Receber o Santo Padre no nosso país não é só um privilégio, mas uma grande manifestação da graça de Deus.
Bento XVI é o sucessor de Pedro, o apóstolo a quem o Senhor concedeu o governo de toda a Igreja que Ele fundou e se mantém, desde o momento em que surgiu, fiel à doutrina, fiel à unidade tão desejada pelo próprio Jesus, fiel aos desígnios e fins que o Mestre lhe prescreveu, numa palavra, fiel a Cristo.
A presença do Papa entre nós fala-nos da maior confissão religiosa que o mundo conhece e, por certo, a mais amada. Nem sempre a sua vida é fácil, porque o próprio Fundador avisou de que segui-Lo é pegar na cruz todos os dias e ser sinal de contradição. E quando assim acontece, está-se no caminho certo, o das Bem-aventuranças: “Bem-aventurados sereis, quando vos insultarem, vos perseguirem. e disserem toda a espécie de mal por causa de Mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos Céus...” (Mt. 5, 12).
Não admira, pois, que ela seja a instituição viva que conheceu, ao longo dos seus quase dois mil anos de existência, o maior número de incompreensões e de perseguições. Estes eventos fazem parte do seu “pão nosso de cada dia”, que nem sempre é fácil de aceitar, e lembra que, quem a ataca, por vezes, fá-lo duma forma tão agressiva e tão despropositada, que parece não agir apenas por sua inspiração. Dir-se-ia instrumento nas mãos de forças de um mal sobrehumano, que deixa o seu ferrete viscoso e repelente no modo como age e como incita os seus sequazes a tratar a Igreja ou os seus membros.
Para estes detractores, não importa ser justo ou dizer a verdade com clareza. O que se persegue é o escândalo, a atemorização dos crentes, o enxovalho mais asqueroso dos seus dirigentes, tentar tornar a Igreja fundada por Cristo num conjunto de criminosos e ocultadores de histórias nojentas, que sem deixarem de ser reais – o pecado humano é sempre feio e mau– envolve um número ínfimo dos fiéis da Igreja.
Por ser quem é, isto é, a Igreja que Cristo fundou, dá o exemplo de reconhecer os pecados dos seus membros e pedir perdão. Confesso que não sei se outra instituição congénere já realizou gestos semelhantes e, quem sabe, por motivos muito mais gravosos e abundantes. Mas isso não é o importante. O que interessa é que a Igreja sabe pedir perdão, dando exemplo de humildade e reconhecendo que nem sempre os seus membros amaram a mensagem de caridade que o Mestre lhe deixou.
Bento XVI vai a Fátima visitar Nossa Senhora, essa Mãe tão carinhosa que apareceu a três humildes zagaletes da Serra de Aire em 1917, e, dum modo mais específico, deu a entender à pequenita Jacinta (hoje Beata Jacinta), que o Papa teria de sofrer muito. Também isto não constitui novidade na vida dos Romanos Pontífices. S. Pedro morreu crucificado, os seus sucessores dos primeiros tempos foram martirizados quase sem excepção e, ao longo dos dois milénios da Igreja, quantos não tiveram de suportar vexames, ataques e brutalidades, que às vezes partiam dos próprios senhores do poder, que lhe deviam respeito e veneração como crentes.
A História não se repete, porque é feita por homens diferentes, mas o pecado humano é sempre igual. Por isso, não é original nem surpreendente o que nos magoa tanto, quando, com certa insistência depressiva e patológica, abrimos jornais, ouvimos rádio ou vemos televisão. Cada qual quer que o Papa e a Igreja se comportem da maneira mais adequada a que os seus leitores, os seus ouvintes, ou os seus espectadores lhes dêem crédito.
Compete-nos, na dor que nos assaca, manter a tranquilidade e a alegria dos filhos de Deus e da Igreja. E saber, junto de Maria Santíssima, pedir perdão a Deus por todos os pecados humanos – de nós, fiéis da Igreja, do presente e do passado – e de todos os que, por razões tão estranhas, empolam misérias repugnantes como juízes que estão acima do bem e do mal e tudo podem condenar com um rigor e uma inflexibilidade que, provavelmente, não aplicam, com tanto zelo, a outras condutas condenáveis e mais frequentes.
Não será toda esta sanha uma prova bem patente da importância que a Igreja tem nos nossos dias e da expectativa que existe entre as pessoas sobre a sua santidade?
(Pe. Rui Rosas da Silva – Prior da Paróquia de Nossa Senhora da Porta Céu em Lisboa in Boletim Paroquial de Maio, título da responsabilidade do autor do blogue)
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