A revista Família Cristã publicou uma entrevista a Mons. Fernando Ocáriz
realizada pelo jornalista Horacio la Rocca e traduzida por Maria José dos
Santos.
Nos 90 anos da fundação do Opus Dei,
monsenhor Fernando Ocáriz fala sobre a Obra. Prelado desde 2017, nasceu em
Paris, em 1944, filho de pais espanhóis exilados em França durante a Guerra
civil. Docente de Teologia Fundamental na Pontifícia Universidade de Santa Cruz
e consultor da Congregação para a Doutrina da Fé, é também um ótimo tenista que
gosta de jogar quase todos os dias. Talvez por isso rejeite com força certas
malfadadas contradições, daquelas que tendem a identificar a Obra com a Banca e
com poderosos políticos.
É o quarto prelado do Opus Dei. Ainda é
forte a “presença” do vosso fundador na Obra?
Certamente, e não poderia ser de outra
maneira. S. Josemaria Escrivá está sempre no meio de nós. Nunca nos abandona.
Poderíamos falar de uma presença viva, palpável, familiar. Vejo muitas pessoas
do Opus Dei à procura de conselhos nos escritos do fundador, pedindo-lhe ajuda
nos momentos de dificuldade e recorrem à sua intercessão sempre que precisam.
Isto é algo enraizado na vida interior quotidiana de muitíssimas pessoas, até
mesmo de devotos de S. Josemaria que nem sequer conhecem o Opus Dei. Aqui, na
sede central do Opus Dei em Roma, em Santa Maria da Paz, na
igreja prelatícia, encontram-se os seus despojos mortais e milhares de pessoas
de todas as partes do mundo vêm exprimir no silêncio da oração a sua gratidão
ou as próprias inquietações.
Pode, pois, dizer-se que 45 anos depois
da sua morte, acontecida em Roma em 26 de junho de 1975, S. Josemaria Escrivá
“guia” ainda a Obra, até neste turbulento início do terceiro milénio?
Penso que todos nós procuramos manter o espírito que nos
deixou, e que ele por sua vez recebera do Senhor, o qual consiste em procurar a
Deus no meio dos trabalhos quotidianos feitos na vida familiar, no emprego, na
oração, na amizade, no serviço, no repouso... O desafio é procurar torná-lo
cada vez mais atual, na diversidade dos tempos e lugares.
Pessoalmente o que faz para aproximar
mais o Opus Dei da gente comum e para eliminar os preconceitos residuais que,
sem ou com razão, atribuem à Obra estar mais “atenta” aos poderosos?
A lenda negra que nos vê como amigos dos capitalistas é
uma falsidade do passado. É uma onda de lendas negras do passado, falsidades
que o tempo desmentiu.
Mas quais poderosos? Nós ajudamos os últimos… Realizamos
obras académicas didáticas para a formação dos jovens, em toda a parte do
mundo, especialmente os mais pobres. Damos vida a hospitais, a centros de
acolhimento e de reabilitação com as técnicas mais avançadas ao serviço do
homem doente, sofredor e necessitado de cuidados. Mas, ao mesmo tempo, levamos
a Palavra de Deus a todos, próximos e afastados, aos homens e às mulheres, a
ricos e a pobres. Sem medo de evangelizar até empresários, políticos,
banqueiros, com espírito de serviço evangélico, seguindo os passos do nosso
fundador, S. Josemaria Escrivá.
O Opus Dei vive atento às necessidades
espirituais de todos. Uma certa lenda negra são águas passadas. Quero dizer: em
Itália, em Roma, uma das iniciativas promovidas desde finais da década de 1970
por nós, no Centro Elis, foi uma ocasião de formação profissional e de resgate social
a migrantes menores não acompanhados, a jovens do sul de Itália e do mundo e a
outros que nunca teriam outra possibilidade. Além disso, com as suas atividades
propõe o profissionalismo como serviço ao bem comum e ajuda ao próximo. E,
baseado em estatísticas, os jovens que se formam no Centro Elis têm
sempre emprego garantido. Esta é a nossa vida.
Em Roma, existe também o campus
biomédico, que em poucos anos se tornou na mais famosa Faculdade de Medicina,
tendo em anexo um hospital e centros de reabilitação. Pode comparar-se com a
Universidade de Pamplona, em Espanha, com todas as valências académicas.
Sim, é verdade. Mas também em muitas outras partes do
mundo as pessoas do Opus Dei, com muitos outros amigos, promovem muitíssimas
iniciativas do género, expressamente até em favor dos agricultores, dos
migrantes e de quem tudo perdeu, para responder às exigências do seu bairro ou
da sua cidade. Estou a lembrar-me de duas iniciativas no bairro Raval de
Barcelona, com 20 mil imigrantes: os Centros Braval e Terral, com mais de 300 voluntários
envolvidos em programas de instrução, desporto ou formação profissional. Em
Colónia, na Alemanha, pude encontrar os voluntários e os sacerdotes da paróquia
de São Pantaleão que se ocupam de um prédio construído graças à colaboração com
a diocese e o município para hospedar 30 famílias de refugiados que fogem do
conflito sírio. Graças a Deus nasceram instituições deste tipo por todo o lado.
Se perguntarmos pelo Opus Dei em Kinshasa, [República Democrática do Congo], no
terceiro país mais pobre do mundo, muitos podem explicar como foram acolhidos
no Hospital Monkole, construído pelos fiéis da Prelatura com outros amigos.
Tudo isto num plano didático, de trabalho
e de medicina. Mas, a nível espiritual, o que é que a Obra faz?
Também o cuidado do espírito para o Opus Dei é de primária
importância. Juntamente com a constante atenção ao acolhimento dos necessitados
e migrantes em hospitais e centros de cuidados especializados, à formação
académica e laboral, ao mesmo tempo não deve ser esquecida a importância de
levar o Evangelho a todos, e não apenas a uma parte da população. A Obra leva a
Palavra a todos, pobres e ricos. E, neste sentido, a evangelização dos
empresários, dos políticos, dos jornalistas e de outras pessoas com recursos
económicos é de grande importância para que a Doutrina Social da Igreja possa
ser operativa. Como ensina, realmente, S. Josemaria Escrivá.
Texto: Horácio La Rocca
Tradução:
Mário José dos Santos
Fotos:
Gabinete de Informação do Opus Dei
Entrevista publicada na FAMÍLIA CRISTÃ.