Obrigado, Perdão Ajuda-me

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As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

No casamento como nas alterações climáticas

Um relatório sobre famílias, realizado na Grã-Bretanha, diz-nos que o casamento não vale a pena; por outro lado, um outro relatório dos EUA defende que o tentemos salvar. Algum tem de estar errado...

Um dos aspectos mais singulares dos estudos sobre famílias consiste no facto de todos poderem partir das mesmas informações e levarem a conclusões extremamente opostas. Assim sendo, os estudos sobre famílias são um pouco semelhantes aos estudos sobre o clima: provavelmente, algumas das provas sofrem uma pequenina adulteração... Porém, as informações sobre o clima são opacas para nós leigos e, por vezes, não temos noção do que se passa ao nosso redor, ao passo que o que acontece com as famílias está mesmo à frente dos nossos olhos.

É por este motivo que os relatórios recentemente publicados nos EUA e na Grã-Bretanha estão basicamente de acordo no que respeita às tendências familiares: há cada vez menos pessoas a casar, em prol das uniões de facto; consequentemente, assiste-se a uma diminuição da taxa de divórcio; uma em cada quatro crianças vive com uma mãe solteira - ou, por vezes, um pai; incluindo os filhos adoptivos, um número ainda maior de crianças vive sem o pai biológico (uma em três nos EUA); nascem cada vez menos crianças, sendo que na Grã-Bretanha a taxa de natalidade se encontra abaixo de duas crianças por mulher e nos EUA ronda as 2,1. Mas isto são apenas os aspectos gerais; o panorama muda significativamente nos diferentes estratos populacionais.

Extremos opostos

No que respeita à questão de como deveria a sociedade responder a tais tendências, os referidos relatórios tornam-se em extremos opostos.

O relatório de 2009 dos EUA, The State of Our Unions, - que procura esclarecer até que ponto o dinheiro é um factor de saúde do casamento - é desenvolvido por uma comunidade de académicos e de eruditos comprometidos em fortalecer o casamento como fonte de bem-estar familiar. O referido relatório é realizado pelo National Marriage Project, na Universidade da Virgínia e pelo Center for Marriage, no Institute for American Values. O registo de tendências e de pressões sociais específicas - neste caso, a recessão económica - leva a uma correcção das tendências que conduzem os casamentos ao falhanço.

Porquê? Porque o avassalador peso das provas - que corroboram o senso comum - confirma que o casamento é a melhor garantia de bem-estar das crianças, assim como da saúde da sociedade.

O relatório do Reino Unido - Family Trends: British families since the 1950s - não leva este aspecto em consideração. Desenvolvido no National Family and Parenting Institute (FPI) - que o extremamente franco jornal britânico Daily Mail descreve como "uma organização financiada pelo Estado e implementada pelo Partido Trabalhista para defender os pais e as crianças" - o seu objectivo consiste em defender as "famílias em todas as suas formas" e não propriamente o casamento. Por outras palavras, defende a adaptação ao colapso da família e o apoio social para pais e filhos dentro ou fora do casamento, independentemente de viverem juntos, ou não.

Neste momento, tenho de confessar uma coisa: embora tenha lido o relatório dos EUA na íntegra, disponível gratuitamente, não li a totalidade do relatório britânico... que custa cerca de 36€. Não me pareceu um bom investimento... No entanto, li um resumo dos conteúdos do relatório, um discurso de Katherine Rake, a nova directora do FPI, proferido aquando do lançamento do mesmo e algumas entrevistas nas quais ela expunha as suas ideias. Tendo em conta todos os comentários que li sobre o assunto, duvido que algum jornalista tenha lido algo mais.

Portanto, o que tem ela a dizer?

A morte da família

A Dr.ª Rake (uma cientista social) está convencida de que dentro de 20 anos não existirá o que chamamos de "família típica", porque "as pessoas estão constantemente a redefinir o conceito de família"; mesmo agora, "a família nuclear tradicional... certamente não é a norma".

Posto isto, como serão satisfeitas as necessidades "parentais" das crianças nessa altura? Ora bem, a sociedade fornecerá um bom número de avós às crianças, podendo os tios, as tias, os primos e até os irmãos substituir, eventualmente, o pai e/ou a mãe. Este prometedor espectáculo é, de certa forma, descartado pelo relatório britânico que sublinha o efeito "varapau" da baixa fertilidade e do envelhecimento: "há mais gerações vivas, mas com menos tios, tias, etc.". E quão apegados às crianças serão os pais idosos do progenitor ausente?

Obviamente, também caberá ao Estado e aos seus vários agentes o enorme papel de "disponibilizar recursos para apoiar casais quando estiverem juntos ou separados". Afinal, vão ser precisos muitos especialistas para ajudar os casais a construir "relações saudáveis" dentro e fora do casamento e para os ajudar a serem "pais eficazes" quando se separarem. Além disso, também será necessária uma enorme quantia de dinheiro para manter os filhos em contacto com os pais que não moram na mesma casa, sendo que a maior parte deles são pobres e "não têm recursos - instalações ou dinheiro - para manter duas famílias". Neste sentido, os fundos públicos serão inesgotáveis.

Ainda assim, a Dr.ª Rake afirma que esses fundos não deveriam ser esbanjados a tentar salvar os casamentos: "os políticos têm de evitar o erro de investir grandes somas de dinheiro a remar contra a maré, encorajando a constituição de ‘famílias tradicionais'".

O que a Dr.ª Rake e os seus colegas (o Governo Trabalhista que a apoia e todas as pessoas que pensam que podem prosperar sem se casarem) não percebem é que o casamento é uma instituição criadora de riqueza - algo que o relatório americano enfatiza como a base da sua investigação, acerca de quais poderão ser os efeitos da crise mundial.

É lógico que este não é, de todo, o valor mais importante do casamento, embora seja frequentemente negligenciado. Todavia, se lhe prestarmos mais atenção, veremos que esclarece outros aspectos, por isso, dedicarei o resto do artigo a este ponto.

Combater a pobreza com um compromisso

Tal como o relatório dos EUA nos indica, as estatísticas do governo americano mostram que uma família de três pessoas (dois pais e uma criança) precisa de um rendimento de $18,311 dólares americanos para que seja considerada acima da linha de pobreza. Contudo, se os pais viverem em casas separadas, o rendimento total necessário para os manter fora da pobreza salta para os $25, 401 dólares americanos, o que significa que os pais terão de ganhar mais 39% para evitar a pobreza. Ainda assim, são os operários e os pobres que estão a falhar desproporcionadamente o casamento; as pessoas com educação superior e com melhores rendimentos percebem o sistema económico e são as que se casam hoje em dia.

Ironicamente, a classe média tem uma menor necessidade de se casar por motivos económicos, graças ao espírito empreendedor das mulheres. Isto levou a alterações no significado do casamento: as pessoas procuram a sua "alma gémea" e enfatizam o companheirismo e a compreensão, a igualdade de rendimentos e (cada vez mais) uma divisão equitativa das tarefas domésticas - tudo isto iniciado com um casamento extremamente caro.

Este modelo encaixa nas pessoas com educação superior e rendimentos elevados, embora não se aplique tão facilmente à classe operária e aos pobres. Por um lado, estes homens foram mais vulneráveis às alterações económicas e representam 75% da taxa de desemprego desde 2007, tornando-se, assim, menos propensos ao casamento. Também é mais difícil para os que são casados de parar de exercer o papel de ganha-pão: uma pesquisa efectuada pelo Professor Brad Wilcox, director do National Marriage Project, evidencia que, entre os casais que têm filhos em casa, os maridos que trabalham menos horas do que as respectivas esposas têm uma probabilidade de 61% de afirmar que não são plenamente felizes no casamento, quando comparados com homens que trabalham tantas ou mais horas do que as esposas.

O resultado líquido destas tendências revela um aumento da taxa de divórcio entre os casais das classes trabalhadoras (sendo esta taxa mais reduzida no topo da escala social), assistindo-se a um maior número de casamentos face às uniões de facto ou aos pais/mães que criam os filhos sozinhos.

Ao serviço da sociedade

A Dr.ª Rake e companhia não querem dizer que esta não é a solução; não pretendem alterar a política social, de modo a que se forneça um especial reconhecimento e vantagens financeiras aos pais casados, tal como promete o Partido Conservador britânico; prefeririam, ao invés, esbanjar as carteiras dos contribuintes para financiar famílias arruinadas ("diversidade"). Porquê?

Eu acho que os políticos trabalhistas são fortemente influenciados pela estrutura social liberal académica e que se limitaram a entregar-lhes a política social. E os académicos? No caso da Dr.ª Rake, talvez tenha algo a ver com o facto de os pais estarem divorciados e de, também ela, estar separada do marido com quem tem um filho de quatro anos. Além disso, ela concorda com alguns aspectos feministas que defendem um rendimento fixo e igualdade de papéis entre homens e mulheres - provavelmente terá sido influenciada pelo seu último emprego na organização feminista Fawcett Society. De facto, é difícil não ficar com a impressão de que ela não está interessada de todo nas "famílias" ou nas crianças, mas nas mulheres como tal.

Ninguém, centrado unicamente no bem-estar das crianças - ou, de facto, na felicidade dos homens e das mulheres - poderia chegar à conclusão de que o casamento é dispensável. Porém, o relatório americano recorda-nos de que já lá vai algum tempo em que as nossas sociedades eram centradas nas crianças, tal como nos mostram claramente as taxas de natalidade. Se nos agarrássemos a esse fenómeno, veríamos bem os problemas do casamento em geral.

Carolyn Moynihan ( editora-adjunta do site MercatorNet).
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Tradução de Isabel Costa.

(Fonte: Aceprensa online)

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