Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sexta-feira, 29 de maio de 2020

O padrão gregário

A primeira leitura da Eucaristia de quinta-feira passada (28 de Maio) conta um episódio divertido, que se repete hoje nas redes sociais. O capítulo 22 do livro dos Actos dos Apóstolos transcreve um discurso em que S. Paulo capta eficazmente a atenção do auditório até ao momento em que o interesse se transforma em fúria e a multidão quer matá-lo. A autoridade prepara-se para aplicar a violência habitual nestes casos quando Paulo intervém e mete o Centurião na ordem, deixando-o muito assustado. O assunto sobe às mãos do Tribuno, que convoca os Sumos Sacerdotes e todo o Grande Conselho. É neste ponto que começava a primeira leitura da Missa da passada quinta-feira, que se estendia pelo capítulo 23 dos Actos:

«Paulo sabia que uma parte do Sinédrio era de saduceus e a outra de fariseus e disse em alta voz:

– “Irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseus. Por causa da minha esperança na ressurreição dos mortos é que sou julgado!”.

Ao dizer estas palavras, houve uma discussão entre os fariseus e os saduceus e dividiu-se a assembleia. Com efeito, os saduceus afirmam não haver ressurreição, nem anjos, nem espíritos, mas os fariseus admitem tanto uma coisa como a outra. Houve então uma enorme gritaria. Alguns doutores da Lei, do partido dos fariseus, levantaram-se e começaram a protestar: “Não encontramos nenhum mal neste homem. Quem sabe se não foi algum espírito ou um anjo que lhe falou?”. E a discussão ficou cada vez mais violenta».

Paulo conhecia a irracionalidade do Grande Conselho e por isso não recorre a argumentos teológicos, limita-se a excitar o instinto das facções. Ao definir-se como fariseu, garantiu imediatamente o apoio de uns e a rejeição dos outros. No discurso anterior tinha dito que, antes de se converter, concordava com os fariseus na morte de cristãos, mas não importa. Agora, basta colocar-se do lado dos fariseus para que os mesmos fariseus, até aí violentamente anti-cristãos, passem a apoiar a proposta cristã de Paulo. E os saduceus reagem com um automatismo semelhante, sempre ao contrário dos fariseus.

Este episódio da Bíblia é uma brincadeira, mas dá que pensar! Explorar propositadamente comportamentos irracionais! Porque não lhes interessava se Cristo tinha ressuscitado ou não, ambos os grupos aceitavam qualquer posição, dependendo de como ela se enquadrasse no conflito entre saduceus e fariseus. A partir do momento em que Paulo exclama «sou fariseu, filho de fariseus!», a reacção homogénea de cada lado torna-se totalmente previsível.

Hoje em dia, muitos grupos de opinião parecem reagir com o automatismo do Grande Conselho de há 2000 anos. Em geral, quem desconfia do aquecimento global é a favor da liberdade de ensino, é a favor de determinadas medidas económicas, é contra a Comunhão na mão, é contra os imigrantes, é a favor da pena de morte, é contra a eutanásia, é contra a União Europeia, é contra as medidas de confinamento relacionadas com a Covid 19, a favor de Trump, etc., etc. E vice-versa.

Qual a relação entre assuntos tão diferentes? Porque é que se formam grupos tão homogéneos? Às vezes, parece que as posições se explicam por um condicionamento gregário automático.

Se Trump fecha as fronteiras por causa do vírus, uns aplaudem em bloco, outros criticam unanimemente. Se, passados uns dias, Trump mantém certas fronteiras abertas, os primeiros criticam e os segundos aprovam. Sempre em bloco. E se decisões análogas são tomadas pelo Governo sueco, quem criticava Trump concorda, e vice-versa.

Há pouco tempo, em Portugal, um deputado de direita defendeu a castração de criminosos e os seus opositores consideraram a proposta tão repugnante que não aceitaram que fosse sequer discutida no Parlamento. Ao mesmo tempo, em Espanha, o «Unidas Podemos» propôs a castração... e os opositores de direita revoltaram-se! Não me vou pronunciar sobre o assunto, registo apenas, com o olhar distante de cientista, a solidez do padrão: se os saduceus defendem uma coisa, os fariseus são absolutamente contra. E vice-versa.

Mas se os saduceus trocarem de opinião, os fariseus também mudam imediatamente. Hoje, como há 2000 anos!

Resta saber em que medida cada um de nós obedece a padrões gregários, porque é divertido ver a previsibilidade ingénua dos outros mas pode ser doloroso fazer exame de consciência.
José Maria C.S. André

O Doce Coração de Maria

Acostuma-te a entregar o teu pobre coração ao Doce e Imaculado Coração de Maria, para que to purifique de tanta escória e te leve ao Coração Sacratíssimo e Misericordioso de Jesus. (S. Josemaría Escrivá - Sulco, 830)



Segundo a Lei de Moisés, uma vez decorrido o tempo da purificação da Mãe, é preciso ir com o Menino a Jerusalém, para O apresentar ao Senhor (Lc II, 22).

E desta vez, meu amigo, hás-de ser tu a levar a gaiola das rolas. - Estás a ver? Ela – a Imaculada! - submete-se à Lei como se estivesse imunda.

Aprenderás com este exemplo, menino tonto, a cumprir a Santa Lei de Deus, apesar de todos os sacrifícios pessoais?

Purificação! Sim, tu e eu, é que precisamos de purificação! Expiação e, além da expiação, o Amor. - Um amor que seja cautério: que abrase a imundície da nossa alma, e fogo que incendeie, com chamas divinas, a miséria do nosso coração. (S. Josemaría Escrivá - Santo Rosário. 4º Mistério gozoso)

MISTÉRIOS DO EVANGELHO Décimo quarto Mistério

Desprendimento de Jesus

«… o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.»
Sentimos o apelo, a chamada do Senhor e, o nosso desejo imediato é dizer que sim, que queremos segui-Lo. De facto, pensando bem, vemos com clareza meridiana que não há outro caminho, outra solução para alcançar o objectivo principal da nossa vida: a salvação eterna. Mas, as amarras que sentimos prenderem-nos a tantas coisas que consideramos importantes impõem-nos considerações: talvez… não já… haverá uma altura mais favorável… temos ainda tantas coisas para acabar… Amarras, a bem dizer, que fomos construindo ao longo da vida, desta vida que pensámos longa, quase interminável, com tempo para tudo. Ah! Mas, de facto, não temos tempo nenhum – aliás não temos nada – não podemos prolongar um segundo a hora decisiva e final. NUNC COEPI! Agora! Agora mesmo! Já! Sem hesitações nem desculpas, temos de nos decidir: Ou O seguimos, como Ele quer, incondicionalmente, totalmente ou, então, talvez tenhamos perdido a última oportunidade que, sem qualquer mérito da nossa parte, Ele nos oferece: Tu… vem e segue-Me! (AMA, comentário sobre Lc 9, 57-62, 04.10.2017)

(AMA, 2019)

Culto eucarístico

O culto é tomar consciência da queda [do pecado original], é, por assim dizer, o instante do arrependimento do filho pródigo, o voltar-o-olhar-para-a-origem.

Na medida em que, segundo muitas filosofias, o conhecimento e o ser coincidem, o facto de se voltar o olhar para o Princípio constitui também, e ao mesmo tempo, uma nova ascensão para Ele. [...]

Desde [o momento em que tiveram lugar] a Cruz e a Ressurreição de Jesus, a Eucaristia é o ponto de encontro de todas as linhas da Antiga Aliança, e até da História das religiões em geral: o culto verdadeiro, sempre esperado e que sempre supera as possibilidades humanas, a adoração em espírito e verdade. [...]

Que ninguém diga agora: a Eucaristia existe para ser comida, não para ser adorada.

Como sublinham uma e outra vez as tradições mais antigas, não é de forma alguma um pão corrente. Comê-la é um processo espiritual que abarca toda a realidade humana.

Comer Cristo significa adorar a Cristo. Comê-lo significa deixá-lo entrar em mim de modo que o meu "eu" seja transformado e se abra ao grande "nós", de maneira que cheguemos a ser um só com Ele. Desta forma, a adoração não se opõe à comunhão nem se situa paralelamente a ela. A comunhão só atinge toda a sua profundidade se estiver sustentada e compreendida pela adoração. A presença eucarística no tabernáculo não cria outro conceito da Eucaristia paralelo ou oposto à celebração eucarística, antes constitui a sua plena realização.

(Cardeal Joseph Ratzinger in ‘El espíritu de Ia liturgia’)