’ tempo.

Um propósito: ser esplêndido com Deus. Se podemos, devemos contribuir para a riqueza do culto, na certeza de que nunca exageraremos: qualquer coisa, por melhor que seja, é sempre paupérrima para Nosso Senhor! Mas também no nosso arranjo pessoal e, sobretudo, no nosso tempo: que bom seria que, da mesma forma como os namorados fazem tudo para se verem e demoram muitíssimo as suas despedidas, também nós tivéssemos uma santa impaciência para estar com o Senhor, no Pão e na Palavra, na Eucaristia e na oração, e, já agora, uma santa preguiça para O deixar!

Intenções para os mistérios gozosos do Santo Rosário de Nossa Senhora:

1º - A anunciação do Anjo a Nossa Senhora. Neste momento, Deus está a chamar muitos jovens para que O sigam, como os apóstolos e as santas mulheres. Rezemos por eles!

2º - A visitação de Nossa Senhora a sua prima Santa Isabel. Aqueles que, tendo correspondido ao chamamento de Deus, estão agora em período de especial formação, precisam da nossa oração, para que se mantenham firmes no seu santo propósito.

3º - O nascimento de Jesus em Belém. No princípio da história de uma vocação, há sempre muito entusiasmo, mas há que perseverar no caminho, não por entusiasmo, mas por amor. Rezemos para que todos os chamados sejam fiéis ao amor de Deus.

4º - A apresentação de Jesus no templo e a purificação de Nossa Senhora. Embora anciãos, Ana e Simeão mantinham-se vibrantes e em oração. Que o Senhor não permita tibieza na vida religiosa ou sacerdotal.

5º - O Menino Jesus perdido e achado no templo. As crises vocacionais são inevitáveis, mas todos os que procurarem Jesus, pela
oração e sacrifício, não deixarão de O encontrar, se forem fiéis à sua vocação. Rezemos pela fidelidade de todos os operários da vinha do Senhor.

Para ler, meditar e partilhar! Obrigado e até amanhã, se Deus quiser!

Com amizade,
P. Gonçalo Portocarrero de Almada

Aquela Páscoa judia, tão diferente...

Durante a Semana Santa, que começa hoje, a liturgia católica leva-nos a viver uma Páscoa judaica surpreendente. Recordo a perplexidade de Scott Hahn, hoje um grande biblista católico, no tempo em que ele ainda era protestante. Um dia, ao fio dos Evangelhos, o pregador da sua comunidade protestante foi seguindo os passos da Última Ceia, conforme o cânone habitual da Páscoa judaica. Até dada altura, tudo decorria da forma habitual, ainda que num clima de extraordinária intensidade.

A minúcia dos preparativos, da sala e da celebração, anunciava algo especial e Cristo começou por alertar os discípulos para a importância do momento: «Desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco, antes de padecer».

A celebração judaica começa com as abluções rituais. O mais novo da família leva uma jarra e uma bandeja, deitando a água da purificação sobre as pontas dos dedos de cada um. Neste caso, não foi o menos importante – foi o próprio Cristo! – Quem fez a ablução. E não derramou água sobre os dedos: pôs uma toalha à cintura e lavou os pés a cada um dos discípulos. Pedro recusa uma coisa dessas! Depois, é tal a insistência de Cristo, que aceita...

Seguiram-se os salmos do costume e vários cálices rituais, em acção de graças, como símbolo da Aliança do Povo com Deus, etc., até que Cristo altera o sentido de tudo ao estabelecer uma Aliança nova: «Este cálice é a nova Aliança no meu Sangue, derramado por vós». Neste momento, Cristo coloca-Se a Si próprio como novo centro da acção litúrgica: «todas as vezes que o beberdes, fazei isto em memória de Mim».

Scott Hahn
Há outros elementos revolucionários naquela celebração pascal, mas o que mais surpreendeu Scott Hahn e a sua congregação protestante foi que, imediatamente antes do momento culminante, que seria o cálice da Consumação, Cristo interrompe a cerimónia. Não só interrompe, como o declara solenemente, como se fizesse de propósito: «não tornarei a beber o fruto da videira, até àquele dia em que o beberei de novo no Reino de Deus». Levantaram-se, pois, e saíram para o Monte das Oliveiras. A comunidade de Scott Hahn não sabia o que pensar. Talvez Jesus estivesse perturbado pela iminência da morte, talvez se tivesse esquecido de concluir a cerimónia da Páscoa...

Hahn decidiu reler os Evangelhos de uma ponta à outra, à procura do cálice que faltava, o cálice da Consumação. A conclusão imediata é que não tinha havido esquecimento, quase se diria que Jesus não pensava noutra coisa. Jesus sai do cenáculo da Última Ceia a falar do cálice que faltava: «Meu Pai, se é possível, passe de Mim este cálice! Mas não se faça a minha vontade mas a tua». «Pai, se este cálice não pode passar sem que Eu o beba, faça-se a tua vontade!...». Chegam Judas e os soldados, Pedro pega numa espada e corta a orelha de Malco, um criado do Sumo Sacerdote. Jesus cura milagrosamente o ferido e diz a Pedro «Mete a tua espada na bainha. Eu não havia de beber o cálice que o Pai Me deu?».

Aquele cálice, vinha inclusivamente de muito antes. Ao pedido da mãe de Tiago e João, responde com um desafio misterioso: «Podeis beber o cálice que Eu hei-de beber, ou ser baptizados no baptismo com que Eu vou ser baptizado?» – qual cálice, tão singular? Qual baptismo, se Jesus já tinha sido baptizado no Jordão?

No final da Paixão, pendurado da Cruz, momentos antes de morrer, ressurge a referência à consumação da Aliança. «Sabendo Jesus que tudo estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse “tenho sede”. Havia ali um vaso de vinagre...» e um dos que estavam ali «correu a tomar uma esponja, ensopou-a, pô-la sobre uma cana e deu-Lhe de beber»... «Deram-Lhe a beber vinho misturado com fel. Tendo-o provado, não quis beber». Não, aquele vinho misturado com fel não era o cálice esperado; aquele «tenho sede» não era a pedir aquele vinho. Imediatamente a seguir, Jesus exclama «Tudo está consumado!» e, inclinando a cabeça, expirou.

De repente, Scott Hahn percebeu que a Última Ceia só terminava no Calvário, no momento em que se estabelece a nova Aliança «no sangue derramado por Cristo». A Última Ceia é uma unidade com todo o oferecimento de Cristo na Paixão. Participar na Missa é participar no Sacrifício de Cristo na Cruz. Como diz S. Paulo aos de Corinto, «porventura o cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o sangue de Cristo?». Cristo é, como diz S. Paulo a seguir, «a vítima imolada no altar». S. Paulo recorda como o próprio Jesus tinha avisado os discípulos, na Última Ceia, de que aquele vinho consagrado apontava para a sua morte no Calvário: «Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha».

Um dia, na universidade protestante em que dava aulas, Scott Hahn apresentou esta sua investigação e ouviu um comentário de um aluno que tinha tido catequese católica em pequeno: «Isso faz todo o sentido, mas recorda-me o catecismo de Baltimore!». Scott nunca tinha ouvido falar de um «catecismo de Baltimore», porque era um livrinho elementar, o primeiro catecismo das crianças católicas da época, e por isso ainda acusou mais o toque. Então, os católicos, esses heréticos, ensinam às crianças que a Missa é a renovação do Sacrifício do Calvário?! Algo que ele só tinha descoberto ao fim de tanto esforço de investigação?!

Primeiro, Scott ficou furioso, despeitado. Depois, continuou a investigar e fez-se católico.
José Maria C.S. André
25-III-2018
Spe Deus