Deus não pode ser objecto de negociação. E a fé não prevê a possibilidade de sermos «tíbios», «nem maus nem bons», procurando com «uma vida dupla» chegar a um acordo num «status vivendi» com o mundo. O Papa Francisco disse-o na homilia da missa, celebrada na manhã de quinta-feira 11 de Abril, na capela da Domus Sanctae Marthae, na qual participaram a direcção e a redacção de «L'Osservatore Romano». Além dos jornalistas do diário estavam presentes também os das edições periódicas e alguns funcionários da direcção geral..
Entre os concelebrantes o indiano cardeal Telesphore Placidus Toppo, arcebispo de Ranchi, o arcebispo Mario Aurelio Poli, sucessor de Bergoglio no governo da arquidiocese de Buenos Aires, pe. Indunil Janakaratne Kodithuwakku Kankanamalage, subsecretário do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, monsenhor Robinson Edward Wijesinghe, chefe de departamento do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, pe. Sergio Pellini, director-geral da Tipografia Vaticana Editrice L'Osservatore Romano, os jesuítas Władisław Gryzło, encarregado da edição mensal em língua polaca do nosso jornal, e Konrad Grech, e o franciscano conventual Giuseppe Samid. Entre os presentes, o presidente e o secretário-geral da Fundação Centesimus Annus – Pro Pontifice, Domingo Sugranyes Bickel e Massimo Gattamelata.
Nas leituras, explicou o Papa na homilia, «aparece três vezes a palavra “obedecer”: fala-se da obediência. A primeira vez, quando Pedro responde “é preciso obedecer a Deus e não aos homens”» diante do Sinédrio como referem os Actos dos apóstolos (5, 27-33).
O que significa – questionou-se o Pontífice – «obedecer a Deus? Significa que devemos ser como escravos, todos amarrados? Não, porque exactamente quem obedece a Deus é livre, não é escravo! E como se faz? Obedeço, não faço a minha vontade e sou livre? Parece uma contradição. Mas não é uma contradição». De facto «obedecer vem do latim e significa escutar, ouvir o outro. Obedecer a Deus é escutá-Lo, ter o coração aberto para ir pela senda que Deus nos indica. A obediência a Deus é escutar Deus. E isto torna-nos livres».
Comentando o trecho dos Actos dos apóstolos, o Pontífice recordou que Pedro «diante destes escribas, sacerdotes e também do sumo sacerdote, dos fariseus» foi chamado a «tomar uma decisão». Pedro «ouvia o que os fariseus e os sacerdotes diziam, e ouvia o que Jesus dizia no seu coração: “o que faço?”. Disse: “Faço o que me diz Jesus, não o que quereis que eu faça”. E assim foi em frente».
«Na nossa vida – disse o Papa Francisco – ouvimos também certas propostas que não vêm de Jesus, nem de Deus. Pode-se entender: as nossas debilidades às vezes levam-nos por este caminho. Ou também por outro que é ainda mais perigoso: estabelecemos um acordo, um pouco de Deus e um pouco de vós. Fazemos um acordo e assim continuamos com uma dupla vida: um pouco a vida daquilo que ouvimos de Jesus e um pouco a vida do que escutamos do mundo, os poderes do mundo e muito mais». Mas não é um «bom» sistema. De facto «no livro do Apocalipse, o Senhor diz: isto não é bom, porque assim não sois maus nem bons: sois tíbios. Condeno-vos».
O Pontífice advertiu exactamente contra esta tentação: «Se Pedro tivesse dito aos sacerdotes: “falemos como amigos e estabeleçamos um status vivendi”, talvez tivesse corrido bem». Mas não teria sido uma escolha própria «do amor que vem quando ouvimos Jesus». Uma escolha que provoca consequências. «O que acontece – prosseguiu o Santo Padre – quando escutamos Jesus? Às vezes os que nos fazem outra proposta enraivecem-se e a estrada acaba na perseguição. Neste momento, disse, temos muitas irmãs e irmãos que para obedecer, ouvir, escutar o que Jesus lhes pede estão sob perseguição. Recordemos sempre estes irmãos e irmãs que puseram a carne no fogo e nos dizem com a própria vida: “Quero obedecer, ir pelo caminho que Jesus me indica”».
Com a liturgia hodierna «a Igreja convida-nos» a «ir pela senda de Jesus» e a «não ouvir as propostas que o mundo nos faz, propostas de pecado ou tíbias, a meias»: trata-se, reafirmou, de um modo de viver que «não é bom» e «não nos fará felizes».
Nesta escolha de obediência a Deus e não ao mundo, sem ceder a acordos, o cristão não está sozinho. «Onde encontramos – perguntou-se o Papa – a ajuda para ir pela estrada do ouvir Jesus? No Espírito Santo. Somos testemunhas desses factos: foi o Espírito Santo que Deus doou aos que o obedecem». Portanto, disse, «é precisamente o Espírito Santo dentro de nós que nos dá força para continuar». O Evangelho de João (3, 31-36), proclamado na celebração, com uma bonita expressão garante: «”Aquele que Deus enviou diz as palavras de Deus: ele dá o Espírito incomensuravelmente”. O nosso Pai dá-nos o Espírito, sem medidas, para escutar Jesus, ouvir Jesus e ir pela senda de Jesus».
O Papa Francisco concluiu a homilia com o convite a sermos corajosos nas diversas situações da vida: «Peçamos a graça da coragem. Teremos sempre pecados: somos todos pecadores». Mas serve «a coragem de dizer: “Senhor, sou pecador, às vezes obedeço às coisas mundanas mas quero obedecer a ti, quero caminhar pela tua vereda”. Peçamos esta graça, de ir sempre pela estrada de Jesus. E quando não o fizermos, peçamos perdão: O Senhor perdoa-nos, porque Ele é muito bom».
(©L'Osservatore Romano - 11 de abril de 2013)
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