Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sexta-feira, 30 de abril de 2021

Respirar?

O Papa Francisco tem dedicado as últimas audiências a falar da oração. Vai na trigésima primeira intervenção temática e prometeu continuar. Tem abordado o tema sob muitos pontos de vista, alguns originais.


— «Meditar é uma necessidade de todos. Meditar, por assim dizer, assemelha-se a parar e a dar um respiro à vida» (28-IV-2021).


Todos concordarão que respirar é importante. O que faz pensar é o que o Papa se distancie um pouco deste objectivo tão consensual:


— «No entanto, quando é aceite no contexto cristão, a palavra meditação assume uma especificidade que não deve ser posta de parte».


Alguns destes aspectos peculiares da oração cristã são de tal maneira próprios que não são partilhados por mais nenhuma religião. Na última quarta-feira, o Papa referiu um destes elementos centrais:


— «O cristão entra na meditação pela porta de Jesus Cristo».


Quem participa na Eucaristia ou assiste a alguma cerimónia litúrgica terá reparado que todas as orações ditas pelo celebrante se dirigem a Deus Pai ou ao Espírito Santo. E todas são ditas em nome de Jesus Cristo. Isto significa que o cristão que reza toma o lugar de Cristo ao falar com Deus Pai ou com o Espírito Santo e é por essa identificação que se atreve a interpelar Deus com toda a confiança.


O primeiro passo para rezar de maneira cristã é tomar consciência daquilo que a Igreja chama a nossa «filiação divina», que não é uma dignidade comum a todas as criaturas. O Baptismo transforma-nos em Jesus Cristo e, portanto, em filhos de Deus, tal como Cristo é Filho de Deus Pai. Há uma diferença, claro, mas há sobretudo uma verdade que ultrapassa tudo o que a humanidade poderia alguma vez imaginar: pelo Baptismo, participamos realmente da divindade de Cristo. Não da divindade de Deus Pai ou do Espírito Santo: somos configurados com Cristo, levantados acima da nossa natureza de meras criaturas e tornamo-nos participantes da filiação divina de Jesus.


É este o sentido, por exemplo, deste texto de S. Pedro: «O divino poder [de Cristo] (...) alcançou-nos os preciosos e maiores bens prometidos, para que chegásseis a ser participantes da natureza divina» (II Pe 1, 3-4).


A partir da consciência da nossa filiação divina, a tarefa muda completamente de feição, porque meditar já não é introspecção, mas encontrar-se com Cristo:


— «Quando o cristão reza, não aspira à plena transparência de si, não procura o núcleo mais profundo do seu eu. (...) A oração do cristão é, antes de mais, um encontro com o Outro, com “O” maiúsculo, o encontro transcendente com Deus».


O Papa citou diversas vezes o Catecismo para insistir neste ponto. «o importante é avançar, com o Espírito Santo, no caminho único da oração: Cristo Jesus» (Catecismo da Igreja Católica, 2707).


Outro elemento específico da oração cristã consiste na intensidade do empenho, porque «é um acto total da pessoa: não reza apenas a mente, reza o homem todo, a totalidade da pessoa, assim como não reza só o sentimento. O Catecismo especifica: “A meditação põe em acção o pensamento, a imaginação, a emoção e o desejo”» — diz o Papa.


Afinal, há aqui um paradoxo porque, quando desistimos de nos buscar a nós próprios e procuramos Deus com todas as forças, descobrimos quem somos. Disse-o o Papa nesta quarta-feira: «Para nós cristãos, meditar é um modo de encontrar Jesus. E assim, só assim, de nos encontrarmos a nós mesmos. (...) Nele, encontramo-nos a nós mesmos».

José Maria C.S. André

segunda-feira, 19 de abril de 2021

“A união com o Papa é união com Pedro”

Ama, venera, reza, mortifica-te – cada dia com mais amor – pelo Romano Pontífice, pedra basilar da Igreja, que prolonga entre todos os homens, ao longo dos séculos e até ao fim dos tempos, aquele trabalho de santificação e governo que Jesus confiou a Pedro. (S. Josemaria Escrivá - Forja, 134)

A suprema potestade do Romano Pontífice e a sua infalibilidade, quando fala ex cathedra, não são uma invenção humana, pois baseiam-se na explícita vontade fundacional de Cristo. Que pouco sentido tem enfrentar o governo do Papa com o dos bispos, ou reduzir a validade do Magistério pontifício ao consentimento dos fiéis! Nada mais alheio à Igreja do que o equilíbrio de poderes; não nos servem esquemas humanos, por mais atrativos ou funcionais que sejam. Ninguém na Igreja goza por si mesmo de potestade absoluta, enquanto homem; na Igreja não há outro chefe além de Cristo; e Cristo quis constituir um Vigário seu – o Romano Pontífice – para a sua Esposa peregrina nesta terra. (…)

Contribuímos para tornar mais evidente essa apostolicidade aos olhos de todos, manifestando com requintada fidelidade a união com o Papa, que é união com Pedro. O amor ao Romano Pontífice há de ser em nós uma formosa paixão, porque nele vemos a Cristo. Se tivermos intimidade com o Senhor na nossa oração, caminharemos com um olhar desanuviado que nos permitirá distinguir, mesmo nos acontecimentos que às vezes não compreendemos ou que nos causam pranto ou dor, a ação do Espírito Santo. (S. Josemaria Escrivá - Amar a Igreja; n 13)

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Haverá fé sobre a terra?...

Na última quarta-feira, 14 de Abril, o Papa retomou na audiência aos peregrinos «aquela pergunta dramática de Jesus, que nos faz sempre reflectir: “Quando vier o Filho do Homem, encontrará acaso fé sobre a terra?” (Lc 18, 8), ou só encontrará organizações, um grupo de “empresários da fé”, todos bem organizados, fazendo beneficência, muitas coisas...?».


O panorama mundial empresta realismo a esta pergunta dramática. É verdade que nunca houve tantas conversões e tantas vocações em muitas partes do mundo, mas todos os dias recebemos notícias de crises graves e, sobretudo na Europa, de cristãos que se afastam.


De um ponto de vista sociológico, o maior detonador desta desagregação é o divórcio. Um sujeito abandona a mulher; continua a ser católico mas começa a faltar à Eucaristia dominical; pergunta-se se este ou aquele ponto da doutrina fazem sentido mas não pede ajuda a quem sabe, vai acumulando dúvidas por esclarecer. Até que, como não está disposto a corrigir a situação, deixa suavemente de se sentir ligado à Igreja. Conserva uma noção vaga de Deus, mas já não é um Deus pessoal, é uma hipótese longínqua com quem é impossível falar. A seguir, talvez sem o próprio se dar conta, afunda-se numa derrocada completa e cada vez se convence mais de que não há solução. Nalguns casos, a certo ponto o desvario colectivo alavanca o vazio individual e brota um desejo agressivo e intolerante de refundar a Igreja em bases novas.


Este itinerário sociológico de quem se afasta tem uma certa sequência lógica, porque qualquer queda, sobretudo se é um resvalar gradual, tem uma dinâmica compreensível. Descer é fácil de explicar, especialmente porque a acção perseverante do Demónio empurra a debilidade humana. A mãozinha maléfica do Demónio sabe perfeitamente onde tem de actuar. O Papa Francisco tem-se referido muitas vezes às estratégias do Demónio, mas nesta quarta-feira foi particularmente explícito em relação a um ponto central:


— «Quando o Inimigo, o Maligno, quer combater a Igreja, fá-lo primeiro procurando secar as suas fontes, impedindo-a de rezar».


O Demónio até aceita a Igreja, desde que seja uma Igreja sem Deus, sem oração. Sobretudo nos países economicamente mais desenvolvidos, a sensação de superioridade intelectual alimenta o orgulho de refundar a Igreja sem importar como Cristo a instituiu. Quanto mais a pessoa está longe de Deus, tanto mais o atrevimento com que brotam estas propostas. Quanto mais descristianizado o país, tanto mais ousadas as propostas que de lá vêm.


— «Por exemplo, vemos isto em certos grupos que se põem de acordo para levar a cabo reformas eclesiais, mudanças na vida da Igreja... Têm muitas organizações, meios de comunicação que informam todos... Mas a oração não se vê. Não se reza. “Devemos mudar isto, temos de tomar esta decisão que é um pouco forte...”. (...) Apenas com debate, apenas com os meios de comunicação. Mas onde está a oração? A oração é que abre a porta ao Espírito Santo, que inspira a avançar. Sem oração, as mudanças na Igreja não são mudanças da Igreja, são mudanças de grupo. E quando o Inimigo —como já disse— quer lutar contra a Igreja, primeiro procura secar as suas fontes, impedindo-as de rezar e incitando-as a fazer este tipo de propostas».


O processo é quase sempre gradual. O Demónio prefere amolecer progressivamente a vontade e alimentar o orgulho. Perde pouco tempo a defender os vícios, infiltra-se. Prefere louvar a ignorância de quem se afasta de Deus: quanta ciência! Que inteligência fulgurante! Aqui está a luz do mundo!


Aos poucos, quase sem forçar, deixa-se a oração, essa relação forte e vital com Deus.


Diz o Papa:


— «Por algum tempo parece que tudo pode continuar como habitualmente —por inércia— mas depois de pouco tempo a Igreja compreende que se torna como que um invólucro vazio, que perdeu o seu eixo central, que já não possui a nascente do calor e do amor».


«Sem fé, tudo se desmorona; e, sem a oração, a fé extingue-se. Fé e oração, juntas. Não há outro caminho. Por isso a Igreja, que é casa e escola de comunhão, é casa e escola de fé e de oração».


José Maria C.S. André

Porquê tanta fragilidade?

«Porque é que actualmente parece que as crianças são mais frágeis?». Quem se faz esta pergunta é Leonard Sax no seu livro “The Collapse of Parenting”. Dedica todo um capítulo a responder a esta questão com muitos dados que procedem da sua experiência como médico e psicólogo.

Uma das causas mais importantes dessa fragilidade, diz ele, é a debilidade da relação entre pais e filhos. Se a relação que os pais têm com os seus filhos não se distingue daquela que eles têm com os seus amigos na escola, as crianças ficam frágeis.

Porquê?

Porque uma boa relação pai-filho é sólida e incondicional. Pelo contrário, as relações entre iguais, nessas idades, são frágeis por natureza.

As crianças agora necessitam do amor e aceitação incondicional dos seus pais tanto como há 30 anos. Mas, atenção: não podem obter isto nem dos seus iguais, nem do boletim de notas da escola, nem dos “likes” nas redes sociais.

Sem uma relação sólida com os pais, diz Sax, surge o culto pelo êxito, o meio mais rápido e eficaz para “impressionar” os outros e “triunfar” na vida.

Mas é precisamente este culto que põe os alicerces para que o edifício da autoestima se desmorone inexoravelmente quando aparece um fracasso. E o fracasso – não nos enganemos, nem enganemos os mais novos – chega sempre, mais tarde ou mais cedo.

E a disposição para o superar é uma demonstração de um carácter bem formado. Porque a aceitação do fracasso e o esforço por recomeçar são precisamente o contrário da fragilidade.

Quando as crianças estão seguras da aceitação incondicional dos seus pais, encontram a firmeza que os permite tentar, fracassar e recomeçar.

Pelo contrário, defende Sax, quando valorizam a opinião dos amigos por cima da estima incondicional dos pais, não são capazes de “digerir” um fracasso e, logicamente, tornam-se frágeis.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria

sexta-feira, 2 de abril de 2021

A hora de Maria


A partir das 17h00 de Sábado Santo (fuso horário de Itália), algumas cadeias de televisão vão expor a imagem do Sudário de Turim, para acompanharmos Nossa Senhora enquanto esperava a Ressurreição de Jesus. Tradicionalmente, a Igreja dedica os sábados a Maria, em recordação desse sábado em que ela foi a única pessoa na Terra que teve fé na Ressurreição. Em face da violência da tortura e Morte de Jesus, os primeiros cristãos resistiam a pensar na Ressurreição, parecia-lhes que tudo tinha acabado. Só Maria manteve a serenidade suficiente para recordar o que Jesus tinha dito e repetido tantas vezes: que tinha de padecer muito, que tinha de morrer e que, ao terceiro dia, ressuscitaria.


O Sudário de Turim que vai ser mostrado na televisão é um lençol absolutamente único, com uma imagem extraordinária pelas características técnicas e, sobretudo, pela expressividade. No ano passado, o Papa escreveu no «Twitter»: «Este Rosto desfigurado pelas feridas comunica-nos uma grande paz. O seu olhar não busca os nossos olhos mas o nosso coração».


A imagem do Sudário é um conjunto de manchas ténues, que representa o cadáver deitado de Cristo, pela frente e por trás. Além disso, tem marcas de sangue e outras resultantes de acidentes. Ao fim de muitos séculos, esta imagem, de leitura difícil, quase imperceptível, foi revelada em 1898. Literalmente: foi «revelada» como uma película fotográfica, quando a fotografaram pela primeira vez em 1898.


Quando incide sobre uma película fotográfica, a luz escurece-a, enquanto as partes escuras se mantêm brancas ou transparentes. Isto é, o preto fica branco e o branco fica a preto. Assim, por causa desta inversão de luz, a fotografia com película exige duas etapas. Primeiro, capta-se a imagem «em negativo», isto é, a película fica com a iluminação invertida. A seguir, imprime-se o «negativo do negativo», ou seja, inverte-se o negativo, para a imagem ficar normal, com a luz a branco e a escuridão a preto. Esta imagem final chama-se o «positivo».



O curioso do Sudário de Turim é que, ao fim da primeira etapa fotográfica, que deveria ser o passo intermédio, se obteve uma imagem nítida e fácil de compreender, como se o lençol de Turim fosse uma pintura «em negativo».


Não podia ser uma pintura em negativo, porque ninguém fazia a inversão da luz antes de se inventar a química fotográfica. E, para maior surpresa, a imagem de Turim nem sequer é uma pintura. O lençol tem manchas, mas não há tinta, nem há desenho, é a própria superfície do tecido de linho que dá o tom às manchas. As manchas não impregnam os fios, nem se nota sobre eles qualquer pintura, por isso, as manchas não têm um carácter direccional, como as marcas do pincel numa pintura.


À medida que se estuda o Sudário de Turim, descobrem-se cada vez mais singularidades. Talvez por não estar pintada com tinta, a imagem não é afectada pela água, nem por reagentes químicos, nem sequer pelo calor.


O mais estranho, parece-me a mim, é que a imagem não só é um «negativo», como contém informação tridimensional: as tonalidades da cor dão a medida do relevo, de modo que se pode reconstruir a três dimensões a forma do cadáver representado no lençol. É que a imagem não é uma simples imagem visual, com zonas claras do lado da luz incidente e sombras do lado oposto: a cor é proporcional à distância do cadáver ao lençol, independentemente de estar do lado da luz ou do lado da sombra. Com um computador, fazem-se imagens deste tipo, mas como é que ela aparece num lençol com tantos séculos?


Os grãos microscópicos de pólen são fáceis de compreender. A polícia judiciária faz essas observações da roupa para determinar onde é que os sujeitos estiveram. No caso do lençol de Turim, dezenas de grãos de pólen remetem para a Terra Santa e alguns outros são de Turim ou de outros sítios onde o lençol esteve.


O Sudário de Turim impressiona por este tipo de pormenores difíceis de explicar e alguns deles impossíveis até de reproduzir com os meios técnicos actuais. A tradição garante que este lençol envolveu o Corpo morto de Cristo, «embrulhado num lençol com perfumes, à maneira dos judeus», como diz o Evangelho de S. João, e a palavra «sudário» por que é conhecido designa este tipo de lençol.



É bom continuar a investigar, mas podemos ir mais longe e, como diz o Papa no «Twitter», podemos pensar que o olhar de Jesus morto por nós na Cruz não busca os nossos olhos mas o nosso coração. O propósito da transmissão televisiva deste Sábado Santo é aprender a olhar Jesus com o olhar de fé de Maria, por isso o evento se chama a hora de Maria.

José Maria C.S. André